Catecismo Menor: chave para a interpretação das Sagradas Escrituras
Pastor Carlos Möller
Há 484 anos Martim Lutero escrevia o Catecismo Menor. Lê-se em seu prefácio “a todos os pastores e pregadores fiéis e piedosos”. Sua redação era carregada pela convicção que “quando se aprende o Catecismo, faz-se o necessário”. A palavra catecismo que dizer “livrinho de aprender” ou “instrução para crianças”. Somente?
Claro que não! O próprio reformador não se envergonhou de afirmar “eu devo permanecer um aprendiz e aluno do Catecismo e sou com muito prazer”. É com justa razão que esse riquíssimo recurso didático-pedagógico é parte integrante dos Escritos Confessionais das Igrejas Luteranas, reconhecido como “regula fidei”, isto é, ele oferece a “chave” para a interpretação das Sagradas Escrituras, para o cumprimento da vontade de Deus na vida de fé da pessoa cristã.
Além de seu conteúdo, o Catecismo Menor foi, na sua época, revolucionário: apresentado na forma de papelógrafo – antes do surgimento das técnicas atuais de projeção e Data-Show – dava as dicas para o pai de família orientar os de sua casa na doutrina cristã. Um placar, preservado daquela época, dizia claramente: “Como o chefe de família deve ensinar os 10 mandamentos com simplicidade a sua casa”. É preciso se dar conta que no original essa palavra “Hausvater” – com difícil tradução e significação para os dias atuais – não existia, antes de Lutero, no idioma alemão.
Portanto, Lutero não apenas criou essa nova palavra. Atrás desta palavra está uma concepção. Engano seria interpretá-la como machismo, compreensível pensando na sociedade patriarcal de então: ela também se aplicava a Hausmutter, ou aos moradores de uma certa residência, isto é, à quem tem a coordenação espiritual da casa. Já alguns anos antes da aparição do Catecismo Menor – na missa alemã e na ordem do culto de 1526 – Lutero tinha tido a visão de uma “comunidade caseira, de uma livre comunhão daqueles que queriam ser cristãos com seriedade”. Acontece que a realidade dessas comunidades era muito distante disto. “Meu Deus, quanta miséria não vi!” escreveu ele após visitações feitas.
Redigida como saber elementar, contável nos cinco dedos, as cinco partes do Catecismo Menor contém tudo o que cada pessoa cristã, na vida e na morte, precisa saber. Que esse Catecismo é um resumo de toda a Sagrada Escritura, o que Lutero pretendeu, continua inquestionável. Os próprios Escritos Confessionais Luteranos definem os dois Catecismos de Lutero, o Menor e o Maior, como “a Bíblia dos leigos”. Se não for, pelo menos além de obra de Lutero, é o instrumento usado pelo próprio Deus para trazer a sua Palavra no meio das pessoas.
Nas modificações estruturais em ritmo crescente e nas profundas mudanças nas estruturas familiares dentro das quais se desenvolvem as crianças de hoje, também nós jovens e adultos, fazemos bem em usar essa chave: em casa, na comunidade e como ferramenta importante para conviver numa sociedade em que as igrejas e organizações muito avançaram e conquistaram e se percebem num claro voltar para casa. Nela, “minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” como nos ensina o Salmo 42.