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Na esquina onde Calvino e Goethe se encontram

21/06/2007

Igreja Evangélica Reformada
Huguenote, em Erlangen

Passando um final de semana na cidade de Erlangen, com um casal de amigos muito queridos, não quis deixar de participar de uma celebração pela Reforma Protestante. Afinal são 488 anos desse acontecimento histórico e estou nas terras do protestantismo. Seria um pecado perder tal oportunidade. No domingo 30 de outubro, procuramos uma igreja protestante e encontramos uma Igreja Reformada, a Evangelische Reformierte Hugenottenkirche (Igreja Evangélica Reformada Huguenote). Chamou-me atenção, é claro, a palavra “huguenote”.

Huguenotes eram os seguidores do movimento reformador na França do século XVI. O nome deriva do alemão Eidgenossen – “os confederados”. Como sabemos, a Reforma não foi um movimento pacífico: provocou divisões, guerras e mortes. Na França, de 1562 a 1598 ocorreu um fenômeno político complexo que recebeu o nome de “guerras de religião”, em que um dos lados, por suas coligações, ficou conhecido como o dos “confederados”.

As guerras religiosas, infelizmente, sempre fizeram parte da história do cristianismo, e um de seus episódios mais trágicos se deu na noite de 24 de agosto de 1572, quando os huguenotes foram alvo de uma chacina que passou à história como a Noite de São Bartolomeu. Milhares foram mortos em Paris, e depois a perseguição e o terror continuaram por toda a França.

Esses protestantes franceses se espalharam pela Europa tentando se proteger da fúria de Catarina de Médicis (mãe do rei da França) e da Igreja Romana. Parte dessa história, incluindo o relato da Noite de São Bartolomeu, está contada no livro “A Rainha Margot”, de Alexandre Dumas, que há alguns anos foi adaptado para um belo filme. Vale a pena procurá-lo nas locadoras.

Os huguenotes chegaram também a essa região da Alemanha onde ficam as cidades de Erlangen e Nüremberg, sua vizinha mais conhecida, e que pertencia ao reino da França – por isso é chamada de Francônia. Na bagagem, levavam a sua fé, o seu Deus, a sua tradição, a sua culinária.

A igreja huguenote de Erlangen foi construída entre os anos de 1686 e 1693. Mesmo ali, onde reinava o luteranismo, os huguenotes foram encarados com resistência, temor e preconceito. Eles também eram protestantes, mas eram “diferentes” – no jeito de prestar culto, de se vestir, de comer. As duas tradições protestantes levaram trezentos anos até que viessem a trabalhar juntas na cidade. Somente no ano de 1985 é que assinaram um tratado para ação em conjunto.

Em Erlangen, o templo fica na Praça Huguenote, na esquina da Calvinstrasse (que homenageia João Calvino) com a Goethestrasse (rua Goethe). Na noite do domingo 30 de outubro, a esquina onde Calvino e Goethe se encontram recebeu por algumas horas outro nome. Ali foi Lutero que se encontrou com Calvino para celebrar mais uma vez a Reforma Protestante. Na celebração, os pastores da Igreja Luterana e da Igreja Reformada iam contando a história e intercalando-a com hinos de um hinário comum usado pelas duas tradições na Alemanha inteira.

Também a cidade de Erlangen quer aprender com a história dos huguenotes a soletrar a palavra tolerância com o coração e a mente para saber integrar os 13 mil estrangeiros que vivem hoje na cidade, disse uma advogada que falou durante a celebração, referindo-se às muitas colônias de pessoas de outros países que vivem na cidade.

Cada um leva em sua bagagem as suas experiências com Deus, mas isso não quer dizer que essas experiências sejam as únicas verdadeiras e válidas. A humanidade precisa aprender a soletrar a palavra Deus através do coração e da mente – porque, para vivermos juntos e em paz, é preciso mudar nosso jeito de pensar. Essa foi a frase de despedida de um dos pastores nessa noite.

Assim também a palavra tolerância só vai conseguir ser soletrada se passar pela mente (com mudança de mentalidade de ambas as partes, de quem chega e de quem recebe) e pelo coração, com acolhimento e respeito. Integração de povos e culturas é um caminho de duas vias: há deveres e direitos de ambos os lados. É encontrar-se para andar juntos em reconstrução (onde ela for necessária), respeito e aceitação do outro.

Que possamos entender que o propósito de Deus é a paz.
Vivamos, portanto, em paz.

Pª  Vera Cristina Weissheimer


Autor(a): Vera Weissheimer
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Artigo
ID: 6787

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