Mateus 17.1-8
Leitura: 2 Pe 1.16-21
Quem é Jesus?
Quem diz o povo ser o Filho do Homem?
E vós, quem dizeis que eu sou?
Jesus pergunta isso aos seus discípulos no capítulo 16.15. Pedro então responde a Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo.” (16.16)
Agora no capítulo 17 parece que Jesus quer confirmar essa afirmação de Pedro. Jesus leva seus discípulos Pedro, Tiago e João para um alto monte. Montes são locais onde eventos significativos acontecem com frequência. A tentação (cap. 4), o sermão da montanha (cap. 5), a oração (cap. 14), alimento para 5 mil pessoas (cap 15). Deus se revelou a Moisés e a Elias no monte Sinai (Ex19 e 1Rs 19)
O monte onde Jesus levou os seus discípulos é o Tabor, que fica entre Nazaré e o Lago da Galileia. Ali no monte Tabor acontece algo deslumbrante. A aparência de Jesus mudou totalmente. Um forte brilho tomou conta de seu rosto. Duas pessoas importantes do Antigo Testamento apareceram e falam com Jesus. Moisés foi o grande legislador de Israel e Elias um grande profeta. Os profetas tinham a tarefa de fiscalizar o cumprimento da lei. Pedro fica deslumbrado. E ele não quer mais sair desse êxtase: “Senhor, bom é estarmos aqui. Se queres, farei três tendas; uma será tua, outra para Moisés e outra para Elias”(v. 4). De alguma forma Pedro queria perpetuar esse momento sagrado e queria transformar aquele lugar - para sempre - num lugar sagrado. Mas, aí chega mais alguém. É o próprio Deus. Ele vem numa nuvem luminosa e sua voz diz: Este é o meu filho amado, que me dá muita alegria, a ele ouvi. (v.5). São as mesmas palavras ditas no Batismo de Jesus. A transfiguração parece ser uma confirmação (crisma) do batismo de Jesus. Este é o meu filho amado, que me dá muita alegria, a ele ouvi. (v.5)
Diante da presença de Deus, os discípulos se enchem de medo. Eles haviam aprendido que Deus castiga os pecadores. Por isso, eles tinham medo de Deus. No entanto, bastou um toque de Jesus dizendo: Levantem-se e não tenham medo(v.7) e o medo foi embora. Jesus não alimenta o medo, mas retira o medo dos seus discípulos. Os discípulos então se levantam, olham em volta e não veem mais ninguém, além de Jesus. Em seguida eles descem do monte. No caminho os discípulos ainda têm uma dúvida. Desde pequenos eles ouviram dizer que antes do Messias, viria o Elias. E Jesus confirma que o espírito de Elias certamente inspirou a vida de João Batista. Nós luteranos e luteranas não interpretamos esse texto como encarnação de Elias em João Batista. Mas que João Batista se inspirou no profeta Elias. Nós aprendemos que podemos nos inspirar na vida de outras pessoas para melhorar a nossa própria vida. Nós não cremos na reencarnação, - assim como não temos os santos como objeto de culto e invocação, mas nós – luteranos(as) – devemos procurar respeitar e conhecer a forma de vida dessas pessoas que a igreja católica chama de santos e tratar de nos inspirar em suas vidas. Desta forma, nós enriquecemos nossa vida com outras vidas. Mas isso serve apenas para melhorar a nossa vida aqui na terra. Isso não é condição para nossa salvação. Deus nos ama, mesmo antes de sermos pessoas cristãs.
Prezada Comunidade e estimados rádio-ouvintes: Iniciamos essa reflexão com a pergunta: Quem é Jesus? E nessa semana de Carnaval, a pergunta sobre quem é Jesus, também vai ser motivo de muita conversa. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira vai propor em seu samba enredo falar de Jesus. Os carros alegóricos para o desfile vão falar de um Jesus que poderia ter nascido na periferia da cidade do Rio de Janeiro, no Morro da Mangueira, entre as pessoas da favela. A letra do samba fala do “Jesus da gente”, ou seja, o Jesus de quem vive ali na favela, na periferia e sofre marginalização por cor de pele (negra), pela origem (indígena) ou por ser mulher. A letra do samba diz que este “Jesus da gente” também hoje morreria, vítima da intolerância e violência.
O samba enredo vai chamar a nossa atenção sobre três coisas: 1ª) a denúncia da difícil realidade de vida nas periferias da cidade, sobretudo no Morro da Mangueira; 2ª) a mensagem de fé que aponta para a presença de Jesus neste contexto de periferia; 3ª) a mensagem política/econômica que clama: “Favela, pega a visão, Não tem futuro sem partilha, Nem messias de arma na mão”.
A diretoria do Conselho Sinodal do Sínodo Sudeste da nossa Igreja emitiu uma carta sobre essa situação. Essa carta diz que a mensagem do Jesus na periferia, identificado com a pessoa pobre, solidário às pessoas em sua realidade de vida, não é nova para as nossas comunidades da IECLB. Também falar contra a intolerância religiosa é algo que fazemos, pois somos uma igreja aberta ao diálogo ecumênico e a vivência inter-religiosa. Portanto, o fato de a escola de samba Mangueira querer chamar a atenção para o Jesus dos Evangelhos não tem nada de ofensivo.
Surgiu então a pergunta sobre o convite da Mangueira. Várias igrejas e outras religiões foram convidadas para participar do desfile da Escola na Sapucaí. Isso levantou a pergunta pela nossa compreensão do que é sagrado e profano. A carta sinodal afirma que o “sagrado” não é somente o espaço reservado de uma comunidade. Sagrado é o espaço ocupado por Deus. Sagrado está ali onde Cristo está e onde as pessoas o testemunham.
Por isso, se alguém quiser participar – estará livre para fazê-lo. Todas as pessoas são chamadas para serem testemunhas de Jesus Cristo. A carta sinodal compreende que todos os espaços são legítimos para a expressão da fé cristã por crermos que Cristo pode estar em todos os lugares. “Por isso conclamamos cada pessoa a testemunhar Jesus Cristo neste carnaval, não importando onde, se em culto comunitário, em um retiro, em um bloco de rua ou na avenida do samba. Testemunhar significa dar expressão e forma da fé em Cristo. Significa dar expressão ao perdão, à vida plena e à salvação.”
Essa é uma palavra muito clara da diretoria do Conselho Sinodal do Sínodo Sudeste. Nesse mundo tão cheio de falsas verdades, a mensagem da igreja precisa ser clara e ela deve ajudar e orientar as pessoas.
E aqui voltamos ao texto da transfiguração de Jesus. Por que Jesus se revelou aos discípulos no alto de um monte e não no templo de Jerusalém? Simplesmente porque o templo de Jerusalém não aceitou a Jesus como Filho de Deus.
Nesses tempos atuais em que muitos espaços sagrados – em muitas igrejas - não tem mais lugar para falar mais do verdadeiro Jesus. Onde líderes religiosos são ameaçados para não falar mais de pobreza ou injustiça social. Nesses tempos atuais, a mensagem de Jesus é bem clara: Se Ele não tiver mais lugar nos templos ou nas igrejas, ele vai se revelar fora dos templos, no monte, na avenida, na rua, nos lugares chamados de profanos e Jesus vai santificar esses lugares “profanos” com a sua presença, tornando assim real as palavras do Lucas 19.40 onde “Jesus disse: Eu afirmo a vocês que se eles se calarem, as pedras gritarão.”
POrtanto, se Jesus não tiver mais lugar nas igrejas, ele vai embora. E o que acontece com um templo sem Deus, com uma igreja sem Jesus?
Fica um lugar vazio, onde não se sente mais a paz que vem da presença de Deus. E quando Jesus já não estiver mais presente, então a igreja - e até mesmo nossa casa - vira um lugar de grandes conflitos, de brigas e de preconceitos. O Salmo 51.11 diz a Deus: “Não me expulses da tua presença, nem retires de mim o teu santo espírito”. E é esse mesmo alerta que nos faz o texto da transfiguração de Jesus: Volta meia devemos nos perguntar se Jesus ainda está no meio de nós.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo permaneçam no meio de nós. Amém.