Comunicado da Presidência
Acerca da visita do Papa Bento XVI ao Brasil
O Papa Bento XVI encontra-se no Brasil, numa visita que se estende de 9 a 13 de maio. Ensejo da visita é a abertura solene da V Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha (V CELAM), a realizar-se em Aparecida / SP, de 13 a 31 de maio. Tratando-se da visita do chefe espiritual da Igreja Católica Apostólica Romana é natural que a programação obedeça, antes de tudo, a uma demanda interna dessa igreja. Da programação podemos ver as ênfases que são dadas: encontro com jovens, canonização de Frei Galvão, reunião com o episcopado. Refletindo o papel exercido pelo Papa e o fato de o Brasil ser o país do mundo com maior número de católicos, a cobertura da imprensa tem sido extraordinária. Como chefe de Estado (do Vaticano), o Papa também se reuniu com as autoridades políticas maiores de nosso país (Presidente da República, Governador do Estado de São Paulo e Prefeito de São Paulo).
Na agenda e nos pronunciamentos até agora efetuados pelo Papa, o ecumenismo tem tido um espaço bastante limitado. Somos gratos, porém, que tenha havido a oportunidade de um encontro fraterno do Papa com líderes daquelas igrejas e religiões com as quais a Igreja Católica tem laços históricos de diálogo e cooperação. Como Pastor Presidente da IECLB e Moderador do Comitê Central do CMI, participei do encontro com o Papa Bento XVI, no dia de ontem, 10 de maio, no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. O Pastor 2º. Vice-Presidente, Carlos A. Möller, participou na qualidade de Presidente do CONIC. Houve também a participação de líderes ortodoxos, anglicano, presbiteriano unido e cristão reformado, bem como da comunidade judaica e da comunidade muçulmana. Aliás, no aguardo do encontro com o Papa, houve uma oportunidade de que informalmente estabelecêssemos entre nós um significativo diálogo.
O encontro com o Papa, como dito, foi breve, porém desenvolveu-se em clima de cordialidade. Cada um dos participantes teve a oportunidade de externar, na saudação, um voto pessoal ao Papa. De minha parte, expressei a satisfação pelas relações católico-luteranas, que neste ano completam 50 anos do início do diálogo teológico entre nossas confissões no Brasil e o desejo de que elas continuem se fortalecendo. Também mencionei os votos de que se estreitem cada vez mais os laços de cooperação entre o Conselho Mundial de Igrejas e o Vaticano. O Papa, em suas palavras aos convidados, externou sua satisfação com o encontro fraterno, também na sua composição reunindo representantes das três religiões monoteístas, cristianismo, judaísmo e islamismo.
Não houve, pela exigüidade do tempo e pela natureza do encontro, oportunidade de aprofundamento das questões que nos unem ou daquelas em que registramos diferenças entre nossas confissões. Por nenhuma das partes foram abordados assuntos polêmicos. O encontro deve ser visto como de forte caráter simbólico, pela reafirmação do compromisso ecumênico de nossas igrejas e das causas comuns entre as religiões, bem como pela visibilidade que o encontro deu a esse compromisso. Através de nossas instituições, entre elas, em nosso país, o CONIC e, no cenário global, o Grupo-tarefa Conjunto do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e do Vaticano, as questões teológicas e os projetos de cooperação são aprofundados. O diálogo internacional entre Federação Luterana Mundial (FLM) e a Igreja Católica Apostólica Romana redundou, entre outros, em 1999, na assinatura de uma Declaração Conjunta Católico-Luterana acerca da Doutrina da Justificação, cujas implicações teológicas e práticas ainda não foram de todo exploradas.
Por corresponder ao dom e ao mandato de Jesus Cristo (João 17.21), devemos perseverar em nosso compromisso ecumênico. Mesmo em tempos em que também há sinais de algum recesso nas relações ecumênicas, não devemos esmorecer, mas, ao contrário, solidificá-las e buscar ainda novas avenidas de cooperação.
Fui também convidado a participar, como observador, do V CELAM, devendo, porém, limitar minha participação, por motivos de agenda, aos dois primeiros dias (13 e 14 de maio). O tema dessa conferência, “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nEle nossos povos tenham vida”, reflete claramente a dimensão missionária que também na IECLB estamos enfatizando com nosso tema e lema para 2007 e 2008 (“No poder do Espírito, proclamamos reconciliação” e “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”). A agenda da visita papal, a que me referi no início, torna visível a peculiaridade da Igreja Católica e, com isso, também diferenças em relação à nossa compreensão teológica e identidade confessional. No entanto, no testemunho a Jesus Cristo, como fonte de vida para a humanidade, também vemos o que, na raiz e no fundamento, nos une: a obra salvadora de Jesus Cristo e a fé nele como nosso Senhor.
Porto Alegre, 11 de maio de 2007
Walter Altmann
Pastor Presidente
