Um dos textos bíbicos indicados para pregação neste mês de Agosto, tempo de pentecostes e trindade é o testemunho da dor do judeu Abrão por nao ter filhos(Gn 15.1-6).
Assim como em nossos dias muitos vivem e experimentam dores de diversas formas, por exemplo, há uns minutos atrás recebi a notícia do falecimento de uma menina de 8 anos, em consequência de uma bactéria desconhecida. Experimentamos a dor desta família ao partilhar a notícia e incluí-la em nossas orações.
Em Isenheim “foi fundado, em 1928, um monastério da ordem dos antonitas, para cuja capela Mestre Grünewald foi convidado a pintar o altar. O contexto desse altar é significativo: o doença e o cuidado dispensado ao doente. No interior dos muros do monastério eram tratados muitos doentes, especialmente aqueles acometidos do “fogo de Antão”, também designado de “fogo santo” e, muitas vezes, confundido com a lepra. Quando acometida do “fogo santo”, a pessoa passava a sentir dores horríveis. Os membros ficavam vermelhos, depois escureciam; finalmente, a carne purulenta se soltava dos ossos. Cheirando a própria podridão, os doentes ficavam à beira da loucura. Impotente ante a doença, a pessoa medieval só conseguia ver nela o flagelo de Deus. Por isso familiares abandonavam os doentes; os antonitas, contudo, os recolhiam em seus hospitais. – Esses monges viam na doença possibilidade de crescimento espiritual. As dores eram vistas como caminhada em direção à salvação eterna; os desfigurados eram considerados ‘mártires de Deus’, por isso merecedores de mais e maior amor”.
“As pessoas retratadas por Grünewald sofreram, e muito, mas assumiram a dor sem ser por ela dominadas. Elas experimentaram a noite da dor e anunciaram a luz de Deus, que vençe a doença”.
A exemplo disto, vemos esta pintura chamada “ A crucificação”, reparem as mãos do Cristo crucificado, logo seu corpo também tem algo de desfiguração.
Abrão experimentou dor, esta familia da pequena Renata experimenta dor. Você experimenta ou experimentou dores em sua história de vida. Abrão experimentou dor, mas acreditou, e foi recompensado...”e isto lhe foi imputado para justiça”, justiça não como uma norma absoluta, que está acima do ser humano, mas conceito relacional: o conceito “justo” é dado àquela pessoa que se porta corretamente em relação à comunhão na qual se encontra e isso pode referir-se a comunhão com Deus e também com as pessoas.
Fé é fundamentar-se em Deus, em sua salvação que vai acontecer no futuro, é um ato de confiança, de participação nos planos de Deus na história. Observada do ponto de vista humano, fé é algo passivo, é abrir-se à ação de Deus. Deixar Deus agir em nossa vida e nossa história. O testemunho bíblico ensina de forma bem simples: a fé colocou Abrão na relação correta com Deus. Vejam essa fé não é descrita, só e afirmada. É afirmada, no silêncio, é ouvir silencioso e contemplar...
E é desta forma que aprenderemos a “lidar” de uma forma diferente com as dores do hoje.
(reflexão baseada e adpatada do livro de auxílios homiléticos:
Proclamar Libertação 34, autoria M. N. Dreher;
por Carla Suzana Kruger, pastora da IECLB na paróquia Leste-São Paulo/SP)