RELATÓRIO PASTOR SINODAL PARA VII ASSEMBLÉIA SINODAL
Chapada dos Guimarães – 11-13 de junho de 2004
“Muitos se despedem insensivelmente de pequenas coisas.
Por isso, a tristeza é a morte lenta de pequenas coisas.
Estas coisas simples que temos guardado dentro do coração.”
(“Canción de las simples cosas” – Dante Ledesma)
O que são pequenas coisas? Desde crianças somos motivados e estimulados a pensarmos em grandes coisas. Quando adultos, de tanto pensarmos no grande, não conseguimos mais ver e nem sentir pequenos gestos. Passamos a ver apenas coisas fantásticas, o grande valor da mega sena, o desejo de enriquecer, de ascensão social, de poder, de domínio, de grandes projetos, ... Ter estes desejos é mau e pecaminoso? Não. É e são pecaminosos quando passam a ter a centralidade em nossas vidas, em nosso pensar e agir. Quando passa a ser prioridade, também nas Igrejas.
Preocupação maior é em relação à formação dos valores das nossas crianças e jovens. Que conceito e estilo de vida irão adotar? Os valores e conceitos cristãos estão resumidos aos momentos do Culto, Je e Escola Dominical/Culto Infantil, infelizmente. Nas casas ..., muitos pais também têm falta de clareza ética, moral e teológica. Alegremente e comunitariamente a família assiste à novela das sete onde há clara pregação sobre falar com os mortos e reencarnação. Na continuidade assistem à novela das oito, onde a falta de roupa e o adultério são incentivados. Onde o sexo sem nenhum compromisso e responsabilidade é a tônica.
Que conceitos terão estes jovens amanhã? Ou já hoje? Porque estes conceitos serão trazidos para a vivência comunitária. A pregação cristã está na contramão dos valores desta geração jovem, e infelizmente, de muitos pais.
Os filhos são muito mais marcados por pequenas e simples coisas que os pais transmitem do que pelos sonhos e grandes desejos dos mesmos. Há, como é importante, e gostoso, lembrar de como nossos pais nos levavam passear, para a igreja/culto, atenção, ternura, tempo, abraços, beijos, elogio. Provavelmente estas lembranças estão guardadas na memória. São estes gestos que irão determinar a nossa existência e o relacionamento com os nossos filhos, esposa, esposo, amigos, trabalho. São eles que irão nos dar o equilíbrio necessário para conduzirmos a nossa vida. São os pais que irão ensinar os filhos a amar, a dedicar-se e assumir posturas éticas, morais e de fé.
Que conceitos de fé e de vivência comunitária temos transmitido aos nossos filhos? De prazer, de alegria, de satisfação, de edificação, de comunhão, de justiça, de diaconia, de salvação e vida eterna? Ótimo!
Por outro lado somos tentados e levados a transmitir um conceito de mercado, em relação a comunidade e a vivência de fé, aos nossos filhos. Segundo artigo do Serviço de Notícia ALC, São Paulo – 10 de março 2004, “Mercado e religião de mãos dadas” que diz: “a religião é um dos fatores que contribuem para o crescimento econômico... Na teoria neoliberal o mercado assume um posto divino... O crescimento econômico dos países está relacionado a quanto seus cidadãos acreditam em conceitos religiosos... Mas constataram, paradoxalmente, que quanto mais esses cidadãos freqüentam as igrejas menos os países crescem... à medida que os países se tornam mais ricos, se industrializam, o tempo das pessoas passa a ser mais valioso. E quando você está envolvido em uma atividade religiosa, você está fora do mercado, ocupado com uma atividade não produtiva... Encontra-se níveis altos de crença religiosa em sociedades industrializadas, embora haja baixa freqüência à Igreja... O teólogo Jung Mo Sung lembra que a economia importou o discurso religioso do sacrifício. É uma exigência divina e, se fizer com obediência, você tem recompensa. Se você se rebelar não tem recompensa e vai para o inferno. Por detrás disso tudo está o conceito de que fora do mercado não há salvação.”
Em 1550 a Igreja Católica Romana criou um movimento para minimizar os efeitos da Reforma Protestante. Este movimento chamou-se de Contra-Reforma e os seus expoentes foram os Padres Jesuítas (Companhia de Jesus). Estes foram os primeiros religiosos a desembarcar no Brasil. A Igreja Católica desenvolveu uma expressão que a iria acompanhar por séculos e que dizia: “Fora da Igreja Católica Romana não há salvação.”. Posteriormente Alan Kardec (pai do espiritismo) modificou ligeiramente, e profundamente, a expressão e dizia: “Fora da caridade não há salvação.”. Parte das igrejas evangélicas, hoje, adotam uma nova interpretação: “Fora do mercado não há salvação.”.
Será que em nossas Comunidades, Paróquias e Sínodo não corremos o risco de valorizarmos acentuadamente o mercado econômico? Qual é o critério para escolha do líder religioso/obreiro? Capacidade, dedicação? Em muitos momentos usa-se apenas linguajar econômico/financeiro para referir-se aos obreiros. Tem-se dificuldade de olhar para o obreiro como alguém que quer nos ajudar a resgatar o valor das pequenas coisas, mas que são centrais. Como aquele que nos ensina a descobrirmos o senhorio de Jesus Cristo nas coisas simples, escondidas e loucas(1 Coríntios 1.18-25). Corremos o risco de muitas vezes trabalhamos e agimos, com os enviados para anunciar a palavra de Deus, como mera mercadoria do mercado. Que conceitos e valores estão sendo passando aos nossos filhos? Se xingarmos a Comunidade, desfazermos o Pastor/a, a Catequista, o Missionário/a e a Diaconisa estaremos educando gerações para ficarem o mais longe possível do convívio comunitário, e de Deus. Enquanto isto o mundo chama os nossos filhos e filhas e oferece um leque de alternativa e opções. O que nós, como Igreja e cristãos, diremos “quando a sua filha ou seu filho lhe perguntar amanhã...? (Deuteronômio 6.20)
Bem se diga que os Obreiros/as também entram facilmente nesta competição de mercado quando se desfaz o trabalho do outro. Muitas vezes os mesmos educam as suas lideranças para criticarem e demonstrarem animosidade ao outro, ao diferente. Os membros e as Comunidades esperam que o Obreiro assuma a sua função de uma forma clara e transparente. A omissão e a indiferença podem não causar conflitos, mas causam apatia nas pessoas. Alguém apático não encontra e nem tem razão para se preocupar e muitos menos “pegar” junto. O Ministério chama ao desprendimento e a dedicação, não aos homens e mulheres, mas ao próprio Deus. Martim Lutero dizia que o Evangelho o tinha libertado completamente, mas por causa do amor de Deus ele era o escravo de todos. Isto é o que deve ser ensinado em palavras, atos e gestos aos membros. Esta postura de servir deve ser aquilo que marca gerações de crianças e jovens. São pequenos gestos, coisas simples que temos que guardar no coração dos pequeninos. Precisamos resgatar o valor e o papel dos obreiros/as na convivência comunitária. A autoridade pastoral não se impõe, mas é conquistada e partilhada.
Uma das coisas bonitas no Sínodo Mato Grosso é o respeito que há entre os obreiros. O mesmo pode-se dizer em relação ao relacionamento das lideranças (presbitérios e Diretorias, etc.) e dos obreiros. Existem conflitos, mas estes precisam ser encarados com maturidade, equilíbrio e bom senso. É fundamentais o diálogo e a disposição para buscar a solução e superação dos mesmos.
Uma preocupação em toda a IECLB é pela clareza teológica e confessional. Em muitos lugares e momentos as Igrejas Pentecostais, principalmente neopentecostais, tem trazido para dentro das igrejas o linguajar e a prática dos terreiros de umbanda. Invoca-se o demônio para depois expulsá-lo. Passa-se a usar os termos do “encosto”, “trabalhos”, etc. Dá-se ao demônio um status que ele não tem. É necessário que os Obreiros/as tenham uma postura e prática confessional.
ATIVIDADES
Breve exposição de atividades que o Sínodo coordenou ou participou:
ENCONTROS
06-18/08/2003 – Visita membros Diretoria a Santarém e Paróquia de Rurópolis;
13-14/09/2003 – Encontro Homens Setor Norte;
19-21/09/2003 – Reunião dos Pres., Tes. e Past. Sinodais-Presidência IECLB
03/10/2003 - Reunião Conselho Sinodal OASE em Sinop;
15-16/11/2003 – Encontro Setorial da OASE em Sinop;
30/11/2003 - Culto Confirmação em Sinop;
12-14/12/2003 – Reunião Conselho Sinodal em Chapada;
06/12/2003 - Celebração dos 10 anos da Paróquia Leste Matogrossense;
08-15/01/2004 – Visita Paróquia Rurópolis;
16-20/01/2004 – Visita Comunidade missionária de Santarém;
21-24/02/2004 – Retiro de Carnaval JE Setor Norte em Sorriso;
16-19/03/2004 – Encontro dos P. Sinodais com a Presidência da IECLB;
16-18/04/2004 – Congresso Sinodal OASE em Chapada;
30/04-01/05 - Encontro de Famílias em Rondonópolis;
04-07/05/2004 – Fórum Nacional de Unidade: Identidade e Confessionalidade;
08-12/05/2004 – Visita Vila Rica
14-15/05/2004 – Conselho Paroquial Leste Matogrossense em Campo Verde;
15/05/2004 - Celebração Jubileu Comunidade de Cuiabá;
16/05/2004 - Celebração Jubileu Comunidade de Rondonópolis;
23/05/2004 - Celebração Jubileu Comunidade de Tangará;
30/05/2004 - Dedicação Templo - Costa Rica – Paróquia Chapadões
20/06/2004 - Dia Setorial da Igreja Setor Leste em Água Boa.
SEMINÁRIOS
11-13/07/2003 – Seminário Líderes de Culto em Chapada;
01-03/08/2003 – Seminário de Diaconia em Chapada;
28-30/08/2003 – Seminário Inter Sinodal Comissão Jurídica Doutrinária;
04-07/09/2003 – Seminário Semana da Criatividade em Chapada;
23-26/10/2003 – Seminário Formação Liderança JE em Chapada;
12-14/03/2004 – Seminário de Comunicação em Chapada;
ATUALIZAÇÃO TEOLÓGICA DOS OBREIROS
21-25/07/2003 – ECAM em Ariquemes RO
23-26/09/2003 – Conferência Sinodal de Obreiros em Chapada;
04-06/11/2003 – Encontro Obreiros Setor Centro Sul em Primavera do Leste;
17-19/11/2003 – Encontro Obreiros Setor Norte em Sorriso;
02-03/12/2003 – Encontro Obreiros Setor Leste em Água Boa;
08-10/03/2004 – Encontro Obreiros Setor Leste em Canarana;
23-25/03/2004 – Encontro Obreiros Setor Norte em alta Floresta;
30/03-01/04 - Encontro Obreiros Setor Centro Sul em Mineiros;
VISITAÇÃO E AVALIAÇÃO
30/07/2003 - Avaliação intermediária PPHM Luís Valério;
18-19/10/2003 – P. Afonso Weimer e Paróquia Leste Matogrossense
08-09/11/2003 – Avaliação final PPHM Luís Valério;
20-21/02/2004 – P. Ivo Schoenherr e Paróquia de Cuiabá;
ORDENAÇÕES E INSTALAÇÕES
29/06/2003 – Ordenação P. Daniel Schorn em Chapadão do Sul;
24/08/2003 – Instalação P. Fernando Wöhl na Paróquia de Água Boa;
12/10/2003 – Ordenação P. Adriano Otto em Guarantã do Norte;
01/02/2004 – Ordenação Pa. Dione Baldus em Tangará da Serra;
28/02/2004 – Instalação P. Dilmar Divantier na Paróquia de Sinop;
09/05/2004 – Ordenação P. Edílson Tetzner em Vila Rica;
SAÍDA DE OBREIROS
31/12/2003 – P. Paulo Roberto de Souza – Paróquia de Porto dos Gaúchos;
05/05/2003 – P. Afonso Weimer – Paróquia Leste Matogrossense;
20/05/2004 – P. John Espig e Pa Marli Schmidt – Paróquia Parecis;
Obs: Estas Paróquias continuam vagas. As Paróquias de Porto dos Gaúchos e do Parecis solicitou envio de obreiros/as recém formados (1º envio). A Paróquia Leste Matogrossense abriu vaga para candidaturas (receberá currículo até 30 de julho)
CHEGADA DE OBREIROS
Julho 2003 – P. Fernando Wöhl e família na Paróquia de Água Boa;
Julho 2003 – P. Edílson Tetzner na Paróquia de Vila Rica;
Janeiro/ 04 – P. Dilmar Devantier e família na Paróquia de Sinop;
CONSIDERAÇÕES
Existem no Sínodo grupos que tem atividades regulares, planejamento e lideranças, ex. OASE e JE. Estão perfeitos? Não, mas deveriam servir como elemento motivador aos outros grupos não tão estruturados e organizados.
Onde estão os homens? Há pequenas experiências em diversos lugares, mas ainda falta o assumir como postura de fé e de testemunho para as futuras gerações. Aos homens sempre foi dito que Igreja e coisas de fé são coisas de mulheres. Gerações ouviram esta ladainha. Felizmente tem-se rompido esta pregação nos últimos anos. Cada vez mais homens assumem a sua fé, em Jesus Cristo, de forma pública. Estes são os pequenos grandes gestos que ensinam e educam para algo diferente. O desafio para o Sínodo é de que em cada Comunidade haja um grupo de homens que se encontra com regularidade para o estudo da Palavra de Deus, para a comunhão, o compartilhar, a oração e a diaconia. Será que este é um desafio grande demais para nós homens?
Da mesma forma a prioridade deveria ser o trabalho com as crianças, os adolescentes e os jovens. Os nossos irmãos além mar, Syke-Hoya – Alemanha, escolheram como tema do Dia da Igreja em Hannover/2005 o texto de Deuteronônio 6.20: “Quando sua filha ou seu filho lhe perguntar amanhã...” A preocupação deles é iniciar um diálogo sobre a maneira através da qual passamos a nossa fé a próxima geração. Eles nos perguntam: “como vocês praticam o culto para crianças, o ensino confirmatório, o trabalho com jovens em suas comunidade?”
Poderíamos perguntar a nós mesmos: Como temos feito? Da forma como estamos fazendo conseguimos passar a fé em Jesus Cristo aos pequeninos? São perguntas que querem nos ajudar a refletir. Não precisamos ter medo delas e nem nos sentir ofendidos. Será que não poderíamos adotar esta pergunta para nortear os nossos trabalhos e também avaliações? Creio que é viável. Cada Comunidade deveria fazer uma análise detalhada de como estão sendo trabalhados os grupos mencionados (qual a pedagogia usada, quem faz, quem apóia, quem assume a responsabilidade...). O representante no Conselho Sinodal traria os resultados desta análise ao Conselho na reunião de dezembro. A partir das análises poderia se buscar ênfases e alternativas.
A questão financeira é de alta prioridade. Muitas Paróquias e seus obreiros passam por sérias dificuldades econômicas. Todos estamos cientes do arrocho econômico em que estamos envolvidos. Creio que a razão maior pela dificuldade que se passa nas Comunidades, Paróquias e Sínodo é teológica. Temos aversão ao tema dentro das celebrações. Falta-nos a clara compreensão, e pregação, de que o dinheiro é dádiva de Deus. E como dádiva ele continua pertencendo ao Senhor. Portanto, o dinheiro é do Senhor e pertence a Ele. Ele nos chama a usarmos em favor do seu reino. Precisamos aprender a falar sobre fé e dinheiro. A Diretoria do Conselho preocupada com o tema planejou, e está em fase de acertar os detalhes, um Seminário Sinodal com a temática: Missão e Dinheiro. Será assessorado pelo ex-Secretário de Economia da IECLB Sr. Helvino Pufal. Este Seminário ficaria para primeiro semestre 2005.
AGRADECIMENTOS
A partir desta Assembléia se estará iniciando um mandato da nova Diretoria do Conselho Sinodal. Foi muito agradável o convívio e o crescimento desta equipe. A reflexão e as decisões tomadas procuraram pautar-se sempre no bom senso e na responsabilidade da função. Representaram dignamente o Conselho Sinodal. Um muito obrigado pela dedicação e desprendimento.
Um agradecimento especial a Presidente Silvania Maria de Holanda Klein. Como Presidente não mediu esforços para conduzir o Sínodo. Muitas vezes comprometeu sua família e seu emprego. Sua capacidade de sintetizar, organizar, refletir e sua visão clara e objetiva auxiliaram na tarefa de pastorear o Sínodo.
Participar da Reunião do Conselho Sinodal é renovador. O convívio fraternal e a seriedade nas decisões cativam. É marcante o espírito propositivo do Conselho.
Lembro do Vice Pastor Sinodal Afonso Weimer que estava sempre a disposição para colaborar no Sínodo. Muitas vezes acabou sobrecarregado nas suas atividades pastorais junto a Paróquia. Que o Senhor o use no novo campo de trabalho, Paróquia de Medianeira PR, assim como o usou nas diversas Paróquias do Sínodo.
Alguém que não poderia esquecer, e que vai iniciar uma nova fase da vida – e bem merecida – como aposentada, é a Administradora Helga Klein. Até o dia de hoje são 12 anos, 11 meses e dois dias em que foi muito mais do que uma administradora. Com seu jeito ela transmitiu, e foi, um pouco de mãe dos que passaram nesta casa. Fez deste lugar a sua casa e desta forma também zelou. Obrigado pela dedicação, carinho e afeto que demonstrou. Em extensão agradecemos ao Ivo Christmann pelos anos que esteve trabalhando conosco, pela disposição em servir e estar sempre ao lado da Helga.
Agradeço ao Secretário André que tem sido o meu “fiel escudeiro” e amigo.
Lembro da colaboração, compreensão e paciência que a esposa Liane e a filha Tatiane tem para comigo em minhas ausências.
Com alegria menciono todas as lideranças que “vestem” a camisa luterana, que dão testemunho deste jeito de viver. Que assumem um estilo de viver diferente e que amam a sua Igreja. Ser e viver a fé luterana é ser sal e luz neste mundo de Deus.
Agradeço o calor e o afeto das Comunidades, Paróquias e famílias que sempre me acolheram e zelaram por mim. Pelas orações e intercessões para que sempre tenha o discernimento e sabedoria em cumprir com as obrigações e responsabilidades.
Graças a Deus que tem acompanhado até aqui. A Ele sejam dadas toda a honra e toda glória.
Lauri R. Becker
Pastor Sinodal