Sínodo Mato Grosso



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Relatório Sinodal 2020 do Sínodo Mato Grosso

26/09/2020

RELATÓRIO REFLEXIVO PARA A 24ª ASSEMBLEIA SINODAL

“Não se vendem dois pardais por uma moeda? (...)
E quanto a vocês, até os cabelos da cabeça de vocês
estão todos contados. Portanto, não temam!
Vocês valem mais do que muitos pardais!”

Mateus 10.30s

Com estas palavras de Jesus, verdadeiro refrigério para a alma em tempos de desafios incomuns, saúdo vocês lideranças desta Igreja, que é de Jesus Cristo e busca ser presença de Deus, o Pai, neste mundo, na força do Espírito Santo!

Fala-se muito em um antes e um depois da pandemia. Fala-se muito em um antigo normal e um novo normal. Fala-se muito em um mundo melhor no pós-pandemia, mas não menos em um mundo pior. Fala-se muito em crise e oportunidade. Fala-se muito em aceleração de processos que já estavam em andamento. Fala-se muito de mudanças irreversíveis na forma de pensar, planejar e relacionar-se. De todo modo, o mundo planejado tal e qual antes da pandemia não existe mais e, talvez, não mais exista. Como isso nos afeta? Somos 8.309 membros, distribuídos em 23 Paróquias e uma Capelania, 55 Comunidades, sob a condução espiritual de 29 ministras e ministros, em 26 CAMs, nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará, numa distância de 2.400 Km norte-sul e 1.600 Km leste-oeste. Este relatório não dará conta de responder a essa pergunta, mas também dela não pode se furtar.

1. Pré-pandemia
Em fins de junho de 2019 a atual gestão ministerial e administrativa tem seus dois primeiros desafios simultâneos: organizar e conduzir um primeiro Conselho seguido de uma Assembleia Sinodal e também receber a delegação alemã do Distrito Syke-Hoya. Ambos foram bem sucedidos. Na Assembleia estivemos envolvidos com a temática “Comunidades atrativas, inclusivas e missionárias”, trazido pelo P. Mauro Batista de Souza, além de iniciarmos a construção do Planejamento Missionário Sinodal 2020-2024. Quanto à Delegação alemã, os integrantes foram recepcionados no aeroporto, recebidos na comunidade de Cuiabá, apresentados em nossa Assembleia Sinodal e, por último, encaminhados para as paróquias anfitriãs de dois a dois, onde foram conduzidas sob o tema “Viver o Evangelho: empatia, solidariedade, compaixão...”. A visita da delegação tem por finalidade o “intercâmbio da fé”.

Agradecemos às paróquias de Canarana, Chapadão do Sul, Cuiabá, Leste Mato-grossense, Nova Mutum, Sinop e Gaúcha do Norte.
Vencidos os dois primeiros desafios, a agenda sinodal de julho a fevereiro de 2020 seguiu conforme o planejado: três retiros setoriais de OASES, retiros de confirmandos, dois retiros setoriais de jovens, retiros paroquiais de casais, seminários interparoquiais de orientadoras/es de culto infantil, reuniões de diretoria, reuniões dos setores e equipes de trabalho, reinauguração de templo em Chapadão do Sul e em Peixoto de Azevedo, Jubileu de 40 anos (Cuiabá, Tangará da Serra e Rondonópolis), conselhos paroquiais de final e início de novo ano, recepção de novos/as ministros/as e cultos de instalação (Rondonópolis, Canarana, Parecis e Leste Mato-grossense), visitação/avaliação de seis paróquias (Porto dos Gaúchos, Rondonópolis, Parecis, Lucas do Rio Verde, Chapadões e Araguaia), devolutivas das avaliações, bem como outras visitações sinodais requeridas em contexto especial. Muito importante neste período foi a realização da Conferência de Ministras e Ministros, que ocorreu em outubro de 2019, em Cuiabá. Na ocasião, além da confraternização, a comunhão, a unidade, a espiritualidade e o recarregar das forças, estivemos debruçados na finalização do Planejamento Sinodal e depois nos dirigimos à 3ª Convenção Nacional de Ministras e Ministros em Curitiba, sob o tema: Vocação e Ministério – o que me move. Já em âmbito nacional estive envolvido com a avaliação de candidatos ao PPHM, GT Ministério Compartilhado, “Simpósio sobre agrotóxicos e a Criação de Deus” - Consulta Brasil-Baviera, além da reunião ordinária e presencial da Presidência com Pastoras e Pastores Sinodais, presidentes e tesoureiros de Sínodos.

Ao já mencionado Planejamento Sinodal 2020-2024 cabe destaque. Este planejamento tem por base uma consulta feita às comunidades a partir de cinco perguntas, cujas respostas foram apresentadas, discutidas e sintetizadas pela Assembleia Sinodal. Esta síntese, por sua vez, foi posteriormente retrabalhada pelas ministras e pelos ministros que, em sua Conferência/Atualização Teológica em outubro de 2019, desenvolveram ações específicas. O resultado foi um planejamento sinodal em convergência às Cinco Metas Missionárias da IECLB, que são: a) Uma igreja que valoriza o sacerdócio geral, capacita pessoas e aprofunda a fé para seu testemunho na Igreja e no mundo; b) Uma igreja aberta que proclama o Evangelho contextualizado em favor de todas as pessoas e da Criação de Deus; c) Uma igreja atraente e acolhedora, que reflete e inclui a diversidade em suas Comunidades; d) Uma Igreja comprometida com a justiça, a paz e a reconciliação que promove vida digna; e e) Uma Igreja sinodal bem conduzida, democrática, transparente, conectada e sustentável. Gratidão a todos/as pelo envolvimento e um especial agradecimento a quem coordenou este trabalho de planejamento, Ema Marta, que, ao que tudo indica, até o final do ano, estará residindo na área do Sínodo Brasil Central. Gratidão a este e a muitos outros trabalhos realizados à frente deste Sínodo. Sentiremos sua falta!

2. Na Pandemia

A data oficial do início da pandemia de Covid-19 no Brasil é 26 de fevereiro de 2020, após a confirmação viral de um homem de 61 anos, que havia retornado da Itália. Já são praticamente sete meses (!) e hoje, 20 de setembro de 2020, confirmaram-se 4.544.629 casos, dentre os quais 136.895 são óbitos. Na área de abrangência do Sínodo, os números estão assim dispostos :

Casos Mortos

Mato Grosso 112.607 3.231
Mato Grosso do Sul 63.848 1172
Goiás 183.815 4.152
Pará 220.519 6.460

A pandemia afetou a economia do país que buscava se recuperar de sua crise econômica. Em 30 de março, pela primeira vez, foi prevista uma retração no Produto Interno Bruto (PIB) para o ano. A crise gerada atingiu vários setores. Os setores mais afetados são os impactados pelas regras de isolamento social, como aviação, turismo, bares e restaurantes, shoppings e vestuário; seguido pelos muito dependentes de confiança do consumidor, renda e demanda, como a construção, veículos, indústrias; e os menos impactados, ou mais resilientes, são os setores considerados essenciais, como supermercados, proteínas, farmácias, setores de serviços (como telecomunicações), serviços públicos (como saneamento) e transmissoras de energia . Como medida de enfrentamento, o Congresso Nacional aprovou o auxílio emergencial, posteriormente sancionado pelo Presidente e agora prorrogado até dezembro em valor reduzido. Que bom que esta ajuda é possível. Ainda assim é impossível deixar de perceber que estamos convivendo com uma pandemia que tem revelado ainda com mais nitidez, desigualdades e injustiças. Não bastassem as injustiças e todo o sofrimento causado pela doença e morte, a pandemia de Covid-19 também trouxe medo, angústia, insegurança e falta de perspectiva . Por outro lado, considerando especialmente nossa região Centro Oeste e Norte, podemos sublinhar que o setor agropecuário é o menos afetado - uma excelente notícia (!).

E a igreja? A IECLB, junto com algumas poucas igrejas históricas, defendeu o valor da vida e orientou suas comunidades a suspenderem atividades presenciais. A decisão foi publicada em nota da Presidência com Pastoras e Pastores Sinodais em 04 de março , antes mesmo de as autoridades públicas tomassem providências mais restritivas. A pergunta que não quer calar é: a decisão pela suspensão de atividades presenciais na igreja foi muito precipitada e deveria ter sido tomada mais tarde, quando de fato, tínhamos mais casos? Talvez, sim. No entanto, agora, é um tanto simples responder olhando no retrovisor da história. Porém, quando uma pessoa está no “olho do furacão”, ela precisa fazer a análise da suas experiências, somadas às experiências de outros e tomar uma decisão hipotética, um tipo de “decisão no escuro”. Ninguém de nós tinha em seu currículo pessoal o enfrentamento de uma pandemia. A decisão tomada foi a de suspender atividades presenciais, o que desagradou não poucos e causou revolta.

Por outro lado, mesmo que consideremos ter sido cuidadosos em demasia, podemos estar convictos de que contribuímos de forma decisiva para que esta situação não fosse ainda pior. Nossos espaços comunitários não foram locais de propagação e contaminação pelo vírus. Ao contrário do exemplo dado por muitas outras igrejas, a começar por Cuiabá, onde igrejas e líderes estão sendo processados pelo Ministério Público. Ademais, precisamos reafirmar o nosso jeito de ser igreja. Somos igreja que não decide pela cabeça de uma só pessoa, seja ela ministro ou liderança de comunidade. As decisões são sempre conjuntas.

E a economia? Economia sem vidas não existe. Se não cuidarmos da vida, não existirá economia! Os países que realizaram com maior êxito seu controle sanitário já tem melhores resultados na retomada econômica, se comparados a outros que não fizeram o mesmo controle. É como disse Jesus: nós valemos mais do que muitos pardais ou algumas moedas que possam comprá-los.

Só compreendemos o peso da decisão, acerca da continuidade da suspensão de atividades presenciais ou retomada, quando esta ficou a nosso próprio encargo, o que ocorreu em 29 de maio, através de nota da Presidência com Pastoras e Pastores Sinodais, que, em resumo, afirmava:
Não podemos definir uma data para a retomada plena dessas atividades, porque não sabemos como continuará a proliferação da pandemia. Considerando as dimensões continentais do nosso país e as diferentes condições, entendemos que a decisão sobre o retorno das atividades presenciais deverá acontecer de acordo com a situação em cada Sínodo. Pastoras Sinodais e Pastores Sinodais, em conjunto com Ministras, Ministros e lideranças, definirão o retorno das atividades, considerando as circunstâncias locais, as determinações dos órgãos governamentais competentes e as orientações da IECLB. A suspensão permanece até que o Sínodo emita orientação acerca da retomada das atividades em sua área de abrangência .

E o Sínodo? A partir disso, a diretoria do Sínodo Mato Grosso, através de seu Pastor Sinodal e Presidente do Conselho, realizou reuniões setoriais com ministros e presidentes de paróquia com a finalidade de discutir as possibilidades, responsabilidades e compromissos. Levamos em conta as notas da presidência, bem como a carta “Orientação para a retomada gradual...” e os decretos sanitários municipais. Além disso, nos diálogos, consideramos o cuidado e a preservação da vida, aumento de casos de Covid19, responsabilidade civil de presidentes, disseminação diferenciada do vírus nas diversas regiões do Sínodo, e, não por último, a preocupação com o acompanhamento espiritual aos membros e com a missão. Em vista disso, comunidades que decidissem pela retomada de atividades deveriam ( e a inda devem): a) realizar diagnóstico e avaliação sobre a contaminação pelo vírus Covid19 na sua região ou cidade; b) assumir o compromisso com as orientações de proteção aos participantes, publicadas em decretos pelo poder público estadual e municipal, e pela igreja; c) demonstrar a capacidade de preparar os espaços de convivência, templos ou salões comunitários, atendendo as normas de distanciamento exigidas, ou seja, protocolar o assim chamado “plano de contingência” que, em vários lugares, é exigido pelas prefeituras; e d) assumir o compromisso de providenciar e disponibilizar aos participantes os equipamentos de proteção e os itens de higienização exigidos. Já as comunidades que definissem pela continuidade da suspensão deveriam: a) continuar com as atividades virtuais, relacionadas a cultos, grupos e reuniões; b) aprofundar o cuidado espiritual a seus membros, fazendo “visitas virtuais” por vídeo-chamada, ou mesmo usando a velha e boa ligação telefônica; c) considerar a realização de sacramentos e ofícios, conforme orientação da igreja para este tempo de excepcionalidade, esgotadas as possibilidades de diálogo para o adiamento; d) criar novas formas de realizar festas e almoços comunitários; e) promover alternativas de contribuição financeira aos membros, uma vez que não há culto presencial para levar os dízimos; e f) ler, discutir e possibilitar a concretização de atividades propostas pelo Conselho de Diaconia do Sínodo MT para esta época de pandemia.

Passado um mês, retomamos as reuniões a fim de verificar as decisões e procedimentos tomados pelas comunidades e paróquias. Percebemos nessa ocasião algumas lideranças muito ousadas e outras muito tímidas, quase desesperadas, afinal, os números estavam deixando de ser uma estatística e ganhando nomes de pessoas conhecidas ou mesmo da própria família. Neste contexto, as reuniões pela plataforma Zoom propiciaram carregar os fardos uns dos outros, partilhar experiências, apresentar desafios, e aprender mutuamente, formando, assim, um só corpo, ainda que as decisões fossem diferentes. Ademais, pudemos consolidar o entendimento de que esta época de pandemia é uma verdadeira oportunidade para a igreja demonstrar sua relevância na vida das pessoas e na sociedade, seja tanto na forma de orientação espiritual quanto na forma de ajuda diaconal.

Concomitante a este trabalho voltado às comunidades e paróquias, a gestão ministerial e administrativa do Sínodo também precisou se adequar. As reuniões de diretoria tornaram-se quase semanais, via Zoom, ante as duas reuniões presenciais da agenda anual. Além disso, a suspensão de atividades presenciais nas comunidades levou ao cancelamento de diversos eventos de formação, visitas, avaliações e devolutivas agendadas. Uma parte desse trabalho virá dobrado em 2021, é o caso das visitações/avaliações de CAMs. Já outra parte pôde ser efetuado por telefone ou na forma virtual, ainda que em prejuízo da comunhão. E outra parte nem ao menos pôde ser realizada, caso dos cultos de envio de ministros que deixaram nosso Sínodo. O mesmo ocorreu com valiosos encontros setoriais e interparoquiais de OASEs, de homens, de jovens, entre outros. Cabe destacar que no acompanhamento a ministras e ministros tivemos um encontro motivacional com o psicólogo Vilnei Varzim, intitulado “Cuidando de si para cuidar dos outros”, e, no segundo semestre, nossa Atualização Teológica será virtual e terá o tema “Revitalização de Igrejas” com o renomado palestrante Renato Camargo, do CTPI.

Quanto à gestão administrativa, implantamos um sistema de gestão administrativa, a Puma Sistemas, que ainda está em aprimoramento. Otimizamos nosso orçamento 2020 para a nova realidade, o que significou, mesmo com a economia de aproximadamente 30%, um déficit de quase 115 mil reais. Algo semelhante acontece com o orçamento 2021, que apresenta déficit de quase 70 mil reais. Nossa preocupação está voltada para o retorno da Oferta Nacional para a Missão no Sínodo MT no ano que vem, toda ela voltada para auxílio missionário, bem como para o Fundo de Solidariedade dos Sínodos. Estas duas fontes de recursos certamente virão em escalas reduzidas. Felizmente temos saldo remanescente de anos anteriores, o que, ainda assim, não nos deixa confortáveis ante desafios estruturais e missionários no apoio à Paróquias. Aliás, lembramos que os auxílios missionários deste ano foram mantidos e os auxílios para o ano que vem também, por mérito dos cortes realizados neste ano. Destacamos ainda que os dízimos do primeiro semestre se mantiveram em linha ao recebimento de anos anteriores. Resta-nos saber como será o fechamento deste segundo semestre. Por outro lado, precisamos louvar a Deus, pois somente uma das paróquias precisou do auxílio emergencial disponibilizado pela Secretaria Geral. Foi o caso da paróquia de Alta Floresta. No mais, é preciso parabenizar lideranças e ministros pelo triplo esforço em preservar vidas, acompanhar pastoralmente seu rebanho e ainda honrar dízimos e subsistências. Deus seja louvado por isso!

3. Pós-pandemia?

O que mais esperamos é a chegada de uma vacina. Quando será? Eis a resposta que vale alguns bilhões de reais. Não sabemos quando teremos uma vacina para a imunização da população, o que sabemos é que o ser humano, em geral, cresce mais em momentos de crise do que em momentos de bonança. Mas não é um crescimento por si só. Tudo depende do que o ser humano se dispõe a fazer com as experiências adquiridas em tempos de crise. É o que nós chamamos de resiliência. Neste sentido, o apóstolo Paulo era um mestre. Em Filipenses 4.11-13 encontramos uma de suas mais conhecidas falas: “...aprendi a estar satisfeito com o que tenho. Sei o que é estar necessitado e sei também o que é ter mais do que é preciso. Aprendi o segredo de me sentir contente em todo lugar e em qualquer situação, quer esteja alimentado ou com fome, quer tenha muito ou tenha pouco. Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação.”
E nós? Apesar de todo dano, perda e sofrimento que experimentamos, a crise da pandemia também pode nos legar importante aprendizado para ser aproveitado quando tudo passar. Estre as lições poderão estar a:
a) Humildade. O ser humano acredita que pode muita coisa, quase um semideus. Porém, um bichinho que não se enxerga a olho nu colocou toda a humanidade de joelho. Ficou nítido que nós não podemos tanto quanto achamos que podemos. Enganaram-se aqueles que achavam que a epidemia não poderia se tornar uma pandemia. Também se enganaram aqueles que achavam que teríamos isolamento social por somente dois ou no máximo três meses e depois tudo voltaria ao normal. Enfim, a humanidade foi forçada a olhar para cima e ao seu redor com humildade, deixando o orgulho, a arrogância, a vaidade e a ganância. Fica a pergunta: será que isso vai trazer uma nova consciência relacional e ambiental? E para nós, cristãos, presença de Jesus neste mundo: será que conseguimos reaprender que nossa missão em relação a criação de Deus é a de sermos bons administradores e não exploradores?

b) Interdependência. Isolamento e afastamento social significou muitas vezes ficar ilhado em casa. Como isso foi difícil, ainda mais para quem mora em apartamento, ou é idoso ou é criança. Mas, como “nenhum ser humano é uma ilha” e o vírus começou a se propagar (e não era uma simples gripe), precisamos reinventar formas de aproximação. Começamos substituindo o aperto de mão pelo toque de cotovelo (e não era briga), depois foi o toque dos pés, seguido pelo “soquinho” das mãos. Por fim, nos limitamos a acenar e a partir daí o isolamento foi total, cada um atrás de sua tela de computador ou nas redes sociais do celular. Mas como fazer para comer? Como trabalhar? Como estudar? Para tudo dependemos de outras pessoas, afinal, o pão não cai do céu diretamente sobre a mesa, mas é resultado do trabalho desenvolvido por muitas pessoas. Enfim, na marra reaprendemos que dependemos uns dos outros para sobreviver.

c) Essência. O isolamento e o afastamento social levou à desaceleração, e assim sobrou tempo. Sobrou o tempo que antes faltava para a fé, para o casamento, para a família, para hobbys, para antigos projetos e sonhos, entre outros. Mas esta sobra tempo teve um significado diferente para cada pessoa. Para alguns foi uma bênção, pois era o que precisavam; para outros foi o verdadeiro inferno, pois tiveram de se deparar com tudo aquilo que postergavam a segundo plano e se empurrava para “debaixo do tapete”. Foi assim que alguns casamentos se fortaleceram e outros se desfizeram; alguns projetos saíram do papel e outros foram definitivamente abandonados; algumas empresas rejuvenesceram e outras quebraram; algumas igrejas se firmaram e foram surpreendidas positivamente e outras já não existem mais. Enfim, todos fomos obrigados a refletir sobre o que é essencial em nossas vidas, a percebemos, assim, que pessoas são mais importantes que coisas acumuladas. Já enquanto igreja estamos sendo chamados a repensar nossos trabalhos no seguinte sentido: de todas as atividades que temos, quais de fato correspondem à essência da igreja, ou seja, sua natureza e missão? Quais atividades podemos até realizar, mas não precisamos dedicar tanta energia? Ou até mesmo aquilo que exigimos de nossas ministras e ministros: o que de fato é necessário que um ministro priorize no serviço do evangelho? Ou até mesmo o que um Sínodo precisa priorizar para que as paróquias e comunidades possam cumprir sua missão de ser sal e luz para o mundo, possam crescer, inclusive em número de membros?

d) Generosidade e solidariedade diaconal. Todos estamos vendo ou sentindo os efeitos da pandemia na sociedade, na igreja e dentro da própria casa. O que deve permanecer em nosso horizonte é a metáfora do corpo, que pode ser ampliada para sociedade em geral: quando um sofre todos sofrem, afinal, para este corpo funcionar todos os órgãos precisam trabalhar juntos, todos dependem uns dos outros. Na prática, isso equivale a dizer que o empregado precisa do patrão e o patrão precisa do empregado. Na área de nosso Sínodo são muitos os exemplos de comunidades que se mobilizam e desenvolvem seu espírito diaconal, outrora sequer percebido. Alguns exemplos são a confecção de máscaras, a arrecadação de alimentos, doação de roupas, apoio espiritual através de ligações telefônicas, visitas virtuais e visitas de portão.

e) Resiliência. Em palavras simples, resiliência é a arte de fazer o limão azedo virar uma saborosa limonada. Diz respeito a conseguir lidar com seus problemas, adaptar-se, superar e até mesmo resistir à pressão ou ressignificar o que não é mais possível mudar. Resiliência é a capacidade que desenvolveu todo aquele que conseguiu ficar em casa “sem perder a cabeça”; aquele que adaptou a sua rotina de trabalho ao novo normal; aquele que trabalhava fora e precisou se adaptar trabalhando dentro de casa; aquele que perdeu o emprego e conseguiu, mesmo assim, inventar algum tipo de sustento para si e sua família; aquele que perdeu uma pessoa querida e teve de dar conta de levantar a cabeça e dizer para si mesmo “a vida continua”. Esta mesma resiliência foi e está sendo vista na igreja. Em meio aos acalorados debates de “abre ou fecha”, declarações do fim da pandemia em nome de Jesus, negacionismo e alarmismo, nós, IECLB no Centro Oeste e Norte, precisamos aprender na marra a comunicar o evangelho de um jeito diferente do habitual, o virtual, para o qual ninguém tinha sido preparado. Cada comunidade/paróquia buscou o seu jeito de acompanhar espiritualmente seus membros, tenha sido telefonando ou deixando um recado no portão, enviando mensagens por whats, gravando áudios, gravando mensagens de vídeo, gravando cultos ou fazendo lives pelas redes sociais.

f) Criatividade e as novas possibilidades. Quando o que se faz não está mais tendo o resultado esperado, é necessário criar novas formas, novas possibilidades. Neste momento surge a criatividade como irmã gêmea da resiliência. Foi assim que surgiu em várias comunidades o delivery, o drive thru e até mesmo um leilão virtual em substituição às festas e almoços comunitários. Já na esfera sinodal, surgiram primeiro as reuniões via plataforma Zoom, e, depois, com a responsabilidade da gravação e edição, a Equipe de Comunicação criou a reflexão semanal “Tempo de Fé e Graça” e o culto Sinodal mensal. Destaque ainda cabe ao Conselho de Diaconia, que neste ano, em meio à pandemia experimentou ressurgência com duas lives, uma com a Pastora e psicóloga Vera Immig, intitulada “Superando as adversidades – nutrindo-se da Palavra de Deus”, e outra com um médico infectologista e um paciente recuperado, intitulada “Covid19: e se eu pegar? – prevenção e cuidado”. Isso tudo sem citar a intensa e imensa produção de material de áudio e vídeo produzido em nossas paróquias. Em suma, a criatividade não é mais uma opção, mas uma necessidade nos tempos em que vivemos.

Ainda não sabemos o que disso tudo vai permanecer no tempo pós-pandemia, com a retomada das atividades. Por hora, cabe notar que 90% das Paróquias estará realizando algum tipo de atividade presencial até o fim do mês, seguindo os protocolos sanitários exigidos nos decretos municipais. Mas isso não significa que estamos no fim da pandemia. Aliás, corremos o risco de um repique na quantidade de casos, assim como está ocorrendo com os países da Europa.

4. Resumo avaliativo

Na sequência, faço uma síntese deste relatório reflexivo até aqui, tomando por base o Planejamento Sinodal elaborado para 2020 a 2024, naquilo que cabe à gestão administrativa e ministerial, seguindo a metodologia de avaliação do PAMI.

1. Quais objetivos foram atingidos com mais facilidade? Por quê?

- Fortalecer a formação e comunhão de ministros e a formação de lideranças (Meta 1);
- Estimular e fortalecer o uso responsável de mídias (Meta 2);
- Valorizar e fortalecer a participação de jovens em suas comunidades (Meta 3);
- Estimular a reflexão sobre uma diaconia transformadora (Meta 4);
- Aumentar a visibilidade de atuação do sínodo nas paróquias (Meta 5);
- Envolvimento e compromisso dos coordenadores de setor;
- Troca ou reforma de mobília do escritório;

Justificativa: Alguns destes objetivos específicos foram alcançados no período pré-covid e outros, já na pandemia, foram alcançados graças à adaptação ao mundo virtual.

2. Do planejado neste último ano, o que não foi realizado? Por quê?

- Fomentar a formação de lideranças de grupos e aprimorar a formação de presbíteros (Meta 1);
- Estimular as paróquias para a formação missionária (Meta 2);
- Oportunizar a partilha de experiências e acolhimento em Conselho e assembleia sinodal (Meta3);
- Valorizar e fortalecer o protagonismo jovem (Meta 3);
- Incentivar a reflexão e o cuidado com a criação de Deus (Meta 4);
- Promover assembleias itinerantes (Meta 5);
- Orientar comunidades e paróquias quanto à implementação do uso de energia solar (Meta 5);
- Oportunizar formação funcional a tesoureiras/os (Meta 5);
- O preparo de uma nova delegação a ser enviada no intercâmbio eclesial e cultural com o Distrito de Syke-Hoya;
- Realização das visitações/avaliações e devolutivas 2020;

Justificativa: Com o agravamento da pandemia, muito do que planejamos não pode ser redimensionado ou adaptado. A verdade bíblica, escrita em Tiago 4.13-17, passou a ter sentido: “Vocês não sabem o que acontecerá amanhã. O que é a vida de vocês? (...) Se Deus quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo”.

3. Quais são as ameaças percebidas?

- Acreditar que tudo vai voltar como era antes;
- Euforia ou pessimismo com a comunicação virtual;
- Orçamento reduzido;
- Ativismo e sobrecarga de ministras/os e lideranças no pós-pandemia;

4. Que oportunidades se mostram?

- Uso de tecnologias da comunicação;
- Possibilidade de criar novas equipes de trabalho;
- Reflexão semanal “Tempo de Fé e Graça”;
- O setor agropecuário é o menos afetado;

5. Quais são os próximos desafios?

- Aprimorar a formação de presbíteros (Meta 1): usar plataforma virtual, aproveitar as ofertas da Secretaria Geral;
- Estimular paróquias para a formação missionária (Meta 2): atualização teológica de outubro de 2020 e a criação de uma “equipe de missão”;
- Estimular e fortalecer o uso responsável de mídias (Meta 3);
- Oportunizar partilha de experiências de acolhimento em CM e Assembleia (Meta 3);
- Valorizar e fortalecer a participação de jovens nas comunidades, bem como nas esferas setorial, sinodal e nacional (Meta 3);
- Estimular a reflexão para uma diaconia transformadora (Meta 4): continuar e ampliar as formações online;
- Incentivar a reflexão acerca do cuidado com a criação de Deus (Meta 4);
- Assembleia sinodal itinerante (Meta 5): 2021 em Sinop;
- Orientação sobre o uso de energia solar (Meta 5): Assembleia Sinodal;
- Encontros de formação setoriais e sinodais de forma online (Meta 5);
- Sensibilizar e aprofundar os assuntos fé, gratidão e compromisso (Meta 5);
- Criação de equipes de trabalho que vão organizar seus trabalhos de forma online, pelo Zoom: a) missão; b) culto infantil; e c) sustentabilidade (?).

5. Agradecimentos e mensagem

Sou grato à Deus pela possibilidade de servir neste Sínodo. Sou grato às lideranças, ministras e ministros pela caminhada conjunta, especialmente nesta época de desafios incomuns. Sou grato à Equipe de Comunicação e ao Conselho de Diaconia, que foram e estão sendo essenciais com sua inspiração neste período de crise. Sou grato pela parceria dos ministros coordenadores de setor. Sou grato ao Pastor Vice-Sinodal Lauri, pelo diálogo e divisão de trabalho. Sou grato à diretoria e ao presidente Ari pelo seu apoio na orientação às comunidades e também na condução da parte administrativa. Sou grato à secretária Rose, pela dedicação. E, obviamente, não posso deixar de ser grato à minha companheiríssima esposa Claudiane e a pequena Ana Katarina que, neste ano, estão felizes, pelo esposo e pai ter estado mais em casa. Apesar de todo o sofrimento e dano causado pela Covid19, pude acompanhar os primeiros passos e o balbuciar das primeiras “palavras” de minha filhinha. Deus seja louvado também por isso!

Aprendemos neste ano que a igreja não pode estar condicionada a um evento (culto), a um programa (calendário e agenda) e a um prédio (igreja) ou ela não vai sobreviver. Se este foi o nosso aprendizado, então este ano não será visto como um ano perdido para a igreja. Mas será visto como um ano de reflexão, no qual a igreja recebeu a chance de repensar a sua história e a sua relevância na vida das pessoas e no mundo. Ou seja: é ano de repensar a missão.

Nossa missão como igreja é, essencialmente, ser presença de Deus neste mundo – ser um pequeno cristo para o outro, diria Lutero. Isso é um privilégio e responsabilidade muito grandes. Mas também pode ser um grande perigo. Tudo depende de como percebemos Deus. Deus é um construtor? Então eu construo uma série de coisas em nome de Deus. É um agricultor? Então eu cuido da boa criação em nome de Deus. É um professor? Então eu ensino sabedoria em nome de Deus. É um general? Então eu comando a vida das pessoas em nome de Deus. É um justiceiro? Então faço justiça em nome de Deus. É um matador? Então eu mato em nome de Deus.

Parece exagero, mas essas percepções de Deus e seus desdobramentos na vida fazem mais sentido ainda em tempos de pandemia. Precisamos mais do que nunca resgatar o Deus da Reforma, redescoberto por Martim Lutero. O Deus da Reforma não é um ser terrível, vingador e monstro que castiga pessoas para levá-las ao arrependimento, ou envia doenças para puni-las e ceifá-las deste mundo. O Deus da Reforma é o Deus revelado em Jesus Cristo, que odeia o pecado, mas ama o pecador. É aquele, que na oração ensinada por Jesus, chamamos de Pai. É um Deus que pode tudo, mas não faz tudo. Ou seja: nem tudo o que acontece no mundo acontece por vontade de Deus, porque Deus desejou, planejou e determinou que acontecesse e fez com que acontecesse. Há muitos acontecimentos neste mundo que não são vontade de Deus, mas são fruto de rebelião contra Deus, contra o seu amor; são resultado de ignorância em relação à bondade e à graça de Deus; são frutos do pecado. Dessa maneira, com muita tranquilidade posso afirmar que Deus não enviou (ou permitiu) o novo coronavírus para castigar a humanidade e mostrar que tem poder. O novo coronavírus é fruto de desequilíbrio na criação de Deus causado pelo ser humano, é fruto de pecado.

Deus não está enviando o novo Coronavírus para nossas casas. Deus é contra a morte, por isso ressuscitou Jesus. Deus está com cada pessoa que luta contra este vírus. Deus está com cada pessoa que perdeu um ente querido e não conseguiu vivenciar o luto. Deus está com cada médico e auxiliar da saúde que dá o seu melhor para curar pessoas deste vírus. Deus está com cada trabalhador essencial que tem a obrigação de ir trabalhar, permitindo que outros possam trabalhar em casa. Deus está com cada desempregado em busca de trabalho. Deus está com cada patrão, que não sabe mais onde buscar dinheiro para honrar suas obrigações. Deus está com cada bombeiro e voluntário apagando as chamas no Pantanal ou qualquer outro lugar que tenha tido incêndio criminoso. Deus está com cada agricultor e pecuarista que produz alimento e cuida bem da criação de Deus. Deus está com cada liderança que deu o passo para retomada segura das atividades presenciais na igreja. Deus está com cada liderança que, em amor ao próximo, não retomou atividades presenciais, mas faz de tudo para que as ovelhas de Jesus continuem sendo pastoreadas de uma ou de outra forma. Enfim, Deus não está em atos de violência, morte e dor, mas ajuda a encontrar um sentido para todas essas terríveis experiências. Deus está onde sua vontade é ouvida e vivida, e ali é o céu!

Finalizando, peço que estejamos em oração de gratidão pelos ministros/as, lideranças e membros recuperados da Covid19, e em oração de intercessão por aqueles/as que estão lutando ou precisando viver com as sequelas deixadas pela mesma.
Despeço-me com palavras do Canto 929, poesia da fé:

“Cada dia Deus está bem perto,
e conselhos dele posso ter.
Segurança e auxilio em tempo certo
me concede pelo seu poder.
Com carinho Deus protege e guia,
qual zeloso pai, os filhos seus.
“Forças te darei a cada dia”
é promessa que ele mesmo deu.

Elisandro Rheinheimer
Pastor Sinodal


Autor(a): Sínodo Mato Grosso
Âmbito: IECLB / Sinodo: Mato Grosso
ID: 59042

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Não há pecado maior do que não crermos no perdão dos pecados. Este é o pecado contra o Espírito Santo.
Martim Lutero
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A misericórdia de Deus é como o céu, que permanece sempre firme sobre nós. Sob este teto, estamos seguros, onde quer que nos encontremos.
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