A vivência da fé nas comunidades e no conjunto da Igreja mostra que ela passa seguidamente por tensões e conflitos. Ela não consegue espelhar a vontade de Deus anunciada por Jesus Cristo. As pessoas, simultaneamente justas e pecadoras, reproduzem no nível institucional a realidade de um corpo partido. Pessoas e grupos promovem rupturas. Essa realidade está na raiz da existência de inúmeras denominações cristãs.
O povo de Deus se encontra, se reúne e se organiza em diversos corpos institucionais. As comunidades evangélicas de confissão luterana não vivem isoladas das demais denominações cristãs. Em seus documentos constitucionais elas assumem o compromisso ecumênico. Elas se entendem como corpo eclesiástico que tem um vínculo de fé com outras Igrejas que confessam Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
A emergência do movimento ecumênico no cenário das igrejas cristãs foi um dos fatos mais significativos do século XX. O distensionamento das relações intereclesiásticas e a adoção de uma nova postura por parte das denominações cristãs representaram um avanço extraordinário para o testemunho cristão no mundo.
A ecumenicidade emerge quando o Espírito Santo de Deus sopra nos corações e nas mentes de seus filhos e suas filhas a vontade de buscar a unidade no corpo de Cristo. Ela traduz uma nova forma de pensar e de agir em relação a irmãos e irmãs de outros corpos eclesiásticos.
A ecumenicidade, enquanto busca da unidade, expressa o desejo e a necessidade de superar os limites humanos que ameaçam a comunhão. Ela se compromete com a superação de animosidades e divisões no corpo de Cristo. A súplica por perdão e a busca por reconciliação mesclam a dádiva da unidade já dada no presente e a dádiva a ser conferida também no futuro. Elas tornam-se um imperativo inscrito no coração e na mente do povo de Deus.
A motivação permanente do movimento ecumênico é o desejo de alcançar a unidade plena entre as igrejas e fazer com que se tornem instrumentos mais fiéis e eficazes do amor de Deus ao mundo. Para as igrejas, o ecumenismo está baseado no dom da unidade existente em Cristo, pela fé e pelo batismo.
O ecumenismo responde, antes de tudo, a um dom divino e um mandato bíblico (João 17.21). Se as Igrejas quiserem ser fiéis a Jesus Cristo, o ecumenismo não se torna algo opcional, mas, sim, essencial na sua vida. Ele conjuga a legítima diversidade com o empenho pela unidade e pela superação das divergências. Torna-se, assim, um vigoroso testemunho para dentro de um mundo globalizado com tantas formas de exclusão. Há multidões famintas, tanto no sentido material quanto espiritual. Para elas se dirige o testemunho cristão que aponta para o fato de que a “razão da esperança” que há em nós provém de Cristo (1 Pedro 3.15).
A ecumenicidade torna possível a busca e o fomento de relações fraternais entre diferentes corpos eclesiásticos. Orações e celebrações conjuntas, diálogos e serviços de cooperação entre denominações cristãs desconstroem animosidades históricas e constroem caminhos para encontros fraternos tendo em vista um testemunho afirmativo na sociedade e no mundo.
No amor de Deus a ecumene estende-se para muito além das fronteiras das igrejas, abrangendo a humanidade inteira e toda a criação. Neste sentido ela impulsiona para o diálogo e a cooperação com outras religiões. Este movimento, ainda incipiente, representa um grande desafio para o futuro.