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Relatório Sinodal 2019

20/06/2019

Relatório para a 23ª Assembleia Sinodal
Chapada dos Guimarães, 20 e 21 de junho de 2019
1. Palavras iniciais
“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28.19-20)
“Vão e façam discípulos” – esta é a tarefa que nos legou Jesus. Esta grande e nobre tarefa não foi dada a um grupo específico de ministros/as religiosos/as, mas àqueles que estavam em comunhão com Jesus. Essa tarefa, portanto, é hoje também para toda pessoa que foi batizada ou foi levada à fé em Jesus. Estamos falando de pessoas simples como eu e você. Essa tarefa é nossa. Por isso mesmo, não por acaso, nesta assembleia, estaremos estabelecendo nossas metas missionárias para o quadriênio de 2020 a 2024.
Este é o meu primeiro relatório como pastor sinodal. Estou na função apenas a Escrevo esse relatório, portanto, na perspectiva da gratidão. Gratidão pois ao longo de cinco décadas, pelo menos, muitas pessoas, pastores sinodais, ministros/as, lideranças e membros, zelaram da lavoura de Deus neste Sínodo. Se aqui estamos reunidos em assembleia é porque Deus foi generoso ao nos presentear dons e despertar talentos, além de ter sido misericordioso com nossas fraquezas e limitações. O relatório que segue não traz, necessariamente, o relato de atividades realizadas, mas uma breve apresentação pessoal e desafios que percebo em nosso sínodo.
2. Breve apresentação pessoal
Sou Elisandro Rheinheimer, filho de pequenos agricultores, nascido em Ipira/SC, casado com Claudiane e pai de Ana Katarina, de seis meses. Estudei teologia na Faculdades EST, tendo-me formado em 2005. Meu período prático (PPHM) foi realizado na Paróquia de Canarana, especificamente na comunidade de Gaúcha do Norte para a qual, depois, também fui enviado como ministro. Ali fiquei até 2011, quando fui aceito como ministro na Paróquia de Tangará da Serra até janeiro de 2019. Nesse tempo em Tangará, precisamente em 2014, atuei como Vice-Pastor Sinodal ao lado do P. Sin. Nilo O. Christmann, a quem devo gratidão pelo testemunho de fé, sabedoria e cuidado. Tenho, portanto, 13 anos de ministério pastoral exercido integralmente em nosso Sínodo. Meu chamado pessoal ao ministério deu-se de maneira gradual, lenta e contínua. Foi um processo, uma caminhada na qual aprendi que vocação, além de chamado, alegria e privilégio, também é entrega, é serviço, é renúncia, é aceitar a condução de Deus. Isso continua até hoje e espero e oro para que assim seja até o fim.
3. Desafios que estão diante de nós
Missão. Quando se está longe de casa temos a tendência de idealizar o passado e reforçar os muros que nos separam de tudo o que é diferente. Isso dá certo até o momento em que percebemos que não vamos mais voltar para casa, ou melhor, que o novo lugar é a nossa casa, só não tínhamos nos dado conta. Aí tudo começa a ser repensado. Essa é a nossa atual fase missionária. Somos uma igreja de migrantes vindos do sul do Brasil, nas décadas de 50 e 70, e agora, aos poucos, estamos nos dando conta de que não vamos mais voltar para o sul, de que somos uma igreja no Centro – Oeste e Norte do Brasil e de que não basta ter somente “nossa gente”, mas é preciso incluir outras pessoas, com outros costumes. Cabe-nos cada vez mais exercitar a pergunta: consigo convidar alguém para um culto ou estudo com a mesma facilidade com a qual convido para um almoço ou festa da comunidade? E se a resposta for “não”, por quê? O que posso fazer para mudar isso? Nossa vocação missionária precisa estar necessariamente alicerçada no exemplar testemunho da comunidade de Jerusalém, descrita em Atos 2.42, a qual se empenhava no ensino das escrituras, na vivência do amor, no partir do pão e nas orações de uns pelos outros. Aos poucos estamos aprendendo a receber pessoas deste jeito. Nossos planejamentos missionários buscam dar conta destas ênfases. É bom começo, mas não basta apenas receber bem, também precisamos aprender o “ir” ao encontro das pessoas lá onde elas estão e exercitar o mais simples conceito de missão que recebemos de Jesus: “amai-vos como eu vos amei”.
Diálogo. Quem participa pela primeira vez de um de nossos encontros sempre fica positivamente impactado pela atmosfera de alegria, comunhão e relacionamentos saudáveis que paira entre nós. Precisamos manter isso. Logo, é imprescindível que a via do diálogo franco e respeitoso entre ministros/as, ministros/as e comunidades, comunidades e Sínodo, Sínodo e Secretaria Geral, em todo tempo prevaleça. Sempre haverá grandes distâncias entre nós, mas que sejam somente as geográficas.
Planejamento. Cerca de 50% das comunidades de nossas paróquias já realizaram seu planejamento estratégico, algumas, inclusive, já estão na sua segunda edição. Isso é motivo de louvor. Ainda assim precisamos aumentar esta proporção. É fundamental saber onde estamos e aonde queremos chegar. Por isso estaremos realizando nosso planejamento de metas missionárias também durante esta assembleia.
“Sucessão espiritual”. O vovô e a vovó se perguntam: quem vai ficar no meu lugar? A resposta a esta pergunta está relacionada ao desafio de investir em pessoas, em relacionamentos, em missão. Como Sínodo temos a tarefa de amparar as comunidades, paróquias e setores, a fim de que possam realizar da melhor forma possível a sua missão. Esse amparo é em exortação, em orientação, é também em auxílio bem concreto a paróquias em projetos específicos. Nesse sentido, é necessário propor e incentivar encontros especiais que propiciem sentir o abraço de Deus e o chamado diário à mudança de vida. Um desses exemplos foi o retiro sinodal de jovens realizado na semana de carnaval em Nova Mutum. Tivemos a presença de mais de 300 jovens envolvidos pelo tema: “seja o amor de sua vida”. Dentre os diversos frutos colhidos, um dos que notoriamente foi ouvido por muitos ministros/as foi a declaração de pais: o que vocês fizeram com o meu filho? Ele pediu perdão a nós e está totalmente diferente! Gratidão à Paróquia de Nova Mutum e sua ministra, pela organização da infraestrutura do evento, gratidão aos membros do COSIJE pela condução, gratidão também aos ministros e ministras que participaram na condução de oficinas temáticas e nos bastidores do encontro, e, não por último, gratidão aos próprios jovens que se dispuseram à participação ativa.
Formação. A tendência consolidada hoje é que a formação ocorra à distância, via internet, e os encontros presenciais, imprescindíveis para a boa formação, aconteçam a nível “mais local possível”. Ou seja: não acontecem mais “encontros sinodais” de formação, mas “encontros setoriais” e até mesmo interparoquiais. Isso aconteceu não porque os encontros que aconteciam a nível sinodal não fossem bons. Pelo contrário, foram muito bons e serviram a igreja de maneira muito produtiva durante muitos anos. Aliás, esta pelo que entendi, foi a razão pela qual foi construída esta casa onde estamos nos reunindo, a saber: servir de casa de formação. No entanto, o corre-corre e os compromissos da vida cotidiana e profissional tem nos sugado tanto, que estamos tendo dificuldade em mobilizar pessoas para viajarem 500, 1000 ou 2000 Km a fim de participar de um seminário por dois dias. Se fizermos um retiro sinodal sempre haverá pessoas para estar aqui e isso é bênção e motivo de louvor. Entretanto, se realizamos o mesmo seminário nos três setores do Sínodo (Centro Sul, Leste e Norte) teremos três vezes mais pessoas com o mesmo investimento financeiro. Dessa forma, retiros setoriais não são estratégia, mas constatação de necessidade se quisermos preparar pessoas para servir a Deus nessa igreja com seus dons e talentos.
Sede Sinodal e “Casa de retiros” em Chapada. Nos últimos anos estivemos debatendo sobre a funcionalidade de nossa estrutura física. Chegamos à conclusão de que precisamos de uma nova sede. Aliado a esse fato, percebemos que a casa de retiros do Sínodo, anteriormente concebida com a finalidade de casa de formação, é usada por nós somente por ocasião do Conselho e da Assembleia Sinodal, além da OASE que faz um encontro de formação anual. Esse fato aliado à dificuldade de se gerir uma “Casa de Retiros” (dificuldade também sentida por outros sínodos), nós, Conselho e Assembleia Sinodal aprovamos no último ano a venda de nossa casa. No entanto, tal venda parece mostrar-se inadequada para este momento econômico que enfrentamos como país, e como se diz por aí: “não podemos botar fora”. Ainda assim, chegará o dia da venda da casa. O que faremos então? Já está definido que iremos investir o dinheiro recebido com a venda em uma “nova” sede sinodal, além da aquisição de moradia para o capelão hospitalar, uma vez que a moradia atual é alugada. Isso tudo, claro, desde que o valor recebido com a venda seja suficiente. Ainda assim ficam perguntas no ar: vamos comprar um terreno em Cuiabá e construir uma nova sede? Vamos otimizar o espaço da atual sede com uma proposta mais modesta em relação a que foi apresentada dois ou três anos atrás? Ou vamos comprar um terreno em Sinop e ali construir a nova sede? Ou? A boa notícia é que as respostas as estão em nossas mentes!
Organização de conselhos e equipes de trabalho. A nossa compreensão de igreja é sinodal, ou seja, buscamos caminhar em conjunto. Conselhos, departamentos, setores e equipes de trabalho e seus congêneres ajudam muito nessa função. Temos alguns desses: Conselho de Diaconia, Conselho de Jovens (COSIJE) e Equipe de Comunicação. Há demanda para mais? Certamente. Essa demanda está voltada especialmente para o trabalho com crianças, liturgia e culto, música, famílias, casais, finanças e formação contínua. Diante disso, vamos às opções: criaremos equipes para todas essas áreas? Ou vamos escolher as áreas mais importantes? Ou vamos manter simplesmente uma representação sinodal nos Conselhos Nacionais? A resposta a essas perguntas não é simples. Se deixarmos de criar algum departamento e no futuro percebermos que teria sido necessário, daremo-nos conta de que perdemos uma oportunidade missionária. Por outro lado, se optarmos em criar mais departamentos, como lidar com as diretorias e membros de comunidade que insistentemente pedem ao pastor sinodal: “o que é que tem tanto para fazer naquele sínodo que o meu pastor precisa denovo sair daqui em vez de dar culto?”. Enfim, as longas viagens, o esforço, o desprendimento e os custos consideráveis implicam a necessidade de uma análise equilibrada e cuidadosa. Não devemos ser melindrosos em demasia, mas também não podemos ser irresponsáveis.
Sustentabilidade financeira. As consequências da crise econômica estão sendo sentidas por todos nós (uns mais, outros menos) e, consequentemente, também por nossas comunidades (umas mais, outras menos). Parece crescer o número de paróquias ou comunidades em funções paroquiais a requerer auxílio. A demanda por ajuda financeira, que havia diminuído com a pujança econômica do agronegócio dos últimos anos, tem voltado a aparecer. Ao mesmo tempo reaparecem nossas fragilidades em lidar com o assunto fé e dinheiro. De qualquer forma, é hora de diálogo, de parceria e de solidariedade. É hora de nos carregarmos uns aos outros ainda mais. É hora de não descuidar de prioridades como a missão e a vida comunitária. É hora de consolidar o zelo, a seriedade e a transparência na gestão de recursos, bem como a contribuição por fé, gratidão e compromisso.
Criação de Deus. Entre nós falar sobre o cuidado com o meio-ambiente (bela e boa criação de Deus) provoca a mesma reação que o assunto dinheiro, a saber: torção de nariz. Precisamos incentivar, motivar e sensibilizar para a tarefa de cuidar da criação de Deus. Não se trata aqui apenas do antigo discurso sobre a derrubada de árvores ou o uso de agrotóxicos. Isso seria um reducionismo perigoso e provavelmente não encontraria ouvidos. Por que não falamos mais sobre redução de danos, com o incentivo à tecnologias que minimizem o impacto ambiental? Por que não falamos sobre o cuidado com o meio ambiente na cidade, uma vez que reduzimos o discurso à área rural? Por que não estamos instalando painéis solares nas nossas casas, igrejas e casas pastorais? Por que, ainda que não tenhamos separação de lixo na nossa cidade, deixamos de enterrar no quintal o lixo orgânico que produzimos? Se a linguagem que muitos entendem é a do dinheiro, porque não usamos pelo menos essa para defender a criação de Deus? Enfim, precisamos reaprender a tratar de alguns temas numa linguagem compreensível para todos os “partidos”. Aliás, o tema da igreja nos últimos dois anos, igreja, economia e política, buscou ser profético e nós praticamente o ignoramos para não criar conflito.
Rotatividade de ministros/as. Paróquias que passam por constante troca de ministros/as e ministros/as que trocam constantemente de paróquia experimentam fragilização e inconsistência no longo prazo. A caminhada precisa ser mais longa que um termo de atividade para três anos. O desafio está no diálogo permanente, no desprendimento, na oportunidade de formação continuada e no planejamento. Neste ano, de um total de 27 ministros na ativa, 7 são novos no sínodo, quase um terço, portanto. Foram instalados 8 ministros neste primeiro semestre. São eles: Miss. Silena Schultz em Tangará da Serra, P. Felipe Graupe em Vila Rica, Miss. Cledimar Becker em Gaúcha do Norte, Pa. Camila Farber Kerber em Alta Floresta, P. Adriel Raach em Cuiabá, Miss. Carla Schwingel da Silva no Leste Matogrossense, P. Augusto Klug na Transamazônica e Miss. Rafael de Oliveira Carneiro em Matupá. Fica para o segundo semestre a instalação da Cat. Traudi Kraemer em Querência. Dado curioso, nunca antes visto na história deste sínodo, é que temos no momento representantes dos 4 ministérios ordenados: 20 ministros da ênfase pastoral (sendo 2 eméritos e 1 suspenso), 9 ministros da ênfase missionária, 1 diácono e 1 catequista. São, portanto, 31 entre ministros e ministras. Deus abençoe tamanha diversidade!
4) Agradecimentos
Sou grato a Deus pelas comunidades e paróquias, pelos membros, lideranças, ministros e ministras que Deus colocou como testemunhas e se multiplicaram na sua seara aqui no Centro-Oeste e Norte do país. A boa atmosfera é ponto forte por “estas bandas” e não é uma regra na IECLB. Sou grato a Deus pela caminhada na parceria com Syke-Hoya. Neste ano temos mais uma delegação entre nós. Sou grato a Deus pelo vice-pastor sinodal, Lauri, pela parceria e o diálogo. Sou grato a Deus pelo presidente do Conselho Sinodal, Sr Ari Schneider Sobrinho, pela sua presença diária no Sínodo não somente em assuntos administrativos. Alguém poderia dizer que ele tem tempo para isso, é aposentado. Pode ser. No entanto, é sabido entre nós que as pessoas com tempo são as primeiras a afirmarem: “eu não posso” e “eu já fiz a minha parte e retiro o meu time de campo”. Agradeço a Deus pela secretária Rose, profissionalíssima e adequada em todos os momentos. Só não me arisco a perguntar quem ela prefere como pastor sinodal (!). E não por último devo agradecer a Deus pela esposa que me deu. Claudiane é amorosa, é mulher de fibra e fé, é pacienciosa e compreensiva, inclusive com minhas ausências, enfim, é a esposa que eu pedi a Deus! Assim também Ana Katarina que desperta todas as manhãs com um grande sorriso na face, multiplicando a alegria da casa.
Por fim, cumpriu-se uma profecia do P. Nilo quando, no ano passado, ao final de seu relatório como pastor sinodal, mencionava que o próximo relatório seria reduzido. Saliento, antes que haja ponderações em contrário, que a formatação foi a mesma. Só espero ter sido suficientemente assertivo. Desejo e oro para que os cabelos brancos já existentes em minha cabeça, com o tempo, sejam sinônimo de sabedoria que vem de Deus, fruto de quem mantém-se aberto e atento às diversas vivências. Enfim, Deus nos abençoe com sua presença e condução nessa assembleia. E que nós permitamos ser conduzidos por Ele!
Elisandro Rheinheimer – pastor sinodal
   


Autor(a): Sínodo Mato Grosso
Âmbito: IECLB / Sinodo: Mato Grosso
ID: 59041

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