1. Fundamentação:
O que diz a Confissão de Augsburgo sobre a organização eclesial:
(...) haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a congregação de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho.
Porque para a verdadeira unidade da igreja cristã é suficiente que o evangelho seja pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e os sacramentos sejam administrados em conformidade com a palavra de Deus. E para a verdadeira unidade da igreja cristã não é necessário que em toda a parte se observem cerimônias uniformes instituídas pelos homens. É como diz Paulo em Efésios 4: “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo.”
(...) a igreja cristã, propriamente falando, outra coisa não é senão a congregação de todos os crentes e santos.
Confissão de Augsburgo
Texto completo da Confissão
O que diz o Guia Nossa Fé – Nossa Vida sobre a organização eclesial:
Segundo a lei de nosso país, somos, como entidade civil, uma associação religiosa constituída por comunidades evangélicas e organizada legalmente em paróquias e sínodos.
(...) A igreja não pode ser feita por nós. Através do Espírito Santo Deus nos chama, por sua palavra e por seus sacramentos, e nos faz membros de seu povo.
Como membros deste povo, nos reunimos em comunidade e organizamos o nosso convívio: Estabelecemos normas e ordens e criamos as condições indispensáveis para uma atuação missionária conjunta. As formas de organização podem mudar e também diferir, mas sempre devem estar a serviço de Cristo e de sua missão.
O que faz a IECLB?
A IECLB é instrumento através do qual Deus nos faz proclamar e viver a boa-nova da salvação, testemunhada nas Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos.
Através dela, Deus nos faz viver o amor, empenhando-nos pelo bem-estar e pela salvação do próximo.
Através dela, Deus nos faz viver em comunhão, como membros de seu povo no mundo.
Como a IECLB realiza sua tarefa?
A IECLB realiza sua tarefa pelas comunidades e paróquias, que são a base de seu trabalho, e pelas direções em nível sinodal e geral.
A direção da Igreja empenha-se em fortalecer e aprofundar a comunhão entre as comunidades; em auxiliar na concretização de seus objetivos; em promover o intercâmbio de suas forças e meios em prol da vida e ação missionária em comum.
Para tanto, cuida da ordem na Igreja e da formação de obreiras e obreiros, acompanhando e regulamentando sua vida funcional e disciplinar.
A comunidade realiza sua tarefa de participar do serviço de Cristo sob responsabilidade própria, orientada pela direção da Igreja.
A comunidade congrega seus membros em torno de um centro comum de culto, pregação e celebração dos sacramentos. Anima e promove a participação dos membros na concretização de seus objetivos: testemunhar o evangelho dentro e fora das fronteiras da comunidade; zelar para que o testemunho seja dado segundo a confissão luterana; dedicar-se à assistência espiritual e à ação diaconal; promover o ensino e a formação evangélica luterana das pessoas batizadas; engajá-las, conforme seus dons, nos desafios da vida comunitária e social, com vistas à promoção do bem comum.
Comunidade, sínodo e Igreja geral podem criar e manter serviços, órgãos e instituições educacionais e diaconais para cumprir sua tarefa.
Guia Nossa Fé – Nossa Vida
Texto completo do Guia
O que diz o Plano de Educação Cristã Contínua sobre a organização eclesial:
Uma comunidade cristã é plural por natureza. Como parte de um corpo, cada membro tem sua função. A diversidade está baseada no princípio da complementaridade: todos os membros trabalham para que o corpo funcione (1 Coríntios 12.12-27). Preservar a unidade significa agir com respeito, valorizando cada pessoa no seu modo de ser. Também significa apostar no diálogo como forma de aproximação e resolução de conflitos. A unidade na igreja é alcançada quando ouvimos as escrituras, interpretamos a tradição confessional e dialogamos como irmãs e irmãos.
Educar para o diálogo e o respeito é anunciar e viver a unidade como dom gracioso de Deus, que somos chamados a receber e a preservar (Efésios 4.1-6).
Plano de Educação Cristã Contínua - PECC
Texto completo do PECC
O que dizem as Diretrizes da Política Educacional da IECLB sobre a organização eclesial:
“Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” (1 Coríntios 12.13).
A educação somente é completa quando acontece em comunidade. Através da comunhão entre as pessoas, Deus realiza a sua missão.
A comunidade é múltipla, ou seja, é formada de diferentes membros, que recebem o encargo de cuidar uns dos outros a fim de preservar a unidade na diversidade, lembrando a advertência do apóstolo Paulo: “(...) Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.” (1 Coríntios 12.24-25).
Cooperar com cuidado significa agir com respeito, valorizando cada pessoa no seu modo de ser, buscando ações educativas que possam auxiliar as pessoas a viver dignamente e a ser felizes. Também significa apostar no diálogo como forma de aproximação e resolução de conflitos.
O diálogo e o respeito são meios através dos quais podemos manter e expressar a unidade eclesiástica. Essa unidade é formada pelo conjunto de pessoas que têm suas características individuais e, não obstante, formam comunidade a partir de sua dependência de Deus e de seu cuidado mútuo.
Diretrizes da Política Educacional da IECLB
Texto completo das diretrizes
O que dizem manifestos e posicionamentos da Direção da IECLB sobre a organização eclesial:
O Espírito Santo veio e a fé acendeu. Nesta ação do Espírito Santo, a Igreja tem a sua origem. Ela é fruto de Pentecostes! É presente de Deus! Será que ainda nos damos conta deste milagre de Deus em nossos dias, quando Ele nos reúne em comunidade e ali nos alimenta e fortalece com a sua Palavra?
(...) O Pastor Dietrich Bonhoeffer nos lembra que corremos o perigo de esquecer que a comunhão dos irmãos crentes é um presente gracioso procedente do Reino de Deus. [...] Quem pode viver em comunhão com outros crentes, esse louve a graça de Deus no fundo do coração, agradeça a Deus de joelhos e reconheça: é graça!
(...) O Espírito Santo veio e a fé acendeu. Celebramos, portanto, a presença real de Deus na nossa vida – na minha e na sua vida; presença que nos permite ser criatura digna; presença que nos leva a participar e viver comunhão; presença que nos capacita para testemunhar a verdade e a paz promovidas por Jesus.
Em Pentecostes, lembramos e festejamos que Deus desencadeou, pela ação do Espírito Santo, algo totalmente novo e extraordinário na sociedade e no mundo... e isso continua acontecendo hoje. O Espírito Santo rompe com a vida ordinária marcada pelo desamor e pela desesperança, pela injustiça e pelo sofrimento e promove vida e salvação. O Espírito Santo acorda, assusta, desinstala, anima, impulsiona a sua Igreja. A partir de Pentecostes, homens, mulheres, jovens e crianças são chamadas a testemunhar a presença criadora e transformadora de Deus entre nós.
Foi esse testemunho que os apóstolos deram a partir de Pentecostes. Foi esse o testemunho que criou a Igreja. É esse o testemunho que sustenta a Igreja hoje e é esse o testemunho que nos cabe como filhas e filhos de Deus.
Como povo de Deus que caminha nas comunidades que formam a IECLB, somos profundamente gratos a Deus porque Ele não deixou órfão o seu povo! Somos gratos porque o Espírito Santo nos insere ainda hoje nessa vivência comunitária pautada pelos valores do Evangelho. Somos parte da Igreja de Jesus Cristo no mundo. É dessa convicção de fé que bebemos para seguir no nosso testemunho na Missão de Deus.
Mensagem de Pentecostes – 2013
Texto completo da Mensagem
Em Mateus 18.20 temos uma breve descrição do que é Comunidade: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome” [isto é, no nome de Jesus], ali estou no meio deles.” Esta comunidade, reunida em torno de Jesus, é Igreja em sentido pleno. Como os evangelhos nos mostram, o chamado de Jesus ao discipulado é radical, acarretando às pessoas que aceitam o desafio de segui-lo muitas renúncias, sim, a dedicação de suas vidas. Mas o chamado de Jesus não se constitui numa imposição legalista; é sempre convite, sempre desafio. E como convite e desafio, sempre também arraigado no próprio amor de Jesus, através de quem temos salvação e bem-aventurança.
Quanto às condições de vida em comunidade, a Bíblia sabe ser bem realista: há, juntos, “joio e trigo”. A tentação dos discípulos era fazer a separação, mas Jesus adverte: ao se pretender arrancar o joio, pode-se tirar o trigo junto. Logo, joio e trigo deverão crescer juntos até a colheita. Aí, por ordem do próprio Senhor, será feita a separação. Não antes. (Mateus 13.24-29) Em Lucas 15 temos as parábolas, ainda mais incisivas, que mostram o comportamento misericordioso do próprio Deus. O pastor vai atrás da ovelha perdida (até mesmo deixando para trás as ovelhas que estavam em seu rebanho). A mulher que perde uma moeda procura-a, até encontrá-la. O pai aguarda o filho pródigo que saiu de casa, para dilapidar os bens herdados, e, quando este regressa, prepara-lhe uma festa para escândalo de seu irmão mais velho, que sempre permanecera fiel e responsável.
O apóstolo Paulo, igualmente, conhecia a precariedade da vida comunitária. Na Comunidade de Corinto, por exemplo, havia graves problemas: divisão entre grupos, alguns se sentindo superiores a outros; dissensos doutrinários, por exemplo no tocante à ressurreição que alguns negavam; conduta ética reprovável, como relações sexuais incestuosas; discriminação social entre livres e escravos quando da comunhão de mesa (Santa Ceia); atritos no tocante à piedade e ao culto, o entusiasmo e a vanglória ferindo a boa ordem e a comunhão fraternal. Ainda assim, Paulo chama seus membros, todos eles, de “santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos” (I Coríntios 1.2) e busca reconciliar seus membros, exortando-os, mas acolhendo-os e reconhecendo-os fraternalmente como parte do corpo de Cristo.
Assim também a Comunidade não pratica a exclusão, mas busca incansavelmente seus membros afastados e se regozija quando se reincorporam ativamente na vida da Comunidade.
Na Confissão de Augsburgo, no artigo VII, a Igreja é descrita como “a congregação de todos os crentes, entre os quais é pregado puramente o evangelho e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho” (ou, na versão latina, “a congregação dos santos, na qual o evangelho é pregado de maneira pura e os sacramentos são administrados corretamente”). Fica claro, porém, que a santidade não é uma qualidade moral dos membros da Igreja; ao contrário, eles “são justificados gratuitamente, por causa de Cristo, mediante a fé, quando creem que são recebidos na graça e que seus pecados são remitidos [anulados] por causa de Cristo, o qual, através de sua morte, faz satisfação pelos nossos pecados” (artigo IV). Por isso, o artigo VIII, voltando ao tema “Igreja”, reconhece que na Igreja, entre os santos e verdadeiramente crentes, há “nesta vida, muitos hipócritas e maus”, o que, porém, não invalida a eficácia dos sacramentos, ainda que administrados por maus.
Lutero expôs essa mesma concepção de forma ainda mais radical ao reconhecer que mesmo as pessoas que crêem não deixam de ser pecadoras, e por isso são “simultaneamente justas e pecadoras”. Ou então: são de fato pecadoras, mas na esperança e na graça de Deus passaram a ser justas. Ou, em relação à Igreja, Lutero pôde empregar a figura de um hospital: nela há muitos doentes, mas eles estão sendo eficazmente tratados pela palavra e pelos sacramentos. Um hospital contrariaria sua própria finalidade se excluísse de seu meio as pessoas enfermas, pretendo ficar apenas com as sãs. O juízo, pois, permanece sempre exclusivamente nas mãos de Deus. A Igreja pode exercer tão-somente uma disciplina provisória, visando à restauração e à preservação da unidade. Todo seu empenho consistirá, porém, em testemunhar o Evangelho, pelo qual Lutero reconheceu magistralmente o seguinte, no Catecismo Menor, na explicação ao terceiro artigo do Credo Apostólico:
“Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim como chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na fé verdadeira e única. Nesta cristandade perdoa a mim e a todos os crentes diária e abundantemente todos os pecados e, no dia derradeiro, me ressuscitará a mim e a todos os mortos e, em Cristo, me dará a mim e a todos os crentes a vida eterna. Isto é certissimamente verdade.”
Assim, a Igreja está sempre chamada a proclamar a boa nova do Evangelho, da justificação pela graça de Deus, e desta forma a constituir e fortalecer a Comunidade, conclamando e exortando seus membros a atuarem ativamente na comunidade e com fidelidade também em suas vidas pessoais e na sociedade. Desta forma abrangente, a IECLB acolhe como seus membros aquelas pessoas que são batizadas e reconhecem as bases confessionais da Igreja, sem impor outras condições que viriam a atribular as suas consciências e a criar duas categorias de pessoas cristãs, umas superiores e outras inferiores – o que seria uma negação do ser igreja e do próprio amor de Deus.
Posicionamento Quem é membro da IECLB? - 2007
texto completo do Posicionamento
A Igreja é edificada quando diferentes opiniões se expressam em assuntos importantes. O debate teológico é salutar. Do diálogo poderá surgir o amadurecimento. Também desacordos devem poder ser expressos com franqueza. Mesmo protestos têm seu devido lugar. Mas não podemos aceitar como saudável ou responsável quando, fazendo uso da agilidade característica da internet, se estabelecem amplas redes de protesto, acusações e insinuações, simplesmente a partir de uma breve notícia de jornal, sem que tenha havido qualquer intento de se informar previamente com as pessoas porventura envolvidas e com as devidas instâncias da Igreja quanto ao que de fato tenha ocorrido, em que circunstâncias e por que.
Posicionamento sobre Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso – 2005
Texto completo do Posicionamento
Na compreensão luterana, Igreja é comunhão daquelas pessoas que Deus chama à fé em Cristo, mediante o agir do seu Espírito. A Igreja deve sua existência à eleição pelo Pai, à reconciliação pelo Filho e à comunhão no Espírito Santo – um Espírito que não constrange, mas liberta para uma resposta de fé à graça justificante de Deus. Este Espírito cria a fé, utilizando-se dos meios da graça, a saber, a palavra de Deus, em lei e evangelho, e os sacramentos do batismo e da ceia do Senhor. Discernir corretamente entre lei e evangelho, e viver adequadamente a realidade do batismo e da ceia do Senhor são desafios permanentes para a Igreja.
O estudo das bases bíblico-confessionais da IECLB tornou evidente que a unidade é, antes de tudo, dom gracioso de Deus. Esta dádiva divina é também um compromisso de todos nós. Isto é: não somos chamados a construir a unidade, mas recebê-la e preservá-la (Efésios 4.3ss). A expressão maior da unidade orgânica da Igreja encontra-se na concordância em torno daquilo que é essencial para a sua existência: a doutrina do evangelho e a administração correta dos sacramentos. Acerca das questões não-essenciais à salvação, “tradições humanas, ritos e cerimônias”, não é necessário haver unanimidade (CA 7). Contudo, quando não entendidas como meios necessários à salvação, devem ser respeitadas a identidade própria das comunidades e a unidade da igreja em suas múltiplas expressões, como úteis para a boa vivência comunitária e eclesial (cf. CA 15).
(...) O trato das questões que afetam a unidade da Igreja, requer ambas: integridade evangélica e sensibilidade pastoral. Nas situações controvertidas, torna-se necessário alcançar um consenso que não seja simples decisão de maioria nem decreto da Direção da Igreja, mas fruto de um processo teológico e espiritual que, com paciência e respeito às consciências, interpretando os “sinais dos tempos” e, simultaneamente, com plena disposição para alcançar definições doutrinárias inequívocas, ouve a Escritura, interpreta a tradição confessional e dialoga com irmãs e irmãos, confiando que o Espírito Santo nos “guiará para toda a verdade” (João 16.13). Nesse sentido, os três pilares da Reforma protestante – somente Cristo, somente pela graça, somente pela fé –, acompanhados da plena consciência de que somente a Escritura nos serve de norma e fonte de fé, são compromisso irrenunciável da confissão luterana para a vivência comunitária. São conceitos mutuamente inter-relacionados, e Cristo é centro e senhor da Escritura, entendida não como código de leis, mas como palavra viva e libertadora de Deus. Justificados pela graça, mediante a fé, somos, como Lutero expressou, simultaneamente livres e servos, livres na fé e servos no amor – livres diante e a partir de Deus, e servos em nossa relação com o próximo. A IECLB é permanentemente chamada a ter nesta peculiar liberdade da pessoa cristã uma de suas marcas distintivas.
Obviamente, esta reflexão sobre a identidade confessional da IECLB não é uma finalidade em si, mas apenas um aparelhar-se para a missão com a qual Jesus Cristo a incumbiu de testemunhar em palavra e ação a Boa Nova de Cristo em terras brasileiras. A missão, por sua vez, não é concebida como negação do compromisso ecumênico. Ao contrário, a cooperação ecumênica entre igrejas que se respeitam mutuamente, sem renunciar a suas próprias identidades, enriquece a cada uma das igrejas e contribui decisivamente para a credibilidade da missão. Nesta, o horizonte último é o da plenitude do reino de Deus.
Enquanto caminha e se desincumbe de sua tarefa, cabe a toda a IECLB manter viva a admoestação que se encontra em Efésios 4.1-6: “Rogo-vos, pois, (...) que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; e um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.”
Distinguimos diferentes dimensões, níveis e graus de comprometimento. Retomando o expresso na seção anterior, observamos que há uma unidade que é essencial e deve ser permanente, aquela que temos na compreensão comum do Evangelho como boa notícia de que, em Cristo, Deus nos redimiu, de uma vez por todas, exclusivamente por graça, redenção que recebemos em nossas vidas mediante a fé em Cristo, através da Palavra e dos Sacramentos, independente de nossas obras e sem mérito de nossa parte, mas por obra do Espírito Santo. Por isso, é essencial e permanente nossa unidade numa compreensão comum acerca do evangelho e dos sacramentos. Divergências nesses assuntos não podem ser aceitas como “normais” no seio da Igreja, muito menos como expressão de benéfica diversidade no corpo de Cristo. Devem ser superadas mediante perseverante diálogo teológico e pastoral ou, em casos mais agudos, mediante a disciplina eclesial. Podemos dizer que esta é a unidade interior da Igreja, sobre a qual repousa a unidade exterior, que sempre será fictícia se não houver aquela unidade evangélica interior. Não bastam declarações de se ser IECLB; “ser IECLB” tem um irrenunciável conteúdo confessional.
Já outras expressões de unidade são fruto de compromissos comuns que assumimos como Igreja em vida e missão. Não podem ser entendidas como essenciais para a fé. Muitas vezes provêm de nossa herança histórica, teológica e espiritual como Igreja. Também podem ter a marca de nossa cultura, da proveniência étnica de grande número de nossos membros ou do contexto em que nossas comunidades têm surgido, se desenvolvido e fortalecido. Nesse sentido, essas expressões nunca são desprezíveis, têm seu valor, ainda que limitado, e podem, na prática, até mesmo ser importantes como expressão viva da Igreja. Obviamente, porém, jamais podem ser elevadas ao nível daquela compreensão fundamental da fé. Elas também evoluem e se alteram conforme a trajetória histórica e teológica da Igreja e suas decisões conciliares.
Uma menção especial deve ser dada a decisões conciliares que ordenam a vida da Igreja. Elas geralmente são fruto de processos longos de reflexão, consulta e deliberação nas mais diversas instâncias da Igreja. Já por isso se revestem de importância eclesial. Mesmo assim, numa Igreja da Reforma, decisões conciliares não são infalíveis e, portanto, sempre são reformáveis e, assim, passíveis de reflexões e debates teológicos no interior da Igreja. Mas elas expressam o sentir da Igreja como “comunidade de comunidades”, num determinado tempo e lugar. Nessa qualidade, elas devem ser observadas, enquanto estejam em vigor e não tenham sido alteradas pelas instâncias constituídas.
Por último, também há uma finalidade bem pragmática na unidade da Igreja: desde que não confundida com uniformidade, que sufoca a saudável diversidade de formas, de estilos, de espiritualidade e de perspectiva teológica, a unidade da Igreja contribui para a maior credibilidade e eficácia de sua missão. Ela também dá coerência a seu testemunho. Quando Jesus intercedeu pela unidade de seus discípulos em Deus, como ele e o Pai são um, o fez também “para que o mundo creia” (João 17.21). A unidade provém de Deus, cria comunhão e resulta em frutos de fé na missão de Deus.
Manifesto Unidade: Contexto e Identidade da IECLB - 2004
Texto completo do Manifesto
A unidade está em Cristo que por nós morreu na cruz e ressuscitou para que tivéssemos aquela esperança que conduz à vida eterna todas e todos que nele creem. Por isso, ELE é a nossa paz (Ef 2.14). Por meio do Santo Batismo somos incorporados no corpo de Cristo, na grande família de Deus. Essa membresia e essa fé é um presente, dado por Deus. A salvação não é resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la (Ef 2.8,9). Por gratidão, pois, servimos uns aos outros, já que Cristo nos serviu, serve e servirá. Sendo ELE o cabeça, o Senhor ao qual com grata alegria nos subordinamos, somos livres para nos sujeitarmos uns aos outros (confira Ef 5.21). Não temos mais necessidade de sermos donos da verdade, mas procuramos compartilhar o poder de decisão.
Posiconamento sobre Unidade - 2001
Texto completo do Posicionamento
Conforme a Confissão de Augsburgo (artigo VII) – texto confessional básico da Reforma Luterana –, a Igreja de Jesus Cristo está presente lá onde o evangelho é pregado de maneira pura e os sacramentos administrados de forma correta. Nesse sentido, afirmamos que a IECLB é parte da Igreja de Jesus Cristo no Brasil e no mundo. Reconhecemos como igrejas-irmãs todas aquelas que confessam Jesus Cristo como Senhor e Salvador, estando portanto incluída entre elas também a Igreja Católica Romana. Ao mesmo tempo, constatamos que enquanto instituição humana todas as igrejas carregam as marcas do pecado humano. A própria divisão das igrejas é resultado desse pecado, não podendo nenhuma delas considerar-se isenta de culpa.
Manifesto sobre a Declaração Dominus Iesus da Igreja Católica - 2000
Texto completo do Manifesto
O Espírito Santo a cria (a Igreja) pela pregação do evangelho e pela administração dos sacramentos. Ele a coloca sob o senhorio de Jesus Cristo, que por nós morreu na cruz, pagando por nós o salário do pecado, que é a morte (Rm 6.23). Base para as afirmações doutrinárias luteranas é somente a Escritura Sagrada do AT e NT. A Confissão de Augsburgo resume isso, quando afirma em seu artigo VII, que a Igreja “é a congregação de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho”. (Livro de Concórdia)
(...) A Igreja, comunhão dos santos, isto é, os que pertencem a Deus, congrega pessoas diferentes entre si; todas elas, no entanto, são chamadas para viverem a justificação, concedida através do batismo. Isso se efetiva no seguir a Jesus Cristo em sua comunidade (discipulado). Aliás, o batismo comissiona ao “sacerdócio geral de todos os crentes”, pelo qual cada membro do corpo de Cristo desenvolve seu discipulado de maneira livre e destemida, na Igreja e na sociedade. A Igreja não é composta por pessoas boas e especialmente selecionadas, excluindo-se outras más, e, sim, por pessoas indistintamente carentes da graça de Deus (Rm 3.23). Por isso, a Igreja engloba toda a cristandade na terra. Por conseguinte, toda arrogância e toda prepotência espiritual ficam descartadas, pois as pessoas, olhando para sua condição humana, continuam pecadoras. A certeza da salvação, porém, acontece a partir do olhar voltado para Cristo e sua obra por nós. Assim, conscientes de que o evangelho verdadeiro é um só e Deus é um só, sabemo-nos irmanados numa única Igreja de Jesus Cristo. Logo, somos também conclamados a viver a unidade dentro da própria IECLB e a buscá-la com as demais Igrejas cristãs (Ef 4.1-6).
(...) Na Igreja, comunhão dos santos, experimenta-se a precariedade humana e, ao mesmo tempo, celebra-se a afirmação do perdão de Deus. A consciência de que as pessoas são simultaneamente justas e pecadoras reflete uma visão realista da vida e, ao mesmo tempo, esperançosa e confiante por estar alicerçada nas promessas de Deus. Esta perspectiva torna-se, portanto, libertadora, já que as pessoas não mais necessitam aparentar uma piedade perfeita, fruto de seu esforço próprio. Pelo contrário, por causa da graça e promessa de Deus, podem, esperançosos e confiantes, vencer as forças do pecado presentes em todos os âmbitos da vida.
A Igreja existe e é real ali onde a palavra de Deus é pregada. Conforme a afirmação de Lutero: “Graças a Deus, uma criança de sete anos sabe o que é a Igreja, a saber, [...] os cordeirinhos que ouvem a voz de seu pastor.” (Os artigos de Esmalcalde, art. XII. In: Livro de Concórdia, p. 338). Como tal, ela é visível e é povo de Deus. Ao mesmo tempo, ela é uma grandeza invisível ou oculta, porque só Deus vê os corações e sabe quem são as pessoas vivificadas e renovadas pelo Espírito Santo através da pregação do evangelho. A estrutura da Igreja é parte de sua dimensão visível, sem constituir a essência da própria Igreja. Como tal, porém, pode e deve estar a serviço do evangelho, razão pela qual também deve ser sempre avaliada criticamente a partir do evangelho.
Por sua graça e misericórdia, Deus, em sua ação salvadora, usa a Igreja como seu instrumento. Os sinais da Igreja são, entre outros: palavra, sacramento, confissão, oração, amor ao próximo e cruz. Da mesma forma, Deus pode usar qualquer meio ou outra instituição humana presente na sociedade e no mundo para concretizar seu desígnio e sua missão. Neste sentido, a Igreja assume uma postura de humildade. Reconhece que o próprio Deus é sujeito de sua missão. O crente luterano participa dela na qualidade de cristão e cidadão ao mesmo tempo. Ele é vocacionado a relacionar a fé com a vida do dia a dia. Em comunhão com a comunidade, testemunha, em forma de palavra e ação, a vontade libertadora de Cristo, que veio trazer vida em abundância. Isso possibilita ao ser humano viver em harmonia com Deus, consigo, com o próximo e também com a natureza, criação divina.
Conforme o conceito luterano de Igreja, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo, conosco mesmos e com o meio em que vivemos, através de Cristo. Conversão, santificação e vida nova, quando autênticas, nunca são consequências de capacidades pessoais ou grupais, mas são frutos do Espírito Santo, em resposta à pregação do evangelho.
O conceito luterano de Igreja abarca a dialética que Paulo define em Fp 2.12s.: “...desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” Pela pregação, a comunidade é desafiada a tomar uma decisão e a trabalhar em prol de sua salvação, santificação, renovação; contudo, logo que tocada e movida pelo Espírito Santo, ela percebe que na verdade foi Deus quem efetuou tanto o querer como o realizar.
Posicionamento A IECLB às portas do novo Milênio – 1999
Texto completo do Posicionamento
(...) Uma Igreja, na verdade, não se distingue em muito de qualquer instituição humana. Por isto também os conflitos fazem parte de sua vida.
Há interesses e convicções diferentes entre os seus membros, e suas estruturas e necessidades em muito se assemelham às de outras organizações. Ainda assim, nem tudo deve ser igual ao que é usual no mundo. Permito-me lembrar que, além de instituição humana, somos uma comunhão de pessoas que agradece a Deus pelas suas dádivas e suas promessas. Somos uma comunidade de culto e adoração. Simultaneamente, o Evangelho nos chama a uma nova maneira de viver, a dar o nosso testemunho e a servir à vida. E nisto se inclui, de modo privilegiado, a forma de enfrentar dificuldades, de conviver e de resolver conflitos. Caso contrário perderemos a credibilidade.
Tentando interpretar o que isto significa eu diria o seguinte:
1. Fundamental é a renovação diária de nossa fé. Deus está acima de nossas dificuldades e também acima de nossas imperfeições. Sem esta convicção não vamos longe. Vamos antes afundar em nossas rixas, culpar-nos mutuamente da desgraça e perder o fôlego na caminhada. Sem a fé o amor enfraquece e a comunidade se desfaz.
2. Como comunidade de Jesus Cristo temos uma missão comum. É a causa maior que nos compromete e que sempre de novo deveria prevalecer por sobre questões de ordem pessoal. O individualismo destrói a comunidade. O mesmo efeito devastador têm a luta por poder, a vontade de se impor e de ganhar projeção. Não é a Igreja que nos deve servir, mas nós devemos servir à Igreja e às pessoas a que Deus nos envia.
3. Na Igreja jamais houve unanimidade de opinião. Dentro de certos limites, é legítima e até necessária a pluralidade. A variedade de situações e experiências, bem como fatores individuais, sociais e culturais diversificam as manifestações da fé. Unidade cristã jamais significou uniformidade. É dinâmica, alicerçada no mesmo espírito (1 Co 12,3s), envolvida em permanente processo de aprendizagem. Por isto, cumpre-se admitir diferenças na comunidade e aprender a trabalhá-las. Para tanto é indispensável a arte do diálogo, a busca do parceiro, a dinâmica da interação. É preciso argumentar em vez de condenar, é preciso ouvir e entender antes de excluir. “O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece...”(1 Co 13,4).
4. A Igreja não é uma empresa com patrões e empregados. Ela é o corpo de Cristo e por isto uma comunhão de irmãos e irmãs. Consequentemente não cabe o pensamento sindicalista. Nas divergências importa tentar o entendimento mútuo, o apelo ao bom senso, ao espírito da fraternidade. Caso contrário, a comunidade vai dissolver-se em facções antagônicas, tornando-se incapaz de agir como um todo.
5. Não poucos conflitos na Igreja têm raízes econômicas. Há membros em melhores e outros em piores condições de vida. Embora esteja fora do alcance da Igreja resolver o problema à parte da sociedade em que vive, cabe-lhe ensaiar a lei de Cristo, dizendo: “Carregai as cargas uns dos outros...” (Gl 6,2). O tratamento mútuo que nos é devido tem muito a ver com justiça e a disposição de repartir onde há necessidade. Justamente na atual situação de generalizado empobrecimento, este aspecto é da mais alta relevância.
6. Naturalmente, também na Igreja se deve lutar. Todos temos os nosso defeitos, e também a Igreja os tem. Mas a metodologia deve ser evangélica, tentando ganhar os irmãos e as irmãs, não perdê-los. Deve haver misericórdia na crítica, bem como respeito no estilo do tratamento, mesmo que sejamos “minoria vencida”. Quem deve vencer na Igreja é o próprio Cristo, a sua verdade e a vida que ele dá. Para tanto não precisamos apenas da contestação. Precisamos sempre mais de propostas construtivas e de projetos viáveis, o que exige um decidido esforço conjunto.
Posicionamento referente a igreja - 1991
Texto completo do Posicionamento
Que vem a ser, pois, uma Igreja fundamentada no Espírito? Destaco três características:
1 – É uma Igreja que busca sua força em Deus. As fontes de energia da comunidade cristã estão na palavra e nos sacramentos. Quem julga ser forte, não costuma pedir ajuda. E quem supõe estar em posse de grandes dons carismáticos costuma comportar-se como se fosse ele o salvador do mundo. Não! É Deus quem salva e quem dá forças para aguentar inclusive derrotas. Igreja do Espírito Santo não precisa impressionar com demonstrações carismáticas nem precisa possuir poder secular. Mas ela será uma comunidade confessante, convincente, forte mesmo em sua fraqueza. É porque o culto é de tão grande importância. Nele é ouvido o testemunho dos apóstolos, são celebrados os sacramentos, nele são confessados os pecados, é glorificado o nome de Deus. Todo culto verdadeiro terá aspectos de Pentecostes.
2 – Igreja do Espírito é uma Igreja que busca a comunhão. O Espírito Santo ensina a ver os irmãos e as irmãs ao nosso lado, a perceber suas necessidades e a querer o seu bem. O principal fruto do Espírito não é o êxtase, mas sim o amor (I Co 12.31; Gl 5.22). Numa época que cultua o egoísmo e individualismo é duplamente importante ressaltar que o Espírito cria comunidade. Nela uns ajudam aos outros – ou ela não existe. Portanto, é fundamental a vivência que ensaia a comunhão fraternal. O Espírito Santo congrega as pessoas, ele as reconcilia, faz com que se entendam, cria nova comunhão.
3 – Igreja do Espírito Santo é uma Igreja que busca a vontade de Deus no mundo. Coloca os propósitos de Deus acima dos interesses individuais. É a desgraça de nossa sociedade e do mundo que não se importam com o que Deus quer ou que confundem vontade de Deus e interesses pessoais, respectivamente grupais. O que Deus diria com relação à situação vigente em nosso País? O que ele iria exigir? Isto aí deveríamos discutir bem mais. Na Igreja do Espírito há estudo, reflexão, diálogo, sempre na tentativa de ouvir ‘o que o Espírito diz às igrejas’ (Ap. 2.7 etc).
Mensagem de Pentecostes – 1987
texto completo da Mensagem
(...) devemos esforçar-nos pela unidade.
Para tanto dispomos de dois critérios orientadores básicos que são a Bíblia e a confissão luterana. Diante deles devemos responsabilizar as nossas posições. É claro que a prioridade cabe à Bíblia. Mas importa que seja lida em seu conjunto. A leitura seletiva divide e é a origem das seitas. Para que isto não aconteça, insistimos em nossa confissão luterana que, antes de qualquer coisa, significa o compromisso com a leitura integral da Palavra de Deus.
O cristão vive no mundo, onde deve aprovar a sua fé. Consequentemente não podem ser excluídos da consideração os assuntos do dia a dia e os desafios que enfrentamos. Deus espera, além da fé, a ação. É porque devemos ter olhos para a nossa realidade e saber o que passa conosco e em volta de nós. É uma condição importante para chegar a um consenso quanto a nossos compromissos concretos. Muitos dos atuais conflitos na Igreja tem sua origem em concepções diferentes quanto à ação exigida pela fé em nossos dias.
Todo testemunho cristão, seja em palavra seja em ação, se reveste de forma muito humana. Temos o tesouro apenas em vasos de barro (2 Co 4.7). Por isto não fugimos da necessidade de justificar nossas atitudes uns perante os outros. Ninguém, exceto Jesus, é a verdade e tem a verdade. Nós somos seus discípulos, gente em contínua aprendizagem. Isto vale para pastores e ‘leigos’. Aliás, conforme a tradição luterana cabe à comunidade um papel muito importante. Embora o Pastor esteja incumbido da pregação da Palavra de Deus, ele é responsável não só diante do próprio Evangelho. Também o é diante da comunidade e de seus membros. A unidade da Igreja exige que, apesar das divergências, nos respeitemos como parceiros na mesma tarefa e estejamos disposto a prestar contas de nossa fala e postura.
Por isto é preciso argumentar, não simplesmente julgar e decretar. O argumento procura convencer se se dispõe ao diálogo. Evidentemente, dialogar é difícil. A pessoa se dispõe e corre o ‘risco’ de ter que corrigir-se. Diálogo requer a pessoa pronta para aprender. A isto muitas vezes resistimos. Ignoramos as posições divergentes e evitamos o encontro com o oponente. Mas é isto o que entrava o discipulado e provoca desunião. A unidade exige diálogo.
Ademais, importa não separar o que no Evangelho está unido. A fé e o amor, a ação e a oração, o esforço humano e a gratidão pelas dádivas de Deus, a responsabilidade social e a piedade individual, a denúncia, a confissão e o perdão dos pecados, a conversão das pessoas e a transformação da sociedade, a esperança por melhoria de vida e por ressurreição dos mortos – tudo isto, e mais, não permite o divórcio. Em boa medida as divisões da cristandade são fruto de uma visão unilateral e mutilada do Evangelho.
Posicionamento sobre Unidade – 1986
Texto completo do Posicionamento
É necessário ouvir e falar com o outro que não compartilha exatamente a mesma maneira de crer e pensar. É mais necessário ainda refletir as nossas perguntas e os problemas da atualidade à luz do Evangelho em busca de respostas comuns. Não se trata de abafar o Espírito Santo (I Ts 5,19) ou de reprimir a pluralidade dos carismas característica do corpo de Cristo. Não estamos pretendendo uma uniformidade que, em última instância, é estéril. Queremos, isto sim, uma pluralidade que sabe conviver, aguentar tensões e que aprofunda a compreensão do Evangelho.
Posicionamento sobre Unidade – 1980
Texto completo do Posicionamento
A Igreja de Jesus Cristo, por natureza e incumbência, é uma realidade dinâmica neste mundo. Anunciando e vivendo o Evangelho, ela é porta-voz das maravilhosas obras de Deus em favor da justificação, libertação e salvação de Sua criatura. A IECLB, através do seu compromisso com o Evangelho, participa desta missão. Grata pelo amor de Deus em Cristo que lhe deu e continua dando existência, ela se sabe devedora de todos os homens, mormente dos do seu ambiente imediato, convidando-os a serem co-herdeiros do reino de Deus que se manifesta em fé, justiça, amor, esperança e liberdade.
A IECLB bem como qualquer Igreja está constantemente ameaçada de se tornar sal insípido, luz sob o alqueire, devedora insolvente. Ela pode trair o Evangelho, não sendo suficientemente Igreja ou comunidade e assim negar o que ela por natureza é. A Igreja pode morrer, ainda que o seu organismo estrutural continue funcionando. Em razão disso cabe a IECLB o constante exame de si mesma no que diz respeito à fidelidade a seu Senhor. Se Ele é a ressurreição e a vida, a Sua comunidade, a rigor, não pode ser morta e inerte.
(...) Desenvolver e testar estruturas eclesiais propiciadoras e promotoras da comunhão entre os membros. Muito individualismo, a falta de verdadeira acolhida do membro em sua comunidade e a pobreza de diálogo são apenas alguns sintomas da precariedade de nossa comunhão. Aliás, as nossas formas de vivência social - e é isto que chamamos de estruturas - são mantidas por determinadas mentalidades. Renovação das estruturas começa pela renovação das mentes. Isto não vale apenas para hoje. A constituição de comunidade cristã sempre foi uma questão de transformação de mentalidade. Por outro lado, porém, estruturas existentes também podem bloquear a necessária transformação da mentalidade, razão pela qual é possível haver a urgência de questioná-las e sujeitá-las a um exame crítico. No entanto a mudança e o desenvolvimento de estruturas jamais é uma simples questão de organização, é uma questão de conversão e de aprendizagem.
Posicionamento Discipulado Permanente – Catecumenato Permanente – 1974
Texto completo do Posicionamento
2. Desdobramentos práticos de organização eclesial
O que diz o Guia Nossa Fé – Nossa Vida referente desdobramentos práticos:
Qual a tarefa de presbíteros e presbíteras?
Eles administram e dirigem a comunidade, assegurando a continuidade do trabalho eclesiástico em todos os setores da comunidade, segundo o ministério compartilhado, em corresponsabilidade com obreiros e obreiras. Atuam em equipe com os obreiros e as obreiras e as pessoas colaboradoras leigas.
Quem exerce a direção em nossa Igreja?
Assim como a comunidade, também a nossa Igreja chama dentre seus membros aqueles que a dirigem, em nível paroquial, sinodal e nacional. A comunidade participa da eleição dos mesmos, através dos seus delegados que a representam na reunião do conselho paroquial, na assembleia sinodal e no concílio da Igreja.
O que é necessário para exercer uma função?
Todo membro da igreja que nela recebe uma tarefa específica, seja no ministério diaconal, catequético, missionário, pastoral ou no serviço de presbítero e presbítera, deve estar consciente de sua vocação. É devidamente preparado para sua função por meio de cursos, seminários e retiros, realizados pelos responsáveis nos respectivos setores de trabalho.
Deve ser credenciado pelos órgãos competentes e oficialmente incumbido do cargo a ele confiado.
Guia Nossa Fé – Nossa Vida
Texto completo do Guia
O que dizem os manifestos e posicionamentos da IECLB referente desdobramentos práticos:
Quais as expressões de unidade que podemos discernir na IECLB e que devemos observar ou fortalecer?
Escritos.
A Constituição da IECLB (art. 5.o) coloca de maneira clara a base confessional da Igreja: em primeiro lugar, as Sagradas Escrituras, compostas do Antigo e Novo Testamentos, seguidas das confissões dos credos da Igreja Antiga, e, como confissões da Reforma, a Confissão de Augsburgo e o Catecismo Menor de Lutero. A Constituição também afirma a natureza ecumênica da IECLB, como vínculo de fé com as igrejas do mundo que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.
Outros escritos relevantes para a unidade da IECLB, embora em nível descendente de importância, são:
a) os documentos normativos (Constituição, Regimento Interno, Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, Ordenamento Jurídico-Doutrinário – OJD);
b) os documentos orientadores (Nossa Fé – Nossa Vida, PAMI, A IECLB às Portas do Novo Milênio, A IECLB no Pluralismo Religioso);
c) manifestos e posicionamentos;
d) declarações conciliares;
e) cartas pastorais da Direção da Igreja.
Todos esses documentos e escritos, em seu conjunto, dão a feição oficial da IECLB. Segundo a Constituição da IECLB, “a Comunidade tem as seguintes incumbências: I – realizar a pura pregação da palavra de Deus e a reta administração dos sacramentos; II – zelar para que o testemunho do Evangelho seja dado em conformidade com a confissão da IECLB, em doutrina, vida e ordem eclesiásticas” (Art. 11.º, incisos 1 e 2). Da mesma forma, todas as obreiras e todos os obreiros da IECLB, em sua ordenação, prometem diante de Deus e da comunidade, observar essa base confessional da IECLB e acatar os documentos normativos e as regulamentações da IECLB. O quão fundamental é este aspecto fica realçado quando o Estatuto do Ministério com Ordenação determina que “a IECLB, através de seus órgãos competentes, efetuará permanente acompanhamento quanto ao cumprimento dos compromissos assumidos pela obreira ou pelo obreiro por ocasião da sua ordenação” (EMO, art. 26). O EMO também estabelece com clareza (art. 27): “Instalado no campo de trabalho, a obreiro ou o obreiro, em seus pronunciamentos e atitudes, deverá considerar a Igreja como um todo, empenhando-se pela sua unidade.”
Órgãos decisórios da IECLB.
O órgão decisório máximo da IECLB é o Concílio da Igreja, em nível sinodal o é a Assembleia Sinodal. Como órgãos constituídos a partir das bases comunitárias da IECLB, suas decisões não são opcionais, mas compromissivas para as comunidades, paróquias, sínodos, instituições e setores da Igreja. No interregno de suas reuniões, a instância maior de decisão é, respectivamente, o Conselho da Igreja e o Conselho Sinodal. Fóruns, seminários e conferências de obreiros/as não têm poder decisório, mas igualmente contribuem para a unidade da Igreja, tanto quando abordam aspectos programáticos da implementação de decisões conciliares, como quando lançam novos desafios e debatem assuntos gerais na Igreja.
Inobservância da base confessional da IECLB ou conflitos que ameaçam a unidade da Igreja, são tratados pastoralmente e, em casos de gravidade ou quando o diálogo se mostra infrutífero, disciplinarmente, conforme os regulamentos. As iniciativas pastorais ou disciplinares ocorrem, em um primeiro momento, pelas competentes instâncias sinodais e, quando necessário, pelo Conselho da Igreja, pela Presidência ou outras instâncias regulamentares em âmbito nacional.
Unidade na espiritualidade.
De forma muito palpável a unidade da Igreja se concretiza no culto. A IECLB tem uma ordem de culto, aprovada em Concílio, sem rigidez e sempre moldável às circunstâncias contextuais, mas contemplando, como o termo ordem indica, elementos essenciais e comuns num culto cristão. Desde 2003 dispomos também de um Livro de Culto orientador para a preparação dos cultos. Ele conjuga elementos da tradição litúrgica luterana e ecumênica, tomando em conta a realidade contextual contemporânea. Seguindo a exortação apostólica, a IECLB reconhece como importante que tenhamos não simplesmente uma ordem de culto, mas sempre ordem no culto (1 Coríntios 14.40). Contudo, nosso culto pode e deve ser caloroso, acolhedor, em que as pessoas saibam e sintam que Deus e a comunidade as apóiam e assistem em suas necessidades.
Conforme o Estatuto do Ministério com Ordenação, “as obreiras e os obreiros, ao presidirem cultos e ofícios e ministrarem sacramentos, usarão veste litúrgica, que lhes distinguirá a função, em conformidade com as disposições da Igreja” (EMO, art. 18, par. único).
(...) a IECLB expressa sua unidade e vai, passo a passo, assimilando suas implicações. Trata-se, podemos dizer, de um grandioso mutirão, processo no qual também surgem tensões e, mesmo, conflitos ameaçadores. A diversidade existente na IECLB, em termos de teologia, espiritualidade, de vivência comunitária e prática missionária, é, de um lado, expressão de vitalidade da Igreja; de outro, porém, pode esgarçar o tecido da comunhão.
Fundamentalismo teológico na interpretação da Escritura, tradicionalismo rígido, disputas de poder entre correntes teológicas, desconsideração da liturgia e dos símbolos eclesiais, uso preferencial de literatura teológica e catequética não proveniente da IECLB são algumas das ameaças reais e palpáveis à nossa unidade.
Manifesto Unidade: Contexto e Identidade da IECLB - 2004
texto completo do Manifesto
Na IECLB se torna mister inventar formas e achar modalidades que possibilitem um melhor encontro e convívio dos membros. Os contatos superficiais não são suficientes para a formação de verdadeira comunhão. É preciso descobrir o grande proveito da comunhão, para o que deverá ocorrer uma abertura da pessoa para o compromisso que, no corpo de Cristo, um tem para com o outro. Somente assim será promovida a aprendizagem individual e grupal; e a comunidade será habilitada a ser o sal da sociedade.
Uma vez que as paróquias e as comunidades da IECLB excedem numericamente o limite, dentro do qual a comunhão imediata é realizável, e uma vez que, na esmagadora maioria das vezes, os membros moram demais espalhados para poder ser garantida a sua comunhão também fora dos cultos, urge planejar a criação de parcelas comunitárias menores. Á semelhança da sociedade, a comunidade está ameaçada da massificação que a transformaria em simples empresa religiosa, abastecendo um determinado mercado de consumo. A procura por novas formas de comunhão se nos coloca como imperativo.
Tais parcelas de comunidades, ou seja, núcleos de comunidade, em parte, já existem. A ordem auxiliadora de senhoras, grupos de juventude, corais, grupos de estudos bíblicos, etc. devem ser mencionados neste contexto. É preciso, porém, que tais núcleos realmente se entendam como comunidade, aprofundando a sua comunhão e transformando-se em multiplicadores de comunidade. Além dos núcleos existentes podem ser criados outros, como por exemplo, grupos-tarefa, grupos de reflexão sobre assuntos de seu especial interesse (moradores de uma vila, grupos profissionais - médicos, professores, agricultores), etc. As possibilidades são muitas, no entanto, a criação de tais núcleos requer habilidade, qualificação e motivação. Para tanto deverá haver orientação e material subsidiário. Há necessidade do treinamento de especialistas, de literatura do tipo “teologia para leigos”, há necessidade de material que informe tanto sobre métodos relativos à criação de tais parcelas comunitárias e à maneira de como conduzi-las, como também de material sobre conteúdos da fé evangélica e sobre sua configuração dentro da nossa realidade.
Discipulado permanente, isto é lógico, não está condicionado a determinados métodos - também não ao método da criação de núcleos de comunidade. Possivelmente existam ainda outras maneiras de intensificar a vida em comunhão dos membros. As situações na IECLB são diferentes. Mas é obvio que o nosso discipulado sofre sérios danos, onde faltar a vivência do cristão como membro vivo no corpo de Cristo vivo.
Posicionamento Discipulado Permanente – Catecumenato Permanente – 1974
Texto completo do Posicionamento