Culto e Liturgia



ID: 2653

Tempo litúrgico

10/10/2011

Tempo ou ano litúrgico

O que é o tempo litúrgico e para que ele serve? O tempo litúrgico surgiu com o objetivo de ajudar a comunidade a celebrar os acontecimentos mais im-portantes da fé cristã. Ele é organizado na forma de um calendário, que dá destaque às principais festas e datas celebradas pelo povo de Deus ao longo do ano. Através do tempo litúrgico, a comunidade cristã faz uma caminhada pela história da salvação de Deus. Ela celebra o nascimento de Jesus, sua morte e ressurreição, sua ascensão, a descida do Espírito Santo e a vida da igreja no mundo. Dessa forma, a comunidade cristã rememora o que Deus fez, o que ele faz e o que ele f ara por nós.

Além de tempo ou ano litúrgico, também são conhecidas as expressões ano da igreja ou ano eclesiástico. Ano eclesiástico tem em sua base o termo latim ecclesia, que quer dizer igreja. Tempo litúrgico (ou ano litúrgico) está ligado ao termo grego leitourgia, que em português significa liturgia, serviço. A terminologia ano da igreja aponta para a diferença entre ano civil e religioso. Portanto, ano eclesiástico, ano da igreja e ano ou tempo litúrgico são termos que expressam o tempo da igreja no mundo, marcado pelas festas que celebram a história de Deus com o seu povo.

As principais festas do ano litúrgico

a) Domingo: festa do Senhor ressurreto

Conforme o livro de At 20.7-12, os cristãos se reuniam para celebrar a Ceia do Senhor no primeiro dia da semana, ou seja, no domingo. Justino, um mártir do cristianismo que viveu de 100-165 d.C., escreveu que os cristãos se reuniam nesse dia para celebrar a fé na ressurreição. O domingo foi o dia mais importante na vida das primeiras comunidades. Ele era entendido como o aniversário semanal da ressurreição de Jesus. E esse era o acontecimento mais importante para a fé cristã. Cada domingo era uma pequena Páscoa. O domingo, como Dia do Senhor, foi a primeira festa dos cristãos. Seu objetivo era comemorar a ressurreição de Cristo.

b) Páscoa: a primeira festa anual da igreja


Não havia, até o final do século l, uma festa anual da Páscoa. Isso mu¬dou a partir do século 2. Além da celebração semanal da ressurreição no domingo, foi se desenvolvendo uma grande celebração anual da Páscoa. Essa festa era marcada pela vigília no entardecer do sábado, cujo acento era a passagem de Cristo da morte para a ressurreição. Nos trôs primeiros séculos, a paixão, morte e ressurreição de Cristo eram comi; moradas em conjunto na Páscoa.

No século 4, surgiu a Semana Santa. A partir daí, a comunidade cristã começou a celebrar cada acontecimento dos últimos dias da vida Jesus, em dias separados. E cada dia recebeu uma ênfase:

Quinta-Feíra - celebração da última ceia de Jesus com seus discípulos;  Sexta-Feira - crucificação e morte de Jesus;

Sábado Santo ou Sábado de Aleluia - vigília que culmina com a Páscoa.

A divisão da celebração da Páscoa para esses três dias forma o que hoje chamamos de Tríduo Pascal. Esses são considerados os três dias mais santos do calendário cristão. A esses dias foram juntados o Domingo de Ramos/Paixão, que dá início à Semana Santa e celebra a entrada de Jesus em Jerusalém.

Ao redor da Páscoa se desenvolveram dois outros períodos: Quaresma (quarenta dias antes da Páscoa), e Tempo pascal (que corresponde aos 50 dias que se estendem desde a celebração da Páscoa até o dia de Pentecostes). O tempo pascal foi, desde o seu surgimento, mais importante que os quarenta dias da Quaresma. Para a igreja antiga, esses dias após a ressurreição do Senhor formam um período de paz, alegria e louvor a Deus.

A cor litúrgica da Páscoa e do tempo pascal é o branco.

A cor litúrgica da Quaresma e da Semana da Paixão é violeta.

c) Pentecostes e Ascensão
A festa de Pentecostes ocupou o segundo lugar em importância na vida da igreja. O nome pentecostes significa o número grego cinquenta. A festa de Pentecostes celebra aquilo que acontece cinquenta dias depois da Páscoa: o cumprimento da promessa de envio do Espírito Santo (cf. At 1.8). Conforme At 2.1-41, o Espírito Santo foi enviado aos discípulos, e eles começaram a falar em outras línguas, espalhando a boa nova do Evangelho. Pelo poder do Espírito Santo, eles se sentiram encorajados na missão de anunciar a mensagem de Cristo e sua ressurreição. A partir desse momento, surgiram as primeiras comunidades cristãs. Com a festa de Pentecostes, os cristãos comemoravam então o aniversário da igreja.
Originalmente, Pentecostes incluía a comemoração da Ascensão de Jesus. Mais tarde, e assim é hoje, essas festas foram separadas. O dia da Ascensão é comemorado quarenta dias depois da celebração da Páscoa, e o dia de Pentecostes é comemorado cinquenta dias depois da Páscoa.

A cor litúrgica de Pentecostes é o vermelho.

A cor litúrgica da Ascensão é o branco.

d) Epifania
Esse foi o terceiro evento mais importante do calendário cristão. Surgiu antes da festa de Natal e é comemorado em 6 de janeiro. Epifania é uma festa que celebra a manifestação ou encarnação de Deus no mundo através da obra de Jesus Cristo. Com essa festa, a comunidade cristã lembra tanto o nascimento de Jesus (visita dos reis magos do Oriente) quanto o começo do ministério de Jesus aqui na terra, marcado pelo seu batismo.

No tempo após Epifania (também conhecido como tempo comum), a igreja lembra que Jesus se manifestou a nós através de sinais, milagres e ensinamentos sobre o reino de Deus.

A cor litúrgica de Epifania é o verde.

e) Natal
No Natal, a igreja celebra a vinda de Deus ao mundo através do nascimento de Jesus. A primeira menção à festa de Natal é feita em 354 d.C., num documento romano que transformou o dia 25 de dezembro, data de uma festa não-cristã chamada Sol Invictus (sol invencível), em festa do aniversário de Cristo. Para os cristãos, Cristo era o verdadeiro sol invencível, o sol da graça, luz do amor, da justiça o resplendor, como bem expressa o hino 92, do HPD da IECLB. No Natal, portanto, comemora-se a vinda do Messias, o Salvador prometido, o justo, que veio redimir e salvar o povo de Deus das trevas do pecado, da injustiça e da morte. Temos que lembrar que essa festa cristã é eco da Páscoa, e só tem sentido comemorá-la porque Cristo morreu e ressuscitou.

A cor litúrgica do Natal é o branco.

f) Advento
Assim como a Quaresma, o Advento surge como tempo de preparação. Ele tem caráter de penitência, pois a comunidade cristã, ao preparar-se para a vinda do Salvador, lembra que o Filho de Deus veio em pobreza e humildade (e foi morto na cruz para salvar o mundo). O Advento também é tempo de espera pela segunda vinda de Cristo. Inicia quatro semanas antes do Natal. Enquanto se prepara, a comunidade cristã reflete sobre a vinda do Salvador. E uma época de agradecimento pela dádiva de Deus a nós, em Cristo, e, ao mesmo tempo, é expectativa pelo que há de vir, pela volta do Senhor.

A cor litúrgica do Advento é violeta, a mesma da Quaresma. Também o azul pode ser usado no Advento. Ele representa a expectativa pela segunda vinda de Cristo.

g) Tempo comum
É o período mais longo do ano eclesiástico. Vai de Pentecostes até o início do Advento. Inicia com o Domingo da Trindade, no primeiro domingo após Pentecostes, e termina com o Último Domingo após Pentecostes, chamado de Cristo Rei ou, como é conhecido na IECLB, Domingo da Eternidade. A Trindade é a festa em que a igreja celebra o mistério de Deus, aquele que se manifesta ao mundo através do Deus Criador, do Filho Redentor e do Espírito Santo Consolador.

O tempo comum lembra a atuação da igreja no mundo, ou o seu peregrinar diário, movida pela ação do Espírito Santo. Dentro desse período, as diversas igrejas também comemoram suas festas específicas. Como, por exemplo, nas igrejas luteranas, o Dia da Reforma, em 31 de outubro. Nesse tempo também se incluem as festas de Ação de graças ou da colheita, entre outras.

A cor litúrgica para o tempo comum é o verde.

Importância do tempo litúrgico na igreja

Falar do tempo ou ano litúrgico é falar de um Deus que vem a nós e quer caminhar conosco no nosso dia-a-dia. A cada domingo, a cada ano, a cada festa da igreja, Deus vem a nós para nos dizer que nos ama, que nos salva e que nos dá a vida eterna. Isso é feito através da Páscoa, de Pentecostes, do Natal e de cada festa do ano eclesiástico. Cabe á nos, comunidade, redescobrir o valor do tempo litúrgico e o significado de cada festa. Assim, estaremos nos aproximando mais e mais desse Deus que nos fala e se comunica conosco de tantas formas unicamente para nos revelar seu grande amor.
 


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