Acolhei-vos uns aos outros...
Dignidade Humana e Paz
Novo Milênio sem Exclusões
(Tema da IECLB e da Campanha da Fraternidade Ecumênica/2000)
Acolhei-vos uns aos outros como também Cristo nos acolheu (Romanos 15.7)
(Lema da IECLB para o ano 2000)
1. É deveras significativo que as Igrejas-membro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs criaram, pela primeira vez, um tema de trabalho comum, que também servirá de tema da Campanha da Fraternidade. Dessa maneira colocamos, após o evento ecumênico mundial da assinatura da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, um sinal ecumênico eloqüente para o mundo. Demonstramos que os laços que nos unem são suficientemente fortes para, em conjunto, testemunharmos a vontade de Deus, com vistas ao novo milênio.
2. No Natal, Deus se tornou pessoa em meio à pobreza e miséria de um estábulo, já que não havia lugar digno para ele nascer. Assim ele denunciou todos os poderes que promovem exclusão e, ao mesmo tempo, solidarizou-se com todas as pessoas esquecidas e excluídas. Pelo pregar, ensinar e curar Jesus promovia vida para todos, especialmente para os que mais dela careciam e nada podiam pagar por ela.
3. Dessa maneira, Jesus ergueu sinais concretos de acolhimento, perdão, justiça e paz. Assim ele testemunhou boa nova para os esquecidos e excluídos e, simultaneamente, denúncia e juízo para os poderes promotores de não-vida. Foram esses poderes que fizeram da vida de Jesus, do início ao fim, uma caminhada sob a cruz.
4. Deus, porém, ressuscitando-o dentre os mortos, deu razão à vida em justiça e paz por ele inaugurada. No final dos tempos, ele mesmo haverá de erguer em definitivo o seu reino.
5. Essa esperança nos sensibiliza para o grito dos excluídos e esquecidos em nosso país e no mundo. O Cristo crucificado e ressurreto nos faz ouvir o clamor de ...
• 8 milhões de brasileiros desempregados;
• 3 milhões de crianças brasileiras, menores de 14 anos, que trabalham em vez de poderem estudar e brincar;
• 85 milhões de brasileiros que estão abaixo da linha de pobreza, ou seja, com renda inferior a R$ 132,00 (cf. Frei Betto in: e-mail Marcus Arruda[pacs@ax.apc.org];
• 330 mil indígenas reclamando o direito de viver em terra brasileira;
• e de tantos outros idosos, doentes, desiludidos, desamparados, excluídos da vida digna e justa como Deus a quer para todos.
6. Essa realidade é fruto de um sistema mundial que vem se arrastando, em terra brasileira, há 500 anos. Ao longo dessa história, o sistema tinha muitos nomes, como colonialismo, imperialismo, neoliberalismo. Ele conseguiu aperfeiçoar e globalizar sua tendência excludente. Embora a escravatura tenha sido eliminada, criou-se uma dependência globalizante que nos obriga a pagar uma dívida externa, que já foi paga, inúmeras vezes, somente pelos juros. Vai para fora nada menos do que um quarto da nossa riqueza produzida, enquanto estão faltando recursos em áreas básicas como saúde e educação.
7. Por isso não sentimos motivo de jubilo quando pensamos no dia 22 de abril de 1500. Muito antes, pensando nos povos indígenas e negros escravizados, nos tantos imigrantes ludibriados, na falta de vontade política para distribuir a riqueza de maneira mais justa, na apatia política de grande parte da população, pesa sobre os nossos ombros uma co-responsabilidade e culpa coletivas (co-culpa).
8. Importa unirmo-nos em níveis ecumênicos para realizarmos cultos de penitência. Assim o Espírito Santo nos libertará para um novo caminhar. Em nosso meio e através do esforço conjunto, ele erguerá sinais concretos de acolhimento, integração, valorização, partilha fraterna e solidariedade. Que assim Deus nos abençoe e nos torne uma bênção com vistas ao novo milênio sem exclusões, onde todas as pessoas possam experimentar dignidade humana e paz.
Huberto Kirchheim
Pastor Presidente da IECLB