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ID: 2650

Ainda existe uma cruz!

RUMO aos 500 ANOS da REFORMA - 1517-2017 - SÉRIE de ESTUDOS – Caminhando com Lutero – Estudo 01 - Ano 2014

16/11/2014

AINDA EXISTE UMA CRUZ!

Prezados leitores! Estamos como Sínodo dando início às festividades alusivas aos 500 anos da Reforma Luterana que ocorrerão em 2017. Colocamos em suas mãos o primeiro de uma série de materiais de auxílio para estudo em grupos nas comunidades. Este material visa abordar aspectos importantes do pensamento de Lutero, contudo, de forma acessível e prática. Neste primeiro estudo trataremos sobre a importância do sacrifício de Jesus para o Reformador. O tema será: Ainda existe uma cruz!

“Eu sou o Senhor, seu Deus.
Você não deve ter outros deuses além de mim”.

Que significa isto?Devemos temer e amar a Deus e confiar nele acima de tudo.(Catecismo menor de Lutero - explicação sobre o primeiro mandamento).

Para entendermos o pensamento de Lutero com relação à obra de Jesus Cristo na cruz, necessitamos primeiramente entender que para o reformador, o elemento decisivo que está em jogo na história da humanidade é a Lei de Deus que se resume ao primeiro mandamento e a incapacidade do ser humano após a queda de cumpri-lo. O porquê? Simples, o ser humano escolheu no Paraíso se tornar deus e senhor sobre sua vida e sobre a criação. Tentado pela serpente ele pensou: “Por qual motivo serei gerente da Criação se posso ser dono, por que adorarei a Deus e o obedecerei, se eu mesmo posso ser deus, ser adorado e obedecido?”Ou seja, depois de se rebelar contra Deus e se tornar independente, a humanidade só é capaz de pensar, agir e viver olhando seu próprio “umbigo”, dando as costas à vontade do Criador. Isto as Escrituras denomina: PECADO (cf. Gênesis 3; Romanos 3.23).

Para Lutero quem não aceita a Lei de Deus, e a necessidade de temê-lo e amá-lo, bem como, confiar nele acima de tudo não pode entender o Evangelho (a Boa Nova de Deus).Por que? Porque a Lei exige obrigatoriamente amar, temer e obedecer a Deus. Reconhecendo-o como Senhor de tudo e de todos. Mas a humanidade ficou escravizada pelo pecado e não consegue amar, temer e obedecer a Deus por sua própria força. Como não pode naturalmente cumprir a Lei, resta ao ser humano o desespero e a condenação, pois onde há infração de uma lei sempre há condenação (cf. Romanos 6.23). Diante desta situação desesperadora perguntamos: Onde encontrarei o amor de Deus? Seu perdão? Existe alguma chance de mudar esta situação?

Bem! A humanidade tentou ao longo da sua história conquistar sua liberdade e encontrar um caminho que a levasse a Deus novamente. Ela construiu suas torres como a de Babel para chegar ao céu (cf. Gênesis 11.4), seus impérios, suas filosofias, suas religiões, todos buscando elevar o ser humano ao céu. O próprio Lutero passou por esse desespero, se via diante da Lei e não conseguia encontrar um meio de chegar à salvação. Jejuava se confessava várias vezes e fazia outras obras na tentativa de encontrar o perdão e o amor de Deus. Mas era tudo inútil! Ele escreveu: “As obras nunca poderão livrar-me do pecado.O livre arbítrio tenta em vão guiar o condenado.Horrível medo me assaltou, ao desespero me levou, lançando-me ao inferno” .

“Mas o justo viverá pela fé” (cf. Romanos 1.17). Diante desta afirmação, Lutero finalmente descobre o caminho para cumprir a Lei de Deus: fé! Mas o que é fé? Fé nada mais é que confiança irrestrita em Deus apegar-se a ele exclusivamente. Mas onde posso encontrar Deus? Já que depois da queda o ser humano, mesmo que tentando com suas boas obras, religiões filosofias e sistemas, não consegue encontrar o caminho do céu.
Lutero nos ajuda: “Ao Filho disse o Pai no céu: O tempo está chegado;à terra desce, ó Filho meu, e salva o condenado!Liberta-o de pecado e dor, morrendo, sê-lhe o Redentor:Que tenha nova vida! ”.

Deus desce até nós! Ele estende sua mão à humanidade por intermédio de Jesus Cristo. Este encontro tem um lugar certo e marcado: A cruz! Mas o que vemos de Deus na cruz? Morte, humilhação, privação e sofrimento, coisas que se desprezam e não se entendem como divinas, pelo contrário, revelam justamente a fraqueza, miséria e aflição humanas.

Porém, justamente oculto, sob o contrário do que a humanidade julga ser divino, ali ele manifesta seu poder. O Filho de Deus assume toda nossa miséria, nosso pecado e a condenação da Lei. Ele se faz nosso irmão na dor e na morte tomando nosso lugar na cruz. Recebendo o salário do nosso pecado, para que em uma maravilhosa troca, fôssemos feitos seus irmãos na glória dos céus recebendo a adoção do seu Pai (cf. Romanos 8.14-17). A fé recebe estas dádivas de Cristo e delas se vale, o pecador é revestido pela obra de Cristo na cruz em seu favor. Jesus cumpre a Lei e paga nossa fiança, nos liberta e nos abre as portas dos céus. O primeiro mandamento assim se cumpre em Cristo e por intermédio da fé em Cristo em nós também! Isto chamamos justificação pela fé (cf. Romanos 5.1-2).Portanto, ainda hoje existe uma cruz que revela o plano de Deus para a humanidade e a salva. Nela Deus tem um encontro marcado conosco. A Cruz nos revela duas realidades:

A) A cruz revela a face amorosa de Deus:

Ali se conhece Deus libertador em sua generosidade, no seu amor sacrificial, na sua bondade e capacidade de compadecer-se e doar-se. Em Jesus Cristo de Nazaré, Deus abre seu ser pessoal à humanidade. Portanto, para Lutero encontra-se o rosto amoroso do Pai na face do Filho e este crucificado. Ali ele mostra que verdadeiramente é Deus poderoso na fraqueza, glorioso na humildade, vivo e doador da vida na morte. Na cruz o juízo de Deus que era destinado ao pecador, recai sobre o Filho e o amor do Pai resplandece sobre a humanidade.

B) A Cruz revela a face da nova humanidade:

Na cruz o ser humano perdido em si se reencontra fora de si, no rosto do crucificado. No abandono e sofrimento radical do Filho na cruz a humanidade é justificada, acolhida e adotada pelo coração amoroso do Pai.

Lutero assevera: “Em Adão subimos até a semelhança de Deus, por isso ele (Cristo) desceu à nossa semelhança, a fim de nos reconduzir ao conhecimento de nós mesmos.” .Na cruz o ser humano reencontra a sua identidade que é transformada na imagem do Filho de Deus. Podemos, assim, afirmar confiantes com Paulo: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim’ (cf, Gálatas 2.20).

P. Edwin J. P. Fickel – Paróquia Três Vendas


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