Comemoramos, pois queremos fazer memória juntos dessa história eclesial que, embora marcada pelo pecado da divisão, nunca deixou de ser cheia da graça do Espírito Santo, que nos continua conduzindo a partir das limitações e fragilidades humanas de cada época.
Há cinco anos, dia 31 de outubro de 2016, aconteceu aquela feliz celebração na catedral de Lund na Suíça, onde católicos e luteranos com suas respectivas lideranças eclesiais tiveram um momento de perdão e agradecimento. Perdão pelos conflitos que levaram à separação institucional e que perduraram por séculos, mas também agradecimento pelo indivisível Corpo de Cristo que nunca se deixou de fazer presente nas pessoas que se reúnem em Seu Nome.
Naquela ocasião foi assinada a “Declaração conjunta por ocasião da comemoração conjunta católico-luterana da Reforma”, um gesto de amor fraterno que veio acompanhada de um apelo bastante claro aos católicos e luteranos do mundo inteiro:
“Apelamos a todas as paróquias e comunidades luteranas e católicas para que sejam corajosas e criativas, alegres e cheias de esperança no seu compromisso de prosseguir na grande aventura que nos espera. Mais do que os conflitos do passado, há de ser o dom divino da unidade entre nós a guiar a colaboração e a aprofundar a nossa solidariedade. Estreitando-nos a Cristo na fé, rezando juntos, ouvindo-nos mutuamente, vivendo o amor de Cristo nas nossas relações, nós, católicos e luteranos, abrimo-nos ao poder de Deus Uno e Trino. Radicados em Cristo e testemunhando-O, renovamos a nossa determinação de ser fiéis arautos do amor infinito de Deus por toda a humanidade.”
Fazendo justiça a tal apelo é que em Curitiba ficamos felizes de poder partilhar eclesialmente esta data importante do seio do diálogo ecumênico, cada ano de forma “corajosa e criativa”. Nesta oportunidade, representantes do Coro e Orquestra Arquidiocesanos Luz dos Pinhais e da Comissão de Música do Sínodo Paranapanema prepararam uma interpretação virtual da música “Pertencemos ao Senhor (Rm 14,8)”, composta a princípio dentro da experiência católica. O letrista comenta sobre isso:
“Originalmente, a letra foi composta a partir de Rm 14,8 (“Pertencemos ao Senhor”), escolhido como lema episcopal de Dom Carlos Silva, OFMCap. Expressa a consciência afetiva do humano em relação ao seu Criador, em sinal de pertença a Ele, confirmada pela história da salvação, na culminância do Mistério Pascal de Cristo. A vivência da Páscoa é o testemunho dos batizados no caminho da evangelização e da unidade, como sinal da contínua presença de Cristo, o Bom Pastor Ressuscitado, o iluminador de todos os povos.” (Fr. José Moacyr Cadenassi, OFMCap)
A feliz poética de Romanos 14,8 cria essa abertura ecumênica tão necessária nas nossas comunidades brasileiras e latino-americanas, reconhecendo a Unidade do Cristo ao qual pertencemos pelo batismo para, a partir Dele, viver uma experiência eclesial concreta nas nossas tradições e na diversidade multiforme do Espírito. O compositor musical comenta sobre estas relações:
“Quando recebi este belo texto do Fr. José Moacyr Cadenassi para ser musicado, logo me chamaram a atenção os elementos de unidade e fraternidade nele contidos. Embora seu objetivo primeiro fosse a ordenação episcopal de Dom Carlos Silva, atualmente um dos bispos auxiliares da Arquidiocese de São Paulo, fico muito feliz e honrado que esta composição impulsione a caminhada ecumênica das igrejas cristãs no Brasil. O ecumenismo é para mim algo muito especial, do qual eu trago apenas boas experiências. Com esta composição, busquei exprimir, musicalmente, a alegria pela pertença ao Senhor!” (Adenor Leonardo Terra)
Junto com o Adenor, podemos afirmar desde a experiência em Curitiba que o ecumenismo traz “apenas boas experiências”. As nossas comunidades continuam tecendo relações frutíferas, derrubando muros e construindo pontes no trabalho conjunto pelo Reino de Deus. Pauline Roeder Siqueira, coordenadora da Comissão de Música do Sínodo Paranapanema comenta:
“31 de Outubro, dia que lembramos e celebramos a reforma protestante. Aqui em Curitiba temos tido a oportunidade de estarmos próximos, luteranos e católicos, celebrando a fé em Cristo. Antes da pandemia tivemos oportunidade de unirmos nossas vozes num mesmo espaço. Agora ainda em meio a pandemia não podemos estar juntos fisicamente, mas o fato de conseguirmos unir nossas vozes ainda que cada um de sua casa significa muito. Unimos nossas vozes, orações e fé através da música, este é um testemunho maravilhoso e creio que era isso que Martinho Lutero queria, que vivêssemos a nossa fé, não separados, mas unidos. Sou muito grata por poder contar com cada pessoa envolvida nessa canção, agradeço o convite e também parceria de José Luis Manrique para estarmos mais uma vez unidos através da fé!” (Pauline Roeder Siqueira)