“A casa de Deus não é uma casa na cidade; é a cidade mesma”
Na acolhida nos culto costumo receber as pessoas dizendo que estamos na casa de Deus e se é casa de Deus é casa do povo de Deus. Então li a frase acima e ela me fez re-pensar e ampliar esta perspectiva de casa de Deus.
Há como foi bom aquele tempo de antigamente lá na roça, o contato com a natureza, as pessoas se cumprimentavam e se importavam umas com as outras...esse sentimento nostálgico muito se ouve quando as pessoas se deparam com obstáculos e problemas da vida urbana. Mas sê foi tão bom porque as pessoas vieram morar nas cidades? Porque construíram cidades? Porque existem cidades?
O livro Teologia da Cidade de José Comblin, que estou lendo, me ajudou a encontrar algumas boas respostas a questões da vida urbana, de como ser igreja na cidade, ou melhor, qual nossa tarefa ou função como igreja na cidade. E ajudou também a desfazer um tanto de preconceito, porque li em profetas e textos bíblico profundas críticas à cidade.
Ele diz que a cidade está nos planos de Deus. Um bom argumento usado para confirmar isso é o ultimo livro da bíblia o apocalipse que, nos últimos capítulos menciona a vinda da Nova Jerusalém. Nova Jerusalém é a cidade de Deus, é o projeto de Deus para a humanidade aprender a viver em comum-comunidade-cidade. Fazer nossa cidade mais humana é uma tarefa em que devem estar presentes as pessoas cristãs.
“Não há presença divina onde não há comunidade humana”. E onde há comunidade humana logo, logo, vai se organizando uma cidade. Embora ele também afirme que atualmente vivemos em aglomerados urbanos, cheios de promiscuidade e muita miséria. A cidade sustenta e ajuda os ritmos de nossa existência. É o ambiente que dá sentido ao ritmo trabalho-descanso-conversação-ócio. Quem não habita verdadeiramente na cidade, não pode senão cair na angústia. A cidade é conseqüência de nossa “necessidade primordial de viver juntos”.
“O NT e 20 séculos de história mostram a sobrevivência na igreja das idéias essenciais do judaísmo. Do judaísmo enquanto se refere a sua atitude em relação a cidade. Sem dúvida, estas idéias estão transpostas em um contexto mais recente que lhes dá ressonância nova na continuidade com o AT. A história ensina, por outra parte, que a igreja está sempre ameaçada de recair nas atitudes do AT e que deve reformar-se constantemente para seguir o espírito do Novo”. O Novo Testamento, espírito do novo, nos ajuda a perceber que somos “ estrangeiros e hóspedes de passagem”.
Será que podemos dizer que nada mudou desde a vinda de Jesus Cristo?
Jesus não quis apenas fundar a igreja, queria também reconstruir de alguma maneira este mundo e suas atitudes. Por isso a presença atual da Nova Jerusalém afeta, não somente a igreja, mas também a todas as cidades, na medida em que o Evangelho as penetre. A cidade mesma chega a ser o outro pólo da existência cristã....pois, efetivamente, em Jesus Cristo se realiza uma salvação da cidade.
A evolução dessa história não é contínua e nem progressiva. Ela vai aos saltos, retrocessos e avanços.
“ Em resumo, a cidade não merece a censura que se lhe faz, de destruir as relações sociais. Ao contrário, permite multiplicá-las a tal ponto que deve-se reconhecer, entre a vida social rural e a vida social urbana, um nível diferente. O que destrói a vida social é o desenvolvimento anárquico do ‘modo de vida urbano’ sem a cidade, a tendência individual a aproveitar as vantagens que a cidade criou, rejeitando a própria cidade. “
“ Não se trata de salvar almas, mas de preparar pessoas para o dia do advento da cidade eterna, a nova Jerusalém, da qual nossas cidades devem ser imagens.” Preparar pessoas para a realização do que já está nos planos de Deus.
Pa. Carla Suzana Krüger,
pastora da IECLB em Resende/RJ