Sínodo Sudeste



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ID: 18

“Não fiquem preocupados...”

17/06/2015

Acordei no meio da noite, sem nenhuma razão aparente. Não me lembrava de ter sonhado e não havia nenhum barulho ou desconforto físico me forçando a acordar. Olhei as horas; passava um pouco das três da madrugada e lá estava eu, desperta. Mesmo cansada, parecia que o sono tinha me abandonado ou não queria mais me fazer companhia. Não demorou para virem à memória acontecimentos recentes e preocupações com problemas na família, com questões de saúde, com assuntos de trabalho e, ainda, com compromissos iminentes que demandariam tempo e muita disposição, paciência, sabedoria e dinheiro para serem vencidos. O pior de tudo, o que me deixava mais aflita, eram as coisas que fugiam do meu controle: o risco de demissões em massa na empresa, em função da crise econômica, e compromissos financeiros assumidos a médio prazo, que deixavam ainda mais assustadora a ideia de eu mesma perder o meu emprego. Rolei de um lado ao outro da cama e não havia posição que fosse suficientemente cômoda para que o sono voltasse a querer se aninhar comigo.

Essa foi só uma das inúmeras vezes que isso me aconteceu, mas o modo de lidar com isso tem variado bastante com o passar do tempo. Houve ocasiões em que me irritava e ficava dizendo pra mim mesma que eu precisava voltar a dormir porque o dia seguinte seria cheio de desafios, que me cobrariam baterias recarregadas por uma boa noite de sono. Como se o sono fosse amigo da irritação! Quando se aprende que isso não funciona é preciso procurar alternativas. Ligar a televisão num canal de programação monótona, só para abafar o volume dos próprios pensamentos; acender a luz de cabeceira e retomar a leitura do livro deixado ali algumas horas mais cedo, pouco antes de ser rendida pelo sono; levantar e tentar continuar alguma tarefa que tenha ficado inacabada ou sentar na cama, no escuro mesmo, até ser vencida pelo cansaço. Essas foram apenas algumas das táticas já experimentadas.

Para lidar com situações como a descrita acima, foi preciso aceitar que é verdade o que Jesus disse sobre a inutilidade de nos preocuparmos com o dia de amanhã, já que cada dia trará consigo suas próprias preocupações (Mt 6.34). De fato, sempre que a ansiedade (o medo) me apareceu no meio da noite e, sorrateiramente, levou meu sono - deixando-me na companhia de uma imaginação capaz de pintar situações assustadoras, como se fossem realidades inevitáveis -, os acontecimentos posteriores acabaram se revelando completamente distintos daquilo que eu havia temido. As estratégias de enfrentamento traçadas antes para aquilo que eu imaginava poder vir a acontecer não eram úteis para tratar das demandas reais que surgiram depois.

Com o tempo, aprendi que o melhor a fazer, mesmo, é mudar o foco e se entregar plenamente aos cuidados de Deus. Então, de alguns anos para cá, quando acordo no meio da noite, seja por qual motivo for, evito pensar que preciso voltar a dormir. Para mim, passou a fazer sentido crer que é Deus quem está me acordando e me dando a oportunidade de aproveitar todo o silêncio da madrugada para lhe apresentar questões que me tenham sido compartilhadas ou que tenham sido noticiadas nos meios de comunicação. Depois de interceder por essas questões bem específicas, amplio o leque e oro por afilhadas e afilhados, por cada membro da minha família, por amigas e amigos que moram longe, em relação às/aos quais a oração se converteu no meio mais potente e gratuito de alimentar os vínculos. Geralmente, sobram motivos para estender essa conversa com Deus e, sem me dar conta, Ele mesmo se encarrega não só de tomar de mim todas as minhas preces como também de convencer o sono a voltar pra mim. E quando torno a acordar é porque o dia já rompeu ou porque o despertador, obediente, me avisa que um novo tempo me está sendo dado, com novas oportunidades para viver sob a graça de Deus e a seu serviço.

Querido Deus, agradeço por tua presença constante, por poder te apresentar todas as aflições e preocupações que me tiram o sono, na confiança de que tu as tratas com o devido cuidado e me usas, como te convém, para agir e promover, na hora certa e com criatividade e coragem, as mudanças que desejas. É bom saber que não nos abandonas e que, assim como o dia e a noite, tudo passa, menos o teu cuidado amoroso por cada uma de tuas criaturas. Amém.
 


Autor(a): Pa. Aneli Schwarz
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 33741

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