Dirijo-lhes esta carta sem que para tanto houvesse motivo especial.
O propósito é simplesmente o de estabelecer contato. Julgo importante isto, pois são poucos os meios de comunicação entre Pastores, Obreiros e Presbiterios de um lado e a direção da Igreja em Porto Alegre de outro. Esforço-me por visitar as comunidades ou programações distritais ou regionais. Mas as distâncias e a escassez de recursos impõem um limite aos planos de visitação do Pastor Presidente. Nesta situação, a comunicação por carta poderá ajudar.
Ademais, creio que os Pastores e demais pessoas em funções de liderança têm um direito de conhecer o pensamento, as preocupações e os objetivos da presidência. Por força de seu cargo o Pastor Presidente ouve e vê muito e está envolvido nas questões da Igreja em seu todo. É seu dever fazer frutificar a visão daí resultante em benefício da comunhão que temos na IECLB. Em outros termos, é dever do Pastor Presidente articular e refletir preocupações, desafios e experiências da Igreja em geral, tentando ser um elo entre os Distritos e especialmente as Regiões. O que são o Pastor Distrital e Regional ao nível do Distrito e da Região respectivamente, isto o Pastor Presidente deverá ser ao nível do todo da IECLB. Cartas pastorais que, aliás, pretendo expedir a partir de agora com alguma regularidade e nas quais procurarei refletir temas que julgo “quente” em nossa Igreja, tais cartas, digo, podem contribuir em muito para o melhor desempenho desta função.
O motivo mais forte, porém, que me leva a fazer a tentativa do envio de cartas pastorais é o que impõe a Constituição de nossa Igreja ao Pastor Presidente, a saber “exercer a tarefa de guia espiritual das Comunidades da IECLB, em especial dos seus pastores” (Artigo 25, inciso a.). Que significa isto?
Guia é também o Pastor em sua Paróquia, guia é o catequista, o presbítero, cada um em seu lugar e com suas atribuições específicas. É o que me fez refletir sobre o que vem a ser direção na Igreja, e seja este o assunto desta minha primeira carta. Aqui está em jogo a relação entre Paróquia e Pastor, Comunidades e direção da Igreja, entre “cúpula e base”. Podemos colocar direção na Igreja em termos de “chefia”? É a nossa tentação, assim me parece, transformar direção, em domínio e substituir autoridade por comando. Evangélico isto não é, sob hipótese alguma. Na Igreja ninguém é “Chefe” ou “Senhor”.
Pois um só é nosso Senhor Jesus Cristo. Por isto a Paróquia não é chefe do Pastor, o Pastor não é chefe da Paróquia e o Pastor Presidente não é chefe da IECLB.
Mas que significa então ser guia? Ora, como Pastor Presidente entendo a função assim: Devo pregar o Evangelho. Isto inclui a necessidade de me posicionar. Devo informar-me, auscultar, ouvir e ler, e então arriscar posicionamentos, fundamentando-os na Palavra de Deus.
É o que, em última análise, toda testemunha do Evangelho deve fazer.
Tais posicionamento procuram estimular, informar, desafiar, mas não encerram o assunto. Como Pastor devo estar disposto a prestar contas das minhas palavras e a reexaminar a fundamentação evangélica das mesmas. Devo estar disposto, inclusive, a me corrigir. Pois posicionamentos infalíveis na Igreja Evangélica não há. O bom guia busca a confiança e o consenso das pessoas, ele procura convencer em vez de decretar, ele usa autoridade para conduzir à maioridade. Desta forma direção na Igreja é algo muito dinâmico. Acontece na humildade do ouvir e na coragem de falar, no risco do posicionamento e na auto-correção, acontece como tentativa conjunta de fortalecer o Senhorio de Jesus Cristo na Igreja e no mundo.
Neste espírito, peço que sejam entendidas as cartas pastorais que pretendo escrever. Estou aberto para reações, mesmo que sejam contrárias, e fico grato por sugestões de temas que mereceriam uma reflexão a nível de IECLB. Dentro das minhas possibilidades procurarei atendê-las. Envio esta circular não só a Pastores e Pastoras. Da direção da Igreja participam muitos. Todos estes estão incluídos no endereço e poderão fazer o uso destas missivas que julgarem adequado.
Porto Alegre, 28 de fevereiro de 1986
Dr. Gottfried Brakemeier
Pastor Presidente