Na qualidade de liderança no Sínodo Norte Catarinense, integrado na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, reiteramos nossa gratidão pela oportunidade de cooperarmos neste espaço do Diocese Informa, espaço aberto à parceria ecumênica. É dessa forma que a Igreja cristã, no seu aspecto universal, mostra o seu empenho por credibilidade e se apresenta às comunidades e a sociedade conforme a sua legítima vocação evangélica
Faz algum tempo, num encontro de adolescentes, em retiro, quando trabalhamos a questão especifica da identidade luterana. Na coordenação da reflexão, perguntei aos jovens qual seria o retrato específico da doutrina luterana, o proprium da Igreja Luterana, em meio a diversidade religiosa dos nossos dias. O que identifica a confissão evangélica luterana?
Uma das respostas colocadas pelos adolescentes apontou para o eixo da liberdade promovida pelo Evangelho de Jesus Cristo. Aliás uma característica não exclusiva de cristãos de confissão luterana. A liberdade é valor fundamental que identifica todos/as os/as cristãos/ãs e norteia todas as ações da fé e da vida cristã. A linguagem da liberdade é a linguagem da comunidade cristã. O apóstolo Paulo vê na manifestação do poder da Lei uma grandeza que nos faz descobrir o peso do pecado humano, tanto os desacertos na vida particular como no relacionamento interpessoal. Assevera o apóstolo que a Lei põe a descoberto o poder do pecado e a realidade da morte como sua conseqüência. O apóstolo Paulo insiste que o poder da Lei não está com a última palavra.
A ressurreição de Jesus Cristo, efetuada por Deus, nos traz uma nova esperança. A Páscoa torna-se o grande referencial do Evangelho à prática da liberdade. Se fizermos uma verificação para avaliar o que é ser cristão e o que dele se espera, obtemos, via de regra, respostas que indicam negações. Diz-se que o cristão não tem vícios, não protesta, não é rebelde não se conduz inconvenientemente: ele não desperdiça o dinheiro e nem o seu tempo. Em resumo, cristãos deixam de fazer aquilo que talvez gostariam de fazer, mas que por força da Lei não fazem.
Esta visão do exercício da fé cristã, pela via da negação, impede que cristãos sejam considerados pessoas livres. No mundo moderno, os movimentos de libertação querem promover a liberdade frente a todo tipo de jugo e opressão, por isso exigem também liberdade frente à religião. A medida que pessoas descobrem a presença do seu Eu e das próprias potencialidades, elas jogam fora o manto religioso da obediência cega, manto que até então lhes dava proteção. Tornam-se pessoas motivadas a desfazer-se das correntes que atrapalham o caminho rumo a liberdade e à verdadeira alegria do ser humano. Para o Evangelho, a liberdade não é só um desfazer-se das correntes que aprisionam o ser humano. O apóstolo Paulo interpreta a fé em Jesus Cristo sendo atitude fundamental no exercício da liberdade cristã. Para ele, o Evangelho, na sua totalidade, é mensagem de liberdade. Na carta aos Gálatas, no capítulo 5, o apóstolo assim se expressa: Para Liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão.
A comunhão que Deus cria, a partir da fé, semeia dentro dos seus filhos e das suas filhas a semente da liberdade. É preciso aprender a linguagem da liberdade. Ela encoraja outras pessoas à fé e liberta á prática do amor. Verdadeira liberdade acontece na comunhão com o próximo onde se desfaz a suspeita de que o outro é o eterno inimigo que precisa ser derrotado. É liberdade que se concretiza através do serviço mútuo. É vida nova que gera alegria.
Martin Luther, o reformador da Igreja no século 16, definiu o conceito de liberdade cristã da seguinte forma: o cristão é livre senhor sobre todas as coisas e não está submisso a ninguém pela fé. O cristão é servidor de todas as coisas e submisso a todos pelo amor.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diosece Informa - 09/2002