Somos Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e, como tal, Igreja de Jesus Cristo. Somos Igreja que nasce, vive, testemunha e se dedica inteiramente a proclamar e anunciar o Evangelho do Reino de Deus, semeando o seu amor por nós, revelado na cruz de Jesus Cristo. Portanto, somos Igreja da Palavra, evangélicos. Também somos de confissão luterana, ou seja, herdeiros da Reforma, que tem o seu marco inicial em 31 de outubro de 1517, quando Martim Lutero publicou as 95 teses na porta da Igreja do castelo de Witt enberg, na Alemanha, e, por isso, primamos pela centralidade da Escritura Sagrada. Somente ela é base doutrinária para o nosso ser Igreja e todos os documentos confessionais têm o seu fundamento na Bíblia. É nela que encontramos Cristo como único mediador e salvador. Ele é a mensagem central da Escritura Sagrada e é por meio da sua obra que Deus nos justifica e nos reconcilia consigo.
Na cruz de Cristo, somente por sua graça, Deus nos dá o perdão e a salvação. Não podemos nos apoderar desta graça por meio das nossas obras ou do nosso dinheiro, tornando-nos merecedores do perdão divino. Aceitamos a graça de Deus somente pela fé. Fé que, em resposta de gratidão e em amor, produz frutos e nos compromete com o Reino de Deus. Sendo assim, a nossa confessionalidade está alicerçada sobre as quatro solas da Reforma: somente pela fé, somente pela graça, somente a Escritura e somente Cristo.
Uma frase atribuída a Lutero nos seus discursos de mesa afirma: Assim como crês, deves falar. Traduzindo o sentido desta frase para o contexto da IECLB, o que dizemos, pregamos e fazemos de maneira alguma pode ser diferente daquilo que cremos e confessamos, ou seja, todas as ações da
Igreja, sem exceções, devem traduzir o que cremos com clareza. A celebração do culto na Comunidade, o encontro de jovens, as decisões do Presbitério ou da Assembleia e até mesmo as nossas ações como IECLB devem estar em conformidade com o que confessamos.
A mesma regra vale para a contribuição dos membros para a Igreja. Ela também deve ser coerente com o que cremos. Confessamos que Deus nos criou à sua imagem e semelhança, que nos dá todo o necessário para a vida por sua bondade, que nos reconcilia e nos salva por meio de Jesus Cristo, por pura graça, e que nos envia como suas testemunhas para anunciar o Evangelho. Esta é a nossa fé.
Confessando no Deus que tudo nos dá por graça, a contribuição para a Igreja jamais poderia ser vista como o pagamento de uma taxa, que dá direito a usufruir dos ofícios praticados pela Comunidade ou um lugar no cemitério. Isso até faz sentido em um clube social, mas não na Igreja, que vive e prega o Evangelho. Ela também não pode ser entendida como uma forma de obtermos a salvação. Esta prática foi combatida veementemente por Lutero, sendo a principal motivação para a Reforma. Além disso, não somos chamados a contribuir para a Igreja fazendo uma espécie de investimento financeiro, ou seja, dar já pensando em quanto mais Deus dará de volta. Isso é teologia da prosperidade e Deus não é instituição financeira!
Para nós, cristãos de confissão luterana, contribuir não é uma questão meramente material. É espiritual. É uma atitude de fé. Cremos que a Deus tudo pertence (Salmo 24.1) e, contribuindo, respondemos com fé ao Criador e Redentor da vida. A fé verdadeira tem como um dos seus frutos a gratidão à graça de Deus revelada em Jesus Cristo. Em Lucas 8.1-3, lemos que algumas mulheres seguiam Jesus. Eram suas discípulas e contribuíam com os seus recursos para ajudar Jesus e os discípulos. A sua contribuição era feita por sua fé, mas também por gratidão, por terem sido livradas de espíritos maus e curadas de doenças. A contribuição feita como um ato de fé e como uma resposta de gratidão certamente será espontânea e alegre, conforme nos ensina o Apóstolo Paulo em 2Coríntios 9.7: Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no seu coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.
Os luteranos contribuem com alegria, generosidade e espontaneidade, como resposta de fé e gratidão a Deus por tudo que fez e faz por nós. A mesma fé nos compromete com a missão da Igreja de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo e com o serviço em favor da vida digna e abundante.
Deus sabe e vê como nós contribuímos
Na confissão luterana, a contribuição é atitude de fé, resposta de gratidão e compromisso com a proclamação do Evangelho. Talvez nem todos os luteranos pensem assim e nem sempre o modelo de contribuição instituído nas nossas Comunidades consiga atender a esta afirmação. Mesmo assim, este é a nossa maneira de contribuir para a missão de Deus.
Paulo recomenda aos Coríntios a contribuição segundo tiverem proposto no coração, mas o problema é quando o coração nos manda agir de outra forma. Vivemos em um mundo individualista, onde o que importa é o ‘meu’. Não apenas o meu sucesso e a minha vitória são importantes, mas a máxima: ‘no meu dinheiro ninguém mexe’. A fé em Deus e a vivência da mesma perdem espaço na vida do ser humano e no seu coração não há espaço para a gratidão, por isso é importante orar como no Salmo 51: Ó Deus, cria em mim um coração puro e dá-me uma vontade nova e firme.
Lutero, na explicação da sua rosa, ensina que a cruz no centro do coração nos lembra que a fé em Jesus Cristo nos faz felizes. O coração deve estar no centro de uma rosa branca, para mostrar que a fé dá alegria, consolo e paz. Deus conhece e vê o que se passa no nosso coração (1Samuel 16.7). Sendo assim, Ele sabe também o que temos proposto nele quando ofertamos.
Em Marcos 12.41-44, está o relato da viúva que ofertou as suas duas únicas moedinhas. Chamo atenção para o que Jesus estava fazendo. Ele estava assentado diante da caixa de ofertas e ...observava como o povo lançava ali o dinheiro (v41). Deus sabe e vê como nós contribuímos. Se o fazemos com as sobras ou com generosidade, com tristeza ou com alegria. Que Ele nos dê sempre um coração cheio de fé, gratidão e compromisso com a divulgação do Evangelho.
P. Gilciney Tetz ner,
formado em Teologia pela Faculdades EST, em São Leopoldo/RS. Atua na Paróquia em Estrela/RS e como Pastor Vice-Sinodal do Sínodo Vale do Taquari, com sede em Teutônia/RS
publicado no Jorev Luterano - maio 2014