Música na IECLB


Terceira reflexão - Arte sacra no contexto cristão

Música

08/06/2007

(Sl 150) Sinfonia universal Aleluia! Louvai a Deus em seu santuário, louvai-o no seu majestoso firmamento! Louvai-o por seus grandes feitos, louvai-o por sua imensa grandeza! Louvai-o ao som de trombeta, louvai-o com harpa e cítara! Louvai-o com pandeiro e dança, louvai-o com instrumentos de corda e flautas! Louvai-o com címbalos sonoros, louvai-o com címbalos vibrantes! Tudo que respira louve o Senhor! Aleluia!

Ao caminhar das observações anteriores, e rebuscando fundamentos para a continuidade do tema música, não poderia ser diferente do que me lembrar deste Salmo tão expressivo e de conteúdo tão atual no que tange às manifestações sacras através da música. Creio que, por analogia, entendemos em síntese a fundamental diferença ente a coisa sacra e a coisa religiosa.

Assim é também na música e nas suas muitas manifestações, tal como o aproveitar a expressão vocal e sonora, para o louvor, (ou para exibição pessoal?).
Não obstante muitas considerações cabe observar mesmo que superficialmente, o quanto a música tem influência sobre o emocional e sobre o arquivo imanente, interferindo de forma perene na personalidade e sensibilidade emocional de cada pessoa, agindo inclusive, e como dito, permanentemente, sobre a formação do caráter de cada um. Como nos orienta A. Cury (op.citado): o RAM= registro automático na [da] memória. Se esta afirmação é de tamanha complexidade e responsabilidade, cabe dar-se especial atenção a este veículo de comunicação, em especial quando dele se faz uso para o louvor e missão.

Destaco aqui a preocupação a que se deve estar atento quanto aos aspectos de melodia, rítimo, intensidade sonora, vibrações e poluições ambientais, forma de apresentação e poluição visual. Somado a isto, as questões da comunicação verbal (versos e mensagens), que complementam quando do canto. Neste sentido, haveremos de dedicar um capítulo, uma reflexão, mais aprofundada diante da envergadura e importância ao que o tema sugere.

Na música em si, formulamos três diretrizes que entendemos como de destaque neste momento, quais sejam: Música Sacra erudita; a Música Sacra contemporânea; e Música para a missão.

Música Sacra Erudita, ou Secular.

A EVOLUÇÃO DA MÚSICA SACRA APÓS A REFORMA
(Tiago Tavares da Silva / Organista da Comunidade Luterana de Petrópolis.)

Lutero [também compositor] é o único dos reformadores do séc. XVI a enfatizar e usar a música como um dom excelente de Deus para a Proclamação da Palavra.
Calvino permitiu a música com relutância, enquanto Zwiling a baniu.

[Destacam-se como] compositores de época de Lutero, Joaquim dês Prez e Ludovico Senf, [assim como] Joldann Walter foi [quem compôs] o primeiro chantré luterano; e George Rhau (chantre de St Thomas de Leiptzig) foi o mais importante editor de música do movimento reformador.

Paradigmas de Lutero para a música:
Música como criação e dom de Deus; como proclamação e louvor; como continuidade de toda a igreja, entre outros....

Lutero não descartou a herança musical sacra enquanto que Zwinglio e Calvino queriam enfatizar suas diferenças com a igreja Católica.

Se verificarmos os grandes clássicos, lembramos de mestres como Bach, Schubert, e tantos outros, que se aqui colocados fariam uma lista de se admirar.
Mas o destaque está para aquelas músicas de cunho Sacro, isto é, que contêm em seu escopo uma mensagem de profunda espiritualidade e que por sua secularização ganham um aspecto de música dos anjos. A lista não é pequena, mas compete exemplificar, as muitas interpretações clássicas por grandes mestres inclusive contemporâneos, do Magnificat, o louvor de Maria, ou como também é conhecida: o Cântico de Maria (Lc 1, 46-55), ou ainda Missa Solemnis, Op.123 de Beethoven.

No Hinário Luterano HPD1, entre tantos, salta aos olhos, quase como hino confessional, o 174 por Tua mão me guia remetendo ao belíssimo Salmo 23; 233 - Até aqui me trouxe Deus, profunda reflexão para I Samuel 7,12; e 194 - Como tu queres, Senhor sou Teu, sobre Isaías 64,8. Isto apenas para exemplificar sem contudo omitir qualquer destes cânticos e hinos que remetem até o Séc XVI.

Nestes hinos vejo, tamanha espiritualidade que para muitos filhos tementes a Deus, passam a ser hinos que os sustentam e dão sentido às suas vidas. Basta refletir sobre o citado HPD1,194, e sua mensagem Is 64,8.

Pessoalmente continuo muito sensibilizado com este hino, e sua fonte bíblica, o que me levou a compor esta tela, através da qual podemos ver e entender como Deus age em cada pessoa, buscando modelar cada um com seus tiques e ites, e até ornatos. Esta obra já me valeu muitas, não poucas, oportunidades de através dela e da citada mensagem bíblica ser, um pouquinho que seja, protagonista da Palavra, e poder entoar aquele hino, com consciência de fé. Tenho convicção de que o autor deste hino o fez com a mesma espiritualidade e desprovido de interesses pessoais, tal como também procurei ser isento nesta interpretação plástica.

Arte Sacra? Discussão aparte. Mas o que esta oração de Isaías consegue reciclar nos nossos pensamentos, e o hino de Geo Stebbins contribui, nos faz crer que a Sacralidade se faz presente nos muitos frutos que advêm de Deus através de seus filhos amados. Arte Sacra, aqui se faz não pela peça em si, mas pelo que se consegue contribuir e sensibilizar no sentido existencial da vida.

Um pouco de história da Música Sacra (contribuição de Thiago T. da Silva, com grifo meu)

A origem da música sacra remonta aos princípios da Civilização. Na Bíblia o primeiro registro encontra-se em Ex 15, com o cântico de Moisés e uma antifond entoada pela profetisa Miriã. É também neste texto, vs.20, a primeira referência de instrumento: um tamborim. Mas o grande sol da música vem a ser os Salmos, sabidamente de Asafe, dos filhos de Core e principalmente de Davi, ainda hoje inspiradores para muitos músicos. Lembremos também do livro Cântico dos Cânticos de Salomão. Um dueto com coro.

No Novo Testamento, encontramos em Mt 26,30, Jesus e seus discípulos empenhados no cântico.

Ao longo das muitas estradas musicais, surgem os cânticos litúrgicos das igrejas orientais, da liturgia galicana (extinta); da ambrosiana, visigótica, destacando-se contudo as liturgias católicas, o canto gregoriano (Papa Gregório I, 873dC).

Destaque especial e merecido para Guilherme de Machaut (1310-1377), que organizou o Kyrie, o Glória, Credo e Sanctus e o Agnus Dei, esquema este atualmente ainda praticado.

Com a Reforma Luterana, séc. XVI, Lutero dá ênfase ao canto da Comunidade, traduzindo, em parte e compondo novos hinos, para que todos pudessem cantar e participar mais conscientemente do louvor através da música.

A Música Sacra, como tal, teve grandes mudanças em favor de sua espiritualidade, e mais autores de expressão, sensíveis a proposta da reforma, passam a surgir, como H. Schütz (1585-1672); J. Pachelbel (1653-1706); Bach (1685-1750). Não excluindo, como disse muitos compositores de valor.

Música Sacra contemporânea.

Também hoje, e não apenas de hoje, a música de louvor tem sua espiritualidade e função santa bastante evidente, aparte das muitas peças show, cujo tema dissertarei mais adiante, como acima já aventado.

Quantos hinos, cânticos e interpretações musicais surgiram ao longo das últimas décadas! Certamente não poucos. Complexas ou simples, mas sempre com grande conteúdo de espiritualidade, sem maiores delongas, e não por último, basta folhear o HPD 2 luterano, e conferir. Só para citar... hino 382 de L.F.Creutzberg 1997, que belo e singela forma de releitura e canto do Salmo 1.

A arte sacra e o louvor hoje, (Grupo Glorificai / Petrópolis / 25/08/04)
Vemos a música como uma forma de louvor universal, atingindo as mais diferentes classes sociais, independente do grau de cultura. A música transpõe os limites físicos do templo e alcança corações e mentes até mesmo daquelas pessoas que estão fora do convívio da comunidade. Como a música possui várias faces, todas as pessoas conseguem se identificar. E com isso, recebem a mensagem e louvam a Deus dentro do estilo que melhor lhe convêm. O Glorificai, em particular, procura através da música, evangelizar e promover a comunhão entre os irmãos. Procuramos manter a coesão entre a mensagem e as músicas representadas, acreditando que assim as pessoas assimilarão mais facilmente o conteúdo da palavra. Para nós é muito gratificante e edificante, poder usar a música como uma forma de louvor e fortalecimento da fé.

Este depoimento de substancial importância sintetiza claramente a essência do louvor (sacro) quando afirma que: procura através da música, evangelizar e promover a comunhão entre os irmãos, conquanto neles não há a menor intenção promocional ou de causa própria. Neste grupo, reina muita fé e espiritualidade, assim podem afirmar: Para nós é muito gratificante e edificante, poder usar a música como uma forma de louvor e fortalecimento da fé.

Por semelhante modo, contribui Cecília com um texto de sua autoria, que nos faz refletir profundamente o quanto é importante levar a sério o mandamento amar ao próximo, e como a música e a comunhão fraterna contribuem para o bem comum:

Recompensa secreta (Cecília Vertamatti agosto 2004)
(Por Cecília Vertamatti, Hospital Albert Einstein - SP, em 1998)

Certa manhã, como acompanhante de um menino amigo, vi entrar no quarto do hospital os doutores da alegria. Coloridos, bem ao gosto da infância, colhiam gostosas gargalhadas das crianças que visitavam.

Conforme começaram sua apresentação ao pequeno Lucas, devem ter percebido o motivo da internação dele: alheio e desatento, com o olhar perdido não se sabe onde, por nada se interessava, a nada reagia... Mesmo sabendo que daquele paciente não teriam retorno algum, nem riso e nem aplauso, prosseguiram amorosamente no seu show. Fiquei comovida com essa permanência desapegada de qualquer sucesso. Os doutores cuidavam do doente com o carinho da sua presença. Falavam e cantavam com translúcida espiritualidade, no puro respeito com que se reconhece um ser humano pela sua essência. Aposto que eles acreditavam que a alma do Lucas captava aquele gesto de ternura e doavam o seu tempo e o seu talento como uma homenagem a um filho de Deus. E na beleza das canções infantis e das bolhas de sabão, naquele quarto, eu vi uma beleza maior - Deus Justo exercendo seu amor imparcial e incondicional a um menino.

Quando os doutores saíram, li impressa nos seus aventais a sua crença: A alegria é o melhor remédio. A emoção não me permitiu agradecer naquela hora àqueles anjos vestidos de palhaços. Se eu conseguisse falar, faria também uma pergunta: -Doutor, então o mundo tem cura?

Sim, Cecília, sim, Lucas, cabe também a nós ao refletirmos sobre toda esta conjuntura de vida, sobre os intentos bem definidos do Grupo Glorificai, que este mundo tem cura, na medida em que passarmos a ser doutores da alegria, a buscar através de nossas artes visuais, musicais, verbais, corporais, a transcendência plena e incondicional.

Amar e manifestar este amor mesmo diante das atrocidades mais duras da vida.
Aqui, tendo este exemplo que Lucas pode assistir, mesmo em sua introversão, passarei a outra reflexão, sem contudo considerar esgotado tudo o que já verificamos até agora. Passo a passo, vamos em frente...


- Introdução ao tema

- Início da reflexão

- Segunda reflexão

- Terceira reflexão - Música

- Quarta reflexão - Arte sacra na expressão corporal

- Quinta reflexão - Um exemplo de mensagem através da arte

- Sexta reflexão - A Arte a serviço de quem ou de que?

- Sétima reflexão - Profano ou santo?

- Oitava reflexão - Música, história e adoração

- Nona reflexão - A Ceia do Senhor (Prédica)


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Não existe nada de tão bom e nada de tão ruim que Deus não poderia usar para me fazer o bem, se eu confio Nele.
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