Em forma de meditação quero conversar com vocês sobre duas falas que as pessoas costumam fazer: “quanto devo ofertar?” e “eu oferto tanto, mas fulano que ganha mais do que eu oferta tanto…”.
QUANTO DEVO OFERTAR?
Na meditação da semana passada vimos que nossa oferta para a igreja não é uma simples questão material, é principalmente espiritual, uma resposta de fé pelas dádivas recebidas de Deus para o trabalho na obra de Deus. Esta resposta que estamos dispostos a dar também determina o valor da contribuição, se ela é dada de boa vontade e de coração generoso e alegre – ou não.
“Quanto devo ofertar?” Sim, se temos uma referência fica mais fácil decidir o valor a ser ofertado. O mercado capitalista descobriu isso. Cada boleto que recebemos tem um valor. Na Bíblia também encontramos um percentual: 10% de todo o teu ganho (Deuteronômio 14.22-23).
Mas há uma segunda referência que também é muito importante. Esta queremos analisar um pouco. Reflita comigo: quando recebes o salário do mês, o que fazes com eprimiciasle por primeiro? Qual é a primeira conta a ser paga? O que recebe prioridade nas tuas finanças?
Vários textos do Antigo Testamento falam em ofertar as “primícias” (primeiros frutos da produção) e o “primogênito” (o [animal] que nasce primeiro). É o mundo agrário do Antigo Testamento. Mas fica claro nestes textos que a primeira fatia da colheita, normalmente os melhores frutos, são reservados para Deus. Ou seja: Deus foi generoso comigo e fez a terra produzir o suficiente para sustentar a vida mais um ano. Por isso, grato, dou a Ele a primeira parte da produção. Veja os textos bíblicos que falam desta fé:
* Êxodo 23.14-19: o povo celebra 3 festas a Deus: uma em gratidão pela libertação da escravidão do Egito, outra por terem uma colheita e poderem iniciar ela e outra quando terminam a colheita. A graça de Deus dá condições para mais um ano de vida. Mas repare: não é qualquer oferta, são os primeiro frutos, primeiro olhar para Deus. Uma fé semelhante é descrita em Êxodo 34.18-26ª.
* Deuteronômio 15.19-23 traz uma expressão de fé adicional: o animal oferecido a Deus tinha que ser perfeito – para Deus a melhor oferta – consumido em partilha comunitária: às pessoas também damos o melhor que podemos.
* Deuteronômio 26.1-11 descreve em detalhes a forma como o povo celebrava a gratidão pela libertação da escravidão do Egito e a possibilidade de produzir seu alimento. Da oferta das primícias nasce o que em muitas comunidades é conhecido como “Festa da Colheita” ou “Festa de Ação de Graças pela colheita”. Em nossa comunidade esta festa será celebrada dia 15 de julho com culto e almoço comunitário. É a festa da gratidão pela dádiva recebida que sustenta a vida.
* Veja ainda Provérbios 3.9-10, Romanos 11.6, 1 Coríntios 16.1-2, 2 Coríntios 8.1-5, entre outros. Perceba que há algo em comum em todos eles: todos celebram a fé que agradece a Deus pela dádiva recebida. Há uma fé que reconhece a ação de Deus em favor da pessoa e do povo; há gratidão, adoração e respeito a Deus e ao próximo. Trata-se de uma bonita relação entre fé e trabalho: Deus abençoa o trabalho e o povo retribui com oferta de gratidão.
colheitaQual é, então, o VALOR da oferta? O valor da oferta corresponde à gratidão sentida. Decisivo é o lugar que Deus tem na sua vida. Está aí a grande diferença da fé para com as outras contas que temos para pagar. O que a tua fé considera um valor justo e correto? Este é o momento gracioso e, como comunidade, esperamos jamais ser necessário tomar uma decisão no sentido de dizer o quanto você deve ofertar. Cremos que Deus nos deu a todos discernimento, fé e bom senso para com justiça administrar todas as coisas e não deixar nada faltar para nenhuma necessidade.
POSSO COMPARAR O VALOR DA MINHA OFERTA COM A DE UM/A IRMÃO/Ã?
Sim, algumas pessoas comparam o seu valor de contribuição com o valor de contribuição que a outra pessoa faz. São movidas pela competitividade e senso particular de justiça. Para refletir isso quero valer-me de uma lenda judaica que mostra bem a intenção que devemos ter com o/a irmão/ã:
Dois irmãos eram fazendeiros. Moravam em casas separadas e possuíam celeiros separados. Um era casado e tinha filhos; o outro, solteiro e era sozinho. Trabalhavam o mesmo tanto e dividiam igualmente o resultado da colheita. “Não é justo dividir a colheita igualmente”, pensou o irmão solteiro certa noite. “Afinal de contas, ele tem mais bocas para alimentar do que eu. Todas as noites, vou levar um saco de trigo do meu celeiro e colocá-lo em segredo no dele.” Assim, naquela noite, depois que escureceu, o solteiro carregou o saco de trigo e o deixou no celeiro do seu irmão casado.
Enquanto o irmão casado desfrutava o convívio de sua família, começou a pensar: “Não é saco trigojusto repartir igualmente o produto da colheita. Eu tenho filhos que vão cuidar de mim quando eu ficar velho, mas meu irmão não tem. Vou levar um saco de trigo do meu celeiro e colocá-lo no dele. Assim, quando velho, terá condições de ter alguém para dele cuidar.” Na manhã seguinte, ambos os irmãos sacudiram a cabeça sem entender nada ao contarem seus sacos de cereal. Embora tivessem dado um saco, ainda tinham o mesmo número no celeiro. A mesma coisa aconteceu vários dias.
Então, certa noite, o irmão solteiro atrasou-se um pouco, e o casado estava um pouquinho adiantado. Encontraram-se ambos na metade do caminho para os celeiros. Entenderam então por que a contagem dos sacos era sempre a mesma. Colocaram cada um os sacos no chão, abraçaram-se e choraram.
Como é belo e bonito perceber que alguém cuida de você. (Fonte: Neukirchener Andachtsbuch 2015, dia 1 de junho).
Oração: Querido e amado Deus, é bom saber que a minha vida e tudo que me cerca pertencem a ti. Reconheço que tu te preocupas comigo, com minha família, bem como com toda tua criação. Embora eu me alegre com essa certeza, muitas vezes sou ingrato. Por isso, amado Deus, peço-te: ensina-me a administrar meus bens pensando em toda a tua criação e ensina-me a ser uma pessoa grata e generosa. Isso eu te peço, por Cristo Jesus. Amém.
(P. Marcos Jair Ebeling. Baseado em Caderno de Estudos Fé, Gratidão e Compromisso, Sínodo Nordeste Gaúcho da IECLB, 2009, p. 13-18).