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1 Coríntios 1.18-31

Domingo da Paixão

24/03/2013

Saudação do púlpito


Há notícias do avanço da ciência e da tecnologia que chegam a nós e nos deixam profundamente surpreendidos, admirados, por vezes até desconfiados de sua veracidade e eficácia, tamanha a novidade que apresentam. As criações vão desde o aparelho de raio x e todas as máquinas modernas que examinam o que se sucede nos órgãos internos de nosso corpo, a televisão, o telefone celular, a máquina fotográfica, até o avião e o foguete espacial; tudo de alta tecnologia! Curioso é que a gente se acostuma rapidamente com tantas e constantes novidades que algo novo rapidamente assume ares de ultrapassado; ao mesmo tempo, são tantas as novidades tecnológicas e científicas que nós não conseguimos sequer tomar conhecimento de todas.
 

Ano passado os EUA anunciou a criação da primeira pílula capaz de agir na prevenção da Aids. O medicamento, que recebeu o nome de Truvada, se destina especialmente às pessoas que convivem com parceiros portadores de HIV e que usam, ao mesmo tempo, outros mecanismos de prevenção à Aids. Há alguns dias a mídia anunciou o primeiro caso de um bebê com o que se chamou de cura funcional da Aids, isto é, no qual o vírus ficou de tal forma enfraquecido que não será necessária qualquer dose de medicação para garantir sua sobrevivência. Na África, continente no qual se estima haver 300 milhões de pessoas sem acesso à água potável, foram descobertos, recentemente, aqüíferos gigantes sob a superfície. Pelo que afirma a ciência, esses aqüíferos subterrâneos superam em 100 vezes a água potável que está visível na superfície. E o que falar das pesquisas e dos debates polêmicos em torno das células-tronco?
 

O que os seres humanos desenvolvem a partir da inteligência e da sabedoria concedidas por Deus, e que podem beneficiar a vida é incrível! Pena que tantas novidades e avanços não estão disponíveis para todas as pessoas da mesma forma!

O risco de todo este surpreendente desenvolvimento e da superação humana de seu próprio conhecimento é que se experimente a sensação de onipotência (da pessoa que tem um poder ilimitado, que pode tudo), de segurança por esforço próprio, de independência e autonomia com relação a Deus! Eis a questão: Com todo o desenvolvimento científico e tecnológico o ser humano ainda precisa de Deus ou ele pode, até mesmo, salvar-se a si próprio? É loucura falar da salvação através da fé no Cristo crucificado e ressurreto?
 

O texto que ouvimos, da primeira carta do apóstolo Paulo à comunidade cristã recém fundada na cidade de Corinto, revela uma acirrada discussão a respeito disso. Depois da morte e ascensão de Jesus o apóstolo Paulo e muitas outras pessoas, homens e mulheres, empreenderam viagens missionárias por vários países. Eles proclamavam uma única mensagem: “Nós anunciamos o Cristo crucificado – a mensagem que é ofensa para os judeus e loucura para os não-judeus” – diz o apóstolo Paulo (1 Co 12.23). Esse anúncio da salvação, como indica o apóstolo, foi recebido de diferentes formas pelos grupos que compunham a comunidade cristã em Corinto, sendo considerado uma “mensagem louca” por boa parte dos/das ouvintes.
 

Corinto foi, no tempo de Jesus e por alguns séculos, uma cidade portuária grega de grande importância comercial. Por ser cidade portuária com intenso fluxo de pessoas e mercadorias ela ganhou importância na arte e na cultura e possibilitou o surgimento de uma minoria abastada e de uma maioria de pessoas da classe baixa. Corinto chegou a abrigar, aproximadamente, 250 mil habitantes.
 

Os homens gregos, cidadãos livres em Corinto, em geral, ocupavam-se com a filosofia e com debates intelectuais sobre os mais variados temas. Eles tinham grande influência no mundo de então. Pela razão queriam chegar a Deus ou aos deuses. Na sociedade grega viviam numa hierarquia social bastante rígida, estando os homens gregos livres no topo da pirâmide sendo seguido pelos demais. Mulheres, escravos e estrangeiros eram considerados seres inferiores. Para eles foi,
 

certamente, muito difícil crer que Deus se tornara gente, pessoa, que ele viera ao encontro do ser humano imperfeito, assim como deve ter sido difícil crer que a salvação poderia ser concedida a todas as pessoas igualmente, sem distinção!
Os judeus, por sua vez, que também integravam a nascente comunidade cristã carregavam, com certa arrogância, a crença de ser povo eleito. Para eles a cruz representava a pior condenação que um criminoso poderia receber. Estava revestida de vergonha e humilhação. Como crer que este que fora crucificado era o Messias esperado pelo povo eleito, pelo povo de Deus? Onde estava o Rei que venceria o Império Romano e ocuparia o trono de Davi, colocando fim a todo o sofrimento do povo? Muitos judeus não conseguiram crer no que parecia ser um fracassado assassinado na cruz! “Pois aquilo que parece ser loucura de Deus é mais sábio do que a sabedoria humana, e aquilo que parece ser fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana” – diz o apóstolo (1 Co 1.25).
 

Ou seja: Muitos judeus e muitos gregos receberam a mensagem da salvação através do Cristo crucificado como loucura! Uns porque detinham o conhecimento filosófico, a sabedoria da época, e não conseguiram conceber que Deus se revelasse justamente na cruz e não na erudição, no conhecimento; outros não conseguiram crer porque estavam amarrados à ideia de um Messias vitorioso. Queriam provas de que o Jesus crucificado era mesmo o Filho de Deus. A multidão que acolheu Jesus no Domingo de Ramos, na entrada de Jerusalém, também demonstrou esperar um rei político e triunfalista e não conseguiu vislumbrar em Jesus o Príncipe da Paz.
 

Querida comunidade! Nas igrejas luteranas temos poucas imagens. O que está em evidência, no entanto, é a cruz vazia. A cruz não é enfeite, decoração. Ela é o sinal mais visível do amor de Deus pela sua criação e, ao mesmo tempo, é a nossa mais clara confissão de fé. Ao fixarmos a cruz em lugar de destaque em nossas igrejas estamos testemunhando que nossa fé se firma e se fortalece no Cristo crucificado, o mesmo que foi ressuscitado dentre os mortos e está no meio de nós. Da cruz vazia não podemos abrir mão. Diante da sabedoria de Deus manifesta na cruz de Cristo cai por terra toda a arrogância e auto-suficiência humanas! Deus escolheu o que há de mais fraco, frágil e desprezível para revelar todo o seu amor e salvar quem o busca. “Isso quer dizer que ninguém pode se orgulhar na presença de Deus” (1 Co 1.29) – diz o apóstolo Paulo.
 

Neste sentido o P. Ervino Schmidt (IECLB) apresenta uma imagem muito autêntica da arrogância humana e do amor de Deus: Ele diz: “Imaginem a seguinte situação: Alguém está fazendo compras num grande Shopping Center. Carregada de compras, esta pessoa insiste em subir a escada rolante que vem descendo. É um desastre! O inevitável acontece. Ela sofre terrível queda com todos os seus embrulhos e entulhos.” (Proclamar Libertação 21, p.68).
 

Nós não temos como chegar até Deus com nossos próprios méritos e é impossível colocar-se no lugar de Deus. Continuamos carentes de Deus! O conhecimento científico e tecnológico é útil e extremamente necessário para a humanidade, isto é certo! Nosso conhecimento, no entanto, seja em que área for, sem o amor de Deus, não nos trará felicidade plena e muito menos a salvação após a morte. Por isso, Deus continua vindo ao nosso encontro!
 

Na cruz Deus desce definitivamente até nós e nos resgata de nossa fragilidade humana, de nosso pecado e especialmente do poder da morte. Por isso, o que sabemos ou somos é colocado, por gratidão, a serviço do bem comum porque recebemos tudo isso de um Deus que ama e permite amar! A comunidade cristã experimenta, neste sentido, a liberdade de não deixar-se escravizar por qualquer tipo de arrogância; muito antes, sabe-se alcançada por Deus e vê na sua vida uma grande possibilidade de amar e servir com os dons que Deus lhe concedeu. Neste Domingo da Paixão, há uma semana da Páscoa, diante da cruz só podemos clamar a Deus, com fé, na certeza de que ele nos ouve: Salva-nos por fé, Senhor Jesus! Amém.

 


Autor(a): Scheila dos Santos Dreher
Âmbito: IECLB / Sinodo: Mato Grosso
Testamento: Novo / Livro: Coríntios I / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19735

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