Passeando pela prateleiras do supermercado, me deparo com marcas que sabidamente fazem uso de sementes geneticamente manipuladas. Não compro. Não chego nem perto. Trato estes produtos como se fossem ulceras pestilentas expostas nas prateleiras.
Sei que não nada me aconteceria se as tocasse, mas enceno esta repulsa para me lembrar a mim mesmo de que posso e tenho que ser um consumidor responsável. Faço parte da minoria de brasileiros que pode comprar o necessário para uma vida digna. Por isso mesmo me policio para não perder esta dignidade comprando produtos desnecessários e/ou nocivos à saúde.
Alimentos geneticamente alterados trazem em si problemas insolúveis, com os quais como cristão não posso compactuar. Em primeiro lugar, ainda não sabemos que conseqüências sobre nossa constituição genética terão estes alimentos. Os defensores dos transgênicos afirmam que não existem problemas. Pode ser que hoje não sejam perceptíveis ainda. Mas, quem garante que não estamos engolindo bombas-relógio que um dia explodirão?
Mas, ao lado desta dúvida está algo muito pior, que é o domínio da tecnologia de manipulação genética. As sementes produzidas pelos frutos transgênicos são estéreis. Somente as sementes que passam pelo processo de manipulação é que se tornam frutíferas. Então, quem vai dominar a produção de alimentos no mundo serão as firmas que dominam esta tecnologia. Não será mais a necessidade humana, o direito à alimentação garantido pela Declaração dos Direitos Humanos (Artigos 23 e 25) e desejado explicitamente por Jesus ao ver a multidão com fome (Mt 15. 32ss). Será o desejo de lucro, o acordo político, o poder econômico para comprar estas sementes.
No entanto, a fé e o consumo responsável não se relacionam somente na questão dos alimentos geneticamente manipulados. Também com relação a outras mercadorias a fé também deve me levar a perguntar sempre de novo: “eu preciso mesmo deste produto? Será que minha vida será muito pior se não o tiver em casa?” Outra pergunta que me acompanha quando estou diante de uma compra é: “a fabricação deste produto teve trabalho infantil ou escravo?” Parece incrível, mas ainda hoje temos que fazer esta pergunta pois não só no Brasil, como em outros países (principalmente os que exportam quinquilharias) ainda persistem relações de trabalho explorando mão de obra infantil e trabalho similar ao de escravidão.
Por fim, mas não por último, como cristão me pergunto pelos materiais usados nos produtos. São materiais recicláveis? Quanta energia foi necessária para produzi-lo? Quanto tempo vai permanecer na terra antes de se degradar? Nem sempre tenho as respostas para estas perguntas, mas é da minha responsabilidade como cristão fazê-las. Estas e muitas outras. Todas elas indispensáveis e urgentes pois o planeta é limitado e nossa capacidade criativa não é limitada. Usemo-la, portanto, pensando na qualidade de vida presente e nas gerações futuras.
P. Carlos Musskopf – Pastor da IECLB na Paróquia ABCD, Santo André/SP