Culto e Liturgia



ID: 2653

Batismo - aspectos pastorais

A comunidade fará bem em desenvolver uma ação pastoral integral a partir do batismo, em assumir plenamente sua responsabilidade batismal e colocar o batismo no centro de suas atividades.
O batismo é a origem da comunidade cristã. O batismo é apropriado pelas pessoas que crêem, na vivência diária ao longo de toda a vida. Se esses dois dados são verdadeiros, a comunidade cristã não deveria encarar o batismo como mais um aspecto a ser manejado por suas obreiras e obreiros e pelo presbitério. Conforme o evangelista Mateus (Mt 28.18-20), a comunidade cristã recebeu a incumbência de batizar e ensinar. Portanto, essa comunidade é responsável pela administração do sacramento do batismo bem como pelo processo que conduz a formação das pessoas batizadas.

Propõe-se que o batismo seja assumido como fonte, princípio e norte de toda a ação pastoral da comunidade. Isso afeta desde questões como planejamento estratégico e projeções e execuções orçamentárias, passando pelo quadro geral de programas, até as mais localizadas atividades pastorais, como ofícios casuais, visitação e outras. É o que poderíamos chamar de uma ação pastoral integral a partir do batismo. Nessa ação pastoral integral a partir do batismo destacam-se duas dimensões fundamentais: a pedagógica e a litúrgica.

O empenho pedagógico da comunidade e a confirmação.
Ao assumir a tarefa de batizar, a comunidade toma sobre si uma responsabilidade pedagógica. É a responsabilidade de proporcionar uma educação cristã que possibilite a todas as pessoas viver a partir de seu batismo. É a responsabilidade de oferecer um processo de aprendizagem que ajude as pessoas a vivenciar diariamente cada um dos significados do seu batismo. Não se trata apenas de preparar a candidata ou o candidato, ou, no caso de bebês, de preparar pais, padrinhos e madrinhas, para o batizado. Trata-se, também, de acompanhar as pessoas posteriormente e acompanhá-las de modo muito especial.

Essa educação cristã a partir do batismo não é um ato pontual que se dê por concluído em algum momento da vida. Ela não pode limitar-se a uma certa idade ou a um grupo determinado. Também não pode restringir-se à mera transmissão de conhecimentos bíblico-teológicos, eclesiológicos, confessionais. Essa educação cristã é uma educação constante, permanente. Ela busca as pessoas desde a mais tenra idade e acompanha-as da infância até o fim da vida, ajudando-as a reconhecer e a assumir a abrangência do seu batismo e a viver o dia-a-dia de acordo com ele. É aprendizado na vivência da fé, do batismo até o fim da vida.

Quanto à atual confirmação, levantam-se na reflexão batismal recente as seguintes sugestões: entender e praticar esse período de instrução dentro do contexto abrangente de uma educação cristã continuada que se estende por toda a vida; abandonar a designação confirmação, devido ao seu duplo significado (O mesmo termo designa um ato litúrgico (a unção pós-batismal com imposição das mãos) e um período de instrução das e dos jovens, culminando numa celebração de profissão de fé); devolver a unção pós-batismal com a imposição das mãos à liturgia batismal e celebrar a profissão de fé dos e das jovens dentro de um culto comunitário de recordação do batismo; dá-se por entendido que a conclusão de tal período catequético não pode permanecer como condição para participar na mesa do Senhor.

Batismo de crianças.
Batizamos crianças, mesmo quando não possam expressar o desejo de serem batizadas, nem responder a perguntas sobre a renúncia ao mal ou declarar a profissão de fé. Batizamos crianças nascidas em famílias-membros da comunidade, porque confiamos na graça de Deus que nos é oferecida, sem que a tenhamos solicitado, entendido ou merecido. Com essa prática, sabemo-nos na companhia da igreja dos primórdios, que batizava recém-convertidos com “toda a sua casa” (At 16.15; 16.33; 18.8; 1Co 1.16), conceito que provavelmente incluía as crianças, os escravos e os filhos e filhas destes.

Ao batizar crianças, a igreja afirma “a natureza familiar ou corporativa do cristianismo”( (Brand, Eugene LBatismo: uma perspectiva pastoral. São Leopoldo: Sinodal, 1982)), e assume o compromisso de empenhar todo seu esforço para, através da educação cristã, conduzi-las a uma vida de fé. Mais, confia firmemente no poder, na assistência e na graça de Deus para este fim.

Madrinhas e padrinhos de fé.
Já em Tertuliano (aproximadamente 160 a 220) encontramos menção de uma terceira pessoa participando no processo batismal. À medida que o cristianismo se expandia, atraindo grande número de pessoas, o papel desse padrinho ou dessa madrinha tornava-se sempre mais importante. Para a inscrição ao batismo passou a ser necessária a indicação por parte de um membro da comunidade, cuja função era atestar a idoneidade da pessoa solicitante e acompanhá-la ao longo de sua iniciação.

Na prática vigente em nossos dias, é comum as famílias procurarem, como padrinhos e madrinhas de seus filhos e filhas, pessoas que não são escolhidas pelo que podem contribuir para a vivência de fé da criança a ser batizada, mas muito mais pela capacidade de emprestar prestígio ou de proporcionar auxílio material e social, em caso de necessidade.

Para a comunidade cristã será muito difícil, se não impossível, opor-se a essa prática. A comunidade pode, contudo, estudar a possibilidade de sugerir padrinhos e madrinhas de fé para ajudarem a acompanhar a pessoa batizada. Essa alternativa tem sido proposta ocasionalmente e algumas comunidades já a estão experimentando.

Batismo de emergência.
O batismo é um meio da graça. Através dele Deus nos oferece a salvação. Mas a graça de Deus não está presa ao batismo, não depende do batismo. Em sua liberdade e soberania, Deus também pode oferecer seu amor a pessoas que não foram batizadas.

Por isso, a circunstância de uma criança vir a falecer antes de ter sido batizada não deveria ser motivo de desespero para seus familiares. No entanto, em vista da angústia que se instala em tais situações, a igreja admite, por razões pastorais, o batismo de emergência. Na ausência de uma pessoa ordenada, o batismo de emergência pode ser executado por qualquer pessoa cristã, com os seguintes elementos litúrgicos: oração, ato batismal (lavagem e fórmula batismal) e Pai Nosso. Posteriormente, esse batismo deve ser registrado. Em caso de restabelecimento, a criança é levada por seus pais e padrinhos a um culto regular da comunidade, onde será realizado um ato litúrgico contendo, no mínimo, os seguintes elementos: apresentação, perguntas sobre o batismo de emergência realizado, compromisso, imposição das mãos, unção com óleo e selagem, vela batismal e recepção pela comunidade.

Uma comunidade cristã fará bem em proporcionar celebrações que ritualizem, no seio da comunidade reunida e na presença de Deus, as diversas passagens e transições da vida.
Na prática atual, o rito do batismo seguidamente vem mesclado com ritos de nascimento e de maternidade/paternidade. Afirmou, também, que essa mescla prejudica a ambos, tanto o rito de iniciação, que é descaracterizado, quanto o de nascimento ou maternidade e paternidade, que também acaba não recebendo o lugar que merece.

Percebe-se que as pessoas sentem uma necessidade genuína de celebrar, no seio da comunidade reunida e na presença de Deus, passagens fundamentais como gravidez, nascimento, maternidade e paternidade. Essas passagens não deveriam mesclar-se com os ritos batismais. Elas merecem seu lugar próprio. Mas não só isso. Uma ação pastoral integral a partir do batismo também deveria dar condições para as pessoas ritualizarem, no seio da comunidade reunida e na presença de Deus, outras passagens marcantes da vida, como ingresso na escola, puberdade, formaturas, ingresso numa profissão, transferências, mudanças e despedidas, aposentadorias, separações, internação hospitalar e retorno ao lar, ingresso num lar de idosos e tantas outras.

Apresentação da criança recém-nascida e bênção à mãe e ao pai.
Dentre todas as passagens na vida de uma pessoa, o nascimento e a morte são, naturalmente, as duas mais importantes. Depois destas, como nos ensina a experiência e a antropologia, a que é experimentada com maior impacto é a da maternidade, o tornar-se mãe ou pai e, de modo especial, na primeira vez. Por isso, se, por um lado, essas passagens devem ser desvinculadas do rito batismal, de outro, precisam ser reconhecidas e, de preferência, ritualizadas no seio da comunidade reunida em culto. Para fazer jus às passagens do nascimento e da maternidade / paternidade, sugere-se que, o mais breve possível após o nascimento, sejam realizados num culto dominical dois atos litúrgicos conjugados: a) a apresentação da criança recém-nascida à comunidade e b) uma bênção à mãe e ao pai.

Culto de recordação do batismo.
As pessoas batizadas lutam contra o mal e enfrentam sua inclinação egoísta a cada dia de suas vidas. Como diz Paulo em Rm 7.14- 25: “(...) Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim, o que detesto. (...) Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. (...) Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. (...)” Nessa tensão entra a tendência para o bem e para o mal, que é característica da existência cristã, é um enorme consolo e fortalecimento ser recordado constantemente do próprio batismo.

Na igreja antiga, as pessoas cristãs eram, quase que ao natural, relembradas constantemente do seu batismo. Isto, porque as comunidades acompanhavam candidatas e candidatos ao batismo de maneiras diversas e até intensas durante o período de preparação que podia ser bastante longo: pessoas da comunidade participavam de jejuns com candidatas e candidatos; madrinhas, padrinhos e outras pessoas participavam de certas fases da instrução e acompanhavam afilhadas e afilhados em diversos passos de sua iniciação; parte da instrução pré-batismal podia acontecer dentro do próprio culto, envolvendo, assim, toda a comunidade. Após a lavagem batismal, a comunidade se envolvia na recepção às pessoas batizadas e na partilha do gesto da paz com elas. Enfim, havia inúmeras e constantes oportunidades para que as pessoas, membros de uma comunidade, fossem recordadas do seu próprio batismo.

Ainda na igreja antiga, encontramos na Primeira Apologia de Justino, o Mártir, (Roma, ca. 150-155) até mesmo o que parece ser uma referência a um ato de recordação do batismo: “Nós, depois disso [de terem recebido o batismo e a eucaristia, após terem sido iniciados], recordamos constantemente para o futuro e entre nós estas coisas.”( 1 Apologia 67,1) E de Lutero temos a seguinte recomendação: “É preciso recordar sempre o Batismo; necessário se faz despertar e fomentar continuamente a fé”.( LUTERO, Martinho. Do Cativeiro Babilônico da Igreja. In: ______. Obras Seleciondas. v. 2. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1989) Baseadas em tais considerações e experiências da família cristã, diversas igrejas estão hoje recuperando a celebração de cultos de recordação do batismo (que podem receber outras designações como: renovação das promessas ou dos votos batismais; afirmação do batismo; reafirmação da aliança batismal etc.).

A ordem de um culto de recordação do batismo contém, por via de regra, não necessariamente nesta seqüência, os seguintes elementos litúrgicos: leitura e explicação da Palavra; uma grande oração de ação de graças pela dádiva de Deus no batismo; uma renovada renúncia ao mal e uma renovada profissão de fé. Pode ser incluído algum rito com água (por exemplo, persignar-se com água da fonte batismal), um rito com vela batismal e uma oração da pessoa oficiante com imposição das mãos individual. Um culto de recordação do batismo desemboca naturalmente na celebração da ceia do Senhor.

A ocasião por excelência para um culto de recordação do batismo é a vigília pascal. Outras datas especiais são Pentecostes e Epifania ou ocasiões significativas para a comunidade local. Caso uma comunidade chegue ao estágio desejável de reunir seus batizados em algumas poucas datas especiais por ano, estas seriam ocasiões privilegiadas para combinar tais batizados com cultos de recordação do batismo de toda a comunidade.

As celebrações de aniversário de batismo também são uma forma de recordação do batismo. O ideal seria incorporá-las a cultos de recordação do batismo de toda a comunidade.

O culto de recordação do batismo de toda a comunidade é a maneira mais adequada de se fazer culminar e concluir programas especiais de ensino batismal, como o atual ensino confirmatório. Nesse caso, em vez de um culto de confirmação nos moldes tradicionais teremos um culto de recordação do batismo com a participação de confirmandas, confirmandos e toda a comunidade. O grupo que participou do programa de instrução cristã poderá engajar-se ativamente no preparo e na realização desse culto.

Fonte: Livro de Batismo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
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