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ID: 18

A VOZ

"A voz preciosa ecoa em vasos de barro". (2.Co 4.7)

30/06/2015

Palavras são apenas tentativas de aproximação. Sua pronúncia será marcada pela precariedade, pelo fato de não darmos conta do absurdo e das maravilhas da condição humana e social.

A voz que não necessita de trapaça, que reverbera no que é comum, para comuns, causa admiração e surpresa. Esta voz será levada a serio, não terá data de validade, permanecerá por gerações. Conforme Paulo Freire, “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético”. Não é um favor que podemos ou não conceder aos que não tem voz. O empréstimo da voz, da voz ao diferente, sobretudo, no respeito a ele, “é a forma de estar sendo coerentemente exigido por seres que, inacabados, assumindo-se como tais”, não se deixam seduzir por porta-vozes incomuns, e assim, dão testemunho recíproco do que é humano eético.

Deus não se dirige a nós através de conexões ‘incomuns’. A boa nova, a palavra apropriada não tem sua origem numa instância devidamente credenciada e autorizada. A palavra que surpreende e faz diferença nasce, desde dentro, nas pessoas e entre as pessoas, porque Deus sempre se antecipa. Antes mesmo de nós tentarmos dizer alguma coisa Ele já estava lá. (Salmo 139)

Deus, mesmo sendo Deus, chega junto para promover o que é comum. A voz de Deus se manifesta, tão somente, no que é comum, em favor de seres humanos comuns. Este o momento mais forte e emocionante nacomunicação. Uma voz que não tem dono, dirigida, em especial,aqueles que supunhamnão ter direito à voz.

Reconhecer-se naquilo que é dito é uma experiência magnifica, poderosa e libertadora. Momentos que manifestam e acolhem a intensão mais profunda do que Deus deseja, quer e sonha para os seres humanos e suas comunidades. “O desejo mais fundo, desejo que esquecemos, mas Deus não esquece nunca”, afirma Ruben Alves.

O papel do comunicador é não deixar que os seres humanos emudeçam. Que se cultive o gosto por auscultar tudo que, por ser superficial e truculento, decepciona e faz calar. Se algo não é falado e contado, difunde-se a noção de que não vale a pena existir. Justamente nas horas de grande dor, alguém precisa comparecer e narrar os fatos. O comunicador desafia o impossível... Quando o orador rejeita o medo de falar, abdicando da necessidade de ser ‘incomum’, coisas que pareciam impossíveis se tornam, de repente, possíveis.

Somos apenas artesãos da palavra. Operários em busca das palavras, tantas vezes fugidias,quando tentamos fazer jus ao que não encontrouexpressão adequada, ao que foi engolido pela dor, pela injustiça e decepção; que ficou à margem, esquecido por não mais ter voz.

Somos e seremos eternos artesãos da palavra. O escritor, Giorgio Agambe, afirma: “Em toda a pessoa existe qualquer coisa de não vivido, do mesmo modo que em toda a palavra há qualquer coisa que fica por exprimir.”

Antes de sermos vocacionados para usar a voz, somos chamados, diariamente, para a vida (João 10,10). A relevânciada nossa voz inacabada está diretamente ligada ao compromisso assumido na função de guardião dessa vida que carrega sempre algo de não vivido.

A voz, seu estado de prontidão, tem algo de assustador e belo.
 


Autor(a): P. Hermann Wille
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Testamento: Novo / Livro: Coríntios II / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 7
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 33866

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