Relatório para XXI Assembleia Sinodal – 15-17.06.2017
1. Palavras iniciais
“Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: Agora são outros 500”.
A alegria é uma marca dos cristãos e das cristãs. Na sua carta aos filipenses, justamente quando estava preso, o apóstolo Paulo expressa grande alegria. O mesmo Paulo, quando elabora a conhecida lista dos frutos do Espírito (Gl 6.22-23), coloca a alegria quase no topo. Antes dela, apenas o amor. No ano do Jubileu da Reforma, o Tema da IECLB, inspirado no hino de Lutero (HPD 155), convida à alegria e ao júbilo. Aliás, mesmo que, vez por outra, tensões estejam presentes, a alegria tem sido uma das características das nossas assembleias sinodais. Algo percebido por aqueles que nos visitam.
Se a alegria já faz parte do nosso jeito de ser, então, neste ano estamos sendo convidados a experimentá-la com especial intensidade. Por isso: Alegres, jubilemos! No entanto, algumas perguntas surgem quase de imediato. Temos motivos para nos alegrar? Como ignorar a situação preocupante na qual se encontra o nosso país? Como desconsiderar o complexo desafio missionário em uma sociedade com tanta oferta e confusão religiosa? Sim, é necessário logo deixar claro que a alegria, mencionada por Paulo e por Lutero, nada tem de superficial. Também nada tem a ver com caprichos de seres humanos.
A nossa alegria é dádiva de Deus. Está ancorada naquilo que Deus fez e faz por nós em Jesus Cristo. Trata-se de uma alegria que não é refém do nosso humor e, muito menos, do humor do mercado. É alegria que não se limita ao riso momentâneo e superficial. É alegria em sentido mais profundo. Ela é irmã da paz. Os bem-aventurados, os felizes (alegres!) do sermão do monte proferido por Jesus (Mt 5.1-12) são aqueles que choram, que são humildes, que têm misericórdia dos outros, que anseiam por justiça, que trabalham pela paz. São aqueles que, se for o caso, suportam sofrimento e perseguição. É com alegria, assim entendida, que compartilho com vocês este relatório reflexivo.
2. Não vos conformeis...
“E não vos conformeis com este século,
mas transformai-vos pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Ao estudar a Palavra de Deus, aprendemos que a nossa esperança não se limita a esta vida. Pois, se assim fosse, seríamos as pessoas mais infelizes deste mundo (1 Co 15.19). Fé cristã aponta para a eternidade. Ao mesmo tempo, fé cristã não está autorizada a fazer pouco caso do presente. Ao contrário, a fé compromete com o outro aqui e agora. Compromete igualmente com a criação, da qual somos ou deveríamos ser jardineiros e não predadores. Somos chamados e chamadas a não nos conformarmos com o que vemos e ouvimos, em especial, quando a vida é tratada com descaso. Ao contar a parábola do Bom Samaritano, Jesus não deixou dúvida de que a vida é o “bem” mais precioso. A identidade (“certo homem” – Lc 10.30) não é critério para amar ou deixar de amar.
Com esses pressupostos inquietantes, advindos do Evangelho, olhamos para a nossa realidade. A cada dia vai sendo descortinado um novo episódio envolvendo as mais altas autoridades do país e do estado. Já nos conformamos? Ou vamos esperar apenas pela eternidade porque aqui não tem jeito? Perguntas, ao meu ver, de difícil resposta. A sensação que nos invade é de impotência. O que ainda podemos esperar? Em meio à corrupção, crescem o desemprego, a violência, a dependência química... Perde a vida. O que sinalizam, por exemplo, os casos crescentes de suicídio? Muitos deles entre jovens? E a palavra ecoa em nossos ouvidos: não vos conformeis!
Lembro aqui de um texto que faz referência a um economista da Índia, Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel. Citado pelo Senador Cristóvam Buarque, o economista aponta para a necessidade de ter capital moral para que ocorra a promoção da riqueza de um país. A honestidade do povo, especialmente dos líderes políticos, empresariais e profissionais (...) têm papel tão importante quanto os investimentos diretamente financeiros. Na sequência, afirma Buarque, a crise moral brasileira é tão grande, que ao despertarmos para a corrupção jogamos a culpa apenas nos outros, especialmente os políticos, como se não tivéssemos cada um de nós, uma parte na degradação do capital moral do país (Revista Orientação, jul-dez 2016).
Alegres, jubilai! Mas... “como se dorme com um barulho desses”? A moral acima mencionada não tem a ver com moralismo. Tem a ver com ética, com valores, com caráter – aquilo que vale para todos. Ao perguntarmos para pessoas de fora da IECLB somos reconhecidos como “uma Igreja séria”. Somos vistos como uma Igreja que não faz as coisas de qualquer jeito, que zela por transparência e por ética. Bendita herança da confessionalidade luterana! No mercado religioso, as indulgências modernas não livram do purgatório, mas (supostamente) atendem aos desejos do momento. Na Idade Média, resolvia-se o problema do futuro. Hoje, promete-se o céu na terra. As tentações rondam. Estão impregnadas nas relações do cotidiano. Estão em nossas casas e em nossas comunidades. Não vos conformeis!
As linhas acima são um fragmento do contexto no qual estamos inseridos, como pessoas e como comunidades da IECLB no Sínodo MT. É nesse contexto que somos chamados a fazer diferença, a testemunhar do amor de Deus, a ser igreja missionária.
3. Destaques no último período
Como já perceberam nos últimos anos, tenho me proposto a escrever um relatório não focado em números de atividades desenvolvidas, de visitas, de quilômetros percorridos... Prefiro refletir junto com vocês, fazendo destaques e também sendo propositivo. Nesta Assembleia destaco: Campos de Atividade/Ministros/as, o trabalho com Crianças/Culto Infantil, a Jovens/Juventude Evangélica, as Mulheres/OASE, a Formação de Lideranças e a Diaconia.
3.1 – Campos de Atividade, ministros e ministras
O mundo passa por profundas e rápidas mudanças, com implicações diretas para a nossa vida e para o nosso jeito de ser igreja. Havia um tempo em que não poucos luteranos diziam: “Nessa igreja eu fui batizado, confirmado, recebi a bênção matrimonial e dela não saio”. A declaração sinalizava um modo de expressar a fé, mas também sinalizava fidelidade à denominação. Tal fidelidade é cada vez mais rara. E mesmo quem a expressa, ainda assim pode “roer a corda”. Os tempos em que vivemos são chamados líquidos. As coisas vão literalmente escorrendo por entre os nossos dedos.
Há 10 ou 20 anos atrás, se uma comunidade ou paróquia do Sínodo ficasse sem ministro/a por alguns meses ou mesmo por mais de um ano, sendo apenas atendida esporadicamente por ministros/as da vizinhança, quando o novo ministro/a chegava, as “ovelhas” estavam todas lá. Hoje não é mais assim. Vacâncias prolongadas são sinônimo de instabilidade. É bem provável que, passada a vacância e a dispersão, algumas ovelhas terão desaparecido.
Cabe constatar, com alegria e gratidão, o preenchimento das vagas do Sínodo e a permanência dos/as ministros/as por mais tempo no mesmo Campo de Atividade. As últimas transferências foram de colegas que permaneceram por seis anos ou mais na paróquia. Tenho a expectativa de fazer poucas instalações até o final de 2018. Se comparado a um passado recente, o quadro que aponta para permanências e estabilidade é muito bem-vindo. “Pedra que muito rola não cria limo”, diz o ditado. Isso vale para nós, ministros e ministras. Vale igualmente para os Campos de Atividade. Aqueles que passam por constantes trocas de ministros/as se fragilizam, perdem em identidade e na atividade de grupos.
O que tenho percebido ao longo dos anos me dá a convicção de que o item número um da agenda sinodal é o zelo por essa estabilidade primária. Mas, dessa análise, decorre outra. Qualquer perspectiva de planejamento missionário, de dar passos adiante naquilo que já está posto na comunidade, apenas acontece quando, além da estabilidade, há sintonia de propósitos entre lideranças e ministros/as. Essa sintonia é construída com humildade, com persistência, com oração e com os olhos fixos no propósito maior do Evangelho: chegar às pessoas. Eis um desafio permanente.
O conjunto dos ministros e ministras do sínodo e as lideranças são uma grande bênção, motivo de júbilo e alegria. É claro que todos nós temos muito a aprender. Será assim por toda vida. Também há dons adormecidos nas comunidades. Ainda assim, antes de tudo, agradeço a Deus por aqueles e por aquelas, ministros/as e lideranças, que estão dispostos a servir e a, se o caso for, fazer algum sacrifício.
3.2 – Crianças/Culto Infantil
Ensina a criança no caminho em que deve andar,
e, ainda quando for velho, não se desviará dele (Pv 22.6).
Não temos no Sínodo MT um departamento para o trabalho com crianças ou equivalente. Para cada novo departamento ou coordenação que se cria correspondem reuniões, deslocamentos e custos. No entanto, isto não quer dizer com o trabalho com as crianças não é importante. Ao contrário, ele continua sendo fundamental. É provável que muitos de nós tenhamos participado de algum tipo de atividade voltado para crianças em nossa comunidade de origem. O que experimentamos na infância deixa marcas para toda a vida.
Se, por um lado, não existe uma coordenação sinodal, por outro lado, é muito gratificante ver muitas comunidades incluindo o trabalho com as crianças como uma prioridade em seu planejamento. Nessa Assembleia vamos ouvir o testemunho da Comunidade de Porto dos Gaúchos a respeito.
Para que o trabalho com crianças tenha bom andamento é fundamental o engajamento de pessoas da comunidade. Mas, elas precisam de preparo para a tarefa. O trabalho de formação de orientadoras/es é feito em encontros em âmbito local, interparoquial ou setorial. Quando solicitado, o Sínodo tem apoiado esse trabalho de formação com recursos previstos. Além das pessoas e da preparação, o trabalho com crianças também pede um espaço/ambiente adequado e aconchegante. Na ordem de prioridades, trata-se de item que vem antes da churrasqueira.
Parece-me que precisamos conversar mais a respeito do material utilizado e do programa que é feito com as crianças. Temos bons materiais disponíveis na IECLB. Também há outros que podem ser complementares. Cabe verificarmos a intencionalidade da atividade. Há uma sequência lógica na programação? Ou, às vezes, simplesmente depende da inspiração e criatividade da orientadora? No Fórum Nacional de Missão, recentemente ocorrido em São Leopoldo, foi mencionada a dimensão evangelizadora no trabalho com as crianças. Em suma, também aqui, temos motivos para alegria e gratidão. Mas, também há desafios permanentes.
3.3 – Jovens/Juventude Evangélica
O trabalho com jovens no Sínodo está bonito. Naturalmente, a modalidade das atividades também precisa se adaptar ao nosso tempo. As iniciativas nas comunidades são variadas, incluindo encontros regulares, passadias e outras criatividades. O Conselho Sinodal da Juventude Evangélica – COSIJE - esteve reunido em Cuiabá no mês de março - um grupo de lideranças jovens e os/as ministros/as orientadores. Pudemos nos alegrar juntos porque, depois de muito tempo, também o Setor Centro-Sul realizou o seu encontro nos dias de Carnaval. Somados, os três setores reuniram mais de 300 jovens.
Na reunião do COSIJE foram feitos os relatos de cada um dos encontros. Constata-se que sempre há o que melhorar. No conjunto, entretanto, os encontros foram muito bem avaliados. Percebe-se igualmente motivação por parte dos jovens para participar do Dia da Igreja em Sinop. Depois do Dia da Igreja, estão no horizonte os encontros setoriais e o Congresso Nacional da JE – CONGRENAJE - Teutônia/RS em 2018. Confirma-se o que já compartilhamos aqui. No geral, os jovens estão dispostos ao envolvimento na vida comunitária. Mas, querem e precisam ser levados a sério, compreendidos e ter oportunidade de protagonismo.
3.4 – Mulheres/OASE
“Desse modo não existe diferença entre judeus e não judeus,
entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres:
todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus” (Gl 3.28).
Pode ser redundante, mas ainda assim necessário, destacar a importante participação das mulheres em nossas comunidades. Isso não é de agora. Mas, hoje o viés é outro. As mulheres, de forma crescente, ocupam espaços de liderança: nas comunidades, nas paróquias, no Sínodo e em âmbito nacional. Temos um número expressivo de ministras no Sínodo e um número significativo de mulheres tem assumido funções de presidência em comunidades e paróquias. É emblemático que, ao comemorarmos os 500 anos da Reforma, a presidência do Conselho da Igreja esteja sendo ocupado por uma mulher. Para nós, o fato é ainda mais especial, por se tratar da representante do Sínodo MT. O mesmo vale para a presidência do Dia Mundial da Oração.
Vejo com alegria e gratidão que mulheres estão assumindo funções de liderança em nosso meio com muita naturalidade. O fato não resolve de todo o machismo que ainda carregamos culturalmente conosco e que ainda gera dados assustadores de violência contra a mulher em nossa sociedade. Mas, essa nova realidade de participação em nosso meio serve como contraponto, como testemunho, como inspiração para transformação da realidade. Há situações que apenas são modificadas com denúncia e com expressa indignação. Outras encontram o seu caminho quando simplesmente deixamos Evangelho ocupar todos os espaços da vida.
Mencionar a participação das mulheres nas comunidades não faz sentido sem falar na OASE. Trata-se de uma forma de organização das mulheres que vem de longa data. No entanto, também a OASE está precisando se adequar ao nosso tempo. Está se reinventando. Cresce o número de grupos que se reúnem à noite ou no final de semana, possibilitando a inclusão daquelas que têm empregos. A realidade também pede que assuntos novos sejam incluídos em seus estudos. Nessa Assembleia vamos ouvir o relato da participação das mulheres do Sínodo no Encontro Nacional de Mulheres em Foz do Iguaçu.
3.5 – Formação de lideranças/presbíteros/as
Não há ministérios que estão acima ou abaixo dos outros.
Há, sim, atribuições específicas, todas voltadas para a missão de Deus.
(Guia do Presbitério, p. 23)
No último período tive a oportunidade de participar de alguns encontros de formação de lideranças e presbíteros/as em Campos de Atividade do Sínodo. Cada vez que participo de um desses encontros saio ainda mais convencido que temos aí uma tarefa tão especial quanto urgente. A despeito do número de lideranças que temos e do seu grau de engajamento, vejo que não acompanhamos a renovação com o respectivo investimento de tempo em preparação. Em algumas paróquias que estive, as pessoas não lembram quando ocorreu o último encontro de formação.
Daí resulta que temos pessoas ocupando funções e que desempenham a sua tarefa do jeito que sabem ou que imaginam que deva ser. E não há como ser diferente. Prepará-las para dar conta do que lhes cabe é tão importante quando despertar os dons que Deus, em sua graça, colocou entre nós. Não por acaso, a formação é um dos eixos transversais do Plano de Ação Missionária da Igreja. Cabe, nos planejamentos que fazemos, atentar para que a formação seja contemplada. Temos material que vem ao encontro da necessidade, a exemplo do Guia do Presbitério. Para algumas pessoas, o estudo de algumas unidades do Guia revelou aspectos bonitos que sequer imaginavam no tocante ao privilégio de servirmos com os dons recebidos. O mesmo vale para verdadeiras “descobertas” a respeito do nosso jeito de ser igreja.
Na IECLB, o cotidiano da vida comunitária está ancorado no sacerdócio geral dos que crêem. Aliás, cabe gratidão porque Lutero recuperou essa dimensão fundamental no jeito de ser igreja. E não foi invenção dele. O testemunho da salvação é mandato de toda a comunidade. O foco são as pessoas, seja para o presbitério ou para o/a ministro/a. Nossas estruturas físicas e tudo que envolve administração estão a serviço da causa maior. A devida compreensão desse aspecto pelo conjunto das lideranças dará ao planejamento missionário a direção devida.
3.6 – Diaconia
“Diaconia é ação ao próximo movida pela fé em Jesus Cristo”
(Anotações Seminário de Diaconia).
Ocupar-nos com a diaconia não é opção. É ação que decorre da fé. Em seu Planejamento Missionário, o Sínodo definiu como tema principal para 2018 a Diaconia, tendo como objetivo principal: “Despertar para o serviço cristão, ampliando e qualificando a atuação na comunidade e nos diversos setores da sociedade”. Ao usar o termo “despertar” estávamos reconhecendo tratar-se de uma área onde andávamos meio sonolentos.
É muito bom constatar que o assunto não precisou esperar até 2018. Em 2016 e neste ano foram dados alguns importantes passos, em especial a formação do Conselho Sinodal de Diaconia e a realização de um Seminário de excelente conteúdo no início do mês de abril. Saímos do seminário com boa formação bíblico-teológica e animados para a ação diaconal nas comunidades. O Conselho voltará a se reunir no início de 2018 e há o indicativo de que os setores e paróquias possam incluir no planejamento para o próximo ano outros seminários de formação em diaconia.
Se a sociedade de um modo geral, de acordo com o espírito da época, reforça o individualismo, cabe-nos apontar em outra direção. O processo também requer a nossa conversão diária, pois a maioria de nós traz consigo uma veia cultural que atribui excessivo mérito ao esforço pessoal. Temos ainda muito a aprender de Jesus no tocante à tolerância, à inclusão, ao serviço e ao amor. E, como diz uma música, “fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”. Sermos comunidades mais diaconais nos fará bem. O perfume que fica é aquele nos torna mais humanos, mais conscientes da nossa total dependência da graça de Deus.
4 – Desafios - horizonte
Como vimos há muitos motivos para a alegria e o júbilo. Na verdade, os destaques e os desafios se entrelaçam. Sempre seremos igreja a caminho. Ou, como disse Lutero e nos lembra o Tema do Ano: Igreja sempre em Reforma. Quais desafios, em especial, estão em nosso horizonte? Destaco quatro deles: Dia da Igreja, Missão/Planejamento, Generosidade/Crise e Família/casais.
4.1 – Dia da Igreja
O Jubileu da Reforma está sendo marcado por várias atividades específicas nas comunidades. O fundamento da confessionalidade luterana está sendo aprofundado através de estudos temáticos, palestras e outros. Há algumas semanas tivemos em Cuiabá o lançamento, promovido pelos Correios, do Selo Comemorativo aos 500 anos da Reforma, em parceria com a Igreja Evangélica Luterana do Brasil – IELB. Foi um momento de inserção pública, com repercussão positiva, também nos meios de comunicação. Descobre-se que diversos aspectos da Reforma continuam sendo de impressionante atualidade.
Entretanto, o peso maior na comemoração do Jubileu ficou concentrado na realização do Dia da Igreja Sinodal entre 07 e 09 de setembro em Sinop. Tempo, recursos e esforços consideráveis já foram investidos na preparação. Deverão ser dias de intensa comunhão, alegria, louvor e aprendizado. A mobilização nas comunidades, a começar pelas mais distantes, deixa entrever que teremos expressiva participação. Todos nós somos convidados na motivação e organização das caravanas. A programação foi elaborada com muito carinho, com especial atenção para as crianças e os jovens.
4.2 – Missão e Planejamento
Pelo segundo ano consecutivo o tema principal da Assembleia Sinodal é a missão. Trabalharemos a dimensão bíblica e prática, sendo que a prática inclui aprendermos a lidar com uma metodologia mais enxuta de planejamento missionário, se comparada com aquela que usamos até aqui.
O Jubileu da Reforma, o legado de Lutero e o tema do ano nos convidam e instigam a olhar adiante, perguntando-nos por aquilo que Deus espera de nós no tempo em que vivemos e no lugar onde estamos. Como dito anteriormente, vivemos um tempo complexo e confuso no que se refere à religiosidade, também à fé cristã. Os dados que temos dão conta que diminui o número de membros da IECLB. Como vimos no ano passado, não queremos barganhar o Evangelho para aumentar o rebanho a qualquer custo. Ao mesmo tempo, não deveríamos pecar por falta de ousadia ou por comodismo. Que o Espírito Santo sopre sobre nós e que deixemos nos desafiar.
4.3 – Família/casais
Nas comunidades do Sínodo temos belos exemplos de trabalhos envolvendo casais e famílias. As programações incluem encontros específicos para casais, passadias para famílias, passeios de bicicleta, confraternizações após os cultos, etc. Mais e mais vamos percebendo a importância da comunidade oferecer oportunidades de comunhão e aprendizado para além do culto. Penso que aqui podemos nos inspirar mutuamente com iniciativas que estão dando certo.
Família e casais é tema a ser tratado como prioridade. A fragmentação familiar assusta. Tenho ouvido a dor de colegas ao acompanhar crises conjugais, também naqueles casamentos onde tudo parecia ir bem. Somos humanos e como tais somos frágeis. Tendemos a achar que algumas coisas somente acontecem na vida dos outros. Por isso, antes de qualquer juízo, a área familiar requer atenção, carinho e cuidado, à luz do Evangelho. Além disso, cabe a coragem de falarmos sobre assuntos com os quais temos mais dificuldade, por exemplo, a homoafetividade.
4.4 – Gratidão em tempos de crise
Sempre nos alegramos muito com a generosidade e a solidariedade que percebemos no Sínodo MT. Isso vale para a Campanha Vai e Vem, para gestos de apoio a comunidades que precisam de auxílio, seja através de ofertas locais ou através do Sínodo. Trata-se de algo precioso, a ser cultivado e aprofundado.
Constata-se, ao mesmo tempo, que as consequências da crise econômica atingem uma parcela significativa da população e, por isso, atinge também as comunidades. Umas mais, outras menos. A configuração de alguns Campos de Atividade está sendo revista. Além disso, é momento de atentar para as nossas prioridades. A missão e a vida comunitária não deveriam ser comprometidas. É hora de ainda mais carregarmos uns aos outros.
5 – Considerações finais
Nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17.28a).
Ao concluir o presente relatório quero agradecer às comunidades, suas lideranças, seus ministros e suas ministras. Agradeço por acolhida, aconchego, diálogo e comunhão. O tempo de convívio com os ministros e ministras na Atualização Teológica em Santarém em outubro do ano passado e as Conferências Ministeriais (CMs) do primeiro semestre foram marcantes. Aliás, tanto a Atualização como as três CMs incluíram momentos de celebração e confraternização com as respectivas comunidades. Foram momentos especiais. Presentes de Deus.
Compartilho especial gratidão à minha família, à Diretoria do Sínodo, ao P. Elisandro, à Comunidade de Cuiabá e à Pa. Vera. Quero também reconhecer de público o trabalho da Rose na secretaria do Sínodo. O seu esforço em entender a IECLB, a sua dedicação e o jeito amoroso de tratar as pessoas vão além da dimensão profissional. São testemunho de fé. Muito obrigado!
Naturalmente, no conjunto das relações mencionadas, há também momentos de dificuldade. Nem todos os diálogos são fáceis. Por vezes, a palavra mais dura é necessária. Por vezes, ela revela a dificuldade em ser mais compreensivo, mais amoroso. Assim ocorre comigo. Peço perdão. E, por isso mesmo, como disse no início desse relatório, o que temos e somos não está ancorado em nossas possibilidades. Se assim fosse, o barco iria a pique. Antes, cabe proclamar: Nele (em Deus) vivemos, nos movemos e existimos. Por isso e apenas por isso podemos nos alegrar e jubilar.
Nilo O. Christmann - P. Sinodal