Às lideranças (Pastores e Pastoras Sinodais, Ministras e Ministros, Presbitérios) e a todos os membros da IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
“Que o amor de vocês não seja fingido. Odeiem o mal e sigam o que é bom. Amem uns aos outros com o amor de irmãos em Cristo e se esforcem para tratar uns aos outros com respeito” (Romanos 12.9-10)
Durante sua reunião ordinária, entre os dias 26 a 28 do corrente, o Conselho da Igreja refletiu com a Presidência da IECLB sobre o contexto brasileiro, considerando particularmente as polarizações em torno de distintos temas. Um deles diz respeito às eleições em nível de país e Estados no próximo mês de outubro.
Não é mero acaso que os reflexos dessa polarização se fazem sentir na IECLB. Recente visita de um Pastor da IECLB ao ex-Presidente Lula estampa nas redes sociais essa realidade. Há manifestações contrárias e de apoio. Muitas expressam preocupação procedente, com uso de linguagem sóbria.
Todavia, chama atenção a virulência presente em algumas manifestações. Nelas, no intento de reprovar o que é visto como condenável ou de apoiar o que é tido como absolutamente correto, chega-se a um nível de linguajar deplorável. Nesses casos, a condenação ou a defesa do que se julga errado ou certo é feita com tal ímpeto que o amor que sabe amar até o inimigo desaparece. Isso tudo é disseminado de forma incontrolável, sem preocupação com a imagem da igreja. Ato contínuo, espera-se “que a Presidência da IECLB tome providências!”
Coincide que, no ano de eleições em nosso país, a IECLB está estudando como Tema do Ano o trinômio Igreja, Economia e Política. Segundo a teologia evangélico-luterana, a nossa presença e atuação individual e coletiva nessas três esferas não são uma opção, mas imperativos colocados por Deus. Elas são dom de Deus para promover o bem ou deixar que avance o mal (Amós 5.14).
A IECLB tem definido em seus documentos normativos o que cabe aos seus Ministros e suas Ministras nessa realidade. Lê-se no Estatuto do Ministério com Ordenação, Art. 44. “Em questões político-partidárias, a ministra ou o ministro atuará com o devido resguardo do seu ministério e do seu CAM - Campo de Atividade Ministerial, sem, entretanto, renegar a tarefa de promover o bem-estar do ser humano à luz do Evangelho.” E o Parágrafo único complementa: “As preferências partidárias pessoais da ministra e do ministro não deverão prejudicar o bom relacionamento dos membros da Comunidade, entre si, e a sua convivência com o CAM”.
Ainda que dirigido ao quadro de pessoas ordenadas, esse Artigo certamente pode orientar nossa vida em comunidade e, por isso, serve de guia para todos os membros. Respeitando as “preferências partidárias pessoais”, o Evangelho nos chama para, com prudência, garantir a promoção do bem-estar do povo de Deus. A IECLB incentiva seus membros a que tenham engajamento político, inclusive partidário, e confia na capacidade do diálogo enquanto caminho fundamental na diversidade que caracteriza o rosto da Igreja. Defendemos o amplo direito de expressão, o estado democrático como um valor inalienável da cidadania. A opção partidária e o comprometimento cidadão é direito pessoal, mas isso não pode ser confundido com a instituição que se representa.
Lamentavelmente, o período eleitoral se transforma mais em campo de confronto do que oportunidade para apresentar propostas e encaminhamentos que viabilizem ações em defesa da vida. O que precisa ser distinguido é, muitas vezes, confundido e misturado. Com isso, não raro, os ânimos se acirram, e a disputa que deveria ser em torno de ideias passa a ser pessoal.
Por causa do amor cristão que nos move, assim como também os 10 mandamentos, a opinião divergente não pode ser motivo para destruir a comunhão de irmãs e irmãos na mesma fé. Ministros e Ministras, bem como demais lideranças que representam instâncias da nossa Igreja, precisam empenhar-se para discernir e distinguir entre o que lhes convém como opinião pessoal e o que pode e não pode ser dito em nome da instituição que representam. Se este princípio for ferido, cabe, por parte de quem assim o entender, acionar a instância competente (Comissão Doutrina e Ordem).
A IECLB empenha-se na Missão de Deus concretizada pela tarefa de “propagar o Evangelho de Jesus Cristo, estimulando a sua vivência pessoal na família e na comunidade e promovendo a paz, a justiça e o amor na sociedade brasileira e no mundo”, para que, em assim fazendo, “seja reconhecida como igreja de comunidades atrativas, inclusivas e missionárias”. No exercício da sua missão, a IECLB não tem cor partidária. Contudo, ela não é apolítica, pois o Evangelho exige o engajamento na promoção da vida abundante, no “serviço em favor da dignidade humana e pelo respeito à criação”.
Nestor Paulo Friedrich
Pastor Presidente