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“Eu sou o Senhor teu Deus. Não terás outros deuses diante de mim”
Num diálogo, durante um estudo bíblico, uma das pessoas perguntou se ainda tinha valor o primeiro mandamento. Ela explicou que se todas as religiões buscam a re-ligação das pessoas com Deus, esse mandamento tem um tom de exclusão. A pergunta é válida e pertinente. Numa sociedade que reiteradamente afirma ser o pluralismo sua riqueza, e a inclusão cultural e religiosa a atitude e conduta certa para se viver, como entender esse mandamento?
Encontramos uma resposta no contexto bíblico desse mandamento. Nele lemos: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êxodo 20. 2). Com estas palavras Deus e o sagrado são vinculados à libertação. Este mandamento refere-se, então, a Deus como aquele que busca o ser humano para quebrar todas as correntes que lhe amarram diminuindo assim sua dignidade, valor e liberdade. Quanto contraste! Porque nós insistentemente nos escravizamos!
Lutero escreveu: “Pois aquilo a que você se apega e naquilo em que seu coração confia, isso, digo, é propriamente seu Deus”. E nós nos apegamos e confiamos a nossa vida a tanta coisa! É assim que somos escravos dos nossos erros, orgulhos, preconceitos, ideologias, tradições culturais e religiosas, habilidades, relações sociais, máscaras, poderes econômicos, sociais e políticos. Quem de nos já não teve a experiência de ficar aprisionado na rede construída pelas suas próprias decisões? Quantas vezes nossas opções não nos deixam retornar para fazer um novo caminho? Pois é, em meio a nossa liberdade podemos ser escravos e escravizar tudo o que nos rodeia!
E, como se relaciona isto com o primeiro mandamento? O mandamento nos chama para discernir e ficarmos atentos para com os nossos apegos e confianças que se tornam o suporte da nossa vida. Quer dizer, se aquilo que inspira e orienta nossas vidas, ou a vida de uma comunidade, leva a perda de liberdade, autonomia, valor e dignidade, se está perante “outros deuses”. Não é Deus o suporte de esse caminho de vida.
Hoje, num tempo em que há muitos deuses, se faz necessário reafirmar de maneira concreta o mandamento. As nossas construções materiais, sociais e espirituais, dentro e fora da nossa Igreja, deveriam contribuir para a autonomia, para a dignidade, para a valorização, para o desenvolvimento pleno, para a paz de todas as pessoas nas diferentes fases da vida.
O primeiro mandamento nos propõe um desafio de vida que o apóstolo Paulo anotou da seguinte maneira: “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam” (1Coríntios 10.23). Então, somos libertos para viver numa liberdade responsável que cuida de si, do próximo e de toda a criação, segundo o amor.
Somente nesta base é possível viver de maneira inclusiva nesta sociedade tão diversa e plural.
P. Pedro Puentes Reyes, Pastor da IECLB na Paroquia Vale do Paraiba - São José dos Campos/SP.