Aprendi de um amigo e pastor presbiteriano que a palavra-chave que abrirá As Portas do Paraíso para as gerações futuras é RENÚNCIA. Os números propalados pela crise ambiental não deixam alternativa a não ser mudar o estilo de vida e controlar a voracidade consumista que nos invade. Em favor da coletividade e da sustentabilidade do planeta, teremos todos que, necessariamente, renunciar a certos prazeres e comodidades.
Difícil tarefa essa da renúncia, sobretudo se levarmos em conta que estamos envolvidos por uma estrutura econômica que vive de produzir mais e mais desejos em nós. Como renunciar se a ordem é consumir e consumir e consumir? Renúncia vira aí uma palavra estraga-prazer para quem finalmente se vê incluído no mercado de bens e consegue comprar, por exemplo, aquele celular mais moderno. Difícil tarefa essa de equilibrar a força do desejo e a necessidade da renúncia... Difícil deixar de pensar só em nós e pensar no planeta.
Colocado em ordem planetária, o drama seria assim: como convencer os chineses, diante de seu espetacular crescimento econômico, que eles jamais poderão consumir na mesma escala que os norte-americanos? Colocado em ordem local, seria assim: Como convencer os moradores de favelas e aglomerados que eles jamais poderão produzir tanto lixo como o povo do asfalto nas nossas cidades? Sim, porque simplesmente não poderão, porque o planeta não suportará.
Curiosamente, no entanto, o drama ambiental poderá produzir uma mudança substancial no estilo de vida. É a ecologia formatando a política e mesmo a religião! Parece que esse aspecto tão relegado no ambiente familiar, religioso e político é que finalmente salvará a todos. Entra em crise a preocupação extremada com o presente e o bem-estar pessoal aqui e agora e vem à baila a preocupação com o futuro e o bem-estar social. Essa talvez seja a grande Boa Nova do ano que passou: A crise ambiental produziu a união planetária!
A religião pode colaborar mais chamando os fiéis para a vivência da fé responsável. Aí a palavra renúncia ganha importância decisiva. Essa palavra tem uma carga teológica cara nas igrejas! Está na liturgia do batismo: antes de levar a criança às águas batismais, padrinhos, mães, pais e madrinhas prometem solenemente “eu renuncio ao mal desse mundo e a todas as suas pompas e seduções”. Já o apóstolo Paulo, em Romanos 6, lembra a todos que, pelo batismo, estamos livres da escravidão do mundo!
O Ano Novo vem tantas vezes acompanhado do desejo de encontrar por aí o gênio da lâmpada de Aladim, aquele dos três desejos. É a fantasia da realização fácil dos desejos de saúde, consumo e bem-estar. O Ano Novo vem acompanhado também das orações e desejos que esperamos ver realizados em Deus. Bem poderíamos orar e pedir três desejos acompanhados de três renúncias:
Misericordioso Deus, eu desejo a paz, e renuncio à tentação de revidar a quem me ofende.
Misericordioso Deus, eu desejo a justiça, e renuncio à tentação de viver no conforto e isolado da dor e do sofrimento alheios.
Senhor, eu desejo o bem-estar para mim e minha família, e renuncio à tentação do acúmulo de bens e dinheiro.
Renunciar vira aí um Dom de Deus. É uma questão não apenas de sustentabilidade ambiental, mas de Responsabilidade Espiritual.
Adilson Schultz
Pastor da IECLB em Belo Horizonte, MG
