Culto e Liturgia



ID: 2653

Batismo - aspectos teológicos

Batismo e Espírito Santo
O testemunho do Novo Testamento sobre a relação entre o batismo e o Espírito Santo é, ao mesmo tempo, bastante uniforme e um pouco desconcertante.

At 8.35-38, a história do batismo do eunuco etíope, referência bíblica importante para as origens do batismo, não menciona a imposição das mãos nem a recepção do Espírito Santo.

Todas as passagens mencionadas a seguir atestam uma relação clara e muito estreita entre o batismo e a recepção do Espírito Santo.

A mais eloqüente é a que narra o batismo do próprio Jesus (Mc 3.13-17), segundo a qual o Espírito Santo se torna visível na forma de uma pomba: Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. (Mt 3.16)

At 2.38 conecta arrependimento, batismo, perdão dos pecados e concessão do Espírito Santo: Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. (At 2.38)

Segundo Atos 19.1-7, que narra a estada de Paulo em Éfeso, as pessoas haviam sido batizadas “no batismo de João”, mas nem sequer tinham ouvido que existe o Espírito Santo. Paulo fala-lhes, então, do batismo de Jesus. Em seguida, batiza-as e lhes impõe as mãos, de modo que recebem o Espírito Santo: Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam. (At 19.5-6)

At 10.44-48 indica que em Cesaréia o Espírito Santo foi derramado antes de as pessoas terem sido batizadas: Porventura pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? (At 10.47)

E, de acordo com o relato de At 8.14-17, em Samaria, as pessoas já batizadas no nome do Senhor Jesus só receberam o Espírito Santo mais tarde, através de imposição das mãos: Ouvindo os apóstolos, que estavam em Jerusalém, que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João; os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo; porquanto não havia ainda descido sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em o nome do Senhor Jesus. Então lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo. (At 8.14-17)

Tt 3.4-7 chama o batismo de “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (v. 5). 2Co 1.22; Ef 1.13-14 e 4.30 fazem referência implícita à unção no batismo, como sendo um selo do Espírito Santo.

O testemunho do Novo Testamento é, portanto, um tanto diversificado em certos aspectos da relação entre batismo e Espírito Santo, proibindo-nos de jogar uma passagem contra a outra, em defesa de posições particulares a respeito dessa relação. O importante é captarmos o conjunto de sua manifestação. Dois dados gozam quase que de unanimidade completa no Novo Testamento (a única exceção é a ausência do tema em At 8.35-38): o batismo e a dádiva do Espírito Santo estão direta e estreitamente vinculados; a imposição das mãos ou o ato de selar é o gesto através do qual se expressa fisicamente a concessão do Espírito Santo às pessoas batizadas. Entre as diversas testemunhas neo-testamentárias parece haver apenas um certo descompasso no tocante à seqüência cronológica e ao distanciamento temporal entre os atos do batismo com água e da imposição das mãos com a concessão do Espírito Santo.

A estreita relação entre o batismo e o Espírito Santo também se articula no fato de ser o batismo a porta de entrada na Igreja. Segundo o testemunho bíblico, a Igreja é o lugar onde atua o Espírito Santo. Não se pode ingressar na Igreja sem ter parte na dádiva do Espírito Santo. O Batismo é o sacramento do Espírito Santo. E não: o Batismo também é o sacramento do Espírito Santo. (...) Como o sacramento salvífico, o Batismo identifica as pessoas com o lugar do Reino entre os tempos: a Igreja. Os membros dessa Igreja são aqueles que não nasceram da carne, mas do Espírito: no Batismo. (...) o Espírito Santo e a Igreja são inseparáveis. É o Espírito que Jesus prometeu à sua Igreja que possibilita o cumprimento de sua missão no mundo. Qualquer tentativa de separar a ação do Espírito Santo da obra de Cristo está fadada ao fracasso. A obra do Espírito consiste em capacitar a Igreja a ser o lugar da presença de Cristo no mundo.(Brand, Eugene L. Batismo, uma perspectiva pastoral. São Leopoldo: Sinodal 1982)

Batismo e salvação 

Segundo as Escrituras, “é mau o desígnio íntimo do ser humano desde a sua mocidade” (Gn 8.21), as pessoas são concebidas em pecado (Sl 51.5) e “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram” (Rm 5.12). Já nascemos como pessoas contagiadas pelo vírus do pecado, que é parte da condição humana. Mas, a pessoa humana não é simplesmente vítima impassível dessa condição. A Bíblia a responsabiliza, pois “não há quem busque a Deus, todos se extraviaram e juntamente se corromperam” (Sl 14.2s), “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23) e com isso se tornam “indesculpáveis” (Rm 1.20; 2.1).

Face a essa situação, “o que dá ou aproveita o batismo? (...) Opera a remissão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá a salvação eterna a quantos crêem conforme rezam as palavras e promessas de Deus.” (Catecismo Menor, IV, 6) Por isso, o batismo é tido como um “nascer de novo” (Jo 3.5), um “lavar regenerador” (Tt 3.5).

Como ficou claro na secção sobre batismo no Novo Testamento, a salvação oferecida no batismo abrange dimensões mais amplas do que só o perdão dos pecados. Ser salvo é também estar imerso na morte e ressurreição de Jesus Cristo, é estar incorporado ao corpo de Cristo, a Igreja, é renascer para uma nova vida sob a condução do Espírito Santo.

A salvação outorgada pelo batismo é vivida na tensão escatológica do já e ainda não, nesse lapso de tempo entre a morte e ressurreição de Jesus e a sua vinda em glória. Nesse interregno, o pecado continua a fazer parte da realidade das pessoas batizadas. Mas é um pecado já dominado pela cruz de Cristo, um pecado que pode ser vencido pelas pessoas batizadas, na apropriação diária do batismo.

E pode haver salvação para as pessoas não batizadas? Sem dúvida. O batismo é um meio da graça, um presente de Deus. Desprezá-lo seria uma afronta ao amor de Deus. No entanto, o batismo não é a única via para a salvação. A graça de Deus pode dispor e dispõe de outros recursos, e não está condicionada ao batismo administrado pela Igreja. Por isso, não precisamos preocupar-nos com a salvação de pessoas e povos que não chegaram a conhecer o Evangelho ou de crianças que vieram a falecer antes de receber o batismo. A graça de Deus é maior do que os meios que ele coloca à disposição da Igreja para partilhá-la.

Batismo e fé

É por meio da fé que as pessoas batizadas percebem e recebem o que Deus lhes oferece em Cristo e no batismo. A oferta de Deus lhes vem por graça e sua resposta é dada na fé. Graça de parte de Deus e fé de parte das pessoas batizadas expressam uma relação recíproca de entrega, dedicação e fidelidade.

Falta de fé não invalida o batismo. A oferta e a fidelidade de Deus permanecem, mesmo onde a resposta for inexistente ou inadequada. Nem mesmo a dúvida ou uma fé vacilante diminuem o fato de que no nosso batismo Deus nos acolheu. Podemos constantemente recorrer a esse acontecimento e contar com a fidelidade de Deus. (...) fé e batismo estão interligados. Entretanto, não em forma de um condicionamento mútuo. O batismo não decorre da fé, nem esta daquele.(BRAKEMEIER, Gottfried. Batismo – perdão dos pecados – vida em Cristo. In: BATISMO: Antologia I. São Leopoldo: EST/CRL, 2004) Lutero distingue claramente entre a eficácia, que provém da graça de Deus, e o proveito que se dá através da fé. A graça de Deus é sempre eficaz, embora a pessoa batizada possa permanecer sem proveito dela, se não houver a fé.( ALTMANN, Walter. Diálogo acerca do batismo. In: IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL. Batismo: Diálogo com o Movimento Carismático na IECLB. Porto Alegre: IECLB, 2006)

Batismo é o ponto de partida de uma vivência cristã que se estende pela vida inteira.

Batismo não é um ponto de chegada, mas um ponto de partida. Marca o início de uma vivência cristã, de um diário e constante apropriar-se de sua promessa, até a morte. Ninguém discerniu em tamanha profundidade a relação entre batismo e vivência cristã como nosso reformador. Por isso, recomendamos a respeito deste tópico uma leitura atenta da secção sobre Lutero. O Batismo é como o nascimento natural: é básico para tudo.(Brand, Eugene L. Batismo: uma perspectiva pastoral. São Leopoldo: Sinodal, 1982) No momento do nascimento somos apenas um feixe de potencialidades que continuam a se desenvolver e a desabrochar ao longo da vida.(Brand, Eugene L. Batismo: uma perspectiva pastoral. São Leopoldo: Sinodal, 1982) Do adulto a Igreja exige, com razão, que demonstre sua disposição de ser batizado e uma confissão de fé. Na maioria dos casos, essa fé não passa ainda de uma sombra daquilo que pode chegar a ser. A experiência e o conhecimento cristãos acontecem, em geral, do outro lado da pia batismal. (...) Se isso for verdade, então a situação da criança cuja resposta em fé ocorre totalmente depois do Batismo não é muito diferente da do batizando adulto.(Brand, Eugene L. Batismo: uma perspectiva pastoral. São Leopoldo: Sinodal, 1982)

Para a comunidade cristã, o fato de que o batismo marca o início de toda uma existência de fé das pessoas batizadas coloca a responsabilidade especial de ajudá-las e dar-lhes condições para viverem o seu batismo durante toda a sua vida, para o crescimento na fé, na esperança e no amor.

Esse constante crescimento numa vivência cristã a partir do batismo pode ser sustentado por diversas expressões litúrgicas:

Em todos os ofícios casuais deveria ser evidenciado que a verdadeira razão para a celebração de tais atos é batismal. A comunidade ministra ofícios casuais porque tem uma responsabilidade batismal para com as pessoas. E as pessoas envolvidas (por exemplo, nubentes e familiares, pessoas ordenadas ou instaladas em ministérios e funções especiais, pessoas falecidas e enlutadas) estão sendo carregadas em oração pela comunidade através dessas passagens da vida, porque são pessoas que já foram mergulhadas na morte e ressurreição de Cristo, no batismo. Ofícios casuais são atos de eminente significado batismal. Tal casal está recebendo a bênção matrimonial porque se trata de pessoas batizadas. Tal pessoa está sendo ordenada ou instalada porque é uma pessoa batizada. Tal pessoa está sendo sepultada porque é uma pessoa batizada e a família enlutada está sendo consolada porque é composta de pessoas batizadas. [No rito de sepultamento da igreja antiga] o corpo era ungido com óleo, assim como o fora no batismo; o corpo recebia o ósculo da paz, da mesma maneira como recebera o ósculo da paz quando de sua integração à família de Deus; a pessoa era referida pelo nome, do mesmo modo como o fora no batismo; e sobre o esquife era lançada terra por três vezes, porque assim se repetia o número de vezes em que fora lavada no batismo. Assim, os cristãos reafirmavam a realidade de que a pessoa pertencia à comunhão de Deus e igualmente à comunhão da grande família de Deus, realidade que não é ameaçada pela morte.( PIETZSCH, Paulo Gerhard; RIEFF, Sissi Georg. Dimensão bíblico-teológico-confessional. In: KIRST, Nelson (Coord.). Guia de orientação para a prática do Batismo. São Leopoldo: EST/CRL, 2001)

Persignar-se com o sinal da cruz é um gesto que lembra o sinal da cruz com que fomos selados no batismo.

A comunidade reunida em culto pode e deve ser lembrada constantemente de que está reunida porque é uma comunidade de pessoas batizadas.

A comunidade pode celebrar cultos de recordação do batismo, em datas especiais ao longo do ano.

Altamente significativa é a celebração da recordação do batismo na vigília pascal.

Batismo e educação

Tudo indica que nos tempos neo-testamentários já existia uma relação entre batismo e educação, tanto no processo preparatório para o batismo quanto na fase da vivência pós-batismal. As pessoas que desejavam ser batizadas eram chamadas ao arrependimento (At 2.38). De acordo com a tradição do Evangelho de Mateus, os discípulos são chamados pelo Ressurreto a batizar e a ensinar todas as coisas que ele lhes havia ordenado (Mt 28.18-20). Em várias oportunidades, os batismos são precedidos por pregações dos apóstolos (At 2.14-36; 8.12,35; 16.14-15; 18.8), nas quais exortam à fé em Jesus, o Senhor e Cristo, e ao arrependimento. Diversas passagens do Novo Testamento também atestam que há ensino e instrução após um batismo já realizado. Tais atividades pedagógicas buscam, então, motivar as pessoas batizadas para uma nova vida e uma nova ética pessoal e comunitária. Algumas dessas passagens são: Rm 6; 1Co 1.13 e seguintes; 6.11; 12.13; Tg 1.17-2; 1Pe 2.

Na prática batismal da igreja antiga, encontramos um processo educativo que envolvia toda a pessoa em suas dimensões cognitivas, afetivas e éticas. Essa educação jamais foi entendida como o ensino racional de conceitos doutrinais e abstratos. A pedagogia da igreja antiga visava ajudar cada pessoa a viver sua vida cristã a partir da atuação de Deus em Jesus Cristo e em resposta a essa atuação. A educação acontecia na medida em que o candidato ou a candidata participasse nas atividades da comunidade (diaconais, litúrgicas e outras) e vivesse uma vida alinhada com os ensinamentos recebidos. Isso ocorria antes, durante e depois do batismo.

Batismo: sacramento dirigido a cada pessoa, individualmente

(Este bloco baseia-se em KALMBACH, Pedro. Bautismo y educación. Buenos Aires: el autor, 2005) De um lado, o batismo é questão da comunidade e cria comunidade. De outro, se refere e se dirige a cada pessoa, individualmente. Há uma estreita relação entre o batismo, a biografia da pessoa batizada e a comunidade cristã. Do início ao fim, todos os elementos da liturgia batismal destacam a individualidade da pessoa batizada. O batismo produz, na história de vida de cada pessoa, uma mudança importante: a entrada no âmbito da salvação dada por Cristo. O batismo é um meio privilegiado através do qual se manifesta a salvação que Deus quer para cada pessoa. Ele expressa, para cada pessoa em particular, que a redenção oferecida por Cristo também é válida para ela.

Batismo e a inserção igualitária no corpo de Cristo

Da tradição judaica a igreja cristã assimilou, no batismo, os atos litúrgicos da imposição das mãos e da unção com óleo. O Antigo Testamento os conhece como atos que transmitem poder e bênção a pessoas especiais. Sacerdotes e reis são ungidos, no antigo Israel. No batismo cristão ocorre uma democratização absoluta desse gesto e de seu significado. Agora, todas as pessoas batizadas são especiais, todas são sacerdotes e reis ou rainhas. Toda e cada uma das pessoas batizadas recebe os dons do Espírito Santo e assim fica apta a exercer o sacerdócio real (1Pe 2.9; Ap 5.10). Essa absoluta igualdade é expressa por Paulo em toda sua radicalidade: Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. (1Co 12.13) (...) todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes. Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. (Gl 3.27-28)

Batismo, diaconia e missão 

As implicações diaconais da absoluta igualdade proporcionada no batismo são óbvias. Há implicações diaconais para dentro. No batismo, todas as pessoas cristãs foram servidas e dignificadas, de igual modo e na mesma proporção, pelo próprio Cristo. Quanto mais não seriam merecedoras do serviço e da dignificação umas das outras? O mesmo benefício recebido de Cristo nos coloca em pé de igualdade e nos compromete com o serviço e com a dignificação recíproca dentro da comunidade cristã.

E há implicações diaconais para fora. Ao sermos inseridos no corpo de Cristo, pelo batismo, tornamo-nos comprometidos com a missão desse corpo que é a de dar continuidade ao ministério de Cristo no mundo. Isso significa estender a diaconia de Jesus a toda criatura e à sociedade: aliviar a dor e o sofrimento, trabalhar pela justiça e pela paz.

A dimensão diaconal do batismo tem recebido expressão eloquente em liturgias batismais:
Na vela batismal que deveria ser acesa no círio pascal, vinculando o batismo de cada pessoa à morte e ressurreição de Jesus. Ela simboliza a luz de Cristo que há de brilhar no mundo através do serviço prestado pela pessoa batizada. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras (...).” (Mt 5.16)
– No lava-pés, como é testemunhado em liturgias batismais de Milão, da Gália e da Espanha, dos séculos 4, 6 e 8. Depois da leitura de Jo 13, o bispo inicia o lava-pés dos novos cristãos. Essa ação é um sinal da integração da pessoa batizada à comunhão dos “pés lavados”, cuja tarefa será estender essa ação a outras pessoas pela ação diaconal. O rito é introduzido com as seguintes palavras: “Eu te lavo os pés como nosso Senhor Jesus Cristo lavou os pés de seus discípulos; tu também farás o mesmo com os hóspedes e estrangeiros”. (GEORG, Sissi. Diaconia e Culto Cristão: o resgate de uma unidade. São Leopoldo: EST/ CRL, 2006)
– No voto diaconal, como era conhecido em Antioquia, no tempo de João Crisóstomo (século 4). A pessoa a ser batizada proferia, após a renúncia, um voto com o qual confirmava sua disposição ao serviço diaconal, decorrente do batismo, dizendo: “E eu entro no teu serviço, ó Cristo”( GEORG, Sissi. Diaconia e Culto Cristão: o resgate de uma unidade. São Leopoldo: EST/ CRL, 2006)

A dimensão ecumênica do batismo

Somos batizados para dentro da Igreja cristã e não de uma determinada denominação ou comunidade local. Denominações, assim como comunidades locais, são manifestações particulares, concretas, contextuais, circunscritas de uma realidade maior que é a Igreja cristã. O pertencer a uma determinada comunidade local ou denominação pode ser resultado de nossa escolha. O pertencer à Igreja cristã é resultado da ação de Deus por nós, no batismo.

As pessoas cristãs de todo o mundo têm em comum a aceitação por Deus e o recebimento do Espírito Santo, acontecidos no batismo. Na origem da existência da Igreja cristã está, portanto, a unidade arraigada no batismo e não a divisão. As divisões, por mais explicáveis que sejam suas causas, são um golpe na unidade proporcionada pelo batismo e mancham o testemunho da Igreja cristã, cuja unidade é objeto da oração de Jesus “para que o mundo creia” (Jo 17.20-26).

No Concílio Vaticano II a Igreja Católica Apostólica Romana reconheceu ser o batismo um “vínculo sacramental de unidade”. O documento ecumênico “Batismo, Eucaristia e Ministério” (BEM), produzido em 1982 pela Comissão de Fé e Constituição, do Conselho Mundial de Igrejas, constata que as “Igrejas são cada vez mais capazes de reconhecer o batismo umas das outras (...)”. No Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) ratificou oficialmente o reconhecimento mútuo do batismo e o introduziu em sua base constitutiva. No entanto, apesar dessas convergências, persistem entre muitas denominações e correntes a negação de uma comunhão completa, com interdição do acesso à mesa do Senhor, o não reconhecimento mútuo do ministério e a prática do rebatismo, resultado da não aceitação mútua da prática batismal.(BRAKEMEIER, Gottfried. Batismo – perdão dos pecados – vida em Cristo. In: BATISMO: Antologia I. São Leopoldo: EST/CRL, 2004) )—

O batismo comum a todas as pessoas cristãs persiste como libelo contra a desunião que envergonha a Igreja cristã e como estímulo para um empenho incansável de retorno à unidade.

A prática do rebatismo é inadmissível

Diz Paulo: “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos.” (Ef 4.4-6) Por isso, o batismo cristão é realizado uma só vez e nunca repetido.

O Novo Testamento e a igreja antiga desconhecem qualquer vestígio de repetição do batismo. A igreja dos primeiros séculos nem sequer recorreu ao rebatismo quando, em épocas de perseguição, cristãos renegaram a fé e depois solicitaram reingresso à comunidade.

Rebatismos acontecem quando uma igreja, comunidade ou grupo não reconhecem o batismo ministrado por outra comunidade, seja por desqualificarem a pessoa ministrante, seja por não aceitarem a forma de sua realização.

No entanto, todo batismo deve ser reconhecido, desde que realizado com água e em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. A prática do rebatismo é inadmissível porque põe em dúvida a ação de Deus no batismo. Lutero chegou a ter como válidos batismos realizados por clérigos considerados hereges.

Recentemente, duas justificativas têm sido arroladas por grupos que advogam o rebatismo: a) é preciso rebatizar uma pessoa que nega um rito que lhe tenha sido ministrado no passado, de modo que não lhe significa mais nada; b) é preciso rebatizar pessoas que alimentam profundos questionamentos sobre a ministração reta de seu batismo, padecendo, por isso conflitos de alma e consciência. Para ambos os casos é preciso reafirmar que questionamentos pessoais, subjetivos, não invalidam a promessa de Deus no batismo já efetuado. Não faz sentido buscar consolo e aplacar conflitos interiores através de repetições do batismo. Quantos rebatismos seriam necessários ou admissíveis na vida de uma pessoa atribulada por tais dúvidas? “Ora, o único consolo verdadeiro em nossos questionamentos, profundos ou superficiais, consiste em recordarmo-nos e sermos instruídos quanto à fidelidade de Deus. Sua promessa no batismo já efetuado continua válida, e, graças a Deus, posso retornar a ela, em fé, em confiança quando de minhas dúvidas, minhas quedas, meus questionamentos.” (ALTMANN, Walter. Diálogo acerca do batismo. In: IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL. Batismo: Diálogo com o Movimento Carismático na IECLB.Porto Alegre: IECLB, 2006).

Fonte: Livro de Batismo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
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