“O Senhor o deu... bendito seja o nome do Senhor” - Jó 1.22.
Recentemente lembramos o dia de finados. Muitas pessoas levaram flores ao túmulo de entes queridos. Muitas lembranças se tornaram mais vivas e fortes neste dia. A dor de perder uma pessoa muito próxima e amada traz uma profunda dor; talvez a maior dor que enfrentamos em nossa vida. Como podemos aceitar?
No capítulo 1 do livro de Jó, vemos este homem temente a Deus sofrer a perda de seus bens e, muito mais difícil ainda, a vida de seus filhos e filhas. Chamam a atenção as suas palavras: “o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (v.22). O amargo cálice que ele recebe para beber não o faz cair num desespero absoluto, mas ele vê as mãos que lhe dão este amargo cálice: “o Senhor o deu”.
Lembro-me de uma oração de Dietrich Bonhoeffer: “Senhor, mesmo que nos dês a beber o cálice amargo do sofrimento, cheio até as bordas, nós o aceitaremos gratos e sem tremer, pois ele vem das tuas mãos boas e amadas”. Semelhante a Jó, Bonhoeffer confessou que eram as boas mãos do Senhor que lhe davam o cálice, e tão somente por isso era possível aceitá-lo. Creio que é neste mesmo espírito que Jesus ora ao Pai no Getsêmani, quando grande sofrimento e tristeza cortam o seu coração: “Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja feito o que eu quero, e, sim, o que tu queres” (Marcos 14.36).
E para nós, é possível aceitarmos o cálice de sofrimento que bebemos? Da perda de quem amamos? Da ausência da pessoa que não poderia faltar? É possível aceitar o cálice quando cremos que as mãos daquele que nos dá o cálice, são mãos dignas de confiança. Que as duras provas que passamos são também para nossa salvação. Talvez devêssemos nos lembrar que Jesus, quando nos ensinou a orar, iniciou assim: “Pai nosso...”. Lutero explica estas palavras assim: “Deus quer atrair-nos com estas palavras para crermos que ele é nosso Pai de verdade e nós seus filhos e filhas de verdade. Portanto, podemos pedir a ele sem medo e com toda a confiança, como filhos queridos ao seu Pai amado”.
É isso! Quando olhamos para as mãos que nos dão o cálice, então é possível aceitá-lo. Suas mãos boas e amorosas vão estar estendidas para nos fortalecer, nos abençoar e nos consolar. Sim, podemos nele confiar! O que Jesus fez por cada um/a de nós na cruz é prova que as mãos do Pai querem salvar. Grande misericórdia e extraordinária bondade nós encontramos nele. Quando assim cremos, também nossa alma estará aberta para dele receber tudo quanto sua graça tem para cada um/a de nós. O Senhor nos ajude. Amém.
Pastor Astor Albrecht - Indaiatuba/SP