Os Anjos do Senhor
Anny Niess
“O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra!” Sl. 34.7
Quem não se lembra daqueles quadros antigos enfeitando a parede do quarto ou da cozinha das casas de nossos pais? Aqueles quadros lindos, mostrando uma criança tentando atravessar um rio em fúrias, por uma ponte meio podre, ou duas crianças brincando despreocupadas na beira de um abismo profundo, e atrás delas se via aquele grande anjo protetor com asas robustas, estendendo os seus fortes braços sobre os pequenos em perigo! Quem não se lembra daquela sensação, tanto de confiança no poder secreto deste ser divino, quanto também da curiosidade de saber mais sobre os anjos?!
Lembro-me muito bem das mil e uma perguntas que costumava fazer aos meus pais sobre estes seres misteriosos, chamados anjos. E mais, como eu quis ver um deles, passar a mão sobre as suas asas, conversar com ele, conhecer um anjo de verdade. Me lembro que a minha intrepidez chegou ao ponto de querer me tornar um deles, para sempre poder ajudar as pessoas desorientadas e para resgatar crianças ameaçadas pelo mal e pela morte, pois seria isto, segundo os meus pais, a razão de ser de um anjo. Cansados pelas minhas insistências, meus pais me mandaram consultar a Bíblia sobre o assunto.
De fato, a Palavra de Deus considera importante a palavra anjo que aparece, aproximadamente, 213 vezes no Antigo Testamento e 178 no Novo Testamento e que significa embaixador, enviado ou mensageiro. É interessante mencionar que a Bíblia defende em vários lugares o “Anjo do Senhor”, tanto como representação do próprio Deus, manifestando sensivelmente a sua poderosa presença na vida dos seres humanos (Gn 16,7; Ex 3,2; Jz 6,11-24), quanto como um ser a serviço do Triúno (Hb 1, 5-14; Sl 91,11). Por serem seres espirituais criados por Deus e submissos a Ele, esta milícia celestial vive rodeando o Todo-Poderoso nas Alturas (Sl 148,2; Ap 5,11), sempre pronta para cumprir ordens específicas, pelo bem dos filhos do Altíssimo, comunicando mensagens decisivas à humanidade, executando o juízo divino, ajudando os homens em situações ameaçadoras. São, assim, um elo forte e cooperadores indispensáveis de Deus no engrandecimento do Seu louvor, no cumprimento dos Seus planos “de paz na Terra” e no avanço do Seu reino neste mundo. Faltariam riqueza e dignidade na história do povo de Deus e da igreja de todos os tempos, sem a atuação dos anjos nas mais diversas situações da vida das pessoas individualmente, dos povos e da igreja. Demos graças a Deus por estes seres divinos chamados “anjos bons”, atuando em prol do nosso bem.
Entretanto, indica-se não ignorar ou minimizar o outro lado da moeda, ou seja, a existência de anjos maus. São seres celestiais que se desligaram em rebeldia do triúno Deus para tornarem-se anjos de Satanás (Mt 25,41; 2. Pe 2,4 ; Jd 6). É expressamente confirmado que Satanás trabalha nos filhos da desobediência, ou seja, nas pessoas que deliberadamente optam por desviar-se de Deus e do cumprimento dos Seus mandamentos. É igualmente confirmado que a tolerância de pecado na vida, por menor que seja, dá ao diabo não somente acesso à mente, mas ao mesmo tempo o direito de operar por meio da sua influência, e da ajuda de seus agentes - os anjos maus - consciente e inconscientemente, para atrair outros à mesma desobediência, fazendo dos seus adeptos escravos do maligno e instrumentos do mal com todas as suas facetas. Um pensamento assustador? De uma certa forma sim, mas refletindo seriamente sobre o assunto, chegaremos àquela feliz conclusão que deixa a gente erguer a cabeça em confiança e fé: se os anjos maus têm tal poder sobre as pessoas desviadas do Criador, quão maior poder têm os anjos bons sobre aqueles que diligentemente obedecem e temem a Deus, seguindo a Cristo em amor, gratidão e temor!
Temer a Deus – é essa, conforme o Salmista, a chave da experiência de uma vida cercada, amparada e protegida por integrantes das legiões celestes. Afinal temer a Deus é uma tarefa até leve, comparada ao lucro por ela adquirido! Temer a Deus é nada mais e nada menos do que levar uma vida sintonizada com ELE e SUAS metas. E que tremendos são os benefícios prometidos: “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra!” Foi esta a conclusão radiante feita por Davi, quando se fingiu de amalucado na presença de Aimeleque e foi por este expulso, indo se encontrar com Aquis, rei de Gate que, de sua parte, também não se mostrou muito favorável ao futuro rei de Israel, por Deus ungido e por Saul humilhado e odiado. Se Deus comissionou um Anjo para livrar Davi, será que Ele não teria um à nossa disposição? Claro que terá! Entreguemos as nossas vidas e preocupações confiantemente em Deus e na sua providência. Veremos, então, milagres sobre milagres de preservação, proteção e livramento. E mais, não é somente que a alma entregue a Deus experimenta a poderosa cerca angelical ao seu redor, é que Ele a usa como anjo na vida dos seus próximos e outros. Não foi um fato isolado que Deus usou amigos, e até desconhecidos, para me ajudar a “descascar abacaxis”. Ao longo dos anos perdi a conta de quantas vezes gritei a Deus para me socorrer na tribulação. Nunca Ele me desamparou e jamais me decepcionou. Bem pelo contrário, sempre achou o melhor caminho para me libertar dos grilhões do mal e do infortúnio. Ele o fez até aqui e o fará até o fim!
Faz bem meditar sobre a intervenção do Anjo de Deus na vida dos nossos antecedentes, tais como o citado Davi, o apóstolo Pedro (At 12, 6-19; 5, 17-19), e especialmente o nosso Senhor Jesus a quem os anjos prestaram serviços várias vezes durante a sua trajetória terrena. Precisamos da presença contínua de Deus e da atuação dos seus anjos em nossa vida. Já Martim Lutero, o fundador da nossa igreja, o sabia, encerrando as suas devoções matinais e noturnas orando: “… pois confio a mim, meu corpo e minha alma, e tudo em tuas mãos. Teu santo anjo esteja comigo, para que o mau adversário não se apodere de mim. Amém.” É realmente proveitoso copiar o exemplo de Lutero. Vivendo assim, chegaremos rapidamente a adotar a atitude de Davi que, continuando seu Salmo de louvor, convidou seus leitores: “Oh! Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia! Temei o Senhor, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem” (Sl 34, 8-9).