Domingo de sol claro na cidade do Rio de Janeiro! As famílias deixam suas casas e comunidades para uma celebração campal! Acontece apenas uma vez no ano. Trata-se do Dia da Igreja, momento de encontro das comunidades luteranas do Estado do Rio de Janeiro. Apenas oito. Conquanto antigas, inclusive a primeira comunidade luterana na América do Sul, são relativamente pequenas, quando comparadas ao perfil da nossa Igreja no Estado do Espírito Santo e no sul do Brasil.
Elas chegam aos poucos. Há as comunidades que ocupam um ônibus e as que vêm num carro. São grandes distâncias, que por vezes dificultam o encontro e a ajuda recíproca, onde os grupos se visitam pouco e se ressentem da falta do jornal, no qual achar as fotos dos seus templos, seus pastores e seus grupos de mulheres, jovens e crianças. O Fórum de comunidades, apelidado Núcleo RJ, nascido nesse ambiente, propicia a troca de púlpito e altar de pastores e pastoras, cursos de pastores/as e presbíteros/as, retiros conjuntos de confirmandos/as e o Dia da Igreja, com uma celebração eucarística campal.
Esse ano, o Dia da Igreja tem um sabor especial. A data é o dia 25 de junho. Duplamente importante, lembra a leitura da Confissão de Augsburgo diante do jovem Carlos V (1530) e a presença luterana na cidade do Rio de Janeiro (1827). Precedida apenas da católica, trazida pelos colonizadores portugueses, e da anglicana (1819), num pacote que incluiu a abertura dos portos às nações amigas e a abolição da escravatura, os luteranos chegaram e permaneceram nesta cidade que foi sede dos Vice-Reis desde 1763, do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve (1815), da independência e do Império (1822) e da República (de 1889 a 1960).
Elas cruzam o portão da Associação Cristã de Moços (Ilha do Governador), local do evento, se apresentam numa celebração de acolhida e participam de oficinas de trabalho, que abrangem temas como Teatro na Igreja, Música na Reforma, Dicas de Saúde, Arte e Fé, Dança Sênior e Culto Infantil. Bonito ver essa gente se redescobrindo irmãos e irmãs, fazendo novos amigos e amigas, e partilhando o dia, os alimentos, os encontros e até a expressão da confessionalidade. Até na diáspora se celebra conquistas. Ainda que uma a uma.
Como quem não quer só ver, mas também mostrar, o encontro propiciou as trocas. Além da comida, com cheiro e sabor caseiro, os grupos trouxeram suas sobremesas, seus artesanatos, suas músicas e suas alegrias. E se integraram. Das crianças brincando no playground às pessoas da terceira idade, bailando seus corpos e trocando sorrisos. Nessas horas, mais que em outras, volta à memória que somos parte de uma tradição de fé, herdeiros de uma expressão litúrgica, com espaço que abarca do Coral Martin Luther à bateria e guitarra dos jovens. Dispomo-nos a ouvir a palavra de Deus e ficamos felizes por poder estar juntos. Numa palavra: redescobrimo-nos Igreja!
Pastor Dorival Ristoff anima o canto e estimula os jovens, Pastor Telmo Emerich conduz a leitura bíblica e a confissão do Credo, Pastora Jaqueline Schneider anuncia a Palavra que congrega o povo de Deus e Pastora Ramona Weisheimer consagra a Santa Ceia. A Igreja da diáspora também tem lideranças, orientação teológica e espiritualidade. E participação alegre, efusiva e viva!
Fim da tarde. As pessoas se despedem, dizem que esperam o próximo Dia da Igreja e se mostram animadas. Enquanto juntamos as panelas, enrolamos os cabos e reunimos o material, fazemos o balanço de mais esse encontro. Vem à memória o ensino que mestre Schwantes recolheu da cultura popular e mergulhou na secular tradição da fé cristã: “o pouco com Deus é muito! É o necessário! De lá, tiramos a certeza que Ele precisa apenas do pouco. Mais: que podemos viver na convicção de que Ele é poderoso para do pouco fazer o muito”.
Fonte: Antonio Carlos Ribeiro, Pastor e jornalista