Presidência da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil



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Missão - Formação

Palavra da IECLB - O que dizem os manifestos e posicionamentos da Direção da IECLB

1. Fundamentação:

O que diz o PAMI sobre Formação:
(...) uma tarefa prioritária e estratégica se impõe: a capacitação dos membros para a articulação missionária da fé. Trata-se de responder positivamente ao desafio de estar “sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. Preparar os membros para “dar razão de sua esperança” significa provê-los com os elementos fundamentais da fé e da doutrina, visando a que os articulem de forma missionária no cotidiano de suas vidas. Igualmente significa capacitá-los para o testemunho do evangelho em situações específicas – no acompanhamento a doentes, a enlutados, a pessoas em crise, a pessoas distanciadas da vida comunitária, ou no engajamento em movimentos e organizações da sociedade civil, entre outras situações.

(...) A ação educativa faz parte da história de Deus com seu povo. A experiência vivida pelo povo de Deus tem como característica aprender e ensinar. Deus educa o povo, de forma contínua, através da experiência de libertação, que inicia com a saída do Egito, passa pelo deserto, pela organização na terra prometida e vem até os dias de hoje. O povo aprende através da vivência e da reflexão, dos acertos e dos erros. O povo também ensina. Os pais ensinam aos filhos para que se mantenham firmes e confiantes no Deus libertador.

A ação educativa segue sua trajetória na história. Deus sempre se preocupa em orientar o povo. Por isso, na época dos reis em Israel, ele envia os profetas, que alertam e chamam para o arrependimento e a mudança de vida.

Entre os ensinamentos dos profetas, está o anúncio da vinda do Messias, do Filho de Deus. Essa profecia se cumpre com o nascimento de Jesus Cristo e se atualiza e se renova com a promessa da segunda vinda de Cristo. Toda a vida de Jesus, desde o seu nascimento até a sua morte, é ação educativa de Deus em favor das pessoas. Jesus educava através de gestos e de palavras. Partia da experiência de vida; contava histórias; questionava leis, tradições e posições estabelecidas; recebia as pessoas marginalizadas; ia ao encontro delas; caminhava com seus discípulos e tinha abertura para dialogar e aprender de outras pessoas. Também suas curas tinham aspectos educativos. Deixava as pessoas manifestar sua vontade; derrubava preconceitos; valorizava a atitude de fé das pessoas. Ao se despedir de seus discípulos, Jesus deu-lhes a tarefa de educar. As primeiras comunidades cristãs assumiram essa missão com muita coragem e criatividade. Desde então, a igreja prioriza a educação cristã, capacitando as pessoas para cooperar com a missão de Deus no mundo e para exercer plenamente o sacerdócio geral.

A preocupação com a educação também está na origem da igreja luterana. Martim Lutero deu muita importância à educação. Por esse motivo, escreveu os catecismos, para que pais e filhos pudessem ensinar e aprender. Também aconselhou os príncipes a criarem escolas. Lutero se preocupava com sua formação pessoal e contínua. Ele dizia: “Eu, embora velho doutor das Escrituras, não compreendo ainda direito os Dez Mandamentos, o Credo e o Pai-Nosso; eu não posso estudar a fundo nem aprendê-los totalmente, assim aprendo o Catecismo dia após dia e oro com meu filho João e a minha filha Madalena”.

A exemplo de Lutero, que nutria diariamente sua fé através do estudo da palavra de Deus, a educação na igreja é permanente e contínua. A igreja orienta seus membros para que possam viver diariamente seu batismo através do sacerdócio geral.

A educação faz parte da vida e acontece em diferentes espaços e de diferentes maneiras. Na igreja, a prática educativa oportuniza aos membros a educação contínua na fé a partir da identidade luterana, capacitando-os para a vivência missionária do sacerdócio cristão.

As pessoas buscam respostas para suas dúvidas, consolo para suas aflições, orientação para sua vida. Elas aprendem de diversas maneiras. Existem várias metodologias que podem orientar o processo educativo. Não há um único método a ser seguido por todos, ou que sirva a todos. Cada contexto exige uma metodologia. É necessário planejar as ações educativas a partir de cada realidade. Alguns princípios podem orientar o processo de ensino e aprendizagem. São eles:

Valorizar a experiência de vida das pessoas: O diálogo sobre as vivências diárias contribui para a compreensão da palavra de Deus. Ao ler ou estudar um texto bíblico em grupo, pode-se motivar as pessoas a falarem sobre suas experiências pessoais. Dessa forma, o conhecimento sobre a palavra de Deus não é transmitido de uma pessoa para outra, mas é construído através do diálogo e da partilha, onde todas as pessoas podem contribuir com sua experiência de vida.

Concretamente, a valorização da experiência de vida acontece quando as pessoas têm espaço e se sentem à vontade no grupo para contar o que está acontecendo com elas: suas alegrias, suas tristezas, seus sonhos e suas preocupações. O desafio é relacionar essas experiências com o estudo da palavra de Deus, buscando nela orientação para a vida.

Envolver todo o corpo: Educação cristã envolve todo o ser e passa por todos os sentidos. A educação também acontece através de gestos, símbolos, expressão corporal. As diferentes formas de comunicação podem ser usadas nos encontros, nas celebrações e nos cultos para ampliar e diversificar as possibilidades de reflexão sobre os conteúdos da fé. A Ceia do Senhor é um exemplo onde todo o corpo é envolvido na aprendizagem de que Deus vem ao nosso encontro. A comunidade reunida, o movimento de ir com outros ao altar, o cheiro, a cor e o gosto da uva e do pão, o sentimento de comunhão e inclusão revelam e expressam a graça e o amor de Deus.

Despertar a capacidade criativa de cada pessoa: Deus nos criou à sua imagem e semelhança, dando-nos a capacidade de criar. A educação cristã desperta a criatividade das pessoas quando trabalha a partir de diferentes linguagens. A música, o teatro, as artes plásticas e outras atividades artísticas contribuem no processo educativo. Estas formas de ensinar e aprender possibilitam que as pessoas descubram e desenvolvam suas potencialidades. Humanizar a educação através da alegria: As pessoas gostam de estar em ambientes alegres e que lhes dão prazer. Tais ambientes propiciam a criatividade, a liberdade, a solidariedade, o crescimento grupal e individual. Nesses espaços, o conteúdo se traduz em gestos, expressões, jeitos, canto e dança. A brincadeira oportuniza às pessoas o auto-conhecimento e o conhecimento do outro na sua verdadeira essência. Nesse sentido, a brincadeira e a alegria humanizam a educação. A brincadeira amplia a capacidade humana de viver coletivamente.

Dialogar com liberdade sobre dúvidas e perguntas: Durante toda a vida, há diferentes situações que preocupam e geram dúvidas e perguntas. Um dos fundamentos da educação cristã é abrir espaços, tanto em casa quanto na comunidade, para que as pessoas possam expressar suas dúvidas, conversar sobre elas e buscar orientação no diálogo com outras pessoas, bem como na leitura e no estudo da Bíblia. Quando crianças sentem um clima de confiança e respeito, elas fazem perguntas, porque sabem que serão ouvidas e atendidas. Essas perguntas levam as pessoas adultas a refletirem sobre as questões levantadas, motivando o diálogo e a busca por respostas. Nesse processo educativo, todos contribuem, aprendendo e ensinando.

Servir ao próximo: A ação diaconal contribui para a educação cristã, e a educação cristã fortalece a ação diaconal. O estudo da palavra de Deus fundamenta a prática do servir ao próximo e, ao mesmo tempo, as experiências diaconais enriquecem a reflexão em torno da palavra de Deus. A palavra de Deus fortalece e encoraja o ir aos lugares onde estão os mais fracos e marginalizados, lá onde o sofrimento compromete a vida, lá onde ninguém quer ir. Mas Deus está lá e chama pessoas para servir. Este serviço que brota da palavra de Deus também transforma. Transforma quem serve e quem é servido.

A educação cristã e a missão estão inter-relacionadas. Não há missão sem educação cristã nem educação cristã sem missão. Dito positivamente, só há missão quando há educação cristã e só há educação cristã quando há missão. A experiência bíblica da educação de Deus com seu povo e a prática educativa de Jesus fundamentam essa afirmação. Ao dar o maná no deserto, Deus saciou a fome e ensinou a confiar nele diariamente. A ação diaconal missionária de Jesus ao curar uma pessoa também está marcada pela ação educativa. A cura restabelece a saúde e, ao reintegrar a pessoa no convívio social, essa ação ensina que Deus quer vida digna para todas as pessoas.

Missão e educação são carregadas pelo amor. O amor dá sentido ao ensino e à aprendizagem. O amor move-nos a querer aprender mais para servir melhor. É o amor de Deus pelo mundo que nos educa para viver em comunidade e ensina-nos a responder a quem pede a razão de ainda termos esperança. Missão e educação cristãs são carregadas pelo amor de Deus pelo mundo.
PAMI - Plano de Ação Missionária da IECLB – texto base
Texto completo do PAMI

 

As quatro dimensões principais da vivência missionária relacionam-se com três eixos transversais: educação cristã contínua, administração criativa de recursos com vistas à sustentabilidade da missão e comunicação. Estes três eixos transversais levam a alcançar o propósito de criar e recriar comunidades.

(...) A educação cristã visa a capacitar as pessoas para cooperar com a missão de Deus no mundo e para exercer plenamente o sacerdócio geral. Ela é contínua, ou seja, acontece em todas as fases da vida e pela vida toda a partir do Batismo.
PAMI – Plano de Ação Missionária da IECLB – Linhas Mestras
Texto completo das Linhas Mestras

 

O que diz o Plano de Educação Cristã Contínua - PECC:
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) tem como fundamento o evangelho de Jesus Cristo na forma das Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos. A principal missão da igreja cristã é divulgar e testemunhar essa boa notícia. Isso acontece pela ação do Espírito Santo e em cumprimento à ordem dada por Jesus, conforme Mateus 28.18-20.
Jesus estabelece a prática do Batismo e do ensino como parte do compromisso de fazer discípulos. Disso decorre uma característica do ser igreja de Jesus Cristo: o compromisso com a educação cristã. Para atender a esse compromisso responsavelmente, a igreja promove diversas ações de educação na fé para as diferentes fases da vida. O Plano de Educação Cristã Contínua da IECLB (PECC) pretende afirmar a importância da educação cristã na missão da igreja e subsidiar suas diferentes instâncias para avaliar e planejar as ações de educação cristã.
(...)
A educação cristã contínua encontra fundamentação teológica na Bíblia, no Batismo e na confessionalidade evangélica luterana.
A Bíblia indica parâmetros e princípios éticos essenciais para uma educação baseada no agir educativo de Deus. Esse agir tem na ação de Jesus seu exemplo maior. O Batismo nos é dado, é graça de Deus, e compromete a comunidade a educar na fé cristã ao longo de toda a vida. A confessionalidade luterana também aponta para uma prática educativa baseada na liberdade, na aceitação e na abertura para o diálogo e no sacerdócio geral de todas as pessoas que creem. A Bíblia, o Batismo e a confessionalidade evangélica luterana contêm os princípios básicos que fundamentam e orientam o planejamento e a execução de ações de educação cristã propostas pelo PECC.

4.1 – Bíblia e educação cristã
Educação como lembrança dos feitos de Deus
A tarefa de educar é mandamento que provém de Deus: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Deuteronômio 6.6-7). É no convívio familiar que se ensinam e lembram os grandes feitos de Deus, mantendo e fortalecendo a confiança no Deus libertador.
Ensinar os mandamentos, fazer discípulos e evangelizar é um processo educativo que mantém viva a memória da ação divina e atualiza valores e princípios orientados na fé em Deus.

A prática do amor
O amor é elemento básico da existência humana e da relação com Deus. Todos os mandamentos convergem para ele: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento... Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.37,39). O amor a Deus como entrega total implica confiança plena em Deus e agir ético a partir da observância dos mandamentos. O amor ao próximo nos faz reconhecer que somos semelhantes, mutuamente dependentes e responsáveis uns para com os outros. Educar para a prática do amor é despertar sentimentos de desprendimento, liberdade, compaixão, solidariedade. O amor a si mesmo, nesse sentido, leva à valorização pessoal e à autoestima, sem cair no egoísmo, pois está vinculado ao amor ao próximo e a Deus.

O serviço como essência cristã
Deus nos chama a servir na comunidade e no mundo. O serviço (diaconia) é uma característica central da igreja e do ser cristão (Marcos 9.33-37;10.35-37). Servir uns aos outros é ação comunitária. Diversos tipos de serviço tornam possíveis a promoção da vida e a edificação de comunidade.
A educação cristã é serviço de Deus entre nós, voltada para todas as pessoas, sem qualquer discriminação. Educar para o serviço é anunciar o evangelho em palavra e ação, demonstrando, através da ação diaconal, a nossa fé.

A esperança vivida
A prática da esperança permite olhar para além dos problemas e desencantos. Ela motiva e inspira a vivência de um projeto de vida digna e justa. Nesse sentido, esperança é atitude ativa, que exercita a promoção da dignidade humana e o serviço ao próximo (Romanos 12.12-14).
Educar para a esperança é mostrar que ela é inspirada na ação de Deus entre nós e experimentada no testemunho de fé e de ações de justiça.

A reconciliação com Deus e com o próximo
O pecado afasta-nos de Deus, mas Deus nos procura em amor e bondade e oferece-nos o perdão. Em Cristo, somos reconciliados com Deus (Romanos 5.11; 2 Coríntios 5.18). A misericórdia de Deus é a fonte da reconciliação.
Educar para a reconciliação é anunciar a misericórdia e o perdão de Deus. Esse anúncio visa a atitudes concretas: reatar as relações com Deus e as relações com outras pessoas. A consequência da reconciliação é a paz.

O diálogo e o respeito como expressão de unidade
Uma comunidade cristã é plural por natureza. Como parte de um corpo, cada membro tem sua função. A diversidade está baseada no princípio da complementaridade: todos os membros trabalham para que o corpo funcione (1 Coríntios 12.12-27). Preservar a unidade significa agir com respeito, valorizando cada pessoa no seu modo de ser. Também significa apostar no diálogo como forma de aproximação e resolução de conflitos. A unidade na igreja é alcançada quando ouvimos as escrituras, interpretamos a tradição confessional e dialogamos como irmãs e irmãos.
Educar para o diálogo e o respeito é anunciar e viver a unidade como dom gracioso de Deus, que somos chamados a receber e a preservar (Efésios 4.1-6).

4.2 – Batismo e educação cristã
O Batismo marca o início da vida cristã, e seu fundamento encontra-se no ato salvífico de Deus através de Jesus Cristo. O Batismo expressa a autodoação de Deus, seu amor pelo ser humano, amor que na tradição luterana é incondicional. O Batismo é um ponto de partida no qual se assinala o início de uma vivência cristã, de uma apropriação diária e contínua do que significa a promessa de Deus.

O Batismo é um presente de Deus, dado graciosamente a cada pessoa através da igreja. O Batismo afiança (indicativo) que Deus me e nos ama, que Deus enviou seu Filho para minha e nossa redenção e salvação.

Esse presente vai sendo experimentado diariamente na vivência pessoal, familiar e comunitária da fé. Para isso, a pessoa que foi ou quer ser batizada (criança ou adulta), bem como os pais e padrinhos, necessitam de orientação, preparo, acompanhamento e formação. Conforme Mateus 28.18-20, os discípulos são enviados a todo o mundo com a missão de batizar e ensinar as pessoas. Portanto Batismo e educação cristã estão intimamente relacionados. O Batismo é celebrado na comunidade, a qual assume o compromisso de orientar e educar a pessoa batizada na vivência e no crescimento da fé por toda a vida.

Através do Batismo, cada pessoa é integrada ao corpo de Cristo e chamada a exercer o sacerdócio geral de todas as pessoas que creem, conforme 1 Pedro 2.9. Pelo Batismo, que concede a presença e a ação do Espírito Santo, cada pessoa torna-se capaz e digna para anunciar o Evangelho e testemunhar o amor de Deus.

Uma das consequências do sacerdócio geral é que todas as pessoas batizadas são responsáveis pelo ensino e pela aprendizagem na fé. Pela graça de Deus e pela ação do Espírito Santo, crianças, adolescentes, jovens e adultos ensinam e aprendem no estudo da Palavra, na partilha, na convivência, no serviço ao próximo e nas celebrações.

4.3 – Confessionalidade e educação cristã
Justificação por graça e fé
Em Jesus Cristo, Deus revela-se ao mundo como aquele que, por sua misericórdia, resgata a criação toda e, em especial, a dignidade humana. A oferta de sua graça e o dom da fé, frutos do amor incondicional de Deus, dispensam a necessidade de retribuição, pois a ação de Deus antecede qualquer intenção humana.

O amor e a graça de Deus desafiam o educar para a aceitação, para a abertura e o diálogo que buscam a dignidade individual e comunitária através da justiça social e econômica e o zelo pela integridade de toda criação.

A liberdade cristã
A liberdade cristã não é uma conquista humana, mas fruto da ação de Deus entre as pessoas. Cristo faz de nós pessoas livres para viver o amor de Deus de uma forma responsável a cada dia.

A pessoa cristã está sob o amor e a graça de Deus que, por gratidão alegre, se sente convocada a agir em favor dos outros. A pessoa cristã sabe que não é senhora de sua vida, mas que Cristo é seu Senhor. Assim sendo, ela é livre para fazer escolhas com discernimento e critério.

Educar na perspectiva da liberdade cristã é promover uma educação que avalia constantemente o processo educativo na intenção de evitar qualquer forma de imposição ou constrangimento no ensino do evangelho.

Sacerdócio geral de todas as pessoas que creem
Deus chama por intermédio de Jesus Cristo e envia seus seguidores a pregar o evangelho. O sacerdócio geral de todas as pessoas que creem é o ministério de Jesus confiado a cada pessoa no Batismo e a cada comunidade que professa Jesus como Senhor e Salvador.

O sacerdócio geral de todas as pessoas que creem tem relação direta com a compreensão do ministério compartilhado na IECLB. Por meio dele, as pessoas, a partir dos dons recebidos do Espírito Santo e do chamado ao discipulado, exercem atividades distintas na promoção do evangelho. As diferentes funções e atividades exercidas devem ser vistas como serviço em favor do testemunho do reino de Deus e da integridade da criação. Nesse sentido, o sacerdócio geral exige também o exercício da cidadania e a compreensão de que a responsabilidade social e política é exercida por cada pessoa em conjunto com outras.

Educar na perspectiva do sacerdócio geral de todas as pessoas que creem desafia à promoção de um processo de ensino e aprendizagem participativos, em que todos são responsáveis pela comunicação do evangelho a todas as pessoas. Ao mesmo tempo, esse sacerdócio cria uma comunidade de iguais, sem negar as diferenças, estimulando relações de parceria e o protagonismo nos processos de ensino e aprendizagem.

5. Fundamentação pedagógica
Toda experiência educativa tem em sua base uma proposta pedagógica, pois a ação a ser realizada tem em si uma intencionalidade, mesmo que essa, às vezes, esteja oculta ou subentendida.

A pedagogia é o conjunto de ideias, princípios, doutrinas, métodos que orientam uma ação educativa. Ela é o resultado da reflexão e da sistematização da ação de educar. E, por ser resultado da reflexão sobre o ato de ensinar-aprender, a pedagogia está constituída de ideais e concepções de mundo, de sociedade, de pessoa e de educação, seja na dimensão do ensino, seja na de aprendizagem.

O diálogo teologia-pedagogia contribui para que o processo de planejamento, execução e avaliação do ensino, no campo da educação cristã, possa ser refletido, inovado, reconstruído com vistas à formação de sujeitos que estão em permanente condição de aprendizes na fé cristã.

A educação cristã tem como referência a ação pedagógica de Jesus. Ele educava através de gestos e palavras. Partia da experiência de vida (João 4.1-30); contava histórias (Marcos 4.2); questionava leis, tradições e posições estabelecidas (João 8.1-11); recebia ou ia ao encontro das pessoas marginalizadas (Marcos 10.13-16; Lucas 19.1-10); caminhava com seus discípulos (Lucas 24.13-35) e tinha abertura para dialogar com as outras pessoas e delas aprender (Marcos 7.24-30). Também suas curas tinham aspectos educativos. Deixava as pessoas manifestarem sua vontade (Marcos 10.46-52); derrubava preconceitos (Marcos 5.25-34); valorizava a atitude de fé das pessoas (Marcos 2.1-12).

As primeiras comunidades cristãs assumiram a missão de educar com muita coragem e criatividade (Atos 8.26-40). Desde então, a igreja prioriza a educação cristã, capacitando as pessoas para atuar na missão de Deus no mundo e para exercer plenamente o sacerdócio geral.

A confessionalidade luterana, em diálogo com a pedagogia, também dá indicativos para a ação pedagógica na educação cristã. A partir do amor gracioso e libertador de Deus, a educação baseada na confessionalidade luterana é inclusiva e promove a participação efetiva de todas as pessoas envolvidas no processo educativo; valoriza cada ser humano; preserva sua individualidade e desperta para o compromisso cristão.

Na realidade atual, cresce a necessidade de uma educação que considere o ser humano em sua totalidade. Essa proposta de educação funda novos olhares, que entendem o ser humano integrado não só com o outro, mas também com o planeta. Nesse sentido, parece-nos que as novas compreensões, que pensam o ser humano em sua integralidade, são necessárias para que o processo educativo seja significativo.

É nessa perspectiva que o PECC apresenta a definição de educação cristã contínua (5.1) e destaca um conjunto de indicativos metodológicos para a educação cristã (5.2).

5.1 – Conceitos e definições
Educação
A educação é um processo de ensino e aprendizagem que está em permanente transformação. Ela é transformada pela ação do ser humano e produz transformações nos que dela participam. A educação envolve toda a vida das pessoas e está relacionada à aquisição, à elaboração e à produção de conhecimentos, sensibilidades, valores, práticas e atitudes.

Educação cristã
Educação cristã é um processo pessoal e comunitário de aprendizagem dos conteúdos da fé. Ela acontece na família e na comunidade e reflete-se nas ações e atitudes do dia a dia, que é a vivência cristã no mundo. A educação cristã não acontece de uma só vez, mas vai sendo construída e compreendida conforme as perguntas e as preocupações de cada fase da vida, de forma contínua e permanente.

A família e a comunidade têm um compromisso com a educação cristã a partir do Batismo. Na família, a educação cristã acontece na convivência diária: momentos de oração familiar nas refeições, leitura da Bíblia, narração de histórias bíblicas para as crianças, participação nos diferentes grupos da comunidade. Na comunidade, os conteúdos de educação cristã são oferecidos e vivenciados em diferentes espaços de aprendizagem. O espaço de aprendizagem comum a todas as pessoas luteranas é o culto comunitário. O culto é o centro da vida comunitária e da fé. Mas há também outros espaços de aprendizagem que atendem necessidades, contextos e públicos específicos: grupos de crianças, ensino confirmatório, grupos de jovens, grupos de estudo bíblico, grupos de OASE, grupos de casais, entre outros.

O PECC, ao apresentar orientações para o planejamento da educação cristã, ajuda no fortalecimento das ações educativas nos grupos já constituídos e também na ampliação das ações de educação cristã, buscando atingir novos públicos. A interação entre os diferentes grupos da comunidade pode fortalecer o processo contínuo de aprendizagem.

Educação cristã contínua
Educação cristã contínua auxilia no processo de desenvolvimento integral e contínuo, que desperta e alimenta a fé e intervém na maneira como as pessoas vivem o dia a dia (seus modos de expressão, suas escolhas, suas ações etc.). Esse processo acontece através da apropriação, da elaboração e da produção de conhecimentos, sensibilidades, valores e práticas, com base nos fundamentos da fé cristã, conforme Lutero: Jesus Cristo, Escritura, Fé, Graça.

Por desenvolvimento integral e contínuo entende-se, pois, a educação que considera as diferentes dimensões da personalidade (cognição – afetividade – atitude) e as diferentes fases de desenvolvimento da vida humana, porque acontece ao longo de toda a vida. A educação cristã contínua estabelece princípios, compromissos e desafios para a educação, em permanente diálogo com a fé cristã.

Para que essa educação cristã seja contínua, as diferentes instâncias da igreja elaboram o seu planejamento de tal forma que oportunize e provoque a reflexão sobre as dúvidas e perguntas relacionadas à fé cristã, que vão surgindo ao longo da vida.

5.2 – Indicativos metodológicos
A educação faz parte da vida e acontece em diferentes espaços e de diferentes maneiras. Na igreja, a prática educativa oportuniza aos membros a educação contínua na fé, capacitando-os à vivência missionária de seu sacerdócio cristão.

As pessoas buscam respostas para suas dúvidas, consolo para suas aflições, orientação para sua vida. Elas aprendem de diversas maneiras. Existem várias metodologias que podem orientar o processo educativo. Não há um único método a ser seguido por todos ou que sirva a todos. Cada contexto exige uma metodologia. É necessário planejar as ações educativas a partir de cada realidade. Mas há alguns indicativos que orientam o processo de ensino e aprendizagem. São eles:

Valorizar a experiência de vida das pessoas
O diálogo sobre as vivências diárias das pessoas contribui para a compreensão da palavra de Deus. Ao ler ou estudar um texto bíblico em grupo, pode-se motivar as pessoas a falar sobre suas experiências pessoais. Dessa forma, o conhecimento sobre a palavra de Deus não é transmitido de uma pessoa para outra, mas é construído através do diálogo e da partilha, em que todas as pessoas podem contribuir com sua experiência de vida.

Concretamente, a valorização da experiência de vida acontece quando as pessoas têm espaço e sentem-se à vontade no grupo para contar o que está acontecendo com elas: suas alegrias, suas tristezas, seus sonhos e suas preocupações. O desafio é relacionar essas experiências com o estudo da palavra de Deus, buscando nela orientação para a vida.

Envolver todo o corpo
Educação cristã envolve todo o ser e passa por todos os sentidos. Ou seja, a educação também acontece através de gestos, símbolos, expressão corporal. As diferentes formas de comunicação podem ser usadas nos encontros, nas celebrações e nos cultos para ampliar e diversificar as possibilidades de reflexão sobre os conteúdos da fé. A Ceia do Senhor é um exemplo em que todo o corpo é envolvido na aprendizagem de que Deus vem ao nosso encontro. A comunidade reunida, o movimento de ir com outros ao altar, o cheiro, a cor e o gosto da uva e do pão, o sentimento de comunhão e inclusão, tudo isso revela e expressa a graça e o amor de Deus.

Despertar a capacidade criativa de cada pessoa
Deus nos criou à sua imagem e semelhança (Gênesis 1.27), dando-nos a capacidade de criar. A educação cristã desperta a criatividade das pessoas quando trabalha a partir de diferentes linguagens. A música, o teatro, as artes plásticas e outras atividades artísticas contribuem para o processo educativo. Essas formas de ensinar e aprender possibilitam que as pessoas descubram e desenvolvam suas potencialidades.

Humanizar a educação através da alegria
As pessoas gostam de estar em ambientes alegres e que lhes dão prazer. O ato de brincar oportuniza às pessoas o autoconhecimento e o conhecimento do outro em sua verdadeira essência. Ele amplia a capacidade humana de viver coletivamente. Nesses espaços, o conteúdo da educação cristã traduz-se em gestos, expressões, jeitos, canto e dança. Ambientes assim propiciam a criatividade, a liberdade, a solidariedade, o crescimento individual e grupal. Nesse sentido, a brincadeira e a alegria humanizam a educação.

Dialogar com liberdade sobre dúvidas e perguntas
Durante toda a vida, há diferentes situações que preocupam e geram dúvidas e perguntas. Uma maneira de promover a educação cristã é abrir espaços para que as pessoas possam expressar suas dúvidas, conversar sobre elas e buscar orientação no diálogo com outras pessoas, bem como na leitura e no estudo da Bíblia. Quando crianças sentem um clima de confiança e respeito, elas fazem perguntas, porque sabem que serão ouvidas e atendidas.

Essas perguntas levam as pessoas adultas a refletir sobre as questões levantadas, motivando o diálogo e a busca por respostas. Nesse processo educativo, todos contribuem, aprendendo e ensinando.

Servir ao próximo
A ação diaconal contribui para a educação cristã, e a educação cristã fortalece a ação diaconal. O estudo da palavra de Deus fundamenta a prática do servir ao próximo e, ao mesmo tempo, as experiências diaconais enriquecem a reflexão em torno da palavra de Deus. A palavra de Deus fortalece e encoraja para ir aos lugares onde estão os mais fracos e marginalizados, lá onde a miséria grita mais alto. Afinal, Deus está lá, preferencialmente, e chama pessoas para ali servir. Esse serviço que brota da palavra de Deus também transforma. Transforma quem serve, quem é servido e as situações que causam sofrimento e injustiça.

Valorizar o processo e o caminho percorrido individualmente
Cada pessoa é única e compreende o mundo ao seu redor a partir de suas experiências de vida. Na experiência educativa, os processos de aprendizagem são diversos, e o conhecimento é construído individualmente na interação com as outras pessoas, na pesquisa individual e coletiva, na exposição de um conteúdo. Cabe a quem ensina respeitar e valorizar o caminho percorrido por cada pessoa.

Planejar as ações educativas de forma flexível e aberta
O planejamento faz parte da vida humana em todos os aspectos e também é assim quando se trata da educação cristã. O planejamento possibilita que a convivência em comunidade seja construída e refeita. O próprio ato de planejar é educativo, pois pressupõe o conhecimento, a participação, o diálogo, o respeito aos diferentes processos de aprendizagem das pessoas envolvidas. Nesse sentido, o planejamento precisa ser flexível e sensível às situações locais, às preocupações e necessidades do grupo, às intervenções das pessoas envolvidas na ação educativa.

Avaliar a caminhada
A avaliação não acontece só no final da ação educativa, mas durante todo o processo. Ela auxilia a perceber até onde os objetivos foram alcançados e aponta elementos para reorganizar e planejar as práticas educativas. A educação entendida como um processo pressupõe a participação de todas as pessoas também no ato de avaliar. Nesse sentido, a avaliação educa porque reconhece todas as pessoas como sujeitos da ação educativa.

Por entender a educação cristã como um processo que se estende por toda a vida e permite um desenvolvimento integral, os quatro pilares da educação indicados pela UNESCO podem ser considerados no planejamento e execução das ações de educação cristã. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) entende a educação como forma de promover o desenvolvimento humano. Cada pessoa é sujeito na construção de competências e habilidades que lhe permitem alcançar o desenvolvimento pleno e contínuo. Os quatro pilares são:
• Aprender a conhecer – visa o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento, para que o ser humano aprenda a compreender o mundo que o rodeia.
• Aprender a fazer – engloba experiências espontâneas, ensinando a pôr em prática os conhecimentos através de comportamentos eficazes e da capacidade de discernimento e criatividade.
• Aprender a viver com os outros – reflete sobre a diversidade, as semelhanças e a interdependência entre os seres humanos e a capacidade de cooperação de cada pessoa.
• Aprender a ser – leva em conta a pessoa integral, desenvolvendo a identidade e os talentos da pessoa a partir do autoconhecimento, da autocompreensão, da imaginação, da criatividade, da liberdade de pensamento, dos sentimentos e da capacidade de discernimento.

Os indicativos metodológicos e os quatro pilares da UNESCO apontam para um processo educativo dinâmico, que pode ser questionado e transformado. Essa abordagem metodológica favorece uma educação integral que considera o ser humano em todas as suas dimensões e fases da vida. A educação cristã orientada por esses indicativos metodológicos pressupõe que as pessoas envolvidas no processo educativo sintam-se co-responsáveis pela aprendizagem na fé.
Plano de Educação Cristã Contínua – PECC
Texto completo do PECC

O que dizem as Diretrizes para uma Política Educacional da IECLB:
A concepção evangélico-luterana de educação é compreendida a partir da intersecção dialógica entre a teologia e a pedagogia. Como ciências autônomas, tendo concepções teóricas próprias, ambas elaboram uma nova teoria e prática teológico-pedagógica, em que cada uma delas contribui expressivamente na reconfiguração da sua respectiva práxis. Ambas, com seus paradigmas, interferem uma na outra, estabelecendo uma correlação teórica e prática.

A percepção da correlação teologia-pedagogia é fundamental para a elaboração de uma Política Educacional na IECLB, pois não se pode compreender a teologia luterana somente como referencial de conteúdo, nem a pedagogia somente como instrumental metodológico. Portanto, uma Política Educacional na IECLB deve ser entendida na inter-secção dialógica entre o teológico e o pedagógico, onde se constrói uma teologia-pedagógica e uma pedagogia-teológica.
A partir dos conceitos acima enunciados, elaboram-se os princípios da Política Educacional da IECLB.

2.1. Dos fundamentos bíblicos
2.1.1. A observância do mandamento do amorO sentido da existência humana pode ser entendido a partir de três indicativos presentes em Mateus 22.37,39: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento... Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
a) O primeiro indicativo é o amor a Deus a partir da entrega total. Entregando-se a Deus, a pessoa não idealiza a si mesma, ao próximo e aos bens materiais;
b) O segundo é o amor ao próximo. Esse indicativo exige a construção de relações baseadas no reconhecimento de que somos semelhantes e nos reconhecemos pertencentes à mesma espécie, dependentes do cuidado de uns para com os outros;
c) O terceiro indicativo é o amor a si mesmo. Reconhecer-se como um ser capaz de amar está diretamente relacionado ao reconhecimento como um ser de amor e um ser amado por Deus. Amar e aceitar o outro implica em amar e aceitar a si mesmo.

A prática do amor, nesses três sentidos, desperta o sentimento de compaixão e solidariedade. Ter compaixão, compadecer-se, é ser capaz de sentir o sofrimento do outro de forma profunda em seu próprio corpo. Ser misericordioso é ter um coração voltado para a miséria do outro. É sentir-se afetado por causa da situação deplorável e triste na qual o outro está imerso.

Por causa do sentimento de compaixão e misericórdia, as pessoas sentem-se motivadas a agir em favor do outro, instituindo a prática do respeito e da fraternidade.

O amor de Deus exige responsabilidade para com a vida do outro e o conjunto de Sua criação. A educação é uma das formas de responsabilizar-se pela Criação e pelo desenvolvimento integral da pessoa.

2.1.2. A prática da esperança e da reconciliação
“Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes; compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade; abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.” (Romanos 12.12-14).

A esperança motiva e inspira a vivência de um projeto de vida digna e justa. Os laços que uniram a escola e a igreja na história são caracterizados por um projeto de esperança: esperança por justiça e paz, liberdade e fraternidade.

O projeto de esperança se realiza através da defesa da dignidade humana e do serviço concretizado através de ações com vistas a uma vida digna. A tarefa de cuidar desse projeto é atribuição da família, da escola, da igreja e dos seus diferentes grupos, da sociedade.

A prática e a construção de um projeto de esperança são inspiradas pela ação de Deus entre nós e experimentadas através de testemunhos de fé e de ações de justiça. Praticar atos de justiça e de misericórdia, proclamar a esperança e vivenciar a reconciliação entre as pessoas é tarefa anunciada por Deus:“Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.” (Miquéias 6.8).

A misericórdia de Deus e a reconciliação com Ele nos liberta da preocupação com o futuro e nos faz perceber a importância da ação concreta na defesa e promoção da vida, através da educação, da saúde, do trabalho. A esperança torna possível a vivência de um projeto de paz e justiça que se faz através da reconciliação.

A reconciliação provém de Deus, que a tornou possível através da morte e ressurreição de Jesus (2 Coríntios 5.18). Através de Cristo, fomos reconciliados com Deus. Por isso, somos embaixadores e embaixadoras de Jesus que fala e age por meio das pessoas. Deus nos incumbe de uma missão que abrange o âmbito público e particular: ser emissários do seu amor para com seus filhos e suas filhas.

2.1.3. A tarefa de educar para a liberdade
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, (...) ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado.” (Mateus 28. 19-20).

A tarefa de educar é mandamento que provém de Deus. A ordem de fazer discípulos e de evangelizar implica um processo educativo. A Igreja, ao ocupar-se com a educação, cumpre a ordem de Deus e, como decorrência, responsabiliza-se pela preservação da Criação de Deus.

A partir da perspectiva evangélico-luterana, o processo educativo envolve as pessoas e assume caráter participativo e democrático. Toda a comunidade participa no processo. Ele não se dá de cima para baixo, mas se constrói a partir da base, com o envolvimento de todos os setores implicados na tarefa educacional. A tarefa de educar está presente e acontece em todos os momentos da vida cotidiana: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. (...) Quando teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó, no Egito; porém o Senhor de lá nos tirou com poderosa mão (...).” (Deuteronômio 6. 15-25).

Através da educação, mantemos viva a memória, reativando a história dos antepassados. A memória cumpre a função da religação e da atualização dos valores e princípios orientados pela fé em Deus.

O processo educativo acontece de modo relacional, pois pessoas de diferentes idades e contextos interagem, trocam informações sobre a vida e, conjuntamente, aprendem formas de viver em grupo. A educação faz parte da vida como um todo e abrange as pessoas em todas as suas dimensões. O processo educacional acontece em diferentes espaços: no ambiente familiar, na comunidade (em seus diversos grupos e setores), na escola pública e comunitária, na empresa. Através da sua ação educativa, a Igreja contribui para a formação integral do ser humano e a construção da consciência criativa e crítica.

A pessoa ocupa posição central no processo educativo, sabe que é alvo do amor de Deus e percebe a gratuidade da vida. Em decorrência, sente-se livre para colocar a sua existência a serviço da promoção da vida e da preservação da criação de Deus.

2.1.4. O diálogo e o respeito como expressão da unidade
“Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” (1 Coríntios 12.13).

A educação somente é completa quando acontece em comunidade. Através da comunhão entre as pessoas, Deus realiza a sua missão.

A comunidade é múltipla, ou seja, é formada de diferentes membros, que recebem o encargo de cuidar uns dos outros a fim de preservar a unidade na diversidade, lembrando a advertência do apóstolo Paulo: “(...) Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.” (1 Coríntios 12.24-25).

Cooperar com cuidado significa agir com respeito, valorizando cada pessoa no seu modo de ser, buscando ações educativas que possam auxiliar as pessoas a viver dignamente e a ser felizes. Também significa apostar no diálogo como forma de aproximação e resolução de conflitos.

O diálogo e o respeito são meios através dos quais podemos manter e expressar a unidade eclesiástica. Essa unidade é formada pelo conjunto de pessoas que têm suas características individuais e, não obstante, formam comunidade a partir de sua dependência de Deus e de seu cuidado mútuo.

2.1.5. O servir como testemunho de fé e amorosidade
A fé é dom de Deus e se manifesta no serviço. Deus realiza o seu serviço no mundo através das pessoas, que são chamadas e capacitadas para serem sacerdotes e sacerdotisas que anunciam e vivem o amor de Deus.

A educação também é serviço de Deus entre nós e está voltada para todas as pessoas, sem nenhum tipo de discriminação.

As pessoas são chamadas por Deus, através do Espírito Santo, para servir na comunidade educativa. Elas são valorizadas em sua individualidade. Por causa da riqueza que está presente no modo de ser de cada um, diversos tipos de serviço são realizados, o que enriquece e torna possível a edificação de comunidade, pois “os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo”. (1 Coríntios 12.4-5).

Através do serviço ao outro, anunciamos o Evangelho em palavra e ação, mantendo a necessária coerência entre o coração e a boca. Essa postura é fruto de uma educação que deixa transparecer a esperança, a fé e o amor que movem o ser e o fazer da pessoa.

Para cumprir a vontade de Deus, por intermédio de Jesus, recebemos a promessa de que ele está ao nosso lado: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mateus 28.20). Deus também nos auxilia e capacita para a tarefa de educar, através da ação do Espírito Santo: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas (...) até aos confins da terra.” (Atos 1.8).

A tarefa de educar na fé em Deus extrapola limites e fronteiras estabelecidas pelas leis humanas. Ela também é testemunho da boa nova da salvação, pois sua finalidade consiste na preservação da criação de Deus e na construção de relações de paz, justiça e solidariedade.

2.2. Fundamentos teológico-confessionais
2.2.1. Justificação por fé e graça
Em Jesus Cristo, Deus revela-se ao mundo e, de forma especial, ao ser humano. Deus concede a sua misericórdia, oferece a sua graça e o dom da fé, resgatando a dignidade humana. O ser humano, em sua busca pela transcendência, encontra-se com o Deus revelado e encarnado, e, deste encontro, surge a possibilidade da nova criação, da nova vida.

A revelação de Deus é decorrência de seu amor pela humanidade e ocorre independentemente de méritos humanos. A radicalidade da graça e do amor de Deus dispensa a necessidade de retribuição humana. O apóstolo Paulo afirma: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Romanos 5.20).

O amor de Deus antecede qualquer intenção humana, qualquer boa vontade, qualquer desejo de realizar algo bom. Deus declara: “Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu, porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, (...), mas porque o Senhor vos amava e para guardar o juramento que fizera a vossos pais” (Deuteronômio 7.7-8).

A radicalidade da graça e do amor de Deus nos compromete a agirmos de forma semelhante e nos desafia a amarmos o nosso interlocutor no processo educacional. A aceitação da pessoa e a abertura para o diálogo não dependem dos méritos do nosso interlocutor, mas são decorrência da nossa relação com Deus.

O modo como Deus age em nosso favor também nos desafia a testemunharmos por meio de obras a sua graça. É nossa tarefa promover, através da educação escolar, comunitário-eclesial e popular, o bem-estar, a igualdade social e econômica entre as pessoas, cuidando e zelando pela integralidade da Criação.

A ação de Deus em favor do ser humano nos desafia a acolher a alteridade, que decorre do respeito à dignidade da pessoa. Deus age em favor da pessoa, que não vive de forma isolada, mas em comunidade. Deus age em favor do coletivo (Êxodo 3.14-19). Isto nos ensina o valor do comunitário, lembrando a interdependência e a colaboração mútua como valores essenciais para a coletividade.

2.2.2. A liberdade cristã
A liberdade cristã é um dos pilares fundamentais da teologia luterana. Lutero define a liberdade da seguinte forma: “O cristão é um senhor livre de tudo, a ninguém sujeito – pela fé. O cristão é um servo dedicado a tudo, a todos sujeito – por amor”. Por causa do perdão e da salvação, dados por meio da morte e ressurreição de Jesus, nós podemos viver em alegria, sem precisar fazer por merecê-los. A liberdade não é uma conquista humana, mas fruto da ação de Deus entre as pessoas.

O princípio da liberdade cristã exclui toda forma de fanatismo e dogmatismo, seja teológico ou pedagógico. Ele estabelece um processo que avalia continuamente a forma como acontecem o testemunho da fé e o ensinamento do conteúdo da fé, evitando toda e qualquer imposição ou constrangimento na transmissão do Evangelho.

Quem assume a liberdade para a qual Cristo nos libertou não precisa ter medo de nada e pode dispor de tudo. A pessoa cristã sabe que não é senhora de sua vida, mas Cristo é o seu Senhor. Portanto, ao fazer escolhas, mesmo sabendo que tudo lhe pertence, a pessoa seleciona com critério. Quando ficamos dependentes de algo ou de alguém, voltamos “de novo ao jugo da escravidão” (Gálatas 5.1).

Na medida em que vivemos a liberdade em Cristo, não nos submetemos a nada e nem nos sujeitamos a ninguém. Ser cristão evangélico luterano implica servir aos semelhantes como Cristo se deu às pessoas (Marcos 10.45). Neste sentido, Lutero diz que a pessoa cristã é um servo dedicado a tudo, a todos sujeito. E, como disse Lutero, baseando-se em Mateus 25.31-46, de forma mais concreta: “Deve-se ler a vontade de Deus nos olhos dos necessitados”. Cristo faz de nós pessoas livres para viver a cada dia o amor de Deus de uma forma responsável. Este é o jeito luterano de seguir a Jesus Cristo.

2.2.3. Sacerdócio geral de todos os crentes
A IX Assembleia da Federação Luterana Mundial (FLM), realizada em julho de 1997, declara:
“As comunidades cristãs são chamadas a serem luz do mundo e sal da terra. Portanto, recebem poder para serem confessantes, includentes, tolerantes, serviçais e solícitas, reconciliadoras e inspiradas pelo amor abnegado de Cristo, se reúnem regularmente em torno de Cristo e do Espírito Santo para receberem o amor de Deus e serem capacitadas para levá-lo ao mundo”.

A declaração da FLM tem sua base no Evangelho de Jesus. Nosso Senhor chamou, instruiu e enviou pessoas para exercerem diferentes funções e atividades. O ministério é de Jesus. É ele quem nos chama e orienta à ação. O sacerdócio geral de todos os crentes é o ministério de Jesus confiado a cada pessoa, a cada comunidade que professa Jesus como Senhor e Salvador.

O princípio do sacerdócio geral de todos os crentes nos desafia a sermos participantes efetivos do processo de ensino e aprendizagem, tornando-nos co-responsáveis na proclamação do Evangelho, na comunicação do Evangelho. O sacerdócio geral de todos os crentes exige o exercício da cidadania e a compreensão de que a responsabilidade social e política não são delegadas às outras pessoas, mas exercidas por mim, em conjunto com outras pessoas.

A partir deste princípio, assume-se a tarefa teológico-pedagógica de convocar as pessoas para o exercício da cidadania. A convocação não é somente uma ação de conscientização social, mas de adesão voluntária. A compreensão teológica do sacerdócio geral de todos os crentes implica uma relação igualitária entre os diferentes. Cada ser humano, na sua individualidade, é diferente; tem conhecimentos e experiências diferenciadas; tem construções simbólicas distintas e vive em contextos específicos, estabelecendo redes de relações de forma peculiar e própria.

O sacerdócio geral de todos os crentes tem relação direta com a compreensão de ministério compartilhado na IECLB. Por meio dele, diferentes pessoas, a partir dos dons recebidos do Espírito Santo e do chamado ao discipulado, exercem atividades distintas na promoção do Evangelho. Também aqui, as diferentes funções e atividades exercidas devem ser vistas como serviço em favor do testemunho do Reino de Deus e da integralidade da Criação.

2.2.4. Igreja reformada – em constante reforma
Eu, embora velho doutor das Escrituras, não compreendo ainda direito os Dez Mandamentos, o Credo e o Pai-Nosso; eu não posso estudar a fundo nem aprendê-los totalmente, assim aprendo o Catecismo dia após dia e oro com o meu filho João e a minha filha Madalena.
Martim Lutero

Tanto a aprendizagem da fé quanto a educação em geral exigem um processo de construção permanente e dinâmico. Nos diferentes ciclos da vida, a pessoa manifesta a sua religiosidade, sua convicção de fé e seu processo de desenvolvimento, dependendo do contexto e das condições existenciais, culturais e de aprendizagem.O potencial humano é ilimitado e possibilita dimensões imensuráveis de aprendizagem. O potencial humano, por ser contínuo, dinâmico e versátil, possibilita que diariamente se possam criar e recriar comunidades e novas aprendizagens, sejam estas individuais ou coletivas.

A Federação Luterana Mundial, em sua atual reflexão teológico-pedagógica, tem formulado o conceito de jornada da fé ao longo da vida. A aprendizagem da fé não se restringe a um período da vida, pois em cada ciclo há perguntas existenciais que promovem novos processos de aprendizagem. A comunidade de fé tem a responsabilidade de proporcionar oportunidades de aprendizagem, tanto no contexto escolar quanto comunitário-eclesial e popular, possibilitando a retomada, a ressignificação e novas construções do conhecimento. A concepção Igreja reformada – em constante reforma permite que normas, ações, práticas sejam avaliadas e reformadas.

O princípio eclesiológico de Igreja reformada – em constante reforma e o princípio pedagógico de formação continuada desafiam a Igreja e a Educação a refletirem sobre a ação, na ação e para a ação. Este processo possibilita um constante pensar sobre o seu estar no mundo e a sua responsabilidade com a Criação.

Os dois princípios mostram que toda e qualquer Política Educacional na IECLB sempre será uma proposta do momento presente. E qualquer proposta construída sempre será resultado da correlação estabelecida entre os processos teológicos, históricos, educacionais, políticos e sociais que agem e interferem na sua concepção.

2.3. Fundamentos pedagógicos
2.3.1. Da dimensão relacional
O processo educacional, seja escolar, comunitário-eclesial ou popular, orienta-se pela máxima de que o ser humano e a sua dignificação são o meio e o fim da educação. A dignificação do ser humano, a partir da justificação pela graça de Deus, norteia a elaboração do projeto político-pedagógico, a construção curricular, a organização dos princípios e ações metodológicas e os critérios de avaliação.

Um dos princípios da dignificação do ser humano é o respeito à sua individualidade. Martim Lutero, baseado na sua compreensão da justificação por graça e fé, formula na introdução do Catecismo Menor: “a ninguém se pode e nem se deve obrigar à fé”. Em decorrência dessa compreensão, deve-se salvaguardar o direito à individualidade e promover a autonomia de pensamento, que consiste na capacidade de reflexão crítica, de discernimento e de tomada de decisões.

A relação entre educador e educando acontece através da experiência dialógica, que é caracterizada pelo saber ouvir, pelo respeito mútuo, pela cumplicidade e pela criticidade. A pessoa do educador atua como mediadora das relações pessoal e dos saberes científicos, teológicos e pedagógicos.

Ela atua, também, como provocadora de novos processos de aprendizagem. Diante disso, a atuação do educador não se limita à tarefa de executar o processo educativo, mas integra a função profética, pois proclama a reconciliação da pessoa com Deus, com seus semelhantes, com a integralidade da criação e, em consequência, consigo mesma. Ao exercer a função profética, a pessoa do educador contribui com a construção de sinais do Reino de Deus e com a possibilidade de realização dos sonhos e desejos humanos.

2.3.2. Da dimensão institucional
A educação se faz por meio da instituição e da institucionalização de valores e práticas (ações). Para isso, é necessário investir na formação e capacitação continuada das pessoas que ocupam a função de gestoras dos processos pedagógicos e administrativos. Também é preciso investir nos processos de organização do aparato legal, a fim de possibilitar lisura e transparência nas questões administrativas. A gestão se faz por meio do trabalho de diferentes sujeitos que, em equipe, buscam alternativas e soluções para os diferentes afazeres do cotidiano institucional, estabelecendo metas e ações a serem executadas.

É função da instituição eclesial-educacional constituir um projeto criativo de educação. A dimensão institucional supõe a análise do contexto de cada local de ensino, a fim de verificar as possibilidades e as necessidades, com vistas à construção do projeto político-pedagógico. No cenário institucional, regras e leis transitam entre o que já está consolidado – por vezes até engessado – e aquilo que ainda está por ser construído. As regras e as leis são necessárias, pois expressam um dever-ser que organiza e dá razão de ser à instituição. Faz parte de uma instituição pensar e repensar sua função, organização e ação.

A instituição como espaço organizado possibilita às pessoas agruparem-se para cultivar determinada tradição, auxiliar numa situação emergencial, recrear-se, cultuar Deus, fazer algo pelo outro que está desprotegido. Através da instituição, as pessoas reafirmam a singeleza do estar-junto, que é expressão de um viver ético e promotor da compreensão humana.

2.3.3. Da dimensão do conhecimento
O conhecimento é constitutivo do processo de formação e capacitação humana. Ele ocorre tanto de modo informal (na rua, na casa, nos espaços de lazer) como formal (escola, igreja, trabalho). Os processos de aprendizagem e construção do conhecimento acontecem de forma espontânea ou podem ser orientados e conduzidos.

No processo de construção do conhecimento, valorizam-se a tradição, o saber elaborado no decorrer da história da humanidade e a memória histórica, além de incentivar a elaboração de novos conhecimentos, estabelecendo sentido e significação para a ação humana. Uma educação que valoriza a interação sujeito-objeto-ambiente mostra a relatividade do conhecimento que está orientado por verdades dogmáticas ou que é construído sem vinculação com o cotidiano existencial.

Toda ação educativa exige responsabilidade, dialogicidade, amorosidade, reciprocidade; toda ação educativa também apresenta uma perspectiva transformadora. O sujeito que ensina e aprende ou aprende e ensina precisa saber explicar o modo como aprendeu e ensinou, pois o processo de construção do conhecimento envolve o enfrentamento, a dúvida, a produção de novas indagações e a busca de alternativas.

O ato de conhecer é dinâmico, instável, renovador e renovável, pois busca, permanentemente, através da indagação, da curiosidade, a construção de novos saberes. É tarefa da educação investir e auxiliar instrumentalmente no desenvolvimento do espírito investigativo e explicativo. A investigação e a ação educativa mobilizam e organizam o agir humano, seja individual ou coletivamente.

2.3.4. Da dimensão metodológica
Toda e qualquer ação educativa pressupõe princípios metodológicos que orientam a sua operacionalização. Não existem métodos universais que sirvam para todas as pessoas e para qualquer lugar. O que existe é o valor universal de querer consolidar metodologias educativas. Não existem métodos que sirvam para todas as pessoas e para qualquer lugar. O que existe são alguns princípios orientadores:
1. Movimento: constitui-se na relação ordem/desordem/organização. A convivência com essa noção de movimento possibilita o desenvolvimento da capacidade de enfrentar o que já não faz mais sentido e ousar pensar e concretizar o que está por ser feito. A ideia de movimento introduz a noção de que o sentido da vida se dá no próprio ato de existir, de cuidar, de educar, de assistir.
2. Dinamicidade: busca o envolvimento das pessoas de forma integral, valorizando a participação de corpo inteiro. Uma educação dinâmica propõe atividades que motivem a participação de todas as pessoas e usa vários recursos para estimular a aprendizagem, entre eles, estímulos e movimentos corporais.
3. Sensibilidade: baseia-se na percepção de que as sensações (os sentidos) fazem parte da dinâmica da vida. Uma pessoa sensível é capaz de ampliar a sua capacidade de percepção, compreensão e relação com a Criação, fazendo uso dos diferentes sentidos que possui. Outra característica da sensibilidade consiste na capacidade de colocar-se no lugar e na situação do outro e sentir o que o outro sente. Portanto, o desenvolvimento da capacidade de escuta sensível é uma exigência e uma alternativa para qualificar e dignificar a educação.
4. Flexibilidade: estabelece a noção de que o forte se quebra e se rompe. A flexibilidade é a capacidade de enfrentar o risco, o desafio. Ser flexível é ser capaz de mudar a forma de pensar e agir, sem, contudo, perder a identidade, o objetivo ou a vinculação a um projeto coletivo.
5. Lúdico: integra a relação prazerosa, onde predomina o espaço para a solidariedade, a alegria, a liberdade, a criatividade, o crescimento individual e grupal. O lúdico possibilita a criação de espaços onde o bom humor e o bem-estar são experimentados com confiança e liberdade. Através do lúdico, a humanização se realiza, e a própria capacidade humana de viver em coletividade é ampliada.
6. Criatividade: significa a capacidade que a pessoa tem de ousar, de criar, de fazer algo diferente com aquilo que pare-ce já estar consolidado. A capacidade criativa consiste na coragem de criar e dar vida a algo que, aparentemente, é portador de morte, de desordem. A criatividade é a energia e a força que as pessoas têm para poderem dar sentido àquilo que realizam no dia a dia.
7. Processo dialógico: consiste na compreensão de que a comunicação ocorre por meio de diferentes formas de expressão. Uma comunicação dialógica acontece quando há duas ou mais lógicas que orientam o processo de fala e construção de idéias. O processo dialógico busca, através da expressão, da argumentação, da construção de idéias, chegar ao consenso e ao estabelecimento de novas formas de compreensão do que está sendo estudado, construído, vivido.
8. Aprendizagem significativa: consiste na implementação de um processo educativo que considere o sentido individual e social dos conteúdos a serem aprendidos. A aprendizagem significativa valoriza o processo e o caminho percorrido, mais do que o acúmulo de informações ou de ações realizadas.
9. Planejamento: a pessoa humana tem necessidade de projetar, de lançar um olhar mais à frente, a fim de organizar e dar sentido à sua existência. A ação de planejar é constitutiva do fazer humano. Por isso, no ambiente educativo, devemos conhecer as diferentes tendências educacionais existentes, tendo o bom senso de acatar procedimentos e idéias coerentes com a concepção educativa que tomamos, mesmo quando elas provenham de culturas diferentes da nossa. A ação de planejar possibilita que a convivência em comunidade seja construída e refeita.
10. Avaliação: a função da avaliação é projetiva. Ela encaminha itinerários e torna possível alcançar os objetivos pro-postos. A avaliação implica a vontade de querer, cotidianamente, perguntar pelo sentido de nossas ações e decisões. Ela possibilita a intervenção nos processos educativos sempre que necessário e auxilia no exercício das ações pedagógicas compartilhadas.

Esses princípios viabilizam a organização e a realização de um processo de planejamento, avaliação e transformação das práticas pedagógicas. A expressão de uma educação ética, estética, científica, verdadeira, bela, boa manifesta-se na coragem de selecionar e concretizar ações no campo da educação por meio de uma inserção crítica, transformadora e participativa na realidade. Uma educação com essas características acontece quando está preocupada e voltada para a dignificação da pessoa humana em todas as suas dimensões.

2.3.5. Da dimensão ética
A capacidade e a vontade de estabelecer princípios que orientem o agir cotidiano, seja no âmbito individual, seja no âmbito coletivo, podem ser designadas como disposição ética. A educação tem um caráter ético, na medida em que orienta a ação dos diferentes sujeitos numa instituição educacional, pois por meio dela buscam-se soluções e alternativas para os problemas da existência humana.

A ética remete à preservação da vida e ao querer-viver. As diferentes ações éticas que manifestamos, geralmente, estão vinculadas ao lugar onde vivemos e no qual nos sentimos felizes. Consequentemente, a ética pode ser entendida como algo pertencente à pessoa que é feliz, construindo-se, assim, a noção de que ser uma pessoa ética é ser uma pessoa feliz, ou ser uma pessoa que está sempre em busca da felicidade individual e coletiva.

A dimensão ética da educação está vinculada ao social, significando os costumes culturais, valores, tradições e tudo aquilo que se refere a um determinado modo de viver em coletividade, de viver o nós. Ela é a expressão do querer-viver global e irreprimível porque expressa o desejo de continuidade de um conjunto social e a responsabilidade que se assume em relação a essa continuidade. A ética remete ao equilíbrio e à relativização dos diferentes valores que formam um conjunto social. A partir dessa compreensão, ela refere-se à necessidade de acordar alguns pontos que são comuns entre os indivíduos que se juntam em coletividade, não só por causa da busca pela felicidade, da capacidade de contemplação e de viver bem no mundo, mas também a partir da percepção de que a inveja, a maldade, a ganância, o poder competitivo também são constitutivos desse ethos que é comum e comunitário.

Um dos preceitos éticos que orientam a prática pedagógica evangélico-luterana é a disposição de cada sujeito de incorporar uma reorientação constante do fazer, de mudar a sua forma de agir ou pensar em determinada situação. A mudança sempre ocorre em função de que o princípio da dignificação humana seja respeitado e validado nas diferentes práticas realizadas. Um outro preceito ético é a solidariedade, ou seja, a ação que se faz a partir de um coração que é sensível à miséria do outro e age em seu benefício.

A dignificação humana e a solidariedade são dois preceitos que orientam e constituem a ética da responsabilidade. Ser um sujeito responsável é ser uma pessoa que está preocupada e ocupada com a preservação e integralidade da Criação.
Diretrizes da Política Educacional da IECLB
Texto completo das diretrizes

O que dizem manifestos e posicionamentos da Direção da IECLB sobre formação:
(...) a IECLB compreende que, vivendo num mundo globalizado, onde os valores do mercado abafam, sem constrangimento, valores essenciais à vida, ao mesmo tempo em que acontecem grandes avanços nos campos científico e tecnológico, assistimos, perplexos, a múltiplas formas de violência, inclusive a pobreza e a fome, a falta de tolerância e o desrespeito às diferenças e às diversidades.
Nesse contexto, o Ensino Religioso constitui-se em espaço de grande riqueza para a reflexão e o exercício de uma nova consciência, possibilitando o conhecimento do fenômeno religioso, o qual se traduz em abertura e na aceitação do outro. O conhecimento religioso é patrimônio da cultura humana e, por isso, é parte integrante na formação cultural e cidadã das crianças e dos jovens de todas as escolas do nosso país.

Assim, o Ensino Religioso não poderá ser algo abstrato, prescindindo da tarefa de transmitir informações básicas e centrais acerca das crenças, espiritualidade e organização das principais expressões religiosas no mundo, no país e, não por último, no contexto local em que o Ensino é ministrado. No entanto, a volta a um Ensino Religioso Confessional, como previsto no Acordo Brasil–Vaticano, é um retrocesso e se coloca na contramão da legislação acima mencionada concernente ao Ensino Religioso nas escolas públicas. Tampouco faz jus a um salutar processo de socialização e de capacitação para a cidadania que se dão no âmbito escolar. O ensino confessional de cada crença é atribuição das denominações religiosas em seus espaços próprios. O respeito mútuo, a liberdade religiosa e a igualdade de direitos entre as religiões constituem-se num preceito constitucional que deve ser rigorosamente respeitado.
Manifesto sobre ensino religioso nas escolas públicas – 2010
Texto completo do Manifesto

 

O Ensino Religioso tem como objeto de estudo o fenômeno religioso, que é resultado da produção cultural dos diversos grupos humanos. Esse conhecimento sistematizado reforça a base da cidadania e possibilita ao educando uma melhor relação consigo mesmo, com o outro e com a natureza. O oferecimento do Ensino Religioso na escola, assim compreendido, não é monopólio de uma ou outra entidade religiosa, mas é direito da pessoa cidadã.
Manifesto contra a alteração do art. 33 que regulamenta o Ensino Religioso nas escolas – 2007
Texto completo do Manifesto

 

O específico a ser expresso pela designação “discípulo” naturalmente consiste em ser o cristão envolvido num processo de aprendizagem, permanente por definição. No entanto, cabe atentar para o tipo de aprendizagem, condizente com o Evangelho e o senhorio de Jesus Cristo. São vários os seus aspectos:
a) Logicamente Jesus tem uma mensagem, ou seja, também doutrina, a transmitir. Os seus discípulos são instruídos nos ministérios do reino e intimados a guardarem e ensinarem todas as coisas que lhes ordenou.
Também a Igreja desenvolveu uma doutrina, na qual ela procurou coordenar a sua confissão e dar expressão às verdades da fé. Esta doutrina, seja a de Jesus, seja a da Igreja, encontra-se codificada na Bíblia, no Catecismo, nos escritos confessionais e em outra literatura cristã. Portanto, existem conteúdos do Evangelho a serem aprendidos e adquiridos. Seja enfatizado, porém, que esta instrução engloba não só a recitação de textos, mas também a reflexão crítica com o objetivo de garantir verdadeira compreensão dos mesmos. Aprendizagem cristã não dispensa o homem da necessidade de adquirir conhecimentos nem do esforço intelectual.

b) Mas o cristão deve aprender não só conteúdos, ele deve aprender o próprio ato da fé. Trata-se da assimilação existencial da salvação proporcional por Jesus. Crer implica em transformação da pessoa, em mudança de mentalidade, em nova visão de Deus, homem e mundo, enfim, em novidade de vida. Se no item anterior prevaleceu o aspecto instrução, está sendo focalizada agora a educação, orientada em criar a conformidade do homem com a oferta salvífica do Evangelho. É a aprendizagem resultante da confrontação do Evangelho com a existência do pecador. O dom de Deus deve corporificar - se em atitude e ação do homem, ou seja, o homem deve aprender o amor, a esperança, a liberdade e as demais dimensões da fé.

c) A esta educação pertence intrinsecamente o aspecto da maturação, respectivamente da aprovação da fé na vida cotidiana. A fé fez experiências na realidade vivencial, quer positivas, quer negativas. Seguir a Jesus pode dar a sensação de imensa felicidade, mas pode ser também caminho áspero, cheio de obstáculos, de sofrimento e provação. Ambas as experiências não se excluem na verdade só em conjunto promovem o amadurecimento e o crescimento do Cristão. É a aprendizagem resultante da confrontação da fé com a realidade do mundo e da necessidade de uma contínua confirmação do batismo pela conduta.

(...) A semelhança das estruturas eclesiais, a didática, respectivamente a pedagogia é importante não só como meio para garantir um máximo de eficiência no trabalho, mas também como uma maneira de testemunhar o Evangelho. Didática é a forma em que promovemos a aprendizagem conjunta, forma esta que deve ser evangélica assim como o devem ser os métodos e os modelos da organização de nosso convívio em comunidade. Também a didática é transparente para o que somos e confessamos.
Por esta razão não se deveria falar do ensino evangélico em termos de “doutrinação”. Onde prevalecer esta concepção, é altamente grande o perigo de o doutrinado permanecer mero objeto da aprendizagem, comparável a um recipiente, no qual são despejados os conteúdos da mensagem cristã. Esta didática deixa de envolver o homem todo, despreza a liberdade dos educandos, quebra a solidariedade de todos os discípulos e, quando muito, faz jus a uma só parcela daquele bloco, do qual em verdade aprendizagem cristã consiste. O frequente fracasso deste tipo de ensino não deveria ser lamentado.

A fim de corresponder às implicações do discipulado deveriam ser observadas as seguintes exigências:
a) Todo esforço didático-pedagógico deverá ser norteado pelo objetivo de conduzir o homem a tornar-se, ele próprio, o sujeito de sua aprendizagem. Esta é, por excelência, o encontro de dois sujeitos que são o discípulo e seu mestre Jesus Cristo. Em outros termos, o homem, seja ele jovem, adulto ou velho, deverá ser levado a compreender que a aprendizagem é a sua (!) causa, pela qual deverá responsabilizar-se. Mediação por parte de pastores, professores e irmãos da fé naturalmente é necessária, mas ela jamais deve reverter em dependência. Antes é pretendida a libertação de todas as instâncias intermediárias que cumprem apenas função auxiliar. Educação cristã, é educação para a liberdade, de sorte que na comunidade convivem pessoas livres, imediatamente responsáveis pela sua fé. A aprendizagem na companhia de Jesus visa a uma comunidade de pessoas adultas na fé, ou seja, a maioridade da Igreja de Cristo.

b) Em decorrência disto, a didática da educação cristã deve objetivar o despertamento das potencialidades, das capacidades criadoras, em suma, do carisma do indivíduo. Comunidade cristã é essencialmente comunidade de membros carismáticos. Isto significa que a graça de Deus concedida ao homem, se traduz em serviços específicos. Ela não uniformiza, antes aproveita os dons individuais, transformando-os em meios de servir a Deus e ao próximo. Educação cristã tem a tarefa de contribuir para a descoberta do carisma individual e para o uso adequado do mesmo.

c) Isto implica em que os métodos da aprendizagem necessariamente terão em vista a integração do indivíduo na comunidade e a integração de todos os seus componentes. Colaboração, complementação mútua, ação coletiva, correção de um pelo outro assim como também o respeito do grupo ao indivíduo perfazem metas orientadoras da didática condizente com a aprendizagem do discípulo de Jesus.

d) Aprendizagem cristã tem caráter dialogal. O monólogo é típico para o estilo autoritário, assinalando dominação e escassez de comunicação. Uma vez que, entre os discípulos, os papéis de professor e aluno, de educador e educando não podem ser definitivamente distribuídos, eles permanecem relativos e exequíveis unicamente em constante permuta. Já foi frisado que existem evidentes conteúdos de ensino. E não obstante, o diálogo é próprio da aprendizagem cristã por exprimir o caráter inacabado da mesma, por fazer jus á personalidade do educando e por conferir a este participação ativa no processo de seu crescimento bem como no da comunidade.

e) A didática do ensino cristão não pode abstrair do fato que o Evangelho sempre é ouvido e aprendido por pessoas ligadas a um determinado contexto social. O discípulo de Jesus vive no espaço e no tempo, ele é filho de sua época, traz consigo grande bagagem de experiências, feitas na família, na sociedade e sua realidade, ele é influenciado por pessoas e costumes. Tudo isto lhe imprimiu o seu cunho e, de certo modo, o condiciona. Aprendizagem cristã não pode realizar-se fora deste mundo. Se o mundo é vencido pela fé, como o Novo Testamento afirma, todas estas realidades devem ser incorporadas na aprendizagem, pois é nelas que a fé deve ser aprovada e a liberdade ser vivida. Para tanto o cristão precisa de ajuda e de apoio por parte de outros. Esta ajuda deve ser a mais concreta possível, caso contrário não poderá ocorrer a equiparação do cristão para o exercício de sua missão e para um testemunho convincente.

f) No ensino cristão temos a liberdade de sermos flexíveis e de buscarmos os meios que maior êxito prometem. Logo não há justificativa para a fixação em certos métodos tradicionais e o desprezo de técnicas modernas bem como de qualquer instrumentário pedagógico aproveitável. A igreja, porém, ciente de Deus ser o protetor da dignidade de suas criaturas, fará uso responsável destes meios, repelindo os abusos dos mesmos e recusando-se a qualquer forma, de manipulação. Atrás de todo esforço didático-pedagógico da comunidade, quer na escola, quer na Igreja ou nos lares, deve tornar-se visível um pouco daquela salvação, justificação e libertação, destinadas ao homem por Deus através de Jesus Cristo.

(...) Incrementar a formação teológica tanto dos pastores e obreiros como também de todos os demais membros da IECLB. Teologia é a reflexão e a meditação da nossa fé no confronto com a realidade da vida. Ela não é privilégio de certo grupo na Igreja. Embora teologia seja promovida em níveis diferentes e embora a comunidade jamais possa prescindir de especialistas teológicos, ela se destina a todos e está a serviço de um melhor desempenho do discipulado. Treinando o juízo da fé, elaborando critérios de ação e favorecendo a integração da fé no mundo e vice-versa, a teologia é uma das mais importantes incumbências do discípulo de Jesus. Sem o devido cuidado para com a teologia, a IECLB não estará preparada para enfrentar o impacto da realidade brasileira com as suas múltiplas facetas. Basta lembrar o desafio que nos advém do complexo fenômeno religioso ou social no Brasil, da evolução da técnica com os seus benefícios e também com suas consequências desumanizantes, etc.

Deve ser ressaltado que nem a Faculdade de Teologia em São Leopoldo e nem qualquer outra instituição na IECLB é e pode ser detentora do monopólio na formação teológica. Esta cabe a qualquer órgão ou pessoa de liderança, enfim a cada membro da IECLB. Há compromissos que não podem ser delegados. Um deles é a formação teológica, para a qual todos, ainda que de modos diferentes, podem contribuir com a sua parcela. Daí decorre a necessidade de valorizar o membro “leigo” na IECLB. Falta-nos muitas vezes a coragem de incumbir os assim chamados leigos de responsabilidade teológica. Assim perdemos amplo cabedal de experiências que iriam enriquecer a nossa teologia e a vida da comunidade.

(...) Proceder a uma revisão crítica dos métodos do nosso trabalho quanto à sua contribuição ao discipulado permanente de todos os membros da IECLB. Aprendizagem cristã não fica restrita às aulas de religião, ao ensino confirmatório, a estudos bíblicos ou a outras promoções desta categoria. Também a prédica, a poimênica, enfim todos os tipos de trabalho na comunidade são fatores de aprendizagem por servirem, de uma forma ou outra para a edificação da comunidade e para o seu testemunho no mundo.
Posicionamento Discipulado Permanente – Catecumenato Permanente – 1974
Texto completo do Posicionamento

 

Embora numa sociedade pluralista e multiconfessional, como a brasileira, o Estado, compreensivelmente, esteja interessado em evitar uma orientação sectária no campo educacional, julgamos ser indispensável que nas escolas seja mantido, inequivocamente, o ensino cristão. Consideramos ser a educação moral e cívica uma matéria necessária para a formação do cidadão, porém não a julgamos uma matéria que possa ou deva suplantar o ensino cristão. O ensino moral e cívico, com bases ideológicas declaradas, para muitos cristãos deixou imprecisos ou limites entre a esfera da Igreja e a do Estado. Entendemos que qualquer atitude moral ou cívica autêntica tenha as suas raízes em uma confissão autêntica. Um ensino “teista mas aconfessional”, como o define o Decreto-Lei 869/69, pode induzir muitas pessoas a compreendê-lo como substitutivo do ensino cristão, e as suas bases ideológicas como sendo alternativa para uma orientação confessional cristã. Tanto professores como educandos serão levados necessariamente a conflitos de consciência, caso estes conceitos se fixarem.
É do interesse da IECLB que esta questão seja objeto de um exame em conjunto de representantes das Igrejas e do Estado.
Manifesto de Curitiba – 1970
Texto completo do Manifesto

 

2. Desdobramentos práticos de Formação:

Portanto, conclamamos todas as pessoas envolvidas na educação e por ela responsáveis a se empenharem em favor de uma proposta abrangente e inclusiva para o currículo do Ensino Religioso e para as políticas educacionais públicas. Assegure-se, assim, a formação integral da pessoa, sempre comprometida com a participação cidadã e o respeito integral às diferenças religiosas, na tarefa comum de construção de relações de paz e justiça em nosso país.
Manifesto da IECLB sobre ensino religioso nas escolas públicas – 2010
Texto completo do Manifesto

 

7. Formas de atuação
As formas de atuação são meios pelos quais as instâncias da IECLB oferecem os conteúdos da educação cristã a todas as pessoas. O PECC indica três formas prioritárias de atuação para o planejamento das ações de educação cristã: articulação, publicação de materiais e formação. As formas de atuação, junto com as áreas temáticas, podem operacionalizar e orientar o planejamento das ações de educação cristã.

A partir da relação entre PECC e PAMI, essas três formas de atuação são instrumentos para o planejamento das ações do eixo transversal Educação Cristã do PAMI 2008-2012.

A articulação implica reconhecer as necessidades na área da educação cristã, apontar e definir as prioridades, decidir quais serão as iniciativas, promover a comunicação, providenciar os recursos financeiros e organizar um planejamento com metas e prazos. A articulação apoia e viabiliza a elaboração de materiais e a formação.

A partir da articulação, a publicação de materiais implica elaborar, organizar, compilar e publicar materiais que atendam às necessidades locais, sinodais ou nacionais.

Também a partir da articulação, a formação implica promover e realizar seminários e encontros de capacitação de lideranças e de formação básica para todos os membros.

8. Atribuições diante do PECC
O Plano de Educação Cristã Contínua quer orientar e ajudar as instâncias da IECLB na avaliação, no planejamento e na condução das ações de educação cristã, conforme o Art. 6º, incisos III e IV da Constituição da IECLB (III – promover o ensino, a missão e a diaconia; IV – proporcionar o aprofundamento teológico e o crescimento espiritual nas Comunidades). Cada uma das instâncias tem atribuições e responsabilidades quanto à formação cristã dos membros. Os documentos normativos da IECLB permitem identificar as atribuições em termos de educação cristã contínua.
Comunidade

Segundo o artigo 9º do Regimento Interno da IECLB, incisos I e III, compete à Comunidade: “criar, planejar e viabilizar setores de trabalho para atender à sua responsabilidade com (...) a catequese, a evangelização e a missão”; “promover meios necessários à formação evangélico-luterana dos batizados”. Ainda, segundo “Nossa Fé Nossa Vida” (p. 8, 4.ed., 2005), é objetivo da comunidade “promover o ensino e a formação evangélico-luterana das pessoas batizadas”.

Paróquia
Ao Conselho Paroquial cabe “empenhar-se na formação de lideranças e colaboradores” (Reg. Int. Art. 23, inciso VII).

Sínodos
Ao Conselho Sinodal cabe “incentivar e promover junto às Comunidades os projetos de missão, catequese, evangelização e diaconia” (Reg. Int. Art. 38, inciso II).

Conselho da Igreja
Ao Conselho da Igreja cabe “supervisionar o processo de formação teológica e educacional na IECLB em todos os níveis” (Const. Art 30, inciso III).

Concílio da Igreja
O Concílio é o órgão soberano da IECLB e lhe compete “estabelecer o plano de ação da Igreja no território brasileiro (...)”; “promover o debate e a reflexão sobre temas fundamentais e de interesse das Comunidades, Paróquias e Sínodos” (Const. Art. 25, incisos II e III).

Secretaria Geral
À Secretaria Geral cabe “prestar assessoramento e auxílio na coordenação, execução e dinamização das atividades da igreja” (Const. Art. 37 inciso V).

9. Orientações para operacionalização do Plano de Educação Cristã Contínua em cada instância da IECLB
A partir dessas atribuições definidas nos documentos normativos, o PECC indica os seguintes passos para o planejamento das ações de educação cristã de cada uma das instâncias:

Comunidade
• Avaliar as ações educativas promovidas pela comunidade para cada fase da vida, identificando onde estão contempladas as quatro áreas temáticas: Bíblia – Confessionalidade – Missão – Contextos.
• Diagnosticar lacunas na formação oferecida para cada fase da vida.
• Estabelecer metas e prioridades na Assembleia Geral da Comunidade, conforme estatuto padrão, Art. 21, incisos II, III e VII.
• Planejar e promover ações educativas a partir das metas e prioridades estabelecidas, observando as três formas de atuação e as áreas temáticas.
• Prever no orçamento da comunidade os recursos necessários para que se efetivem as ações de educação cristã planejadas.
• Integrar-se nas ações de educação cristã promovidas pela paróquia e pelo sínodo.

Conselho Paroquial
• Diagnosticar, no âmbito da paróquia, lacunas na formação de lideranças a partir das quatro áreas temáticas: Bíblia – Confessionalidade – Missão – Contextos.
• Estabelecer metas, planejar e promover ações educativas, observando as três formas de atuação e as áreas temáticas.
• Prever no orçamento da paróquia os recursos necessários para que se efetivem as ações de educação cristã planejadas.
• Promover avaliações periódicas e zelar pela unidade das ações na paróquia.
• Acompanhar a reflexão e o planejamento de ações de educação cristã nas comunidades e no sínodo.
• Indicar, incentivar e apoiar pessoas a participar de atividades sinodais voltadas à formação.

Conselho Sinodal
• Criar a Coordenação Sinodal de ECC, de acordo com a realidade e as condições locais.
• Promover a divulgação e o estudo do PECC em eventos sinodais.
• Promover, no âmbito do sínodo, encontros de formação para lideranças.
• Avaliar a proposta de planejamento apresentada pela Coordenação Sinodal de Educação Cristã.
• Oferecer as condições para a implementação do planejamento sinodal de educação cristã no Sínodo.
• Prever no orçamento do sínodo o valor necessário para que se efetivem as ações de educação cristã planejadas.
• Avaliar e aprovar os relatórios anuais sobre a Educação Cristã no Sínodo.

Coordenação Sinodal de Educação Cristã
• Identificar, no âmbito do sínodo, lacunas na formação de lideranças a partir das quatro áreas temáticas: Bíblia – Confessionalidade – Missão – Contextos.
• Elaborar e propor ao Conselho Sinodal o planejamento da Educação Cristã Contínua no sínodo a partir das metas e prioridades estabelecidas na Assembleia Sinodal.
• Promover e manter o diálogo com o grupo coordenador de ECC da IECLB e outras Coordenações Sinodais de ECC.
• Elaborar relatórios anuais sobre a educação cristã no Sínodo.

Conselho da Igreja
• Indicar e homologar nomes para a composição do Grupo Coordenador de Educação Cristã Contínua da IECLB.
• Avaliar as propostas apresentadas pelo Grupo Coordenador de ECC da IECLB e dos Seminários Nacionais.

Grupo Coordenador de ECC da IECLB
O Grupo Coordenador tem como tarefa:
• Assessorar o Conselho da Igreja nos assuntos relacionados à educação cristã.
• Coordenar a divulgação do PECC junto aos sínodos.
• Ser o elo entre sínodos, Secretaria Geral e Conselho da Igreja.
• Acompanhar os sínodos através de relatórios anuais por eles enviados.
• Identificar necessidades e lacunas na formação de lideranças.
• Propor, planejar e coordenar seminários nacionais de ECC.
• Divulgar, nas instituições que formam ministros e ministras para a IECLB, as diretrizes da Política Educacional da IECLB e o PECC.
• Estimular a partilha de recursos didáticos produzidos na IECLB.

Secretaria Geral
(Através da Secretaria de Formação, Departamento de Educação Cristã e Coordenação de Diaconia)
Prestar assessoramento às coordenações sinodais de ECC.
• Promover seminários nacionais.
• Coordenar a elaboração de materiais de abrangência nacional, em conformidade com a missão na igreja.
• Acompanhar e integrar o Grupo Coordenador de ECC da IECLB.
• Prever, no orçamento central, os recursos e as condições para o trabalho do Grupo Coordenador de ECC da IECLB.46
Plano de Educação Cristã Contínua
Texto completo do Plano

Ainda que os três centros de formação tenham legitimamente características próprias, oriundas de sua trajetória específica no interior da Igreja, todos assumiram o compromisso de observar a confessionalidade da IECLB e o perfil de obreiro/a e de formação estabelecido pelo Conselho da Igreja. No momento em que se registram tensões internas na IECLB, os centros de formação são particularmente chamados a dar sua decidida contribuição em favor da unidade, na formação das/os futuras/os obreiras/os da IECLB. Nesse sentido, o Período de Habilitação Prática para o Ministério (PPHM) se reveste de particular importância, porque integra as/os candidatas/os ao ministério formadas/os nos três centros de formação.
Manifesto Unidade: Contexto e Identidade da IECLB – 2004
Texto completo do Manifesto

 

A seguir alguns pontos que merecem destaque na ação imediata da IECLB. Esses pontos, por serem ações, devem sofrer uma constante revisão, na qual se detectem necessidades emergentes, eliminando os caminhos superados. Cabe à Comissão de Formação e Educação promover a revisão, inserindo as necessidades surgidas no planejamento da IECLB.

3.1. Confessionalidade evangélico-luterana
Toda ação educacional da IECLB deve ter como elemento fundante a base confessional evangélico-luterana, a qual deve perpassar os currículos das casas de formação e os projetos pedagógicos das escolas da IECLB. Eles foram definidos pelo Conselho de Educação da IELCB:

3.1.1. Educação como testemunho, denúncia, anúncio e serviço
a) Educação apoiada no diálogo como método, na autocrítica como modelo de ação comprometida, na inovação como forma e na honestidade como norma;
b) Interação entre comunidade escolar e eclesial;
c) Comprometimento com os pais e com a educação que prioriza a vida;
d) Envolvimento da sociedade nos projetos escolares;
e) Criticidade frente à globalização;
f) Estímulo à pesquisa, sem idolatria à ciência;
g) Inclusão do calendário litúrgico no planejamento anual.

3.1.2. Somente Jesus Cristo pela Escritura, pela fé e pela graça
a) Reflexão contextualizada sobre a Bíblia;
b) Amor a Deus, ao próximo e a si mesmo;
c) Incentivo dos dons nas vocações e profissões;
d) Promoção da espiritualidade para a plenificação da vida;
e) Vivências de paz, esperança, justiça e amor.

3.1.3. Consciência de qualidade de vida no contexto da criação
a) Valorização do Ser sobre o ter;
b) Caracterização do ser humano como ser biológico, psicológico, social e aberto para a transcendência enquanto digno, livre, finito, histórico e inconcluso, simultaneamente justo e pecador;
c) Educação para a saúde enfatizando o diálogo sobre as dependências químicas e os desvios sociais;
d) Educação sexual com ênfase no amor, no respeito e na responsabilidade;
e) Relação responsável do ser humano com o meio-ambiente;
f) Incentivo das artes e dos esportes na formação integral do ser humano.

3.1.4. A escola como fomentadora de lideranças (apóstolos, mestres, evangelistas, profetas e autoridades comprometidas com a vida)
a) Formação de alunos, professores e funcionários, com vistas à atuação na sociedade, como agentes de transformação;
b) Convívio com as diferenças étnicas, culturais e sociais;
c) Maior inserção no contexto da cultura regional brasileira;
d) Diálogo inter-religioso tendo como referencial a confessionalidade evangélico-luterana;
e) Testemunho da ética como ação e postura libertadora, solidária e justa.

3.2. Rede Sinodal de Educação
A IECLB acontece lá onde seus membros e suas instituições estiverem representadas. Assim, também a sua atuação na educação, seja ela em nível básico ou superior, ou ainda na formação em geral, deve ter como suporte uma comunidade eclesial, se não para iniciá-la, mas para mantê-la.

A IECLB tem um dos mais valiosos campos de missão nas escolas ligadas às suas Paróquias ou Comunidades. A tarefa educacional deve estar inserida no projeto missionário da IECLB, com o propósito de manter e criar comunidade.
A dinâmica atual da sociedade, que aponta para mudanças rápidas e profundas, leva instituições interessadas em manter sua atuação a reverem constantemente seus planejamentos. No âmbito da IECLB, a mesma regra vale para suas instituições e para sua política educacional. A atuação firme e diferenciada no cenário brasileiro deve:
1 fortalecer, consolidar e ampliar a Rede Sinodal de Educação;
2 acompanhar de forma sistemática as instituições filiadas à Rede Sinodal de Educação e aquelas que possuam marca do trabalho da IECLB;
3 formar e aperfeiçoar continuamente as equipes pedagógicas;
4 acompanhar e incentivar os processos e a capacitação dos recursos humanos administrativos;
5 intensificar e ampliar as atividades de integração entre as instituições;
6 implementar e fortalecer a atuação no Ensino Superior.

As instituições de Ensino Superior da IECLB devem ser motivadas para o trabalho conjunto e a colaboração recíproca, devendo estudar formas de colaboração que ultrapassem a mera troca de informações. Alerta-se às comunidades para que continuem como patrocinadoras da atividade educacional, mediante representação de seus membros nos órgãos deliberativos das instituições.

(...) 3.4. Educação comunitária
A participação da comunidade, através de seus membros, consiste numa forma autêntica de envolvimento das pessoas e consiste numa condição do luteranismo. Esta participação é entendida como integração ativa na vida da comunidade, pois promove a partilha da palavra e a partilha da vida. O Sacerdócio Geral de Todos os Crentes ilumina a ação da comunidade e de cada membro em particular. Numa perspectiva cidadã, o Sacerdócio Geral de Todos os Crentes abre novos espaços, fortalecendo os já existentes.

Para viabilizar o Sacerdócio Geral de Todos os Crentes, é preciso considerar as seguintes linhas de ação:
1) Investimento na Educação através de ações voltadas para a formação de todos os membros da comunidade;
2) Elaboração de materiais específicos para as diferentes áreas e temáticas que permeiam a vida da comunidade;
3) Qualificação e potencialização das atividades de comunicação em suas diferentes modalidades;
4) Potencialização e intensificação das atividades de formação continuada de lideranças.

3.5. Ensino Religioso
A Educação é compromisso fundamental da Igreja. A Igreja deve estar a serviço da educação, zelando para que todos tenham acesso à educação, à educação religiosa e à educação na fé.

A IECLB, como entidade civil, tem a responsabilidade de envolver-se com as questões voltadas para a vida cidadã. En-tre elas, estão o acompanhamento e a inserção nos espaços de discussão, implantação e implementação das políticas públicas educacionais, e principalmente o envolvimento com aquelas que tratam da dimensão religiosa do ser humano.

Na prática do Ensino Religioso, devemos ter abertura para o diálogo inter-religioso e a vivência ecumênica. Para isso, precisamos ter clareza da própria identidade e da confessionalidade evangélico-luterana.

O Ensino Religioso tem como meta a proposta e a busca por uma vida plena e justa. Essa meta está presente na sala de aula, mas também no modo como o educador ou a educadora veicula o saber, seja através do planejamento, da seleção de conteúdos, da escolha do método de trabalho, do posicionamento frente às questões existenciais que fazem parte do cotidiano.

O Ensino Religioso é testemunho e missão da IECLB quando está voltado para as situações do dia a dia, seja mostrando os sinais de mudança que já existem ou a constituírem-se.

A legislação sobre o Ensino Religioso, conforme a Política Educacional vigente, propõe a construção e a vivência de um projeto de vida fundamentado no exercício da cidadania, na justiça, nos direitos humanos e na defesa da dignidade do ser humano. Ele deve auxiliar e resultar na formação e capacitação de pessoas alegres, com esperança de e na vida.
Diretrizes da Política Educacional da IECLB
Texto completo das diretrizes

Assim como os obreiros dos ministérios específicos necessitam de acompanhamento e formação contínua, também os colaboradores leigos precisam de formação contínua e acompanhamento por parte da liderança da comunidade e da Igreja como um todo. Tais colaboradores/as leigos/as participam efetivamente, de forma definida embora limitada, de um dos quatro ministérios específicos, reconhecidos na IECLB, sem, no entanto, substituí-lo. Poderiam ser denominados, portanto, também de “obreiros e obreiras leigas” ou de “ministros e ministras leigas”.
Posicionamento A IECLB às Portas do novo Milênio – 1999
Texto completo do posicionamento
 


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Jamais a fé é mais forte e gloriosa do que ao tempo da maior tribulação e tentação.
Martim Lutero
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