Hannah Arend viveu na França. Morreu em 1975. Foi uma filósofa judia, de origem alemã, que desenvolveu, para o seu tempo e contexto, o que chamou de banalidade do mal. Com esta expressão ela defendeu que, em resultado da massificação da sociedade, se criou uma multidão incapaz de fazer julgamentos morais, razão porque aceitam e cumprem ordens sem questionar. Parafraseando-a, respeitosamente, saco de seu contexto o neologismo e arrisco afirmar que, o que presenciei neste mês de maio, que deveria ser de homenagens ao trabalho e ao trabalhador, foi o renascimento da banalização do trabalho e a banalização dos trabalhadores deste Brasil.
Hoje o conceito de trabalho deveria estar associado a salário justo e a possibilidade de manter com ele a vida e a família com dignidade. A qualificação e formação para o trabalho deveriam ser premissa importante. Assim também o tema da justiça. Esta que é parceira da paz. A justiça promove a paz. Onde a justiça reina, a corrupção, o tirar vantagem, o apoderar-se do que é público e comum, etc, são eliminados. Ser justo é mais importante do que todas as leis de mercado. Por fim outra questão séria para os nossos dias é a igualdade de oportunidades entre homem e mulher, negro e branco, jovem e idoso, etc. Todos merecem sua oportunidade e vez; todos precisam de dignidade para a vida, também no TRABALHO.
Fiquei estupefato quando li que, o verbo trabalhar é proveniente do latim vulgar tripaliar: torturar com o tripalium. Derivado de tripalis, que significava instrumento de tortura de três paus. Daí então entendi porque todo este esforço POR SÉCULOS de ressignificar o trabalho, dando-lhe o devido valor. Encará-lo sob a perspetiva da Benção e da Vocação. Estas foram as duas grandes premissas e heranças da Reforma Protestante para a compreensão de TRABALHO:
1º)BENÇÃO Na ética do trabalho, Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564) estavam acordes quanto à responsabilidade da pessoa de cumprir a sua vocação através do trabalho. Não há lugar para ociosidade. Com isto, não se quer dizer que a pessoa deva ser um ativista, mas sim, que o trabalho é uma bênção de Deus. Muito menos que seja explorada nesta função.O trabalho deve ser visto primariamente como um privilégio, um compartilhar de Deus com a pessoa na preservação da Criação. Por isso, nunca poderemos ter como meta da sociedade, a ausência do trabalho. Deixar de trabalhar, significa deixar de utilizar parte da sua potência, equivale a deixar parcialmente de ser homem; em outras palavras, seria uma desumanidade.
2º)VOCAÇÃO Até o século 16 vocação era um termo exclusivo para a atividade religiosa. Os reformadores, pelo conceito de Sacerdócio Geral, afirmaram que somos vocacionad@s também para o trabalho secular. Ou seja: também no trabalho do dia a dia Deus está presente e somos animados a fazer bom uso do dom que Deus nos deu. É a presença de Deus, por nós, os vocacionados, em todos os espaços da vida. E esta vocação vale para empregad@s e empregadore@s.
O que presenciei nestes últimos meses em nosso país foi uma regressão no que se refere a valorização do trabalho e d@ trabalhador@. Porque tanto pressa para votação de assuntos nacionais pétreos, como os edificados e alcançados pela CLT. Na Câmara de Deputad@s o placar já está dado: 296 X 177. Agora o jogo muda de arena. Está no Senado. E a pressa para a votação só denuncia a BANALIZAÇÃO do tema. Meu coração está de luto frente aos rumos que vejo se delinearem em nosso país, especialmente no que se refere a conquistas mínimas para a MAIOria da população. Quem sabe as novas denúncias apresentadas e divulgadas na última semana nos conduzam a mudanças JÁ!