Incentivando o canto
Pa. Adriana Kuhn Busch e P. Ms.Alexander Roberto Busch
Bom é render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã a tua misericórdia, e, durante as noites, a tua fidelidade. Salmo 92.1-2
Imagine você receber um presente muito valioso, uma obra de arte, criada por um artista famoso e muito importante. Você certamente o acolheria com entusiasmo e alegria, agradeceria infinitamente à pessoa que presenteou você, e cuidaria do presente com zelo. Assim também se entende a música na vida e adoração do povo de Deus. A música é criação e dádiva de Deus. É uma obra de arte ofertada a nós por este magnífico artista, nosso Deus Criador.
Em gratidão pelo belo presente que recebemos, utilizamos a música em louvor a Deus e na proclamação do Evangelho. A música é, assim, ao mesmo tempo, instrumento de testemunho e proclamação das maravilhas de Deus. Assim, quando o povo de Israel foi liberto da escravidão no Egito, testemunhando a destruição do exército do Faraó, sua resposta foi cantar em louvor a Deus. Sob a liderança de Moisés e Míriam, o povo de Israel agradeceu sua libertação. Cantem ao Senhor, porque ele conquistou uma vitória gloriosa; ele jogou os cavalos e os cavaleiros dentro do mar (Êx 15.21). Ou ainda, depois de Jesus instituir a Santa Ceia, ele e os discípulos cantaram canções de louvor (Mt 26.30). O canto era uma expressão de gratidão por aquele momento tão especial de comunhão entre Jesus e seus discípulos.
Da mesma forma, ainda hoje nas comunidades cristãs canta-se para recordar com alegria e agradecer pela ação de Deus em nossas vidas. Através de versos musicais e poesias as pessoas proclamam o amor e a misericórdia de Deus. O canto é uma resposta de gratidão ao agir de Deus em nossas vidas. A gratidão expressa na música é uma confissão da comunidade que reconhece que seu passado, seu presente, e seu futuro estão nas mãos de Deus. Assim também melodias entoadas em momentos de angústia e aflição, pedindo por socorro e salvação, anunciam a fidelidade de Deus.
A música também faz parte da identidade da igreja cristã. É, inclusive, uma característica muito forte do luteranismo desde a sua origem. Para Lutero, o louvor, a adoração e a proclamação não deveriam ser campo exclusivo dos líderes religiosos, padres e sacerdotes, mas deveriam envolver todo o povo de Deus. Através da música toda a comunidade pode participar do culto, proclamando a boa notícia da salvação em Cristo. Ao invés da celebração em latim, que limitava a participação da comunidade, Lutero incentivou o canto comunitário na língua do povo, o alemão. Assim, os hinos cantados no culto numa língua familiar aos participantes se tornaram um instrumento importante para louvar a Deus, fortalecer a espiritualidade das pessoas, e expressar sua fé no Deus que caminha com seu povo.
Nossos hinários refletem o precioso legado que herdamos em melodias e versos. Tomemos como exemplo, hinos como Deus é Castelo Forte e Bom (HPD1 97) ou O Sol fulgente, resplandecente (HPD1 271). Mas não somente estes. Pois fiel à tradição luterana de fazer uso de uma linguagem familiar, novas composições expressando o dia a dia da igreja dentro do contexto brasileiro foram adicionadas. Temos músicas que falam da confiança em Deus ao invés de correr atrás do tempo e dinheiro. Hinos que convocam as pessoas a resistir às injustiças sociais e a construir um mundo melhor. E, em meio à angústia da solidão moderna, palavras que nos convidam para cultivar a amizade e o servir com nossos dons e talentos.
Considerando justamente o cenário contemporâneo, fica a pergunta: Como incentivar o canto na comunidade cristã?
Fato é que a comunidade cristã é um dos poucos espaços na atualidade onde as pessoas cantam, ao invés de somente ouvir uma música. Entretanto, são poucas as famílias e escolas onde algum tipo de atividade musical é incentivado. Esta lacuna na educação musical acaba se refletindo nas comunidades cristãs. Pois as pessoas, de uma forma geral, têm dificuldade para cantar afinado e muito menos conseguem ler notas musicais. Faltam instrumentistas e lideranças capacitadas para orientar a comunidade em seu cantar. O resultado desta situação é muito sério. Pois cantar de forma errada, desafinada, fora do tempo contribui para desestimular as pessoas de participarem nos cultos.
Ante esta situação e diante deste desafio, oferecemos a seguir algumas sugestões para melhorar a qualidade musical e incentivar o canto nas comunidades. A palavra chave é investir. O presbitério, com o apoio da comunidade, precisa investir em música de boa qualidade nos cultos. Investir em pessoas que possam servir como lideranças na área de música. Incentivar crianças, jovens e até mesmo adultos a aprenderem a tocar instrumentos e dar-lhes oportunidade para participarem nos cultos, independente do nível de aprendizagem. Investir em pessoas para reger o coro ou grupo de canto. Investir nos ministros/as, para que tenham conhecimentos básicos na música. Incentivar que antes do início do culto os hinos novos sejam ensaiados pela comunidade, e, se possível, continuar ensinando os hinos novos em outros momentos de comunhão como OASE ou JE. Por fim, valorizar e explorar a grande variedade de estilos musicais e temas teológicos que encontramos em nossos hinários.
Na música Deus nos concede um instrumento precioso para expressar nossa fé e fortalecer a nossa caminhada com Deus e com seu povo. Como disse Martim Lutero, a música é uma esplêndida dádiva de Deus. Se queres confortar os tristes, encorajar os desesperados, tornar humilde os orgulhosos, acalmar os inquietos, ou tranquilizar os que estão dominados pelo ódio, que recurso mais efetivo poderias encontrar do que a música?. Portanto, a comunidade cristã que investe na música certamente estará colhendo bons frutos.
Os autores são pastora e pastor da Paróquia São Lucas de Pomerode e da Paróquia de Itoupava Central de Blumenau, respectivamente
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