Mensagem da Presidência da IECLB para o Dia da Reforma e
celebração dos 20 anos da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação
Outubro/2019
Em maio de 1505, um jovem chamado Martim Lutero entrou para a Faculdade de Direito da cidade de Erfurt, na Alemanha. Talvez sonhava com uma carreira brilhante e com ótimas oportunidades profissionais. Pouco tempo depois, largou o sonho e procurou um mosteiro para se tornar monge. O que teria levado a esta decisão? Diz a história que a surpreendente mudança foi consequência de um raio. Lutero estava caminhando quando foi surpreendido por uma tempestade. Um raio caiu perto de onde estava e ele invocou a padroeira dos necessitados, dizendo: “Ajuda-me, santa Ana, e serei monge”.
Lutero buscava, de todas as formas, agradar a Deus e encontrar paz de espírito. Tinha muito medo do diabo e do inferno. Apesar da leitura da Bíblia, dos jejuns e das orações, era consumido pelo temor do castigo divino. Procurava viver de forma correta e exemplar, mas a sua consciência o atormentava. A sua vida era um tremendo pesadelo. Este sofrimento é expresso no hino: Das profundezas clamo a ti; Senhor, meu Deus, ó escuta! Ó, vê a culpa em que caí, meu fraquejar na luta! Pois, se julgares, meu Senhor, os atos do homem pecador, quem ante a ti subsiste?
Quem pode subsistir? Quem pode escapar do castigo divino? Na visão de Lutero, ninguém podia! Lutero compreendia Deus como um ser terrível, que punia em vida e condenava após a morte. Desde criança, ele aprendeu a se sentir intimidado com a figura de um Cristo ameaçador, tão ameaçador quanto o diabo. No convento, ele iniciou uma longa jornada de vivência da fé que mudou a sua compreensão de Deus e os rumos da Igreja Cristã. Lutero finalmente entendeu que Deus não quer a condenação, mas a salvação. Por meio de Jesus Cristo, Deus perdoa e nos dá a sua justiça. É isto o que chamamos de “justificação”.
Justificação é a justiça que Deus nos dá. Esta oferta de Deus acontece sem merecimento da nossa parte. Pelos nossos méritos, nada conseguimos. É pelos méritos de Cristo que Deus perdoa e dá salvação. Quando Lutero compreendeu isto, a sua vida mudou e ele se sentiu libertado pela graça de Deus.
A doutrina da justificação foi decisiva para iniciar um movimento que chamamos de Reforma Luterana. Com a Reforma, a Igreja passou por grande transformação. A Reforma permitiu redescobrir o Evangelho, a Boa Notícia do amor de Deus, mas também surgiram divisões e conflitos que duraram séculos.
Em outubro deste ano, celebramos 20 anos da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, assinada pela Igreja Católica e pela Federação Luterana Mundial. Assim como Lutero passou pelo sofrimento e compreendeu a justiça de Deus, as Igrejas conseguiram passar do conflito para a comunhão. Igrejas de tradição Luterana e Igreja Católica reconhecem em conjunto o amor de Deus na obra de Jesus Cristo.
Neste momento especial, lembramos que Jesus é dádiva de Deus em favor de nós. É o raio de liberdade e esperança que ilumina a escuridão. Esta luz de Cristo nos impulsiona a buscar transformação. Vamos transformar o ódio em amor. Vamos promover a paz, a justiça, o diálogo. Vamos cuidar da criação divina. Vamos procurar fazer o bem a todas as pessoas, especialmente às mais necessitadas. Que Deus nos anime a celebrar em comunhão e a viver de modo digno a justificação.
Pa. Sílvia Genz
Pastora Presidente
P. Odair Braun
Pastor 1º Vice-Presidente
P. Dr. Mauro Souza
Pastor 2º Vice-Presidente