Em 31 de outubro, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, entre as demais igrejas luteranas, lembra da afixação das 95 teses. Aconteceu na cidade de Wittenberg, em 31/10/1517. O objetivo dos reformadores era de animar o mundo acadêmico da época, a discutir a prática da venda das indulgências. Desde os primórdios da história da Reforma, o dia 31 de outubro corria o risco de acirrar ânimos em razão de posições teológicas antagônicas ou de diferenças na prática da piedade nas igrejas. Também é inegável que a pessoa de Martim Lutero foi estilizada como militante da fé, a quem se sobrepôs uma imagem nacionalista, favorecendo a cultura de um germanismo sectário, tanto no território alemão, como fora dele onde aportaram migrantes alemães. Durante décadas, as comunidades luteranas, no Brasil, foram identificadas pela sua coloração européia e alemã. Em conseqüência, tiveram dificuldades de integração plena no contexto brasileiro. A forte influência da tradição alemã, que acompanhou as pessoas luteranas, trouxe graves prejuízos e dificultou a presença da Igreja da Reforma, na sociedade brasileira. Este estigma passa por superação. Somos testemunhas de que novas comunidades da IECLB brotam, em contexto social brasileiro onde, até então, a Igreja da Reforma não marcava presença.
A memória do Dia da Reforma quer remeter ao eixo, em torno do qual surgiu e se estendeu o Movimento da Reforma. O seu enfoque é de natureza teológica. A visão de Deus, na figura do Juiz severo, determinou a espiritualidade e a doutrina da Igreja, naquele contexto da Idade Média. Em determinada situação Lutero comentou: Só o fato de ouvir o nome de Jesus Cristo, Filho de Deus, fazia com que me abalasse, profundamente, e as minhas forças esvaíam. Fugir da ira de Deus, no juízo final, era exercício por demais pesado. Apesar da revelação de Deus em Jesus Cristo, continua o conceito do Deus absconditus, agindo como se estivesse escondido. A Igreja da Reforma testemunhou Deus que em sua essência era, sobremaneira, Pai amoroso: Deus assemelha-se ao forno cheio de amor, uma frase que perpassa a teologia luterana.
Graças a Deus, Senhor da misericórdia, o bom espírito ecumênico tem investido numa postura de diálogo entre as Igrejas. Prevalece a vivência fraterna e apostamos no respeito mútuo. O Deus amoroso, de relacionamento gracioso, motiva ao amor recíproco, convida para celebrações conjuntas e encoraja para atos de amor e de esperança, em nome do Evangelho. Deus chama todas as pessoas ao arrependimento e à vivência da fé, ativa no amor. O chamado independe da cor confessional. É Deus somente que declara justo a quem confia no Evangelho. Cremos, conjuntamente, ser Deus o sujeito a colocar as sementes do Evangelho para edificar a nova humanidade. A Reforma da Igreja não constitui um grito de guerra em campo de batalha. Os seus protagonistas acentuaram a prerrogativa da graça imerecida de Deus. Vida humana é possibilidade oferecida e a dignidade humana resulta da graça de Deus. Apesar do rosto de humanidade que identifica a nossa vida, indicando para falhas e limitações, somos gratos ao Deus bondoso. Ele nos aceita e valoriza, assim como somos!
Manfredo Siegle
Pastor Sinodal do Sínodo Norte-Catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diocese Informa - 10/2008