Estimadas irmãs, estimados irmãos, colegas de ministério:
Já há algum tempo desejo e, mais recentemente, tenho uma incumbência da Diretoria do Conselho da Igreja de me endereçar aos irmãos e irmãs obreiros eméritos e obreiras eméritas da IECLB. Muito apropriadamente o último Concílio da Igreja, em Panambi, recuperou a designação de “emérito/a” para aqueles/as obreiros/as que se encontram na condição de vocês, designação que o Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, em sua versão original, não mais previa.
Distribuo as questões, que aqui desejo abordar, em três tópicos:
1. Gratidão da IECLB: por serviços prestados e sendo prestados
Há algumas semanas estive na Comunidade de Alto Jatibocas, município de Itarana / ES. O objetivo de minha viagem foi um encontro da Presidência com a Conferência de Obreiros/as do Espírito Santo. Esse tipo de encontro é, neste ano, programação prioritária da Presidência com os Sínodos, com grande benefício para a própria Presidência, mas também, como creio, para os/as obreiros/as e, por extensão, para os Sínodos e toda a IECLB. Aqui quero destacar que, conjugado com esse encontro mencionado, foi também celebrado o culto de despedida e gratidão ao colega Ido Port, que assim passou para a condição de pastor emérito (inapropriadamente referido, inclusive em nosso Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, como “entrada na inatividade”). Foi um culto extremamente significativo, com toda a CO paramentada e a igreja repleta com cerca de 700 membros das várias comunidades que foram dedicadamente servidas pelo colega Ido Port (acompanhado por sua esposa Diana, com igual dedicação) nos últimos 21 anos. Também o vice-prefeito em exercício do município e outras autoridades civis se fizeram presentes. Múltiplas foram as manifestações de apreço, carinho e gratidão pelo serviço prestado. O colega Ido Port deu um eloqüente e emocionado depoimento acerca do significado de seu ministério pastoral e de seu compromisso pessoal com ele e com a Igreja. Junto com o pastor sinodal Osmar Lessing, tive a alegria de oficiar o ato litúrgico de gratidão e comissionamento para a nova etapa na vida e no ministério.
Relato essa experiência recente, para enfatizar a todos/as vocês pela IECLB o que é sabido, mas muitas vezes não suficientemente reconhecido: o exercício do ministério, com seus direitos e deveres básicos, não cessa nesse momento, ele apenas passa para nova condição. Também isso o EMO (artigo 68) expressa com clareza. E aproveito o momento para expressar o agradecimento da IECLB também pelas múltiplas formas pelas quais vocês continuam contribuindo com seus dons e sua experiência às comunidades e à IECLB: desde a participação fiel na vida da comunidade em que são membros, passando pelo contribuir com sugestões e conselhos, mas também, muitas vezes, assumindo tarefas bem concretas. Em Lajeado / RS, por exemplo, obreiros eméritos estão auxiliando significativamente na trnsição que aquela comunidade está experimentando, com o desligamento de obreiros e certo número de membros, para constituírem uma nova igreja. Lembro como contribuição à Igreja também a manifestação enviada por pastores aposentados de Santa Catarina e Paraná, a qual a pedido foi compartilhada de maneira ampla na IECLB. Nela se externa, entre outros, a preocupação com os rumos e a unidade da IECLB. É bonito ver como obreiros/as eméritos/as seguem atuando e também se preocupando com sua igreja.
2. Um desafio: apoio a comunidades em situação especial
Nesse contexto apresento um desafio especial, com uma consulta a vocês. Temos tido uma redução acentuada de recursos vindos do exterior, tendência que deve prosseguir nos próximos anos. Os chamados campos missionários e as pequenas comunidades, que não se vêem em condições de manter integralmente um campo de atividade ministerial, têm sido particularmente atingidos. Uma série de comunidades, até agora apoiadas, não estarão mais recebendo auxílio financeiro com o término de seus projetos missionários. Elas se perguntam se a Igreja as abandonou. É certo que nenhuma comunidade deveria contar com auxílios financeiros indefinidamente, mas sim se empenhar pela auto-sustentabilidade. No entanto, há comunidades que fazem um grande esforço, sem, contudo, conseguir arcar com todos os custos do provimento de uma vaga ministerial.
Quero dar um exemplo. A nossa comunidade em São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul, ao norte da capital Campo Grande, decresceu no número de membros, devido à (nova) migração de lá para outros lugares. A comunidade tem templo e casa paroquial, mas o reduzido número de famílias (atualmente em torno de duas dezenas) não consegue cumprir com os compromissos de um campo de atividade ministerial. Compromete-se ela a arrecadar dois salários mínimos mensais, uma contribuição por membro bem acima da quase totalidade de comunidades da IECLB. Mas não temos podido prover essa comunidade com um/a pastor/a, como é seu desejo, e tampouco há nas proximidades outra comunidade da IECLB, cujo pastor pudesse atendê-la regularmente. Deveríamos dizer à comunidade que a IECLB não mais poderá prestar serviços pastorais e que os membros deveriam buscar outra igreja?
Em meu relatório ao XXV Concílio da Igreja, em Panambi, lancei a idéia da constituição de um fundo interparoquial de solidariedade, à semelhança do existente fundo de solidariedade entre os sínodos. Isso demandaria uma contribuição extra das comunidades a esse fundo, numa percentagem de sua arrecadação, para servir de apoio a essas comunidades pequenas ou também a comunidades temporariamente fragilizadas, como aquelas que sofreram perda de membros, com a saída de carismáticos. Essa idéia ainda não prosperou, mas está sendo considerada pelo grupo-tarefa encarregado de planejar o PAMI, em sua nova fase, para os anos 2008-2012.
Desafiado pela Presidência, o colega João Strauss, um de nossos pastores eméritos, aceitou o desafio de, sob orientação do respectivo sínodo (Rio Paraná), prestar atendimento a essa comunidade por períodos limitados (no caso, em períodos de algumas semanas). Não é uma solução definitiva, a qual ainda queremos encontrar, mas a comunidade ficou muito agradecida com essa experiência, e o colega João Strauss extremamente gratificado com a oportunidade, como expressou em sua carta-relatório. Daí que me animo a consultá-los/as: quem mais estaria disposto a auxiliar essa ou outra comunidade em condições semelhantes? Peço que quem assim estiver disposto, entre em contato com a Presidência manifestando sua disposição e as condições sob as quais poderia prestar esse apoio ministerial. Agradeço já agora considerarem essa possibilidade.
3. Um esclarecimento: certificado de habilitação
A pedido da Diretoria do Conselho da Igreja, também presto esclarecimento acerca da emissão do Certificado de Habilitação para os obreiros e as obreiras com ordenação na IECLB, inclusive aos/às eméritos/as. Como é sabido, o Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, aprovado no XXIII Concílio da Igreja, em 2002, em Santa Maria do Jetibá / ES, prevê a concessão de Certificado de Habilitação aos/às obreiros/as da IECLB. O Conselho da Igreja regulamentou sua concessão. Uma pergunta foi: o Certificado deve ser conferido apenas aos/às futuros/as obreiros/as ou também retroativamente? A decisão foi pela última hipótese. Também se levantou a pergunta se a concessão seria apenas aos/às obreiros/as “na ativa” ou também aos/às “na inatividade” (o título de “emérito/a” ainda não havia sido restabelecido). Mais uma vez prevaleceu a opinião de que deveria ser conferido a todos/as, indistintamente. Ou seja: o critério foi o de não excluir ninguém, não fazer qualquer diferença. Semelhantemente, decidiu-se também conferir o certificado com os mesmos dizeres, sem alterações.
Recebemos, de parte de obreiros eméritos, várias manifestações de contrariedade e mesmo de protesto com esse procedimento. A julgar pela correspondência, a medida foi sentida como uma desvalorização do ministério exercido, geralmente ao longo de décadas de dedicação e desprendimento. Houve quem sentisse até mesmo como se o Certificado de Ordenação não tivesse tido validade. Foi entendido como se apenas agora, após a concessão do certificado, a Igreja estava reconhecendo a habilitação ao ministério. Lamentamos profundamente que o sentimento gerado possa ter sido o de mágoa, porque o objetivo era precisamente o de valorizar e não excluir os/as obreiros/as eméritos. O objetivo e a reflexão da Igreja e sua Direção era e é este: “Precisamente porque os/as obreiros/as eméritos/as estiveram de fato habilitados ao longo de todo seu ministério na IECLB e porque ainda na condição de eméritos/as continuam habilitados, concede-se-lhes “agora” o Certificado de Habilitação, que antes ainda não havia na IECLB.” Pois, caso contrário, os/as obreiros/as “na ativa” passariam a ser possuidores de um Certificado de Habilitação que aos/às obreiros/as “na inatividade” se estaria negando. E isso, no nosso entender, seria verdadeiramente discriminatório e injusto para com os/as obreiros/as eméritos/as.
Chamo a atenção também para o fato de que Certificado de Habilitação e Certificado de Ordenação são de natureza diferente, e a habilitação não compete e de modo algum substitui a ordenação. O primeiro atesta a qualificação para o ministério, o segundo o comissionamento para o ministério na IECLB, mediante imposição de mãos e intercessão pelo Espírito Santo. É por isso que o primeiro é assinado pelo Presidente e pelo Secretário do Conselho da Igreja, enquanto que o Certificado de Ordenação é assinado pelo Pastor Presidente. Quanto à data dos certificados de habilitação conferidos retroativamente, ela deve ser entendida, para quem já exercia o ministério com ordenação, como a data do “certificado”, mas referente a uma “habilitação” já existente com anterioridade, desde o início da atividade ministerial na IECLB. Poder-se-ia ter optado por dizeres específicos para esses casos, como um pastor emérito sugeriu, mas optou-se por não fazer diferenças também aí, para não sugerir que teríamos na IECLB dois tipos de certificado de habilitação.
Aliás, a sensação de desvalorização do ministério passado poderia também ter ocorrido com os/as obreiros/as “já na ativa”. Felizmente, pelo que me consta, isso não ocorreu assim, talvez porque tenhamos conseguido comunicar melhor a eles/as em que sentido o Certificado estava sendo conferido. Em todos os momentos em que eu estive presente quando o Certificado de Habilitação foi conferido (a maioria dos sínodos organizou entregas coletivas, com alguma solenidade, por exemplo em culto ou em assembléia sinodal), tive o cuidado de esclarecer o sentido como aqui exposto. Eu próprio recebi o certificado, e é óbvio que o significado não poderia ser o de que o Pastor Presidente anteriormente não estava habilitado para o ministério.
Enfim, ainda que a decisão tomada pudesse ser discutível ou ter sido outra, peço com carinho que os/as colegas de ministério façam generosamente uso da “fórmula” recomendada por Lutero (em outro contexto, é claro) de “interpretar tudo da melhor maneira”.
Concluo reiterando o agradecimento da IECLB a todos/as vocês pelo seu ministério (que é um servir) e almejando que seja sempre uma realidade em nossas vidas a proclamação do lema desta semana:
“Do nascimento do sol até ao ocaso, louvado seja o nome do Senhor.”
(Sl 113.3)
Fraternalmente, na paz de Cristo,
Walter Altmann
Pastor Presidente