Música na IECLB


Mateus 21.14-17

Prédica

22/05/2011

A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos nós. Amém.

Leitura do texto do Evangelho de Mateus 21.14 – 17:

“Cegos e coxos iam encontrar Jesus no pátio do templo, e ele os curava. Os chefes dos sacerdotes e os professores da Lei ficaram zangados quando viram as coisas maravilhosas que ele fazia e ouviram as crianças gritando no pátio do Templo: - Glória ao Filho de Davi!
E eles disseram a Jesus: - O senhor está ouvindo o que estão dizendo?
Jesus respondeu: - Claro que sim. Vocês já leram a passagem das Escrituras Sagradas que diz: “Deus ensinou as crianças e as criancinhas a oferecerem o louvor perfeito”?
Então Jesus os deixou, saiu da cidade e foi para o povoado de Betânia. E passou a noite ali.”

Estimada Comunidade, hoje celebramos na nossa liturgia o Domingo Cantate. Ele é inspirado no Salmo 98.1: “Cantai ao Senhor um Cântico novo”. Por isso, inspirado no texto de Mateus 21.14 – 17, gostaria hoje de refletir sobre a música e o canto na vida da comunidade. Hoje, dia de gratidão também, pelos sete anos de atividade do nosso coral, que teve seu primeiro encontro justamente no dia 22 de maio de 2004.

Minha pregação se apóia em considerações muito sábias do teólogo alemão Manfred Josuttis e do Dr. Horst Gorski. Cantar é uma atitude com tendência transcendental - diz o teólogo alemão Manfred Josuttis. O Cantar surgiu no desenvolvimento da humanidade como consequência do trabalho. O Cantar na sua origem não era motivado pelos momentos de lazer, também não pela religiosidade, porém pelo trabalho diário. Dos gritos e gemidos do rachar a lenha, dos gritos junto a colheita, por exemplo, mensagens e melodias ritmicas foram sendo gradualmente moldadas. O cantar facilitava a união da força e um melhor resultado do esforço. Isso significa: Já esta forma primitiva da canção tinha algo a ver com a alma do ser humano. Aliviar-se com gritos, gemidos ou mensagens rítmicas era um meio de expressão do corpo e da alma. Quando mais pessoas trabalhavam juntas, era o ritmo da canção que coordenava o ritmo do trabalho. Foi assim que ritmo e canção acharam o caminho dos altares, onde pessoas expressavam suas dores e alegrias diante de Deus.

Cantar foi assim desde o início não um fim em si mesmo, porém sempre serviu a um para quê, isto é, apontou sempre para além de si. Transcendente significa: ir além de si mesmo. A tese do teólogo Manfred Josuttis afirma: Cantar aponta sempre para além de si mesmo, é mais, do que aparenta ser. Cantar alcança as dimensões mais profundas da alma e dá expressão a alma. Cantar dá ritmo ao trabalho e coordena as ações. Cantar, em momentos felizes, pode ser uma janela para Deus e para o novo mundo.

Uma coisa é certa: Cantar é um bálsamo para a alma, cantar é uma terapia. Cantar une forças, desafoga mágoas, faz irromper elogios, alivia tensões. Cantar acalma, apazigua, estimula, anima a vida. Desde os tempos antigos, os curandeiros sempre usaram a musicoterapia. Davi tocava a harpa para acalmar o rei Saul (1 Samuel 16.14 – 23). Música aos pés da cama de um doente consola e renova a alegria de viver.

Cantar é cooperação. Cantar conecta a vida num ritmo comum. A quatro vozes ou individualmente, o ritmo continua comum. Um exemplo disso somos nós aqui reunidos. Somos uma grande mistura de pessoas. Agora imaginem se o nosso culto não tivesse o ritmo pré-determinado da liturgia e da música. Imaginem se nós tivessémos que discutir todos os domingos, antes de começar o culto, quais e em que ordem os hinos e a liturgia deveriam estar. Provavelmente estaríamos com o templo vazio... Mas se o ritmo da música e da liturgia já nos são dados, há algo para dentro do qual podemos nos lançar, um ritmo no qual podemos confiar. Assim, encontramos o outro, encontramos uma ação comum e notamos ao mesmo tempo que há uma ordem no mundo que nos foi dada e que nos sustenta.
Temos uma noção curativa do mundo.

Cantar é comunicação, aos nossos semelhantes e a Deus. Quando cantamos canções de louvor ou lamentação, expressamos sentimentos nossos, que no canto coletivo não expõem e também não envergonham a pessoa. Certamente não expressaríamos com tanta facilidade diante de outra pessoa ou do coletivo, em palavras, o que se coloca nas músicas em termos de pensamentos e sentimentos. Na música podemos nos comunicar e ao mesmo tempo manter a nossa discrição. Existem, por exemplo, momentos na vida em que é difícil encontrar palavras para a oração. As canções nos emprestam suas palavras para orar. Quantas canções e hinos não são também maravilhosas orações!

Por isso considero muito benéfico também cantar hinos cujas letras não me agradam, porque me levam a olhar para além de mim, para além daquilo que eu gosto e desejo. Hinos de gerações passadas também podem muito nos comunicar e animar a orar. Esses hinos podem nos carregar em momentos difíceis. Podem nos fazer viajar para dentro de outros tempos e épocas. Podem nos fazer ver como pessoas expressavam seus sentimentos de gratidão a Deus e encontravam Nele uma luz para suas angústias.

No ato de cantar nasce união, cooperação, integração, comunicação, oração.

Cantar é uma atitude com tendência transcendental . A pergunta é: para onde o canto aponta? A direção, o objetivo do canto é crucial. Na fé cristã, o canto aponta para a fé, o amor e a esperança que Jesus Cristo traz ao mundo. Aponta para a esperança na superação do sofrimento e da injustiça. Aponta para a paz na criação de Deus. Aponta para a salvação que Cristo nos traz. O objetivo do nosso canto é comunicar, bendizer e enaltecer o amor de Deus em Cristo que consola, ampara e salva o mundo.

Cantar não muda, visto de forma superficial, o mundo. Cantar não pode extinguir ou impedir o sofrimento. Mas cantar pode fortalecer a nossa fé em Cristo, fé que nos anima a desenvolver meios que amenizam e aliviam a dor e o sofrimento a nossa volta.

No cantar os filhos de Deus chamam pela presença salvadora de Cristo. No cantar os filhos de Deus louvam pelos milagres e maravilhas do Espírito Santo em nosso meio. É para isso que o nosso texto de hoje aponta. Jesus diz: “Deus ensinou as crianças e as criancinhas a oferecerem o louvor perfeito?” Pela boca das crianças e das criancinhas Deus é louvado pela cura dos cegos e coxos. Elas conseguem ver o milagre da vida. Algo impossível para os chefes dos sacerdotes e professores da Lei, pois têm os olhos ofuscados pelo dogma da Lei. Quantas vezes também não impedimos pessoas de louvar e cantar pelos nossos preconceitos, regras e dogmas?

Para confiar em Deus e louvá-lo, não é preciso ter estudado. Às vezes pessoas bem simples falam verdades, que tocam profundamente o coração e a alma, que são muito mais valiosas do que renomados livros ou pessoas extremamente letradas.

A música é uma dádiva do céu. Deus com ela nos abençoou. Com ela toca profundamente o nosso coração. Portanto, a música é a linguagem universal para anunciar a Cristo. Música na comunidade cristã quer apontar para o Cristo vivo e ressurreto. Palavras podem permanecer incompreendidas, podem não tocar o coração. A música, no entanto, alcança quase sempre o coração. Quando cantamos hinos que expressam o amor de Deus, proclamamos a fé em Cristo nos corações das pessoas. Se nós ensinamos o canto, se ensinamos as nossas crianças a cantar, se estimulamos jovens, adultos e idosos a cantar, o evangelho estamos a anunciar. Pelo canto as palavras encontram acolhida no coração, a alma é curada, o ser humano é feliz como um todo, porque ele se sente carregado no ritmo da música do nosso Deus.

Jesus disse: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Para isso, Deus nos abençoou com a música e o canto: para aliviar-nos de nossos cansaços e sobrecargas.

Que o dom da música e do canto, presente do nosso Deus, cresça cada dia mais em nossa comunidade para que mais pessoas sejam tocadas pelo evangelho do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Amém.

P. Ernani Röpke
Paróquia da Cantareira,
São Paulo, SP
 


Autor(a): Ernani Röpke
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Cantareira (Tremembé - São Paulo-SP)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Música
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 5º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 21 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 17
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 66

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