Lá na roça conta-se um causo comparando o comportamento da galinha e da gansa. Parece que a galinha quando põe ovos, ao terminar o ofício começa a cacarejar desesperadamente; enquanto que a gansa faz sua função poedeira em silêncio. O problema do alarde da galinácea é que seu barulho justamente atrai o ouvido atento do fazendeiro que aproveita a oportunidade para coletar os ovos. Diferentemente acontece com a gansa, pois costuma-se descobrir que ela pôs ovos quando é seguida por pequenas criaturinhas veludamente amareladas – seus gansinhos.
O alarde da galinha faz sua felicidade durar pouco. Enquanto que o perene silêncio da gansa oportuniza uma alegria constante.
Como me identifiquei com a galinha! Quem não gosta de sair por aí gritando aos quatro ventos que está feliz. Que ganhou um presente, que está de affair novo, que conquistou uma promoção no trabalho... É curiosa e altamente humana o desejo que de os outros saibam que estamos felizes. Será prepotência? Será que é uma necessidade de auto afirmar a felicidade? Será uma maneira de ostentar-se frente a alegria alheia?
Não considero errado divulgar a felicidade. Preocupo-me com os excessos. A galinha representa muito bem a nossa sociedade e sua concepção de felicidade. Somos a sociedade do alarde. Precisamos estampar e cacarejar nas redes sociais a nossa “felicidade” para efetivamente sermos felizes (ou termos a sensação de que estamos felizes porque os outros sabem disso?).
Porque é difícil ser feliz em silêncio?
Recordo-me das palavras do Salmo 46.10a: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus”. Nosso mundo está cheio de barulho: carros, máquinas, celulares, televisão, música... Mas nós precisamos do silêncio. No silêncio podemos nos acalmar e focar no mais importante: Deus. Jesus muitas vezes se retirava para lugares solitários, silenciosos, para estar sozinho com Deus. O silêncio é importante para ouvir a voz de Deus. Nas palavras de Eclesiastes 3.7b, “há tempo de calar e tempo de falar”.
É um grande aprendizado ter uma postura de gansa. Viver atento e sentir-se pleno por viver algo sem a necessidade de divulga-lo. Certo conhecido acalmou-me ao dizer que “o segredo da felicidade é ser feliz em segredo”. Não pela nociva superstição de que felicidade atrai olhares invejosos (embora nunca descarte essa possibilidade), mas antes porque a única pessoa que precisa saber-se realmente feliz é você mesmo. Tenho aprendido a sentir egoicamente minha felicidade, desfrutá-la comigo mesmo e com Deus. Os presentes recebidos, os momentos que passas com a pessoa amada e outras experiências positivas com as quais se aprende algo, são apenas suas. Acredite: Ninguém precisa ficar sabendo disso! Portanto, não faça barulho.