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ID: 18

A rainha que estragou a festa do rei (Ester 1-2.2)

08/03/2011


Para minha amiga Vasti,
e para todas as mulheres que não se calam diante dos desafios neste vasto mundo.



Conta-se na Bíblia a história de uma mulher muito corajosa que um dia cansou de se submeter às ordens do rei Assuero. Depois de 7 dias de banquete o coração do rei estava alegre do vinho, e este ordenou que trouxessem a rainha Vasti para a festa com sua coroa real, para mostrar a todos os convidados a sua formosura. A rainha que também estava dando um banquete para as mulheres se negou a comparecer na festa. O rei ficou furioso e chamou os sábios da corte para saber o que se fazia quando uma mulher desobedecia a uma ordem do rei. Os sábios e entendidos da lei, logo se deram conta do que podia acontecer e disseram: Quando as mulheres dos príncipes e do povo souberem da atitude da rainha, todas irão proceder de igual modo. E diante do eminente perigo aconselharam o rei que destituísse a rainha e mandasse uma carta para todas as 127 províncias, confirmando que cada homem é senhor em sua casa. Passados alguns dias depois da festança, o rei se deu conta do que havia feito com Vasti e sentiu saudades. Seus assessores percebendo o que passava na cabeça do rei mandaram trazer moças jovens e bonitas para que ele escolhesse uma nova rainha. Ester, que não declarou a sua descendência, foi escolhida porque agradou aos olhos do rei.

E assim Vasti saiu da história, sem honra e sem memória. Nada mais há escrito sobre ela, a não ser os poucos versículos onde os fatos se desenrolaram no livro de Ester. Mas seu nome e seu gesto nos permitem vislumbrar quem era essa rainha. Uma mulher que além de bonita, sabia se impor diante do rei, uma mulher corajosa que não se importava com o título que o rei lhe concedera apenas por causa da sua beleza, uma mulher que cansou de ser objeto do desejo nas mãos do rei e seus súditos.

Dizem os especialistas em Bíblia que esta história nunca aconteceu, mas foi contada em forma de novela, para animar a caminhada de fé do povo. Se esse foi o motivo, então podemos aprender com Vasti e refletir sobre o que acontece com as mulheres nos dias de hoje.

O Dia Internacional da Mulher é lembrado em todo o mundo por causa da transgressão de 129 mulheres que ao reivindicarem melhores condições de trabalho numa fábrica em Nova Yorque em 1857 morreram queimadas. Foi a maneira de se afirmar que o homem é senhor em sua casa e em seu trabalho. Apesar da luta permanente das mulheres e da sua presença em todos os setores da sociedade, ainda hoje, convivemos com situações semelhantes as de Vasti. Mulheres são silenciadas em casa, na rua e no trabalho sob ameaças de perder o emprego, os filhos, e ainda, com a falsa segurança de ter um homem no lar.

Dados recentes mostram que a Lei Maria da Penha ainda não é conhecida, nem aplicada. Enquanto isso as mulheres são silenciadas, seja pela ameaça e pela força dos que mantém o poder em casa ou fora dela, seja pela indústria e comércio da beleza, que estimula o culto ao corpo. Com isso o dia 8 de março está se tornando um dia de festa, de homenagens, camuflando a verdadeira história de luta das mulheres. Vejamos: em relação aos empregos a mulher ainda ganha menos que o homem, continua o assédio sexual e moral, continuam as mortes violentas de mulheres sem fazer distinção de classe social, continua a exploração e o trafico de mulheres para outros países onde serão mantidas como prostitutas e escravas, e a lista pode ser acrescentada a cada dia, dentro e fora de casa.

Por isso, apesar de silenciarem Vasti, a história nos mostra que em todos os tempos e lugares, as mulheres precisam continuar lutando para fazer valer o direito à vida, sua e de seus semelhantes. Isso nos mostra o livro de Éster, a rainha que substituiu Vasti e que lutou para que a verdade e a justiça prevalecesse. A importância do dia 8 de março está no despertar da consciência da mulher para que nenhuma venha ser objeto de consumo, de beleza, de exploração sexual, comercial.,….

A história e a luta das mulheres continua, na esperança de que um dia nenhuma mulher precise silenciar diante do marido, do patrão, na Igreja, e onde quer que seja, porque os direitos de homem e mulher serão iguais, e nesse dia a paz e a justiça se beijarão começando dentro de nossas casas, e depois alcançarão as ruas e as praças, e todos os locais de trabalho e lazer. Porque mulher e homem foram criados para viverem em paz como colaboradores de Deus na criação.

Neusa Tetzner, Pastora da IECLB em Valinhos - SP;
Coordenadora Curso Gênero CESEP


Autor(a): Sínodo Sudeste
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7880

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