A esperança é uma dimensão fundamental da nossa fé. E o ritual do Tempo de Advento (quatro domingos antes do Natal), praticado pelas comunidades cristãs, favorece a apropriação da esperança como parte viva da dinâmica da fé.
Nos últimos domingos de novembro, nas celebrações e cultos, somos impactados pelos conteúdos bíblicos que apresentam a esperança no novo tempo, na eternidade, na volta de Cristo para restaurar a vida, a justiça, a paz, a plenitude da vida. O amor e a misericórdia de Deus, o evangelho de Jesus Cristo, nos chamam para participar da missão pela vida nesse mundo, e nos remetem para o novo – participar da comunhão com a vida hoje, pois ela será plena no futuro.
Porém, entre nós, pessoas cultivam uma esperança no retorno ao passado. Essa dinâmica espiritual do retorno está sempre associada ao medo do novo, do que há de vir. O futuro é visto como uma ameaça. As crianças são educadas para viverem no passado. O tempo de aposentadoria é projetado para o descanso com referências do passado. As promessas são inúteis. A transformação uma utopia. A missão e a paixão pela vida, ilusões. A esperança no retorno cria estátuas de sal (Gn 19.17;26) e escravidão (Lc 9.62).
Somos chamados para uma esperança viva no que há de vir. Incorporar o advento em nosso quotidiano. Viver hoje em comunhão com a missão de Deus que cria o futuro. Incorporar o Espírito de vida, a dinamicidade da comunhão, resistir à individualização e à indiferença, praticar a solidariedade a partilha e o desprendimento dos valores, dos desejos e das coisas que paralisam e matam.
Por último não podemos esquecer: a nossa esperança está firmada no Deus que foi crucificado, que incorporou a nossa realidade de morte, anunciou a nova vida e a instalou na realidade humana, na história e, por misericórdia, remeteu a plenitude da vida para o novo tempo.
Na esperança pelo que há de vir servimos ao Deus da vida, revelado na cruz, aquele que nos serviu primeiro.
Guilherme Lieven
Pastor Sinodal, Sínodo Sudeste - IECLB