Recebi no culto de despedida da Paróquia em que era obreira anteriormente, um presente de Laerte e Myrian, casal da Igreja Metodista. Um presente raro e cheio de significados segundo as palavras do casal. Com o vasinho de barro cheio de terra, também havia um cartão com uma foto de uma flor linda. “Regue sempre pastora, que a flor chegará!”, me disseram. Na correria de abraços e palavras de saudades futuras, o vasinho ficou de lado em minha vida. Trouxe comigo pra Minas Gerais, mas sempre crendo que a batata ali hibernando me reservava uma surpresa. Faz três semanas que o bulbo “explodiu” as primeiras folhinhas. A promessa é que em maio ela vai florir!
Em quantas coisas na vida precisamos crer e esperar. Crer porque mais que isto, pertence a Deus. Esperar porque a esperança precisa de paciência e dedicação. Esperança é solta ao vento, mas precisa de chão fértil. Precisa de fé naquilo que parece sem vida, sem solução, sem saídas. Quantas vezes pensamos em desistir, passamos noites em claro tentando encontrar as melhores palavras, as ações mais certeiras, a sabedoria humana pra decidir os rumos.
Ano vai, estamos um pouco mais velhinhos/as que antes... Mais prontos, mais fortes. Ano vem, mais desafios, surpresas... mais vitaminas de persistência e coragem pra viver em fé e alegria cada dia o dia inteiro.
Segundo o que sei aquela batata da flor-de-lis leva um ano pra ressuscitar e então sua flor esbanja beleza e vigor durante 72 lindas horas de sua vida. Ela se prepara meses para algumas horas de vida cheia de graça! Durante um ano de preparo ela se abastece, se nutre, se entrega ao tempo.
Gente não quer ser batata, quer brilhar o tempo todo e se não brilha pensa que está doente e já toma remédio. Gente quer passar por cima dos sofrimentos, das inseguranças, dos inesperados da vida e foge do silêncio, do contato consigo mesmo e de Deus.
Vamos aprender a hibernar, a aprofundar os sentimentos? Entregar-se a ressurreição da vida que nos oferece o Menino Jesus? Vamos beber menos cerveja, comer menos porcarias e gostar da vida sem precisar camuflar as dores e saudades? Vamos viver intensamente crendo que a vida já é inteira, bonita e graciosa. A vida não é um mérito nosso. É dom do Criador! Criador da flor de lis e da esperança!
Junto com a foto da linda flor aparecem os seguintes dizeres:
“1987, 6 de março
Choveu muito ontem. Choveu durante a noite toda. Maio é um mês tão lindo, quase não chove. Porém, a chuva é benção. Andar na chuva descalça, deve ser divertido. Dançar ainda mais. A flor-de-lis está descorando. Encanta por setenta e duas horas. Depois murcha e morre para ressuscitar no próximo ano, sempre bonita em sua mensagem de alegria e vida. Veio de São Carlos. Há mais de quatro décadas. Lúcia Florense Braga ofereceu-me a primeira batata. Multiplicou-se n vezes. Pude reparti-la com tantas pessoas! Suas seis pétalas vermelhas se abrem exuberantes. O caule abaixa-se para que ela dê à luz; depois se ergue, firma-se até morrer. Parábola de vida.” Alice Gerab Labaki (trecho do seu diário e reproduzido em seu livro “... e afinal a tarde abençoada de outono chegou”, 1992, p. 118)
Pa. Elisabet Lieven - Pastora da IECLB em Teófilo Otoni/MG