Missão nas Escolas



ID: 2662

Histórico da Comunidade Martin Luther - km 11 - Joinville/SC

01/10/2015

Caro leitor, você já parou para pensar, se fossem contar a história de sua vida, como seria? Só posso pensar na minha própria narrativa, e tenho certeza, que seria uma história comum, permeada de erros e acertos, de encontros e desencontros, de momentos de fraqueza, mas outros de coragem e superações. No entanto, do ponto de vista daquele que me criou, seria uma história nada comum, bela e capaz de gerar encantamento para quem a lesse, pois se trataria da história de Deus em minha vida, na de minha esposa, dos meus filhos e se assim o Senhor permitir, dos meus netos.

Deus é o Senhor da história! Ele está acima dela, dos tempos e épocas, mas por livre iniciativa de sua Graça escolheu revelar-se na história tornando-se um ser humano como nós, porém, sem pecado, morrendo numa cruz e ressuscitando para escrever uma nova história na vida daqueles que confessam sua fé em Jesus Cristo, como Senhor e Salvador pessoal.

Quero contar-lhes um pouco da história de homens e mulheres, que, com coragem e bravura, enfrentaram grandes dificuldades e que tiveram que tirar força na fraqueza, viver com pouquíssimo, superar limites, acreditar, sonhar e arriscar uma nova vida fora da sua pátria mãe. Esta história é a de imigrantes alemães evangélicos de origem protestante, que junto de suas famílias, lançaram-se ao mar numa viajem de meses, em embarcações precárias, a fim de colonizarem a nossa atual Joinville. Nesta história ou fragmentos dela, quero destacar a área de colonização da antiga estrada Santa Catarina – Katharinenstrasse, onde hoje temos as Comunidades Martin Luther – km 11 (IECLB) e da Redentor – km 7 (IELB) fruto destes pioneiros.

A Sociedade Colonizadora de Hamburgo foi a grande responsável pela maior parte do envio de imigrantes germânicos para Santa Catarina. Vários foram os motivos pelos quais houve uma incessante e intensa imigração das populações germânicas para os países da América no século 19. Sobretudo, o desajustamento da estrutura social dos estados alemães, por consequência da industrialização, revolução francesa de 1789 e dos conflitos políticos entre 1847 e 1850. Além disso, soma-se o crescimento desproporcional da população em relação aos meios de produção, altos impostos, barreiras alfandegarias, grandes propriedades e latifúndios nas mãos da classe nobre privilegiada, em detrimento da população camponesa. Por tudo isso, houve um crescente anseio e procura pela emigração, o que gerou uma forte disputa entre companhias de navegação por um espaço neste promissor e lucrativo negócio de “exportação” de emigrantes. (Cf. História de Joinville, p.42)

Uma vez chegados a Colônia Dona Francisca /Joinville, após cerca de 3 meses de uma viagem horrível, desde o porto de Hamburgo na Alemanha, muitas vezes com mortes a bordo dos veleiros, cada uma das famílias imigrantes escolhia um lote de terra em uma das estradas já abertas. Nos primeiros meses, moravam gratuitamente nas chamadas “Casas de Recepção”, que eram na realidade grandes barracões coletivos construídos pela Sociedade Colonizadora. Os trabalhos iniciais consistiam então no desmatamento e limpeza do lote, construção da primeira moradia (feita de troncos e coberta com folhas de palmeira) e início das plantações.

Lamentavelmente a Colonizadora tinha como preocupação obter o maior lucro possível com o transporte de imigrantes, deixando para segundo plano os cuidados básicos em lhes proporcionar uma infraestrutura e bem-estar para sua sobrevivência e início de vida em terras distantes. No entanto, a propaganda feita pelo “Jornal Ilustrado” (Ilustrierter Zeitung) e pelos agentes de emigração, era bem outra, apresentando uma imagem enganosa e irreal de um “paraíso”. Segundo relatos dos próprios colonos, sem qualquer pudor, eles eram literalmente jogados nos barracões com total precariedade, sem soalho ou forro, com frestas enormes, expostos a todo tipo de insetos e bichos peçonhentos, assim como, a falta de higiene. Eles tinham de preparar e comer suas refeições no chão batido, e suas camas eram feitas de quatro paus, sobre as quais seu estrado era um emaranhado de galhos. (Cf. Suíços em Joinville, O duplo desterro, de Dilney Cunha, p. 115-116)

Ninguém lhes preparou para a dura realidade que enfrentariam, acerca do clima insalubre, matas fechadas, de solo nem sempre fértil, difícil de ser cultivado e inúmeros perigos aos quais seriam expostos. Além disso, apesar de estar no contrato, a limitadíssima assistência médica que recebiam, com médicos recém formados, de pouca experiência, sem um local adequado para atendimento e internação, enfermeiros, houve um alto índice de mortalidade. Soma-se o custo de vida elevado. Para poderem adquirir seus mantimentos e utensílios necessários ao trabalho, a Colonizadora mantinha um armazém, onde funcionava um sistema de crédito. Devido aos anos iniciais difíceis, muitos colonos se endividaram. (Cf. Suíços em Joinville, O duplo desterro, de Dilney Cunha, p. 116, 119?)

Apesar de tudo o que enfrentaram, a maioria dos imigrantes, que eram de origem evangélica protestante, empenharam-se em manter suas raízes culturais e religiosas. Em um país de origem católica logo enfrentaram perseguições, inúmeras restrições para que pudessem se reunir em culto ou outras atividades de cunho religioso. Conforme determinação do Império, os “protestantes” estavam proibidos de construir prédios que tivessem alguma aparência de igreja, apenas “casas de oração” sem torres e sem sinos. (Cf. Religião e Ensino, p.175). No ano de 1938, o Ministério da Guerra, em Campanha de Nacionalização, chegou a emitir um parecer oficial proibindo o pastor Hans Müller de pregar em língua alemã, considerando um “flagrante atentado as leis de nacionalização”. (Cf. Carta do Tenente Coronel João Morais de Naemeyer - Arquivos da Comunidade Evangélica de Joinville, CEJ)

Por volta do ano de 1866 – 1867, na Estrada Santa Catarina, km 9 foi construído pelos colonos um “prédio escolar e igreja” (Schul-und Kirchengemeinde – Comunidade Escolar e Igreja), e contratado um primeiro professor Karl Ludwig (1867), que na falta de pastor exerceu funções pastorais (cultos, ensino confirmatório, sepultamentos etc.), assim como, o Sr. Weber e demais que lhe sucederam. Já neste mesmo ano, o quarteirão no. 19 da katharinenstrasse, que ia desde aproximadamente o km 9 até o seu término atual, região de Corveta, moravam 92 pessoas, sendo 91 evangélicos protestantes e 1 católico. Inclusive, o primeiro registro da CEJ de sepultamento neste local foi também no de 1867.

Um pouco mais tarde, embora não tenhamos o ano certo, sabemos que pastores da CEJ vieram a atender a Estrada Santa Catarina. Está registrado nos avisos do Jornal Reform da cidade de Joinville em 22/11/1888, um culto que haveria de acontecer em 30 de dezembro de 1888, as 10 horas da manhã, na Estrada Santa Catarina presidido pelo Pastor Georg Hölzel. O pastor Hölzel atuou por cerca de 30 anos em Joinville, nascido em 1812 na Boêmia, então império Austro-Húngaro e faleceu aqui em 1889. Sendo assim, é possível que este atendia já antes a mesma região. Após, foram também assistidos pelos pastores Fritz Büehler e Hans Müller.

No início do século XX, um terreno foi doado na região do atual km 11 destinado para a construção de uma igreja evangélica protestante. Mas antes, foi construído neste local uma casa pastoral multiuso para fins de celebrações de cultos, casamentos, ensino confirmatório, enterros etc. Somente depois foi construído o templo. Nas datas 27/07 e 31/08/1924 a Comunidade Evangélica da Estrada Santa Catarina, km 11 se reuniu com intuito de solicitar ao Sínodo Santa Catarina e Paraná a vinda de um Pároco próprio. Na ocasião se encontravam presentes 37 “sócios”. E em 11/01/1925 reuniram-se novamente para fixar a data oficial de fundação da Comunidade, sendo esta a de 01/01/1925. No mês de julho deste mesmo ano assumiu este novo Campo Ministerial o primeiro pastor local Friedrich Horness. Passados 7 anos e 6 meses foi decidido em reunião de diretoria a reforma do templo na data de 12/06/1932.

Ainda outros dois pastores serviram exclusivamente a Comunidade Evangélica Martin Luther, km 11 das quais cito: Wilhelm Hilpert (04/02/1931 à 31/12/1938 e Georg Bertlein (01/05/1939 à 10/06/1948). Sendo daí por diante atendida por pastores da Comunidade Evangélica de Joinville. Muitos outros pastores deixaram sua contribuição à Comunidade Martin Luther e cada um teve o seu papel fundamental na edificação dela.

Atualmente a Comunidade Martin Luther, pertencente a Paróquia São Lucas, é pequena, mas viva, e cada dia mais Deus tem derramado do seu Espírito sobre ela. Nela temos dois cultos ao mês (por enquanto!), um no primeiro domingo e outro no terceiro sábado do mês, o culto “Crescendo na Comunhão”, onde aos poucos vemos membros afastados voltando a participar e novos surgindo. Isto não só pelos cultos, mas outras iniciativas de encontros, eventos que tem acontecido este ano, especialmente, devido ao aniversário da Comunidade.

Como pastor local, percebo um diferencial nesta Comunidade, não sei se isto se deve ao fato de ainda ser, em parte, rural, mas há um compromisso e amor por sua igreja e um respeito saudável pelo seu pastor. Vejo uma resposta muito linda aos desafios novos que trouxe a ela, uma delas é o início de uma juventude – “os Ancorados”. Que jovens motivados, companheiros e fiéis!! Na OASE percebe-se um grupo unido, forte e batalhador, e que tem crescido muito em número e no conhecimento da Palavra. O ministério com as crianças é outra pérola, sob a liderança da Ana Ulrich, e demais colaboradoras, Josiane Steingraeber e Eliane Kleman Greter. As crianças sempre estão sendo bem instruídas na Palavra de forma criativa e cativante.

No geral, a liderança que está à frente dos grupos, presbitério, e este ano, a formação da Comissão dos 150 anos da Comunidade, tem revelado um caminhar e um “pegar” junto, que tem gerado muitos frutos, especialmente o da comunhão, e um testemunho vivo do Senhor. Creio que, a história dos pioneiros que sofreram tanto, enfrentaram inúmeras dificuldades inimagináveis, e que não abandonaram a sua fé Evangélica, não foi em vão. Muito pelo contrário, hoje vemos que o legado deles permaneceu e que, a partir do que já foi construído, queremos humildemente, e com ousadia de fé, continuarmos a edificar Comunidade. Deus escreveu e está escrevendo uma linda história com seres humanos falhos e pecadores como nós e, apesar de nós.

Quero concluir expressando que este texto escrito, por mais que tenha sido da melhor maneira pesquisado, juntado as “peças” desse “quebra cabeças” da história, desde os tempos remotos da colonização de Joinville, pode apresentar lacunas e falhas. Ele não pretende ser um texto historicamente exato, científico, mas que nos faz simbolicamente comemorar estes 150 anos da nossa Comunidade Martin Luther, junto aos nossos irmãos da Comunidade Redentor, km 7 (IELB). Em Cristo somos um!! Valorizar a história nos faz solidificar a nossa identidade pessoal e comunitária na fé cristã que professamos.

Agradeço ao colaborador principal da pesquisa histórica deste texto, Sr. Dilney F. Cunha - Escritor, Professor e Historiador. Assim como ao Sr. Walter Ulrich, que de boa vontade esboçou a história em traços gerais fundamentais, também ao Daniel Quandt e o Daniel Schattschneider, que se empenharam em colher informações, fontes históricas em tempo breve. E não por último, a Jessica Gielow Melz, estudante de teologia da FATEV, que fez a correção ortográfica. A Deus somente a glória!!
 


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