Em busca da terra prometida
A promessa de terra é tão antiga como a humanidade. Terra para morar, plantar, colher, trabalhar, folgar e dormir com sossego é símbolo de vida digna. Deus mesmo a imaginou assim quando plantou o Jardim do Éden. Nele colocou o ser humano com a tarefa de cultivar e guardar o belo jardim do Criador. Mas alguns deixaram de ser capatazes de Deus e passaram a ser donos. Começaram a explorar, sem escrúpulos, os seus irmãos e irmãs, fazendo-os trabalhar como escravos. A fome os obrigou a deixar as suas casas, se é que ainda tinham, e sua parentela em busca de condições mais dignas de vida.
No dia 25 de julho lembramos que, há 175 anos, os nossos antepassados deixaram a Europa porque lá estavam “sobrando”. Não mais havia terra, nem emprego, para eles. A propaganda da colonização do Brasil os fez sonhar com terra prometida, onde houvesse justiça. Aqui, porém, encontraram todo tipo de dificuldades conhecidas por todos nós, tais como: doenças, necessidade de disputa com índios (proprietários originais da terra). Promessas de apoio governamental, em muitos casos, não foram cumpridas. A terra prometida não existia para eles. Com suor, sangue e organização comunitária, tiveram que construir casas, roças, escolas, igrejas e hospitais. Pela fé em Deus, o qual veio para que todos tivessem vida digna, eles suportaram os sofrimentos e superaram as adversidades.
Ao longo desses 175 anos contribuíram para o desenvolvimento social, cultural e religioso do Brasil que, com gratidão a Deus e orgulho, denominamos nossa terra natal.
Por causa disso constatamos, com tristeza e inconformidade, que o quadro de injustiça social no Brasil perdura. Ele se expressa de muitas formas, como sejam: a concentração da terra e da renda, fato que contribui, decisivamente, para a grande e descontrolada migração interna; o modelo agrícola, que favorece o latifúndio e inviabiliza a agricultura de base familiar; o modelo industrial, que favorece empresas multinacionais em detrimento de micro-empresas; a degradação do meio ambiente; a urbanização galopante e descontrolada; o desemprego, a fome e a desintegração familiar; o número crescente de pessoas excluídas da previdência social e dos sistemas de educação e saúde. Esses, entre outros, aspectos da realidade brasileira não nos permitem cruzar os braços, vangloriando-nos de conquistas alcançadas por alguns poucos. Muito antes, esse quadro clama por mudança, o que é, sobretudo, uma questão de vontade política.
Ao comemorarmos o Dia da Imigração Alemã no Brasil, renovamos nossa gratidão ao bondoso Deus que carregou e sustentou nossos antepassados e nos fez encontrar neste chão a nossa terra natal. Não podemos conformar-nos com tantas manifestações contrárias à vida e ao bem-estar. Pois o lema da IECLB para 1999 nos desafia para uma esperança transformadora enquanto
... esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça... (2 Pedro 3.13).
Essa esperança nos anima para lutar por sinais concretos de vida digna e mais justa para todos, especialmente para os que dela mais carecem, ou seja, os excluídos e esquecidos. Queremos unir-nos a todas as pessoas de boa vontade que nesse sentido se empenham.
Que assim aconteça o novo milênio sem exclusões!
Porto Alegre, 12 de julho de 1999
Huberto Kirchheim
Pastor Presidente