Passou: o Natal, ano novo, epifania...
Passou: o nascimento de Jesus, Papai Noel e a solidariedade.
Ufa! Tudo isso passou.
Agora é hora de se organizar para a vida normal. Precisamos olhar para frente, não há mais tempo para quem está à beira do caminho.
O clima natalino nos preenche com o sentimento de solidariedade. É muito bom como neste período amparamos pessoas que passam por necessidades. Doamos brinquedos, roupas, alimentos, chocolates, dinheiro e até sorrisos. Conseguimos por alguns dias proporcionar um pouco de dignidade as pessoas.
Mas TUDO isso passou.
Quando desmontamos nosso pinheiro e apagamos as luzes de natal, junto com eles vai embora o nosso olhar para as pessoas que passam por necessidades. Começamos a nos preocupar novamente com nosso trabalho, futuro, calendário da comunidade, estudo, pagamentos. Tudo isso nos faz esquecer e passar de largo daquela pessoa que está à beira do caminho.
Junto com a caixa das bolinhas do pinheiro, guardamos os ensinamentos de Jesus Cristo sobre o cuidado às pessoas que estão à beira do caminho (Lucas 10.25-37), as doentes (Lucas 8.43-48) e as excluídas (Mateus 9.10-13). Guardamos também a missão de partilha das bênçãos que recebemos em nosso batismo e que reafirmamos em cada celebração de culto.
Antes de tudo, o ensinamento de Cristo deveria nos conduzir a ver e a priorizar a necessidade da outra pessoa, caminhar ao lado dela, respeitar igualmente a todas as pessoas e a servir com toda a paixão. Ensinamentos que ajudam a ressuscitar vidas desfalecidas hoje, através da possibilidade de acessos, dignidade, abraços sinceros e pão. Auxiliar na missão de Cristo na promoção de vida digna, na qual as pessoas possam se olhar nos olhos e cear na mesma mesa.
Para pensarmos no cuidado que Cristo partilhou conosco convido a lermos o poema de Manuel Bandeira.
O Bicho:
“Vi ontem um bicho. Na imundície do pátio. Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa, não examinava nem cheirava: engolia com voracidade.
O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.
Quem dera que Natal fosse todos os dias, para que pudéssemos ter o sentimento natalino o ano inteiro. Creio que assim amor cristão sairia dos nossos discursos e passaria a ser vivido e partilhado em todas as nossas ações. Que Deus nos abençoe.
Amém.