4 Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. 5 E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. 6 E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. 7 A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. 8 Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; 9 a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; 10 a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las. 11 Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente. I Co 12.4ss
Somos convidados a refletir sobre o tema contribuição a partir de um texto que fala sobre os dons espirituais e justamente no mês em que celebramos Pentecostes. O trecho é parte de uma carta que o apóstolo Paulo escreve para a comunidade de Corinto, que, na época, enfrentava muitos problemas. A gravidade era tamanha que a comunidade estava se dividindo.
Como escopo desse texto, poderíamos dizer que se trata da pergunta pela unidade dentro da pluralidade na Igreja, mas seria simplório demais deixar esse conceito generalizado definir a intenção e o motivo pelo qual Paulo escreve as palavras acima à comunidade. Prefiro formular o conceito de forma mais poética: Paulo canta um hino de louvor para a multicultura, para a multiplicidade de dons e para as tantas possibilidades de serviços que podem ser prestados, graças a essa diversidade existente na comunidade de Corinto. Todas essas formas provêm do mesmo Espírito, do mesmo Senhor e único Deus. Deus é único e o mesmo – a confissão judaica antiga é reafirmada e fortificada pelo Novo Testamento, mas Deus não se limita a uma única cultura e forma de vida.
O texto nos dá a entender que alguns cristãos em Corinto tinham imenso orgulho dos seus dons e das suas potencialidades. Paulo deixa claro que esses dons vêm de Deus e afirma que eles os receberam para serem aplicados para o bem-estar de toda a comunidade.
Corinto era uma cidade portuária, de grande circulação de pessoas, portanto multicultural e multirreligiosa. A sua localização junto ao mar Jônico propiciava o comércio. Sabe-se também que lá havia uma comunidade judaica bastante forte e numerosa.
Nessa cidade, Paulo fundou uma comunidade (Atos 18), cujos membros eram, na sua maioria, de origem pagã, formada principalmente por pessoas pobres. Paulo sempre se empenhou pela sua unidade, mas essas pessoas trouxeram elementos das suas religiões e dos seus contextos originários para dentro da comunidade cristã. Depois da sua partida, muitos problemas já existentes se agravaram, a tal ponto que Paulo precisou interferir. Eram problemas de ordem moral, conflitos doutrinários e desordens no culto, principalmente na Santa Ceia.
A nossa passagem bíblica aponta para os dons espirituais. Além dos problemas que descrevi resumidamente, havia uma enorme concorrênciam e um provalecimento entre as pessoas quanto à importância dos seus dons: algumas pessoas tinham habilidades que consideravam extraordinárias, como a oratória e as expressões vocais com as quais louvavam a Deus. Enquanto isso, outras pessoas se sentiam excluídas, pois não entendiam coisa alguma. A elas era dito que desta forma o Espírito de Deus se manifestava. Era o que chamavam de falar em línguas e quem possuia esse dom era considerado alguém diferenciado, pois fora agraciado com dons espirituais especiais.
A comunidade de Corinto se dirige ao Apóstolo Paulo por causa de uma pergunta central: o Espírito Santo somente se manifesta para aquelas pessoas que têm o dom de falar em línguas?
A sua resposta contradiz as expectativas das pessoas que se julgavam superiores: Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo (v. 4). De forma alguma os dons espirituais são privilégios adquiridos. São muito mais dádivas que vêm da graça de Deus! Existe uma diversidade enorme de dons, sendo que todos devem estar a serviço da Comunidade. Jamais determinados dons podem ser supervalorizados em detrimento de outros. Há pessoas com habilidades práticas que, por isso, prestam um serviço importantíssimo para a comunidade. Quem se dispõe à diaconia, colocando as suas habilidades práticas à disposição, é alguém que recebeu os seus dons especiais pela graça de Deus.
Fé, Gratidão e Compromisso - a contribuição nas Comunidades da IECLB
O Espírito de Deus age de inúmeras formas, por meio de pessoas que pregam o Evangelho, pelo dom da palavra, da oratória. Da mesma forma, o mesmo Espírito age por meio das pessoas que trabalham silenciosamente, nos bastidores. A construção das comunidades acontece em um trabalho conjunto de pessoas que confessam a Jesus Cristo, o nosso único Senhor e Salvador, que foi crucificado e ressuscitou. Existem um Deus, um Senhor, um Espírito e muitos dons – dons que se complementam, para o bem e para a construção da comunidade.
Um Deus, Senhor, Espírito e muitos dons
É por isso que nós podemos festejar Pentecostes, a festa do Espírito Santo: o Espírito de Deus age e agracia pessoas com diferentes dons e as anima para o engajamento na comunidade. É por isso que a sua Igreja existe no nosso mundo. Pentecostes é o aniversário da Igreja no mundo – mas não uma festa de recordações de tempos mais ou menos importantes. Celebrar a festa do Espírito Santo significa muito mais contar com a possibilidade de que pessoas irão se deixar tocar, se sensibilizar. Significa descobrir dons próprios e valorizar os dons de outras pessoas. Assim acontece a construção das Comunidades, da Igreja de Jesus Cristo.
As nossas comunidades estão inseridas em um país multirreligioso e multicultural, o que caracteriza a nossa cultura. Essa multiculturalidade enriquece ainda mais a infinidade de dons e habilidades de tantas pessoas nas nossas Comunidades e um grande desafio é realmente colocá-los a serviço de Jesus Cristo.
Repito o que o Apóstolo Paulo já disse para a comunidade de Corinto no trecho da sua carta que lemos acima: “E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos” (v.6). Os nossos dons são graça, presentes preciosos que recebemos de Deus. Para construirmos uma comunidade viva, solidária e acolhedora, a nossa participação e o nosso serviço são imprescindíveis.
Pa. Heloisa Gralow Dalferth,
formada em Teologia pela Faculdades EST, em São Leopoldo/RS. Atua na Evangelische Kirchengemeinde Bad Alexandersbad e Klinikseelsorgerin no Klinikum Fichtelgebirge - Haus Marktredwitz , na Alemanha
publicado no Jorev Luterano junho 2014