Sínodo Sudeste



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ID: 18

A luz daquele que é o nosso melhor amigo

24/11/2008


Mensagem apresentada no Ato Ecumênico com as famílias das vítimas do acidente da TAM:

“Ai dos que por suborno justificam o perverso e ao justo negam justiça!” (Isaías 5, 22.23)

O hino 271 do nosso hinário (O sol fulgente) fala do sol, mas refere-se a Deus. O sol enquanto corpo celeste, tem um calor que impede a aproximação. Quem chegar perto vai se queimar. Quem fica exposto ao sol por muito tempo tem uma insolação. Sua chama é de uma luminosidade tão forte que ofusca. Jamais olhem diretamente para o sol, pois seus olhos vão ser prejudicados.

Assim são as estrelas que tem luz própria. Mas, um dia esta luz se acaba. A energia das estrelas se apaga e fica o que se chama de um buraco negro.

Deus, ao contrário, é uma estrela eterna que não queima ninguém, que não ofusca. Na tradição cristã acreditamos que Deus-estrela se chegou bem perto de nós. Tão perto que se podia conversar com ele, tocar em sua pele, em suas vestes, em suas feridas. E continua perto de nós no sacramento do altar, na Santa Ceia (eucaristia).

Passa para nós um calor que não tem perigo, não tem risco de queimar ou de prejudicar a saúde. Muito antes pelo contrário!

Sua luz não ofusca. Antes, ilumina os caminhos. Podemos olhar para ela com confiança e sem barreiras, sem proteção. A claridade desta estrela é lâmpada para nossos pés, luz para o nosso caminho, como diz o Salmo 119.

Por tudo isto, somos convidados/as a sermos um tipo muito especial de estrelas. Não do tipo que tem luz própria, mas do tipo estrela/espelho, que reflete a luz e o calor de Deus. Enquanto contamos com nossa própria luz, calor, energia, esbarramos em ansiedades, tensões e conflitos. Não encontramos a paz que buscamos, não encontramos a justiça que precisamos, não encontramos a verdade que liberta, quando a buscamos dentro de nós mesmos.

Só quando conseguimos abrir mão de nós mesmos, de nossa própria razão ou entendimento é que vamos ter a verdadeira paz da justiça. Neste espaço se instala o sol que é Deus, cujos raios não queimam, não perturbam a alma, não enganam.

Maria, mãe de Jesus é um exemplo perfeito desta mensagem. Ela poderia ter se enchido de orgulho, poderia ter tido uma crise de “estrelismo” por ter sido escolhida para ser a mãe de Jesus. Mas, ela sabiamente preferiu manter-se estrela/espelho. E até hoje reflete a luz de Deus como exemplo de humildade e de desprendimento.

Assim também é conosco e com as pessoas que nos deixaram. São estrelas/espelhos, cuja luz e cujo calor nem a morte consegue apagar. Porque não refletem sua própria luz finita, temporária, limitada. Mas refletem a luz eterna de Deus eterno. E isto tem feito a diferença. Tem sido fundamento para continuar lutando em favor da verdade e da justiça. Enquanto espelhos da luz de Deus, seus raios unem corações, objetivos, sonhos e realidades. Vocês se tornaram uma grande família e um sol de esperança para tantas pessoas que passam por sofrimento e injustiças, que são vítimas do engodo e da mentira. A fonte de luz de vocês não vem de vocês mesmos. Vem de Deus. Da espiritualidade que marca vossos encontros, como este que estamos vivendo neste momento.

Por fim, quero exemplificar esta mensagem com uma pequena história. Um jovem saiu com seu barco para alto mar. O barco estava equipado com rádio, faróis, GPS e todos os equipamentos de segurança. Chegou a noite e ele foi surpreendido por uma tormenta. Seu barco foi jogado de um lado para outro pelo vento. A bússola não funcionava direito, sua vida estava em grande risco. Acendeu todos os faróis, tocava a buzina a todo vapor, na esperança de visto e encontrado por algum barco maior. Tentava desesperadamente entrar em contato pelo rádio com a terra, para receber instruções, mas não recebia resposta. Desesperado, desligou tudo e ficou na espera. Então, ouviu pelo rádio a voz da estação em terra. Eles deram as instruções e ele conduziu o barco para o porto. Lá, lhe contaram que estavam ouvindo o tempo todo seus chamados; que respondiam, mas ele não ouvia. A energia gasta nas luzes e buzina impedia que ele ouvisse a voz com as instruções. Só quando ele desligou sua própria luz é que ele estava em condições de ouvir a voz que o tiraria do desespero e do perigo.

Assim também é conosco. Olhando para nossas próprias luzes nos ofuscamos e não enxergamos a luz daquele que é o nosso melhor amigo e que aponta para a luz daqueles que nos deixaram. A luz própria deles foi apagada, mas eles continuam refletindo sinais da luz que não se apaga jamais.

Que esta luz nos encha o coração, a mente e o entendimento. Que esta luz nos dê forças para olhar em frente e vencer todos os desafios e obstáculos que a dor e o sofrimento nos impõe. Somente o sol libertador de Deus é que pode nos ajudar neste momento. Sua amizade é calor que não queima, é brilho que não ofusca. É companhia perene, firme, acolhedora e carinhosa.

Pastor Carlos Musskopf,
Pastor da IECLB na Paróquia do ABCD – Santo André/SP.


Autor(a): Sínodo Sudeste
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8381

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