Diz um conhecido ditado popular que "um homem prevenido vale por dois", mas e o cristão, isto é, aquele que tem um compromisso e um relacionamento pessoal com Deus em dependência e confiança para com Jesus Cristo, o que tem a ver com isso?
Vivemos num mundo profunda e inegavelmente marcado pelas conseqüências da imprevidência. E mais ainda, se olharmos com a seriedade que a reflexão exige, em nossa própria vida encontraremos, aqui e ali, bem mais que poderíamos imaginar, as dolorosas conseqüências de nossos desajeitados movimentos do passado. O confronto aqui é marcado pela dureza da lei, que nos cobra cada segundo/centavo/movimento desperdiçado ou mal investido. Mas calma! A moderação em tudo é boa,como diz o apóstolo, há ainda uma diferença, ainda que por vezes tênue, mas muito real entre o verdadeiro investimento na prevenção de todo o mal que pode ser evitado e o vicio em remédios.
Nestes dias, por exemplo, através da aplicação da lei seca, temos visto a boa diferença que o rigor da lei pode proporcionar. Também em relação à saúde, já está bastante comprovado que pequenas atitudes preventivas, quando incorporadas à rotina da vida, trazem benefícios significativas ao longo dos anos, evitando doenças e sofrimento desnecessário. Na primeira Epístola de Paulo a Timóteo (4.8) nos é dito que o exercício físico é de pouco proveito, pois trata da saúde imediata, e contrasta este com a prática da piedade, ali configurada como ação fundamentada na esperança em Deus. Muito se fala por aí que tendo saúde o resto se dá um jeito, o que não deixa de ser verdade, porém quando isso é levado a uma esfera mais plena do que simplesmente não estar doente no corpo. Cada um de nós sofre da pior doença que existe, que é a cisão relacional para com o nosso Criador e nosso próximo, em conseqüência. Não há prevenção mais real que a luta consciente para a libertação desta realidade terrível. No livro bíblico de Eclesiastes, o sábio caminha em desespero e desalento, percebendo a vida numa perspectiva retroativa, chegando a uma conclusão dura num primeiro momento: nada faz sentido! Já num segundo momento o sentido reaparece, ao fazer referência ao Criador e é nessa retomada que o Livro é encerrado: "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade(....), e: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos porque Isto é o dever de todo o homem (Ec 12.1a, 13b)".
A perspectiva da eternidade e a graça nos confrontam e desiludem, lembrando que a solução não está em nossas mãos em primeiro plano, mas renovam nossa esperança afirmando que o único que poderia realmente ter feito algo, o fez, restando-nos a humilde atitude do aceitar o que jamais poderíamos ter providenciado.
Num mundo cada vez mais marcado pela ausência de regras e limites simples e claros, os mandamentos de Deus nos remetem à verdadeira sabedoria da simplicidade. Se tivermos coragem de olhar para eles com transparente sinceridade jamais deixaremos de ter o que confessar diante de Deus e dos homens. Tanto quanto uma vida devocional de silencio e diálogo para com o Criador, o resgate do costume da confissão auricular configura um dos princípios mais essenciais do "método preventivo" legado pelo próprio Deus na Bíblia. O doloroso e entristecedor exercício é necessário para que nossos mais reais problemas sejam tratados e não multiplicados ao longo da vida. A partir dessa atitude podemos descobrir a alegria com a qual Deus nos presenteia, cônscios, cada vez mais, de nossa miséria e do amor de Jesus Cristo.
Encerro com a citação das palavras de um velho pregador: "o crescimento do cristão precisa ser semelhante ao crescimento do rabo de cavalo: para baixo." Crescer no exercício da confissão é se permitir crescer na verdadeira humildade.
Natanael Connor – PPHM em Teófilo Otoni / MG